Tópicos de Lógica nos clássicos da Filosofia

by Francisco on sábado, 10 de outubro de 2009

por Francisco Antônio de Andrade Filho



Vimos ser a Lógica o estudo da razão do ponto de vista de seu uso no conhecimento ou como meio de chegar à verdade. Discutimos o problema central da Lógica Menor ou Formal e o da Lógica Maior ou Material. Indagamos: quais são as regras que precisamos para raciocinar corretamente? Em que condições o raciocínio é não somente correto mas também verdadeiro e demonstrativo, e faz adquirir a ciência?


Trata-se de discutir os métodos das ciências. Enquanto tentativa de explicar a realidade, a ciência caracteriza por ser uma atividade metódica. De lógica. Atividade da fala que, ao se propor conhecer a realidade, busca atingir essa meta por meio de ações passíveis de serem reproduzidas. Linguagem essa que constitui um conjunto de concepções sobre o homem, a natureza e o próprio conhecimento, que sustentam um conjunto de regras de ação, de procedimentos, prescritos para se construir conhecimento científico.


Referir-se-á lógica filosófica é suscitar o debate sobre o enfoque dado pela dialética como um caminho de investigação trilhado pelos clássicos da filosofia. É através da dialética - dessa arte de no diálogo -, que os filósofos demonstram uma tese por meio de uma argumentação capaz de definir e distinguir claramente os conceitos envolvidos na discussão. Indicam o modo de compreendermos a realidade como essencialmente contraditória.


Assim, para o filósofo Tales (625-548 a.C.), a origem da vida estava na água; para Anaxímenes (585-528 a.C.), estava no ar. Segundo Heráclito (540-470 a.C.), o ser está no "vir-a-ser" ou no devir. O ser está a cada momento se modificando. Para Pitágoras (580-497 a.C.), "o número é o fundamento de todas as coisas (...) E, de fato, tudo o que se conhece tem número. Pois é impossível pensar ou conhecer algumas coisas sem aquele", afirmava ele.


Platão (426-348 a.C.) filosofava: "Pensamento e discurso são, pois, a mesma coisa, salvo que é ao diálogo interior da alma consigo mesma que chamamos pensamento". E Aristóteles (348-322 a.C.) dizia: "É, pois, manifesto que a ciência a adquirir é a das causas primeiras, pois dizemos que conhecemos cada coisa somente quando julgamos conhecer a sua primeira causa".


RENÉ DESCARTES (1596-1650)
"Entendo por método regras certas e fáceis, que permitem a quem exatamente as observar nunca tomar por verdadeiro algo de falso e, sem desperdiçar inutilmente nenhum esforço da mente, mas aumentando sempre gradualmente o saber, atingir o conhecimento verdadeiro de tudo o que será capaz de saber". (Regras Para a Direção do Espírito)



BARUCH DE ESPINOSA (1632-1677)
"Mas como os homens no começo, com instrumentos inatos, puderam fabricar algumas coisas muito fáceis, ainda que laboriosas e imperfeitamente, feito que, fabricaram outras coisas mais difíceis, com menos trabalho e mais perfeição, passando gradativamente das obras e instrumentos, para chegar a fazer tantas coisas e tão difíceis com pouco trabalho, também o intelecto, por sua forma nativa, faz para si instrumentos intelectuais e por meio deles adquirir outras forças para outras obras intelectuais, graças às quais fabrica outros instrumentos ou poder de continuar investigando, e assim prosseguindo gradativamente até atingir o cume da sabedoria". (Tratado da Correção do Intelecto)



JEAN-JACQUES ROUSSEAU (1712-1778)
Tópicos do Discurso Sobre as Ciências e as Artes (1750)
"Na política, como na moral, é um grande mal não se fazer de algum modo o bem e todo cidadão inútil pode ser considerado pernicioso (...) Os antigos políticos falavam constantemente de costumes e virtudes, os nossos só falam de comércio, de dinheiro e de poder (...) Avaliam os homens como gado. Segundo eles, um homem só vale para o Estado pelo seu consumo"


"... Reconhecei, pois, a pouca importância de vossas produções e, se o trabalho dos mas esclarecidos de nossos sábios e de nossos melhores cidadãos nos proporciona tão parca utilidade, dizei-nos o que devemos pensar dessa chusma de escritores obscuros e de letrados ociosos que, em pura perda, devoram a substância do Estado."


" Se a cultura das Ciências é prejudicial às qualidades guerreiras, ainda o é mais às qualidades morais. Já desde os primeiros anos, uma educação insensata orna nosso espírito e corrompe nosso julgamento. Vejo em todos os lugares estabelecimentos imensos onde a alto preço se educa a juventude para aprender todas as coisas, exceto seus deveres. Vossos filhos ignoram a própria língua, mas falarão outras que em lugar algum se usam; saberão compor versos que dificilmente compreenderão; sem saber distinguir o erro da verdade, possuirão a arte de torná-los ambos irreconhecíveis aos outros, graças a argumentos especiosos; mas não saberão o que são as palavras magnanimidade, eqüidade, temperança, humanidade e coragem; nunca lhes atingirá o ouvido a doce palavra Pátria e, se ouvem falar de Deus, será menos para reverenciá-lo do que para temê-lo. Preferiria, dizia um sábio, que meu aluno tivesse passado o tempo jogando péla, pois pelo menos o corpo estaria mais bem mais disposto. Sei que é preciso ocupar as crianças e que a ociosidade constitui para elas o maior dos perigos a evitar. Que deverão, pois, aprender? Eis uma questão interessante. Que aprendam o que devem fazer sendo homens e não o que devem esquecer ."


"Que é a filosofia? Qual o conteúdo das obras dos filósofos mais conhecidos? Quais são as lições desses amigos da sabedoria? Ouvindo-os, não os tomaríamos por uma turba de charlatães gritando, cada um para seu lado, numa praça pública: 'Vinde a mim, só eu não engano!' Um pretende não haver corpos e que tudo existe como representação; o outro, não haver outra substância se não a matéria, nem outro deus senão o mundo. Este avança não haver nem virtudes, nem vícios, e serem quimeras o bem e o mal morais; aquele, que os homens são lobos e podem, com a consciência tranqüila, se devorarem uns aos outros. Oh! Grandes filósofos, por que não reservais para vossos amigos e filhos essas lições proveitosas? Teríeis logo a recompensa e não temeríamos encontrar entre os nossos amigos alguns de vossos sectários."



MONTESQUIEU (1689-1755)
"Coloquei princípios e vi os casos particulares submeterem-se a eles como por si mesmos, as histórias de todas as nações serem apenas seqüências e cada lei particular a outra lei, ou depender de outra mais geral (...) Não extraí meus princípios de meus preconceitos mas da natureza das coisas" (Espírito das Leis)



IMMANUEL KANT (1724-1804)
"Sou, por meu gosto, um pesquisador. Experimento toda a sede de conhecer e a ávida inquietude de progredir, do mesmo modo que a satisfação que toda aquisição proporciona. Houve um tempo em que acreditava que só isso poderia fazer a honra da humanidade e desprezava a plebe que tudo ignora. Foi Rousseau que me tirou da ilusão. Esse privilégio ilusório se desvanece, aprendo a honrar os homens e ter-me-ia por mais inútil que o comum dos trabalhadores se não estivesse convencido de que a especulação à qual me entrego pode conferir um valor a tudo mais: fazer ressaltar os direitos da humanidade." (Observações sobre o Sentimento do Belo e do Sublime)


"O Iluminismo é a saída do homem da sua menoridade de que ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de se servir do entendimento sem a orientação de outrem. Tal menoridade é por culpa própria se a sua causa não reside na falta de entendimento, mas na falta de decisão e de coragem de se servir de si mesmo sem a orientação de outrem. Sapere aude! Tenha a coragem de te servires do teu próprio entendimento! Eis a palavra de ordem do Iluminismo". (Resposta à Pergunta: Que é Iluminismo?)



HEGEL (1770-1831)
"Este livro apresenta o devir da ciência em geral ou do saber. O saber como é inicialmente, ou o espírito imediato, é o que é desprovido de atividade espiritual, a consciência sensível. Para chegar ao saber propriamente dito ou para gerar o elemento da ciência, que é para a ciência o seu puro conceito, esse saber deve percorrer penosamente um longo caminho. - Esse devir, tal como se apresentará em seu conteúdo, com as figuras que se mostrarão nele, não será o que se imagina primeiramente sobre o título de introdução da consciência não científica na ciência, também será algo diferente do estabelecimento dos fundamentos da ciência; - e algo bem diferente desse entusiasmo que, como um tiro de revólver, começa imediatamente com o saber absoluto e se desembaraça das posições diferentes, declarando que nada tem a ver com elas". (A Fenomenologia do Espírito; o prefácio)



* texto publicado neste site originalmente em 2002.

Eutanásia: a vida produz a morte

by Francisco on sábado, 3 de outubro de 2009

por Francisco Antônio de Andrade Filho

Eutanásia, Vida e Morte. Três expressões interligadas. Relacionando-se. É que forças opostas, unidade e luta dos contrários, constituem movimentos comuns e inerentes a todas as coisas materiais e espirituais. Em contínua transformação. Inacabadas, no mundo da finitude. Fazem sentido, uma vivendo em função da outra. Eutanásia: a vida produz a morte.

Lembram-nos Fátima Oliveira (1997), Hubert Lepargneur (1999), entre outros, definem etimologicamente, a eutanásia (eu = bom; thanatos = morte) significando "boa morte, morte suave e sem sofrimento", morte harmoniosa e morte sem angústia. Fácil. Feliz. Domínio sobre sua própria vida ou sobre a vida de outrem. Libertação livre do viver e do morrer. "Homicídio por piedade", ação de aliviar o sofrimento de doentes terminais.

O tema da eutanásia se tornou, hoje, um dos mais agudos e debatidos no campo da ética médica e da Bioética, à luz da Filosofia e áreas afins. O enorme progresso das técnociências, nos últimos anos, abriu horizontes de esperança e bem-estar, de vida e morte, pela capacidade da medicina de prolongar indefinidamente uma vida por meios artificiais, motivos sociais, humanos e econômicos. Vejamos alguns destaques dos bioeticistas nesse campo, do jogo da vida e da morte na fronteira da eutanásia.

Para Márcio Palis Horta (1999), "morrer é parte integral da vida e da existência humana (...), tão natural e imprevisível como nascer. Sua tradicional definição do instante do cessamento dos batimentos cardíacas tornou-se obsoleta. Hoje, ela é vista como um processo, como um fenômeno progressivo e não mais um momento, ou evento. Morrem primeiro os tecidos mais dependentes do oxigênio em falta, sendo o tecido nervoso o mais sensível de todos. Três minutos de ausência de oxigenação são suficientes para a falência encefálica que levaria à morte encefálica ou, no mínimo, ao estado permanente de coma, em vida vegetativa."

Logo a seguir, com Leocir Pessini, insinua algumas respostas com questões éticas. A vida humana deve ser sempre preservada, independentemente de sua qualidade? Devem-se empregar todos os recursos tecnológicos para prolongar um pouco mais a vida de um paciente terminal? Devem-se utilizar processos terapêuticos cujos efeitos são mais nocivos que o mal a curar? Quando sedar a dor significa abreviar a vida, é lícito fazê-lo?

São perguntas incisivas com prováveis respostas abertas à discussão. A busca de respostas a essas questões éticas constitui um desafio aos pesquisadores com argumentos a favor e contra a eutanásia. Vamos dialogar.

A moral hipocrática objeta contra a prática da eutanásia. A Deontologia médica inspirada no filósofo Hipócrates é falaciosa. É uma camuflagem. Proibir os profissionais de saúde a jamais ministrar medicamentos letais, mesmo a pedido do paciente, é uma teoria ideal desse filósofo ou uma prática contraditória, vivenciada nos hospitais? Thomas More, em sua obra Utopia (1516), defende-a "se a doença é incurável e faz-se acompanhar de dores agudas e contínuas angústias". E o iluminista Montaigne (1987) disse que o principal problema da Filosofia é a morte. E pensou: "Quem não souber morrer que não se preocupe. A natureza o instruirá plenamente num instante e o fará com exatidão".

Estas atitudes filosóficas frente à prática ou não da eutanásia fazem pensar a relação médico-paciente. Confiança nele ou desconfiança na injeção que o cura ou o mata? É verdade que o paciente se coloca nas mãos do médico. Mas, o que fazer quando o próprio médico informa: "Não há mais nada a fazer", ou quando "a própria medicina cria situações desumanas e depois se recusa a assumir responsabilidades por ela", e ainda no fato de que "as novas condições do morrer obrigam os médicos a se ocuparem também da morte do ser humano"?

Penso que, estas discussões e seus argumentos "contra" e "a favor" sobre eutanásia tendem a camuflar outras dimensões da vida e da morte. Escondem outras formas de violência contra o ser humano. A eutanásia, a cacotanásia ("má morte"), a distanásia ("morte dolorosa"), narcotanásia ("morte narcotizada"), mistanásia ("morte infeliz"), ortonásia ("direito de morrer com dignidade") e outras palavras correlatas são, na prática, verdadeiras "penas de morte", sem julgamento e sem lei. São sentidos ideológicos da vida e da morte, acobertando outras violências cotidianas. Violências que matam: a fome, seqüestros, corrupções econômicas e políticas. A eutanásia é também exclusão da cidadania, sua ausência. Exploração e embrutecimento do homem. Sua alienação. Em outros termos, o próprio homem inventa a linguagem da eutanásia e outras experiências culturais, de vida e de morte. Onde estaria a autonomia do paciente nessa sua " libertação da morte"? Nos seus familiares? Nos profissionais da saúde?

Segundo esse raciocínio, vida e morte, além do seu aspecto natural, são cultivadas (Boff, 1999). São experiências culturais. Mortos e vivos estão sempre juntos e contradizendo-se. A vida contra a morte. A morte contra a vida. Opondo-se. Invisíveis. A vida é tudo. Morte é ruína. Vida e morte transformam-se em mercadorias. Vida e morte nas igrejas. Vida e morte nos hospitais. Vida e morte nos assaltos. Vida e morte nas empresas. Vida e morte dos sem-terra-teto. Utopia do reino de Deus. Vida no além-morte.

Somos programados para viver e morrer. Projeto genético. Criamos a linguagem de outro projeto. Cultivamos outras vidas e outras mortes: projeto institucionalizado.

E mercantilizamos a vida e a morte.




Bibliografia

1. BOFF, Leonardo. Morte e ressurreição na nova antropologia, in Leonardo Boff, Ética da Vida. Brasília: Letra Viva, 1999: 219-237.
2. HORTA, Márcio Palis. Eutanásia – problemas éticos da morte e do morrer, in Bioética (rev.), V.7 num.01-1999. Conselho federal de Medicina, 1999: 27-33
3. LEPARGNEUR, Hubert . Bioética da eutanásia – argumentos éticos em torno da eutanásia, in Bioética (rev.), V.7 num.01-1999. Conselho federal de Medicina, 1999: 41-48.
4. MONTAIGNE, Michel de.(1553-1592): Ensaios. São Paulo: Nova Cultural, 1987.
5. OLIVEIRA, Fátima. Bioética – uma face da cidadania. São Paulo: Moderna, 1997.
6. SANVITO, Wilson Luiz. Eutanásia – os limites da assistência, in Valdemar Augusto Angerami – Camon (org.). A Ética na Saúde, São Paulo: Pioneira, 1997: 61-7

* texto publicado neste site originalmente em 2000.

Modernidade e suas contradições

by Francisco on domingo, 27 de setembro de 2009

por Francisco Antônio de Andrade Filho

"Se o progresso das Ciências e das Artes contribuiu para corromper ou apurar os costumes." (Rousseau)



É tempo de modernidade. Do progresso das tecnociências. É tempo de "crise" da razão moderna. De contradições. De limites. De novas possibilidades de intervenção no mundo e no próprio homem. De pluralismos éticos e científicos. Contraditoriamente, modernidade é tempo de destruição da natureza, da vida, do homem.

De um lado, há tempo e na história humana, já haviam florescidas as idéias dos filósofos: uma nova postura do mundo, da relação entre o homem e as realidades integradas, do homem, ser de cultura e produzido pela sociedade. É a modernidade nascida do Iluminismo, privilegiando o universal e a racionalidade, apostando na padronização dos conhecimentos e da produção econômica como sinais de sua época. São "novos tempos" em que se inaugura uma nova forma de pensar e de agir do homem em sua capacidade de inovar, de produzir ciência frente as grandes descobertas do seu tempo.

De outro, essa mesma modernidade revela sua face contraditória e seus limites. A filosofia entra em "crise"[1]. Crise dos valores morais e éticos. Ela nasce com a Ilustração, pela confiança iluminista na razão como força de progresso nas ciências e nas artes. De processo de moralidade e de eticidade. E entra em crise com a própria modernidade no desafio à relação entre ética e política, nas esferas da vida privada e pública.

A filosofia é desafiada a pensar-se em si mesma e na relação com outros saberes. Proclamada a falência da razão, atravessada pelo reino do desejo e da sensibilidade contra as ilusões da objetividade, a filosofia é questionada, convidada a procurar respostas e solução para dilemas da moral e da ética iluministas.

Na verdade, de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) a Immanuel Kant (1724-1804), entre outros, a vida e a natureza foram refletidas como vias que permitem juízos éticos quanto ao bem e ao mal, o justo e o injusto, o errado e o correto. Da filosofia sensualista de D'Alembert, Holbac e Helvetius que, nas sensações do prazer e do desprazer, do agradável e do desagradável, buscaram respostas para a felicidade e auto-realização do indivíduo.

É curioso observar que, nesses tempos modernos, mesmo a pretexto das "Luzes" e do "Progresso", de "Humanidade", de "Civilização", Biociências, Biotecnologias, Ciberespaço, Internet, Globalização, entre outras palavras-chave da modernidade, mesmo assim, o homem ocidental continuou escravizando os seus semelhantes, em nome de uma igualdade de todos os homens. Atualmente, o direito à segurança é um direito fundamental do cidadão. Precisamos admitir que o progresso científico não garante o progresso moral e nem os direitos humanos. Perdeu-se o sentido do "ethos" como "lugar em que se habita", de sua dimensão axiológica, dos modelos sócio-culturais; e das regras e dos comportamentos tradicionais. Como se pensar nessas realidades?

Talvez as respostas de Rousseau e Kant a este desafio nos sirva de apoio para as questões fundamentais do mundo atual. São novos desafios ao saber filosófico, novas indagações da atividade reflexiva, suas respostas às problemáticas da pós-modernidade.

Problematizando as indagações de seu tempo, o filósofo genebrino constrói um saber filosófico rico de expressões éticas[2]. Para ele, o homem nasce livre. Repugna-lhe a crueldade e a violência do "progresso" e as contradições das ciências e das artes de seu tempo.

Na verdade, a Academia de Dijon, na França do Século XVIII, lança, no Jornal "Mercure de France", um primeiro desafio à filosofia moderna. Indagava-se "Se o progresso das Ciências e das Artes contribuiu para corromper ou apurar os costumes" [3] . Em conexão deste texto integrado com outras obras do mesmo pensador, conhecemos outros desafios publicados pela mesma Instituição: "Qual a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens?" [4]

Rousseau responde pela negativa. Diz: Não! à primeira questão. Pensa, negando. Negando, pensa. Apaga e ascende a luz da razão. A razão vê no escuro e no claro. Critica e afirma. Cultiva a natureza. Trabalha as ciências e as artes. Não as destrói, nem as artes, nem as ciências. Faz progredí-las. Perante elas, cria uma racionalidade ética e de direitos culturais e artísticos. Confirma-o, pois, Rousseau, no Primeiro Discurso [5], ao delimitar o objeto de sua pesquisa: aquelas "verdades que importam a felicidade do gênero humano", ou da "virtude que defendo".

Insiste ainda na busca de uma fundamentação dos desafios políticos lançados à filosofia. E a encontra naquelas indagações de seu tempo. Criticando os costumes corruptos, da inversão ética nas práticas políticas do Século XVIII, assim pensava:

Na política, como na moral, é um grande mal não se fazer de algum modo o bem e todo cidadão inútil pode ser considerado pernicioso (...). Os antigos políticos falavam constantemente de costumes e virtudes, os nossos só falam de comércio, de dinheiro e de poder. Avaliam os homens como gado. Segundo eles, um homem só vale para o Estado pelo seu consumo.[6]

Para Rousseau, a razão política está em crise. Na cidade não existe o cidadão. Foi anulado, nulificado, sem "costumes e virtudes". O comércio, o dinheiro e poder são valores humanos para uma minoria e a maioria excluída, à margem da sociedade, sem esses bens econômicos. Sem viver. Sem direitos.

Para esse pensador, a mesma razão moderna foi diluída. Virou pó, em crise cultural. Péssima e inútil produção científica. Cultura envergonhada pelos letrados ociosos, perniciosos ao Estado. Chusma de escritores obscuros que, em pura perda, "devoram a substância do Estado" [7]. E indaga: "Que é a filosofia? Qual o conteúdo das obras dos filósofos mais conhecidos? Quais são as lições desses amigos da sabedoria? " [8] Cada um grita em praça pública: "Vinde a mim. Só eu não engano." Eu sou de Voltaire. Eu sigo Bobespierre. E a sociedade distante, sem resposta para seus problemas. A filosofia é desafiada. Rousseau buscou sua fundamentação e a encontrou. Pensou seu tempo, sua história.




Notas

1. Vários pensadores atuais entram nesta discussão. Ver Manfredo Araújo de Oliveira, A Filosofia na Crise da Modernidade, Ed. Loylola: São Paulo, 1998. Adauto Novaes (org.), A Crise da Razão, Companhias das Letras: São Paulo, 1996.____________ , Ética, Companhia das Letras: São Paulo, 1992.
2. Essas idéias iluministas constituem objeto do projeto de pesquisa Princípios do Direito Civil: Sociedade Civil Segundo Jean-Jacques Rousseau, dentro do Programa de Bolsas de Iniciação Científica/UNICAP, para os alunos Tiago de Melo Correia e Ângela Celi Leite Valdivino, orientados pelo Prof. Dr. Francisco Antônio de Andrade Filho.
3. Rousseau, J.-J. Discurso Sobre as Ciências e as Artes, Nova Cultural: São Paulo, 1987, P. 137.
4. ____________. Discurso Sobre a Origem das Desigualdades entre os Homens, Nova Cultural: São Paulo, 1987, p. 7.
5. idem, Discurso Sobre as Ciências..., p. 137.
6. op. cit. p. 148.
7. id. ib.
8. cit. 153



* texto publicado neste site originalmente em 1999.

Filosofia no tempo da globalização: modernidade e pós-modernidade

by Francisco on terça-feira, 22 de setembro de 2009

por Francisco Antônio de Andrade Filho

A Filosofia enfrenta, hoje, os desafios (Japiassu, 1997) da era da globalização "o de pensar-se nos dias de hoje" e "a chamada pós-modernidade", entre outros, de repensar o pensamento científico, não só enquanto atividade de pesquisa e atividade intelectual, mas enquanto atividade social estreitamente ligada, de modo complexo, às estruturas e às conjunturas sócio e econômico-políticas. É o tempo propício de conceber e de se praticar a filosofia: a habilidade de buscar um outro modo de ver e de pensar as realidades em suas múltiplas dimensões, entre as quais as novas teorias da linguagem provenientes das tecnologias da inteligência.

O que é modernidade? O que é pós-modernidade? Qual a relação entre si e dentro de um determinado processo histórico?

Suponho encontrar possibilidades de trabalhar estas questões frente aos desafios à Filosofia na pós-modernidade envolvida nas novas tecnologias dos dias de hoje. Pois, atividade filosófica "não consiste em justificar e legitimar o já passado", mas em elaborar constantemente uma crítica do pensamento sobre ele mesmo. O filósofo, hoje, em sua arte de praticar a filosofia integrada a áreas afins, não tem o direito de permanecer surdo. Produz suas pesquisas não só enquanto tais, mas enquanto "atividade social". Revela estudos e pesquisas. Sabe trabalhar projetos integrados de pesquisa. Tem habilidade de assumir radical e plenamente sua tarefa de "reflexibilidade" capaz de situar temporalmente suas "categorias", suas questões e suas práticas de ensino, pesquisa e extensão.

Sem excluir sua prática, penso poder tomar o capitalismo (ANDRADE FILHO, Francisco Antônio de, 1994) como via de acesso à modernidade. Pois, de nenhuma criação histórica pode se dizer com mais propriedade que seja tipicamente moderna como do modo capitalista de reprodução da riqueza social e inversamente, nenhum conteúdo característico da vida moderna é tão essencial para defini-la como o capitalismo.

Esse caráter peculiar da modernidade configurada pelo capitalismo, de mudança radical revolucionária da história, abre caminho à "emancipação social" do homem. Realidade efetiva e ativa da riqueza moderna, o capitalismo, porém, desvela processo limitado e contraditório. Indispensável para a existência concreta da riqueza social moderna, a mediação capitalista, contudo, corrói. Dilui-se. Não se afirma como condição essencial e única de sua existência, enquanto explora a força do trabalho.

A atitude reflexiva da Filosofia serve como instrumento na arte de pensar e transformar a realidade social de nossos dias, principalmente se se trata de compreender a "moderna sociedade capitalista" (MARX, K. & ENGELS, F., 1982). Esse exercício do filosofar tem sua importância ao mostrar o real significado da modernidade, indo às raízes da questão para apreendê-la como movimento real, movimento contraditório, movimento dialético entre os diversos momentos do político, do jurídico, ideológico, científico e religioso que compõem a totalidade social, tendo como "última instância" a economia. Essa Filosofia tem muito a dizer do "capital global", desvendando o dinamismo, as contradições e as crises desse sistema, também numa perspectiva do proletariado, cujo trabalho constitui o ser humano, em sua sociabilidade, consciência e liberdade.

Assim, entendo a modernidade como um processo histórico. Como conhecer o sentido profundo desse tempo? Ela não é uma elaboração subjetiva, mas uma apreensão do movimento da própria realidade, da materialidade, das condições de existência do homem. É uma "atividade humana sensível... atividade humana como atividade objetiva" (MARX, K., 1982).

A modernidade não é uma idéia em si mesma, mas a idéia como produto humano, a forma pela qual os homens pensam e refletem as suas condições e relações sociais. Ela é essa realidade do mundo do homem, como realidade feita pelo homem. É a coisidade da "sociedade burguesa moderna" (MARX, K. & ENGELS, F., 1987).

É a partir desse conhecimento do processo histórico enquanto totalidade social, na "globalidade" e no conjunto das relações de produção como "base real" (MARX, K., 1982) que se apreendem dialeticamente as formas de consciência que dela se desprendem. Desse "ser social que determina a sua consciência" é que se entendem os processos sociais da globalidade capitalista, nos dias de hoje, e numa perspectiva do trabalho humano. E nasce uma nova questão que desafia à Filosofia: a pós-modernidade. A que idéias e práticas se refere algo tido como pós-moderno?

É um termo que parece significar tudo e nada (ROCHA, 1998). A pós-modernidade é um processo que, por estar ainda acontecendo, pode se desenvolver em várias direções. Ainda é cedo para se avaliar essa época atual.

De qualquer forma, a noção que está em jogo é a do novo, daquilo que está acontecendo no presente. É um mundo em ebulição, onde não há, então, nada definitivo. Tudo é passível de mudança, o que permite a afirmação: "Tudo o que era sólido e estável se esfuma, tudo o que era sagrado é profanado, e os homens são obrigados finalmente a encarar com serenidade suas condições de existência e suas relações recíprocas" (MARX, K. & ENGELS, F., 1987).

A globalização, que hoje conhecemos como prática, é assim percebida. Nascido nas ruínas do Feudalismo, o Capitalismo ultrapassou os limites da Europa Ocidental, implantou-se nas mais diferentes regiões do mundo, como modo de produção dominante na maioria dos países, inclusive, com mais evidência na destruição de outros modos de produção enquanto estava nesse movimento de expansão pelo mundo. Na fala de Marx "A necessidade de um mercado constantemente em expansão impele a burguesia invadir todo o globo. Necessita estabelecer-se em toda a parte, explorar em toda parte... deu um caráter cosmopolita à produção e ao consumo em todos os países... As velhas indústrias nacionais foram destruídas diariamente... encontramos novas necessidades, que requerem para sua satisfação os produtos das regiões mais longínquas".

De fato, urge considerar que, nas últimas décadas, ocorreram grandes revoluções científicas, transformações aceleradas das práticas culturais e político-econômicas. De modo cada vez mais perfeito, embora limitado, o homem produz novas tecnologias. Com elas se relaciona, vive e morre. Fabrica instrumentos da inteligência na pesquisa de técnicas e de objetos técnicos. As biociências produzem as biotecnologias com o poder de continuar investigando a utilização da matéria com a industrialização e com o mercado da vida.

Mais do que nunca o pesquisador (ANDRADE FILHO, Francisco Antônio de, 1999/2000), inclusive o filósofo, recorre às tecnologias da inteligência na área biomédica (BERNARD, 1998). Indaga e encontra respostas nessa "revolução terapêutica" que propiciou os grandes avanços farmacêuticos, ajudaram a debelar doenças mortais e deram maior garantia às cirurgias e transplantes.

Ainda mais. Com as novas biotecnologias, com essa outra "revolução biológica", de Engenharia Genética (OLIVEIRA, 1997), o pesquisador desenvolve técnicas de diagnóstico e técnicas de manipulação dos dados diagnosticados, e com o Projeto Genoma Humano, abre caminho para o domínio da reprodução biológica.

Os efeitos dessas transformações na produção do conhecimento genético (CLAGUE, 1999) acarretam suas implicações éticas. A clonagem animal e a possibilidade da clonagem humana, entre outras, constituem os avanços da ciência genética. Progressos científicos esses que, segundo a bioeticista Julie Clague, "afetam as atitudes em relação à vida, à morte e à saúde; afetam a disponibilidade concreta dos recursos biomédicos; e afetam também as práticas de pesquisa em muitas culturas onde a maioria da população jamais terá a oportunidade de compartilhar os benefícios da genética avançada".

Na verdade, essas descobertas do tempo atual suscitam mais fortemente suas questões éticas, sociais e econômicas. Bilhões de dólares são investidos pelos países desenvolvidos. Eles esperam daí lucros enormes em termos de aplicações comerciais para suas indústrias biotecnológicas. Exigem a transformação do conhecimento científico em produtos lançados no Mercado Mundial.

Assim, referindo-se às pesquisas genéticas desenvolvidas pelo Projeto Genoma Humano, a mesma Julie Clague cita o filósofo francês Jean François Lyotard, e percebe as relações entre ciência e economia nas sociedades capitalistas avançadas:

"As relações dos fornecedores e usuários de conhecimento com o conhecimento que fornecem e usam está agora tendendo, e sempre mais vai tender, a assumir a forma que já tornaram as relações dos produtores e consumidores de mercadorias com as mercadorias que produzem e consomem, ou seja, a forma de valor. O conhecimento é e será produzido para ser vendido, é e será consumido para ser valorizado em uma nova produção: em ambos os casos, a meta é o comércio".

Dessa reflexão, estenderemos o debate em torno de outros objetos novos que constituem verdadeiros desafios à filosofia. Daqui, partiremos para novos trabalhos em sua relação ético-política na era da informática e da comunicação social.




Bibliografia

* JAPIASSU, H. Um desafio à Filosofia: pensar-se nos dias de hoje. São Paulo: Letras & Letras, 1997.
* MARX, K. & ENGELS, F. Obras Escolhidas. Lisboa : Avante, 1982 (três volumes)
* __________________. O Manifesto Comunista de 1848. Edições Moraes, 1987
* ROCHA, Adriana Magalhães. Pós-Modernidade: Ruptura ou Revisão? São Paulo: Editora Cidade Nova, 1998.
* BERNARD, J. A. Bioética. Editora Ática, 1998.
* OLIVEIRA, Fátima. Bioética: uma face da cidadania. São Paulo: Moderna, 1997.
* CLAGUE, Julie. O conhecimento genético como uma mercadoria – Projeto Genoma Humano, Mercado e Consumidores, in Sowle-Cahill (org.), Ética e Engenharia Genética, Conscilium, 245 (2), Rio de Janeiro: Vozes, 1998, p. 13 (157) a 24 (168).
* ANDRADE FILHO, Francisco Antônio de. O Problema da modernidade no Pensamento Político da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – 1952-1988. (Tese de Doutorado, ICHC, UNICAMP – texto digitado, 1994).
* ANDRADE FILHO, Francisco Antônio de. et. alii. O Recado da Pesquisa (http://www.orecado.cjb.net). Indagar, questionar, problematizar - do senso comum à consciência filosófica; Concepção de Liberdade em Montesquieu; Modernidade e suas contradições; O DNA e a justiça social; A Ética no Pensamento Político de Baruch de Espinosa; Bioética: medicina e sua relação com a antropologia filosófica; Informação ou Comunicação?; A questão paradigmática e a atualidade; Existe uma Ética do Serviço?; Bioética e sua relação com o Direito; Eutanásia: a vida produz a morte; Engenharia Genética - algumas implicações ético-filosóficas; Bioética - um novo desafio à Filosofia; O que é Bioética?; O Biofilho; Para Conhecer a Bioética - um novo paradigma da relação entre ciência e tecnologia; Relato de uma Experiência de Estudos e Pesquisas em Bioética; Relação entre Bioética e Psicologia: O Paradigma entre Caim e Abel




* texto publicado neste site originalmente em 1999.

Diário de Leitura: por uma ética profissional e afetiva

by Francisco on domingo, 12 de julho de 2009

por Francisco Antônio de Andrade Filho

Nelma Penteado

 



Nelma Penteado é uma das intelectuais mais famosas e respeitadas no Brasil. Tive a alegria de conhecê-la num evento “De Bem Com a Vida”, ocorrido em Aracajú/SE, 03 de julho de 2009. Uma excelente pessoa humana, com a qual provocava paz e alegria no Teatro Tobias Barreto, repleto de aproximadamente um mil e seiscentos ouvintes. Sua palestra, rica de conteúdo e cheia de energia divina, fazia vibrar corpo e alma nos participantes.

Neste mesmo dia, senti-me abençoado por Deus. É que, de público, me convidou a subir no palco daquele Teatro, onde junto com minha esposa, recebemos um lindo e precioso presente, este livro: “Inteligência Profissional e afetiva: desenvolva seu potencial rumo ao sucesso e à felicidade". Nelma Penteado. São Paulo: Matrix, 2004. Ela autografou, com os termos: “Queridos diamantes, Francisco e Tânia”.

Escritora, palestrante e autora de outros livros, a Nelma abre novos caminhos de paz e amor. Por isso, ela é chamada de Diva da Auto-Estima e Diva da Felicidade. Toca o corpo e a alma de seus leitores. É assim, com extrema delicadeza que a escritora chega ao coração e à mente dos homens e das mulheres. Lança o olhar sobre seus sonhos; sobre suas perdas e ganhos; despertando para o agora, num forte desejo de viver de forma diferente; de aproveitar cada instante; de valorizar cada minuto, enchendo-o de beleza; de verdade e de leveza. Revela suas experiências e desvela o vivido do outro, também entrelaçado de uma saudade gostosa de algo trabalhado em plenitude.

Inspirado na leitura atenta e reflexiva, Dr. Mailson da Nóbrega ao prefaciar o livro escreve: “Minha impressão é a de que Nelma escreveu o livro pensando em seu numeroso público. Daí os conselhos que ministra com ponderação e bom senso. Além disso, o texto é freqüentado por pensamentos impregnados de sabedoria [...] Ou este: “Não deixe passar um dia sem expressar seu amor, seja através de palavras, gestos ou demonstrações de afeto”.

Dedicado e com respeito, li suas primeiras páginas. Fiz anotações no meu diário de leitura. Percebo que Nelma, numa dimensão holística, descobre trilhas de ética profissional e afetiva. Vejo nesta “Inteligência Profissional e Afetiva”, uma rica relação de ética e a espiritualidade. Penso que seus leitores desenvolverão atitudes corretas para com seus semelhantes baseando-se na bondade, no amor, no respeito, sobretudo na clara percepção da singularidade de cada ser humano.

Ao longo de alguns de seus parágrafos, capturei recados de felicidade. Senti que a autora, artista da letra, e com muita emoção, faz um convite à reflexão e à descoberta do viver feliz, do nascer-criança ao envelhecimento saudável. Encontrei espaços que me indicaram caminhos de vida em busca de realizações na história do ser humano, criança, adulto e velho.

Para conhecer mais, acesse o site www.nelmapenteado.com.br

Promessa de uma Assembléia Nacional Constituinte

by Francisco on quinta-feira, 2 de julho de 2009

por Francisco Antônio de Andrade Filho

Catedral de Brasília

 



Tancredo de Almeida Neves, José Sarney e a CNBB dispersaram as massas. Escorados em suas armas de comando, desintegraram-nas com promessa de uma Assembléia Nacional Constituinte. Temeram o Povo.

A Mensagem nº 343/85 e a Emenda Constitucional nº 26/85, José Sarney convocou a Assembléia Nacional Constituinte. Dois anos mais tarde, em 01/02/1987, com os discursos de instalação e posse do evento, do Presidente do Supremo Federal José Carlos Moreira Alves; o Deputado Ulisses Guimarães foi eleito Presidente da Constituinte.

Sob a égide da modernidade, evocada na tradição, os representantes políticos e eclesiásticos garantiram uma nova constituição. Quais imperadores e inimigos das massas, eles se denominaram tutores da soberania popular. Garantiram às multidões substituir o caos jurídico-institucional da velha constituição, imposta em 1969 pela Junta Militar do regime autoritário.

Para essa elite política, parecia fácil derrotar a concentração do poder e da renda – corrosão dos valores básicos -, tudo isso substituído por uma nova constituição. Nascia um novo império camuflado no projeto político, defensor das liberdades democráticas e conquistas sociais almejadas por todos os “brasileiros e brasileiras”.

A CNBB não se omitiu ao acontecimento. Pois, seu Presidente, Dom Ivo Lorscheiter, em 31 de janeiro de 1987, véspera da instalação do evento constituinte, falou: ”O momento político em que vivemos é de transição...”. Inserida na História, a Igreja é o mundo dos homens, com os mesmos desejos de mando na liberdade do outro. Por mimese, fala a linguagem dos políticos. Ameaçada, teme as massas.

As colunas do Trono e do Altar se associam, instaladas na Assembléia Nacional Constituinte. Assim, na Catedral de Brasília, o Presidente da CNBB evoca a proteção divina e o respeito aos ditames da reta consciência à lei de Deus. E dita: “O nome de Deus presidirá, então, não apenas o texto escrito, mas a organização concreta da sociedade brasileira e a vida do povo”.

Foi nessa época que, naquele mesmo templo religioso, o “Te Deum Laudamus” é entoado, uníssono, com o “Hino Nacional” no Congresso. Deslocado, cheio de louvores, em Latim e em Português, Deus não mais detesta a tirania, nem desaprova aos tiranos. É que a CNBB sentou-se no “Plenário Pró-Participação Popular na Constituinte” para a politicalha, da burguesia brasileira ser protegida e abençoada por Deus. Objetiva-se com isso, escrever a lei da Democracia impossível, enquanto governo da ganância do capital e (des)governo do trabalho.

Para tanto, lenta e sorrateiramente, a Igreja se movimenta em direção ao povo. Fala. Escreve. Ora. Age para não ser tocada nem fisgada pela massa Sabe que, ao destruir diferenças e aniquilar “Hierarquias firmemente estabelecidas, na conquista da igualdade com o outro, a massa popular se volta contra ordens tradicionais – quer políticas, econômicas, filosóficas ou religiosas -, “já não se conforma com condições e promessas piedosas”.

Na expressão de Elias Canetti, é “o perigo”, a paranóia dos que mandam, rondando na igualdade das multidões, que não distinguem nem superior, nem súdito; nem Presidente, nem deputados e senadores; nem Papa, nem CNBB e nem leigos. As massas querem experimentar por si mesmas o sentimento supremo de sua potência e de sua paixão selvagens.

Sarney: Tudo pelo Social no Plano Cruzado

by Francisco on sexta-feira, 26 de junho de 2009

por Francisco Antônio de Andrade Filho

Horizonte

 



Era preciso mais arte de manobrar as massas no regime ditatorial anterior em sua distensão militar.

À luz da filosofia política, vimos José Sarney aplaudir a valentia do povo na execução do Plano Cruzado contra a corrupção da ordem econômica e social. A fala do Presidente, no espelho das forças populares, se fez também em ciência e tecnologia, a serviço da população. A nova bandeira costurada na velha se percebia a expressão-chave do “Tudo pelo social”. Tornava-se a miragem da massa científica.

O “tudo pelo social” no Plano Cruzado se constituía compromisso de mobilizar todos os esforços no combate à pobreza e ao desemprego. Exigia-se uma política nacional de desenvolvimento científico e tecnológico. Urgia a participação popular no trabalho dos cientistas.

Com uma câmara escura nas mãos, o Governo Sarney camuflava o “o novo modelo de desenvolvimento econômico e social”; o marco fundamental do perfil da sociedade; da democracia recém conquistada; de fora, pelas massas na rua, nos sindicatos, nos templos religiosos, nas cidades universitárias, nos laboratórios de pesquisa, públicos e particulares. Com a mão direita no coração, Sarney eleva sua voz em defesa das metas sociais da democracia. Segundo ele, o sistema político social deve guiar-se pelo compromisso de resgatar amplas camadas da população brasileira.

Era a ambigüidade da conciliação conservadora, conservantismo civilizado esse, como prática e como padrão ideológico e político. Imperava a ideação do povo, cooptada por Tancredo-Sarney, em nível de discurso e germinada desde a “distensão de Geisel, passando pelos ruídos dos sinais de “abertura” de Figueiredo para a “transição”. Todos eles garantiram, com isso, a interceptação das massas em sua consciência coletiva e individual. Traçaram-lhes outras rotas para deter suas ondas ameaçadoras. Nelas atuaram e conseguiram barrar a força dos movimentos populares.

A esta altura, com o pai do plano cruzado, urge tomar a decisão de alterar o discurso político, outorgar-lhe o exclusivo controle do processo no qual toda comunidade está participando.

De outro, à luz da ideologia do Governo Sarney, era necessário construir um novo horizonte para uma mudança sem ruptura. Foi fácil apropriar-se das massas e subsumi-las sem agentes políticos. Pois, as massas transbordavam dos canais de repressão e rotina, criando órgãos paralelos de representação de demandas e formas diferentes de mobilização.

Jesus ora por si mesmo e pelos seus [Meditação 1]

by Francisco on domingo, 21 de junho de 2009

por Francisco Antônio de Andrade Filho

Jesus ora por si mesmo e pelos seus

 



Jesus falou estas coisas. Depois, olhou para o céu e disse: "Pai, chegou a hora: glorifica teu filho, para que teu filho te glorifique [...] Rogo por eles: não rogo pelo mundo, mas pelos que me deste, porque são teus; tudo o que é meu é teu e tudo o que é teu é meu. É assim que sou glorificado neles" (Jô. 17, 1; 9).

Antes de partir para junto do Pai, Jesus reza por todos nós e o Evangelho de João registra essa oração. Jesus inicia esta oração rezando por si mesmo, uma vez que ele sabe que o sofrimento está chegando e que deve estar preparado para esse momento. Em seguida, Jesus diz ao Pai que cumpriu a missão aqui na terra, de modo que o Nome de Deus foi manifestado aos homens sendo que sua mensagem foi acolhida. Todos viram nele como Jesus de Nazaré, filho do casal José e Maria. Sua humanidade revelava-se tão divina que seus fiéis e o próprio Jesus, aceitaram ser o enviado do Pai na unidade do Espírito Santo. Em seguida, rezar por todos os que creram em suas palavras.

Essa, a espiritualidade bíblica, centrada na mensagem de Jesus. Assim, testemunha João ao escrever seu Evangelho. Jesus rogou ao Pai, primeiro para se mesmo; depois orou por todos os que creram em suas palavras. O Filho de Deus pensou nele e nos outros. Ele amou a si mesmo e ao seu próximo, seus discípulos. Esse, o significado profundo da espiritualidade.

Outros líderes espirituais, alinhados não apenas a religiões; mas também, de cunho filosófico ou de outras áreas científicas, a medicina, por exemplo; todos confirmam a mesma necessidade da dimensão espiritual do ser humano. É a integridade humana que está em jogo. Ademais, toda Natureza é a maior expressão dessa verdade.

Para exemplificar, eis as sábias palavras de dois mensageiros espirituais que, a exemplo de Jesus, anunciaram. Luiz Antônio Gasparetto fala: “Se eu me amo, estou preenchido.” “Se me considero, me sinto preenchido.” “Se me aceito, me sinto preenchido.”

É nesse sentido da fala espiritual do Gasparetto que se descobre a verdade. Na realidade, como se pode considerar o outro, quando você mesmo não se considera? Igualmente, amar o outro, quando não se ama? Quando você se quer ser preenchido por essas virtudes, seu próximo receberá a mesma recompensa, feliz com seu agir cristão a favor dele. Então, não é egoísmo amar primeiro a si mesmo; depois, será fácil preencher o outro com a mesma postura.

Enquanto isso, Dalai-Lama escreve o que pratica, nestes termos: “A essência de toda vida espiritual é a emoção que existe dentro de você, é a sua atitude para com os outros. Se a sua motivação é pura e sincera, todo resto vem por si. Você pode desenvolver essa atitude correta para com seus semelhantes baseando-se na bondade, no amor, no respeito, sobretudo na clara percepção da singularidade de cada ser humano”.

Aracaju, 20 de junho de 2009.

Sarney: O Presidente da República do Cruzado

by Francisco on quarta-feira, 17 de junho de 2009

por Francisco Antônio de Andrade Filho

José Sarney

 



Frágil e enfermo como aquela transição democrática, Tancredo Neves morre coroado “herói da Nova República”. Emocionado, com lágrimas nos olhos banhando a alegria de seu coração, assume o vice. Do nada – enquanto o esquife subia a rampa do Planalto em Brasília; ou descia à tumba em São João Del-Rey, Minas Gerais –, qual fantasma José Sarney já nasce presidente da república do cruzado.

O vice do Tancredo, agora, Presidente do Brasil, José Sarney promete continuidade ao projeto alicerçado pela Aliança Democrática. Mórbido em Funaro e molhado com as lágrimas de Conceição, o novo presidente tem o mesmo propósito de domesticação das massas. Faz do Povo, fiscal do Plano Cruzado, manobra fácil e mágica na palavra dos que mandam ou desejam dominar. À luz de sua ideologia, as massas manobradas são agentes de transformações políticas, sociais e econômicas sofridas pelo país.

Buscando força nos movimentos de rua que derrubaram o regime militar, José Sarney concitou o povo a usar de sua coragem. Numa postura de dominação, conclama-o para a guerra contra a inflação. Covardemente - à distância e com medo das massas -, projeta reverter o curso dos acontecimentos impulsionados pelos movimentos populares que inspiraram as primeiras iniciativas da Nova República.

Sentado à cabeceira da mesa, no Palácio da Alvorada – não mais nas praças públicas das cidades brasileiras; à distância e com medo das massas -, o substituto de Tancredo dita à sombra da ideologia camuflada em seu discurso para seus Ministros, nestes termos:

“Esta é uma convocação para que juntos, governo e povo tomemos uma decisão grave e difícil [...] O caminho que escolhi não é o caminho dos fracos [...] Mas, não bastará nossa firmeza, se faltar a coragem do povo que vai derrotar a inflação. Iniciamos hoje uma guerra de vida ou morte contra a inflação. A decisão está tomada. Agora, cumpre executá-la e vencer [...] Todos estaremos mobilizados nesta luta”.

À exemplo de seu antecessor, Sarney já havia acompanhado o povo na rua, percebido ao estilo da obra Massa e Poder, de Elias Canetti ¨que escreve: ”a massa, uma vez formada, quer crescer rapidamente – ela sente como limitação toda e qualquer coisa que se opuser ao seu crescimento”.

Por isso, sabendo que “O ataque exterior à massa somente pode fortalecê-la”, Sarney aplaude e se apropria da valentia do povo na execução do Plano Cruzado contra a diluição da ordem econômica. E o pior, esse plano político-econômica já havia decidido nos porões do Palácio da Alvorada no Brasil e da Casa Branca dos Estados Unidos; sem ouvir “os brasileiros e as brasileiras”; nem americanos; sem nenhuma participação da sociedade civil.

Essa fala, no espelho das forças populares, era a câmara escura, invertida e pronunciada “Nova República” pelo herdeiro do “Estado Novo”, agora, República do Cruzado – em sua essência desenhada pelo Sarney na maquete da “Velha” -, se fez presente nas posturas políticas de seu governo.

Ideologia Política da Nova República do Brasil [Parte 3]

by Francisco on sábado, 13 de junho de 2009

por Francisco Antônio de Andrade Filho

Protesto

 



Manobradas pela ideologia política do neoliberalismo, as massas exigiam a realização de eleições pelas “INDIRETAS COM TANCREDO – JÁ”. Uníssonas, de mãos dadas, repudiavam o golpe militar de 1964. Às caladas da noite, o “herói da Nova República” falece e é coroado “o mártir da democracia”.

Entusiasmadas pelos discursos neoliberais, as massas exigem a realização de eleições pelas “Diretas - Já” e depois, pelas “Indiretas com Tancredo - Já”, ou pelo “Muda Brasil”. Repudiavam a República dos Generais. Nela, os tiranos produziram a história da negação das liberdades humanas pela repressão militar, amparada com a bênção divina dos capelães, pastores católicos, evangélicos e outras forças míticas e ecumênicas. Eram os deuses-homem, profanos e sagrados, com desejos de mando.

Em contrapartida, ludibriadas pelo mesmo sistema – poder civil acoplado ao poder sacro –, as massas ovacionam o paladino mineiro, depositário de todas as esperanças do povo. A esta vivacidade popular, iniciada desta vez, pelo Partido dos Trabalhadores/PT, em comício, frente ao Estádio do Pacaembu, na Cidade São Paulo, incorporam-se todos os partidos políticos com exceção da Aliança Renovadora Nacional, ARENA que dá sustentação ao governo agonizante.

Contudo, ao invés de provocar-se a precipitação da queda do regime, essa mobilização serviu como meio de sustentação de um acordo político que viabilizou a eleição de Tancredo Neves a Presidência da República. Ficou instalado o apaziguamento dos ânimos militares com respeito ao primeiro governo civil. Os trabalhadores não perceberam a força das massas, suas formas de expressão na busca de metas sócio-econômicas. O herdeiro de Getúlio Vargas, com sua sensibilidade humana e política, conseguiu desintegrar as massas. Preservou a República velha ou o Estado novo, costurada na nova República.

Antes de tomar posse, porém, Tancredo Neves cai gravemente enfermo. E morre. No palanque, o poder, o “herói da Nova República” não fez história. Nada de real, apenas aparências. Na terra, finito, instável e frágil como a transição democrática, apregoada do alto de seus palanques políticos às massas populares.

Coroado “o mártir da democracia”, a morte firmou-se soberana, reconhecida por todo o povo, que rezou com fé em Deus e amor ao enfermo no Hospital de Base ou pelo defunto, quando a esquife subia a rampa do Planalto, Brasília; ou descia à tumba em São João Del - Rey, Minas Gerais.

Eram as multidões, que rezavam na esperança de vida ou morte do nobre ou do tirano. Massas que, na marcha de sua liberdade, riram de seus ditadores e choraram a mentira de seus representantes-tutores. Do povo em oração, pondo-se em contato com o destino, contra ele, no apelo à divindade; e ao infinito, a solução dos problemas reais.

Era força popular que, no fundo do seu sofrimento, contra o arbítrio militar, do poder coercitivo-físico que se insurgia contra as multidões desenfreadas no caminho da história, na conquista da liberdade.

Corpus Christi

by Francisco on quinta-feira, 11 de junho de 2009

por Francisco Antônio de Andrade Filho

Corpus Christi

“Afasta para longe de Mim o barulho de teus cânticos. E que Eu não ouça o som de tuas harpas! Mas que o direito corra com as águas, e a justiça, como o rio que nunca seca” (Amós, 5, 23.24).

 



O Povo de Deus celebra a tradicional festa do Corpo de Cristo. Neste dia, os seguidores de Jesus meditam páginas vitais da Sagrada Escritura: Amós, 5, 21-24; Gen. 14, 18-20; 1 Cor. 11, 23-26; e Lucas 9, 11-17. Anunciam que Deus compartilha a sua presença conosco naquele encontro que nos une na essência da espiritualidade, de uma atitude correta para com nossos semelhantes baseando-nos na bondade, no amor, no respeito, sobretudo na clara percepção da singularidade de cada ser humano.

Ao comemorar esta festa, a comunidade dos cristãos indaga: pode-se ter de um lado a celebração do Corpus Christi, e de outro, viver na injustiça? Que sentido tem celebrar esta festa numa comunidade onde oprimidos e opressores se encontram lado a lado? Nesta atual situação política do Congresso Nacional, de assalto oficial – ainda bem de uma minoria de Deputados e Senadores -, aos cofres públicos, é responsável celebrar o Dia do Corpus Christi e deixar que tudo corra como estar?

A Bíblia responde: “odeio, desprezo vossas festas e não gosto de vossas reuniões. O altíssimo não se compraz nas oferendas dos ímpios... Imola o filho na presença do pai quem oferece sacrifício com os bens dos pobres... é assassino do próximo quem lhes rouba os meios de subsistências e derrame sangue, quem priva o assalariado de seu salário”.

Filósofo e teólogo, eu também tenho resposta em diálogo: a celebração da festa do Corpus Christi não é simplesmente ir à Igreja para rezar a missa e se dirigir a outro culto religioso; ou acompanhar vaidosa e triunfalmente a procissão pelas ruas das cidades e dos campos. Não é simplesmente entendida simbolicamente na transformação do corpo e sangue de Cristo. É bem mais forte e cristão do que isso. Essa celebração é instrumento de transformação libertadora das estruturas injustas do capitalismo selvagem.

Nesse sentido, a festa do Corpus Christi, no Brasil, torna-se, na dimensão política, celebração da Soberania popular em busca de melhores dias de vida. É a celebração dos iguais nas igrejas, nos palácios, no Congresso, nas residências, nas ruas, no campo. Na Blogosfera com seu poder ético Na doação da capacidade de crítica, de suas conquistas, suas dores.

Deste modo, o feriado do Corpus Christi não é alienação, nem alienante. Para quem acredita, torna-se força de libertação, instrumento de denúncia contra a corrupção, a mentira, as CPIs opressoras e hipócritas de uma minoria de senadores e deputados; a má distribuição de renda nacional. Que os bispos, sacerdotes, pastores e fiéis fiquem em seus Palácios e residências; não se reúnam nos Templos, se antes “não soltar as algemas injustas, desatar as brochas da canga, libertar os oprimidos e despedaçar todo o jugo, vestir o homem roupa e não recusar a ajudar o próximo”. Sem isto, é hipocrisia, narcótico espiritual. Que a festa do Corpus Christi seja antecipação do Reino de Deus na transformação material-espiritual da história do Brasil hoje.

Ideologia Política da Nova República do Brasil [Parte 2]

by Francisco on sábado, 6 de junho de 2009

por Francisco Antônio de Andrade Filho

Brasil

 



O Pai da Nova República com a Colcha de Retalhos da Velha

O neoliberal conservador estava em Vitória do Espírito Santo. Foi em 1985. Vi de perto. Na sua habilidade carismática, própria dos autocratas, Tancredo de Almeida Neves decidiu, projetou e sutilmente anunciou “a construção de uma Nova República [...] a grande oportunidade de nosso povo”. E no espelho da multidão, tornou-se o Pai da Nova República do Brasil com a colcha de retalhos da Velha.

Foi nessa capital capixaba que Tancredo Neves percebeu a ação das massas. Com sua retórica verbal, o pai se transforma para elas no símbolo de emancipação humana, num herói de guerra sem combate; num protagonista da história de escravos; no reprodutor da Nova República. Embora não repetido, essa criação política tornou-se sinônimo de Estado Novo de Getúlio Vargas, com traços novos construídos pelo trabalho humano.

De um lado, o mérito do genitor desse novo tempo, se resume na astúcia de ouvir a voz do povo, de tramar mecanismos para controlar as mesmas massas. De outro, domesticá-las, com a linguagem de um novo discurso ideológico – a mentira maquiavélica -, como se fosse capaz de realizar a felicidade do povo.

E revestido com o manto sagrado da política – todavia profanado com remendos falseadores da velha –, Tancredo afirma: “Temos um povo com a consciência de uma força e de seu destino. Os duros sacrifícios transformaram-se, pelo milagre da fé, na impetuosidade cívica dos últimos meses. Não há quem possa fazer recuar”. E com gesto ameaçador, grita para as multidões: “Ai dos que pretenderem violar esta unidade, manchar esta bandeira de esperança”.

Além disso, mais ingredientes ideológicos são colocados pelo mineiro de São João Del Rei, na construção da Nova República do Brasil. Desta vez, é a participação popular que deve ser respeitada no sentimento de solidariedade da cidadania, de sua consciência política. Porém, sua preocupação central, é a tarefa de mandar nas massas, sem deixar de fermentá-las para atingir outros objetivos, outras metas.

Para ele, os problemas graves são aqueles que ferem o povo no que ele tem de essencial, nos anseios de profundas transformações sociais e econômicas, de demandas da sociedade civil. E qual Messias, numa paródia do profeta Isaias, Tancredo adverte: ”Chega de proclamarmos, para aplacar a consciência, o direito de todos ao trabalho. É hora de transformar tais intenções em fatos concretos. E é hora também de pagar salários justos aos que produzem”.

É tempo de edificar um Estado brasileiro - pensa ainda o Tancredo da Imaginária Nova República -, não outorgado pelas elites do poder, mas que erga da consciência coletiva, como resposta a anseios e necessidades. De leis que sejam a organização social da liberdade, a solução dos problemas do povo. De normas e leis exigidas pela moralidade e eticidade da sociedade humana.

Esse agir do pai da Nova República merece ser comentado pelos internautas dos blogs Desabafo e Dilma, entre outros. A parte dois, discutida aqui, sugere trilhas em busca da tarefa ideológica do neoliberal Tancredo de Almeida Neves:

 



1. Desta vez, percebe-se que a voz do genitor da Nova República teme as massas. Com Elias Canetti, reconhece a impetuosidade das massas em silencia, no primeiro momento; e com ruídos, no segundo passo. Caminha ou corre. Para as massas, não existem “portas fechadas”. Ataca a todos. E “destrói uma hierarquia que deixou de ser aceita”.

2. Parecia ser a massa cansada de “apenas contemplar o Brasil do “milagre econômico”. Mesmo sem as reais condições históricas,, queria “transformá-lo”. E, assim, “de todos os lados, pessoas começam a afluir como se todas as ruas tivessem uma mesma direção”.

3. É a massa que se abre, porque “quer crescer até o infinito”, mas por outro, se fecha, porque encontra obstáculos internos e externos. É sua fraqueza na força, a calma na violência de massas.

Ideologia Política da Nova República do Brasil [Parte 1]

by Francisco on sexta-feira, 29 de maio de 2009

por Francisco Antônio de Andrade Filho


[caption id="" align="alignnone" width="550"]Bandeira do Brasil[/caption]

 



Iniciando o Debate pelos Caminhos da Ideologia

Lembro-me muito bem. Ainda mantenho meu cérebro vivo. Está escrito na minha dissertação de Mestrado em filosofia política da UFMG (1981). Avancei mais, na tese de Doutorado em Lógica e Filosofia da Ciência Política da UNICAMP/SP (1994).

Foi no final de 1984-1988. Nesse tempo, brotou o processo ideológico da Nova República do Brasil. Desencadeou-se o movimento de massas, neste País. Feliz, senti nos ouvidos do corpo e da alma, os clamores de emancipação humana contra um regime militar falido. De um longo processo de resistência do povo brasileiro, que lhe deu a consciência de sua força, de sua potência concreta de aluir os alicerces da República dos Generais. As instituições políticas e religiosas interceptaram as forças populares na Assembléia Nacional Constituinte.

Filósofo, próximo à realidade de seu tempo, li “Massa e Poder” de Elias Canetti. O tema das massas na vida moderna visto por este autor é hoje muito discutido para se perceber como as instituições políticas e as igrejas manipulam o povo para determinados fins, particulares e coletivos. Parece poder afirmar que o pensamento político da Nova República do Brasil, percebe-se distintas, mas não diferentes formas de domesticação coletiva das massas.

A partir do final de 1984, é possível demonstrar como os movimentos histórico-populares, criaram espaços e condições ideológicas que permitiram trabalhar a “consciência das massas” no processo constituinte daquela nova república.

Tento compreender, por aí, como o pensamento liberal-conservador do Governo Tancredo Neves – José Sarney, sob a direção pastoral de Dom Ivo Lorscheiter, presidente da CNBB, interceptou as massas, as destituiu de seu pensamento e, com isso, conseguiu arregimentar o povo. Freá-lo para determinados fins. Caminhos ideológicos esses, de poderes políticos e sacros, perversos em seus desejos de mando, escamotearam as motivações mais profundas do maior movimento de massas no Brasil.

Nesta discussão inicial, deparo-me com algumas ações de caráter ideológico no processo político da Nova República do Brasil. Para os comentaristas do Desabafo e do Blog da Dilma, entre outros da Blogosfera, faço as indagações e colocações, a seguir:

 



1. Como postular uma coincidência entre a idéia de verdade e a idéia de eficácia, vale dizer, do pensamento e da ação, presentes na linguagem dos presidentes e cardeais brasileiros, supostos heróis individuais no comando das multidões?

2. No pensamento socialmente situado, tem a ideologia sua capacidade de levar à prática, de efetivar os projetos de dominação?

3. Como o Estado e as Igrejas tiveram forças de domesticar as massas? Os parlamentares, essas “excelências”, eleitas pelo Povo, com o Povo e para o Povo? Reformas ou remendos políticos, ditadas por deputados e senadores? E o que acontece nas poltronas dos ministros e ministras do STF? Que diferenças existem entre o agir do poder executivo de hoje, eleito pela soberania popular, e o do Governo Tancredo Neves - José Sarney, respectivamente, Presidente e Vice da Nova República do Brasil. Eleitos pelo Povo e/ou autocraticamente impostos?

4. Comente isso: a ideologia da nova república teve sua origem nas forças históricas do povo brasileiro. Expressa o “impulso de destruição da massa”(Elias Canetti), fazendo barulho com suas panelas vazias ou cantando o “Hino Nacional” e músicas populares, “Menestrel de Alagoas” e “Coração de Estudante” do Milton Nascimento. Lembram “os vigorosos gritos de uma nova criatura, os gritos de um recém-nascido.” São idéias que trabalharam a consciência das massas.

Ética e Espiritualidade na Cura da Dilma

by Francisco on sábado, 23 de maio de 2009

por Francisco Antônio de Andrade Filho

dilma-entrevista

Os corações dos homens e das mulheres - patriotas amigos e amigas do Brasil e de outros países -, vibram com a saúde da Dilma. Profissionais de saúde buscam na sua arte clínica, os caminhos da cura do câncer. Autoridades políticas, com suas sábias palavras, torcem pela cura da Mãe do PAC. Líderes e irmãos de diversas denominações religiosas acreditam que Deus proverá saúde e longa vida à ministra da Casa Civil. E a própria Dilma, relaxada e confiante, declara vencer a doença. O Blog Desabafo Brasil e o Blog Dilma produzem uma imprensa da verdade. Todos vivem a ética e espiritualidade na Cura da Dilma.

Neste relato, o diretor técnico do hospital, Antônio Carlos Onofre de Lira, e o diretor clínico, Riad Younes, do Hospital Sírio-Libanês, assinam e divulgam o boletim, nestes termos: “A senhora. ministra submeteu-se a uma ressonância magnética que se mostrou dentro da normalidade. Durante o dia de hoje continuará submetendo-se a novos exames.”.

De outro, lá da China, o digno Presidente do Brasil e “sem medo de ser feliz, Lula fala: “a Dilma está bem, vai fazer a quimioterapia dela e está totalmente curada; ou seja, não tem problema". Essa, a linguagem rica de energia de um poder com ética e espiritualidade na cura de sua ministra. Por sua vez, o presidente em exercício, José Alencar que luta há anos contra o câncer, testemunha aqui no Brasil: “Dilma Rousseff está bem”. As dores que ela sentiu na perna são decorrência da quimioterapia, da qual foi submetida depois da retirada de um tumor na axila esquerda”.

E do campo religioso, brotam palavras divinas para a cura da Dilma. Entre os evangélicos, a pastora Sandra de Andrade com fé e esperança garante: “...estamos confiantes em nosso Senhor Jesus Cristo e orando para que ele faça uma obra completa em sua vida”. E Jurandi Bezerra de Brito orou: “Que Deus abençoe e ilumine os médicos que estão cuidando da nossa querida ministra”. Mais um caminho que se cruza com o da ética e espiritualidade na cura da Dilma. E assim, será.

E a própria Dilma busca sua cura pessoal. Forte, otimista e cheia de fé em Deus e nela mesma, bradou: “vou vencer o inimigo”. E corajosa, falou: “A medicina avançou muito. Antes, o câncer não era uma doença, era uma sentença. Hoje, é tratável, curável. Eu tive a imensa sorte de ter detectado num estágio preliminar; e acho que tudo isso mostra a importância da prevenção”.

Todas essas posturas revelam os caminhos da felicidade de viver com saúde, de habitar no Brasil. São bússolas da ética e espiritualidade. Desta feita, para comentários na blogosfera, destaco sete tópicos da minha palestra, proferida no VI Congresso Brasileiro de Alzheimer, Recife/PE, entre 13 a 16 de agosto de 2008:

1. Essa meditação oportuna e pertinente, no campo da filosofia, faz lembrar a mensagem espiritual do Evangelho de Jesus (Lucas, 18:35-43), curando o mendigo de Jericó.

2. Aquele cego que, pelo ouvido, percebeu "o barulho da multidão que passava" ou pelo tato quando "Jesus parou e mandou que o trouxesse". O homem-Deus chamado Jesus, cheio de compaixão e ternura, confiança, doação, enternecimento, conquista a experiência espiritual de sentir-se filho de Deus, de afeto e de extrema intimidade para com a saúde integral daquele mendigo cego que nesse momento viu seu médico, observou a multidão e as belezas da Natureza. Sua alma não dói mais. Agora, ouvia e via. Sentiu-se feliz e vivo. E enxerga tudo. Que emoções transformadoras de vida. O cego encontrou seu caminho espiritual.

3. O que é ética? Confiança, respeito, unicidade, integridade; palavras-chave, eixos centrais de alguns caminhos da ética e da espiritualidade. Práticas constantes do bem.

4. É no ambiente, hoje, marcado por grandes transformações e processos contraditórios que a Bioética parece nascer como um novo domínio da reflexão e da prática, que toma como seu objeto específico questões humanas na sua dimensão holística, inclusive a espiritual no âmbito da prática clínica, jurídica ou da investigação científica.

5. Nesse sentido, compreende-se o significado da espiritualidade. Alguns estudiosos e pesquisadores entendem ser a espiritualidade “a qualidade de todo ser que inspira e respira; ser que vive como o ser humano, o animal e a planta”. Dá-se não apenas nas religiões, mas nas ciências entre outras dimensões humanas e as da Natureza.

6. Talvez a sabedoria antiga, registrada no Eclesiástico, cap. 30, 16-17, cuja meditação energética possa contribuir para a cura da Dilma. Neste livro está escrito: “Não há riqueza maior que a saúde do corpo, nem contentamento maior que a alegria do coração”.

7. Além disso, essa postura leva a se perceber a ética da responsabilidade coletiva no tornar mais humanos atos profissionais/paciente/família. Ao prestar cuidados, é essencial dar atenção à pessoa como uma totalidade única inserida numa família e numa comunidade.

8. Art. 1° - A Medicina é uma profissão a serviço da saúde do ser humano e da coletividade e deve ser exercida sem discriminação de qualquer natureza (Código de Ética).

Do Biopoder à Ética do Cuidado com a Saúde

by Francisco on segunda-feira, 18 de maio de 2009

por Francisco Antônio de Andrade Filho

Na primeira entrevista exclusiva concedida a um jornal, Dilma Rousseff, anunciou que enfrentará um tratamento de câncer. Forte, otimista e cheia de fé em Deus e nela mesma, bradou: “vou vencer o inimigo”. E sem medo de ser feliz, falou: “A medicina avançou muito. Antes, o câncer não era uma doença, era uma sentença. Hoje, é tratável, curável. Eu tive a imensa sorte de ter detectado num estágio preliminar; e acho que tudo isso mostra a importância da prevenção”.

Essa, a postura ética do cuidado com a saúde integral da mulher e do homem. É seu poder de vida. De cuidado com a saúde do corpo e da alma. É seu biopoder .

Enquanto isso, o descaso com a saúde é treva na voz insana e irresponsável de um político. Foi em 27 de abril. Aconteceu em Ribeirão Preto/SP. Serra afirma que gripe suína é “dos porquinhos para as pessoas só quando eles espirram ou quando a pessoa chega perto do nariz do porco”. Essa, a expressão simbólica da vacina “serra-suína”, fabricada pelo biopoder sem a ética do cuidado com a saúde.

E questiono: por que uma filosofia da arte clínica? A saúde é um direito ou dever?

Na discussão sobre bioética, a temática de equiparação entre o médico e o filósofo, da relação medicina-filosofia, na integração de seus saberes, pode, talvez, suscitar algum questionamento importante. Principalmente, quando, em nossos dias, a evolução dos aparatos médicos é tão grande, que temos, muitas vezes, vontade de superar a finitude humana e instaurar um reino de utopias, de “preocupações e razões de esperança”, no qual, pela ajuda da técnica e do desenvolvimento científico, o homem possa desafiar a morte.

Provoco um debate inicial com Galeno, ao escrever: ”O melhor médico é também um filósofo”. E no encontro com Erisímaco, médico – filósofo, li seu pensamento: ”Sim, há dois Eros. Médico, eu o sei, pois ele não se ocupa apenas dos corpos, mas também das almas. Médico, porém, sei que Eros é mais vasto, que seu poder não se limita aos homens, mas estende seu império a todos os seres”.

Na visão cartesiana, o corpo aparecia como uma máquina amiúde necessitada de ser reparada através de tratamentos particulares e intervenções impessoais. Na visão sistêmica, ao contrário, o corpo hoje é visto como um sistema complexo de partes interativas onde o corpo e a mente não são separáveis.

É necessário um novo modelo de empresa terapêutica, uma "medicina de relação", antes da medicina de órgãos, que recupere a totalidade do ser humano e considere o paciente como pessoa na unidade de todas as suas dimensões. É nesta "aliança terapêutica" entre médico e paciente, que pode animar uma nova cultura da saúde que evite a "coisificação" do paciente e a perda da humanidade na arte médica. O homem é corpo, psique, espírito, história, sociedade.

Lembro-me ainda que, aos 2002, a Organização Mundial da Saúde redefiniu cuidados paliativos, assim: “Uma abordagem que aprimora a qualidade de vida, dos pacientes e famílias que enfrentam problemas associados com doenças ameaçadoras de vida, através da prevenção e alívio do sofrimento, por meios de identificação precoce, avaliação correta e tratamento da dor e outros problemas de ordem física, psicossocial e espiritual”.

Filósofo, testemunho que o olhar desses profissionais do cuidado, se envolve com questões existenciais - a dor e o sofrimento humanos não apenas dor física -, mas a mental, social e espiritual. O ser humano como um todo, um nó de relações. É corpo. É alma. É profissional. Ama e sofre. É a mulher-mãe. É a ministra da Casa Civil, a primeira mulher presidente em 2010.

Entre Anjos e Demônios

by Francisco on sexta-feira, 15 de maio de 2009

por Clóvis Campêlo

Que cada um cuide bem dos seus demônios.

Eu também tenho os meus e os trato a pão-de-ló.

São eles que me ressuscitam para vida quando me sinto sufocado e anestesiado pelos sons celestiais dos anjos que se vendem a prestação em cada esquina da cidade.

Que cada um cuide bem dos seus demônios.

Aproveitem enquanto ainda estão marginalizados e não se tornaram produtos rentáveis explorados pela sociedade de consumo.

Que cada um cuide bem dos seus demônios, pois sem eles seríamos metade, incompletos e não beberíamos na fonte rejuvenescedora da maldade.

Que cada um cuide bem dos seus demônios, explorem a sua pemissividade, a sua falta de pudor, de ética, de moral, pois sem eles jamais saberíamos os limites entre o certo e o errado.

Que cada um cuide bem dos seus demônios, pois sem eles morreríamos de tédio, esqueceríamos os prazeres mundanos, desconheceríamos o lado impuro e podre de cada um de nós.


 




Recife, 2009

O que me Atrai é o que me Assusta

by Francisco

por Clóvis Campêlo
Para Cida Machado, minha mulher

 





Evoluir talvez seja quebrar paradigmas, romper convenções, desafiar a lógica. Se respeitarmos sempre as normas, o mundo não se move no rumo das mudanças. Seguir fielmente os modelos pré-concebidos que nos são impostos, talvez seja a melhor maneira de se apodrecer em vida e alcançar altos níveis de insatisfação pessoal.

Como já disse o poeta, gente é pra brilhar e não pra morrer de fome ou de tédio. Navegar contra a correnteza, no entanto, exige uma certa dose de coragem e de irresponsabilidade controlada. E o que mais nos poderá amendontrar nessa "contravenção" rumo à liberdade, será a percepção de que em alguns momentos fundamentais estaremos completamente sozinhos ou "mal" acompanhados.

Esse sentimento, porém, embora possa ser assustador, será o combustível necessário e que servirá de alimento aos espíritos inquietos e renovadores.

Assim sendo, o caminho da segurança não contemplará necessariamente a rota da felicidade.

Por outro lado, a felicidade poderá ser reconhecida nos atalhos acidentados de quem forja o próprio caminho caminhando.

Destoar dos padrões gerais e imobilizantes também exige uma certa dose de cautela para que a carapuça da discriminação não nos caia sobre as cabeças. Os homens "corretos", com suas leis anti-naturais, não costumam perdoar.

Enfim, sentir-se livre talvez seja ter a certeza de que somos definitivamente responsáveis por nossas vidas, nossos riscos, nossos terrores e êxtases.

Viver em comunhão conosco mesmos e coerentes com os nossos planos de vida, só nos custa isso.

Que o fogo das nossas vidas seja como a chama de uma vela acesa, que para arder plenamente se autoconsome.

Não precisamos ter medo da felicidade e da auto-satisfação.


 



Recife, 2009

Novo layout

by Francisco on sábado, 9 de maio de 2009

nota rápida: implementamos um novo layout para o blog.
Esperamos que você goste. :)

Dilma: Ética do Cuidado com a Saúde [Parte I]

by Francisco on quarta-feira, 6 de maio de 2009

Francisco Antônio de Andrade Filho

Aconteceu num sábado, dia 25 de Abril de 2009. Foi no Hospital Sírio-Libanês/São Paulo. A Ministra da Casa Civil confirmou que fará quimioterapia para combater um linfoma - câncer nos gânglios linfáticos. Notícias e lucubrações navegaram rapidamente pelo mundo inteiro. O Eros – desejos de vida; e o thanatos - desejos de morte. Vida e Morte, uma com a outra se contradizendo. Vida saudável para Dilma. Morte patológica dos deuses-homens, habitantes do mundo invisível, onde fantasias políticas travestem a realidade do golpe 1964.

De um lado, a Dilma é a expressão do “Eros”- emoções que brotam vida Com ela, a solidariedade de seus amigos, amigas; simpatizantes e profissionais de saúde E Dilma viverá. Segura e guerreira, ela sentir-se-á bem nos caminhos da ética do cuidado com a saúde. Viva e linda, de corpo e espírito, será a próxima presidente do Brasil.

De outro, o “Thanatos” – sentimentos patológicos dos homens-deuses que matam. São os insanos da oposição política, membros do PIG e dos “CANSEI”, feridos no corpo e na alma. Esses, na expressão de Jack London, são os deuses-homens –, “os deuses espectros ambulantes a que se atribuem bondade e poder, afloramentos intangíveis do eu no reino do espírito”. Fracos, debilitados - eles próprios maltratados e pisoteados pelo câncer do ódio e da inveja -, esses pobres de espírito morrerão na praia. Afogados e derrotados em 2010, cavaram a própria cova.

Nesta situação, a própria Dilma, em sua postura ética do cuidado com a saúde, contribui no combate àquele câncer no sistema linfático. Em vários momentos, pela sua comunicação, falada e escrita, revela seus desejos de vida; exibe suas fortes emoções de amor ao corpo e a alma. Ela revela qual foi o momento mais difícil após ser informada pela equipe médica sobre a doença:

Não foi nada agradável. Você tem filha? Algumas pessoas são mais frágeis, outras mais fortes. O presidente Lula me protege, me ajuda. A minha mãe e a minha filha, eu é que tenho de proteger. Você sabe o que é isso para um filho, e ainda ter que consolá-lo?

Na sede da Petrobras, no Rio, dia 30 de abril, em entrevista coletiva, demonstra que sua alma exulta de alegria e paz. E fala: “devo satisfação e gratidão ao povo pelas manifestações de apoio que venho recebendo, mas não vou transformar esse tratamento num espetáculo midiático. Até agora, eu não estou sentindo nenhuma consequência. Estou me sentindo da mesma forma que me sentia ontem, antes de ontem...”

A ministra percebe bem a riqueza do cuidado com sua saúde, proferida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Manaus, dia 27 de abril: “A prioridade zero é a Dilma cuidar da saúde dela. Com essas coisas não se brinca. E a segunda prioridade dela, até para superar a primeira, é trabalhar. É enfiar a cabeça no PAC, 24 horas por dia”. E na voz do vice-presidente José Alencar, a Dilma encontra conforto e esperança de vida.E diz: “Ela tem muito mais força do que eu. Primeiro porque dizem que mulher é muito mais forte que o homem, especialmente em casos de saúde. Em segundo lugar, ela tem demonstrado isso”.

Os profissionais de saúde, com mais autoridade, reforçam os pronunciamentos de esperança dos amigos e das amigas da Dilma. Para o oncologista clínico Paulo Hoff; médicos Roberto Kalil Filho; e Yana Augusta Sarkis Novis, hematologista, afirmam que sua chance de cura é muito alta, superior a 90%.


Para seus comentários, indico quatro tópicos, extensivos ao conteúdo temático:

1. É necessário um novo modelo de empresa terapêutica, uma “medicina de relação”, antes da medicina de órgãos, que recupere a totalidade do ser humano e considere o paciente como pessoa na unidade de todas as suas dimensões. É nesta “aliança terapêutica” entre médico e paciente, que pode animar uma nova cultura da saúde que evite a “coisificação” do paciente e a perda da humanidade na arte médica.

2. Essa (re)humanização da Medicina deve partir de uma revisão crítica da Antropologia médica, de sua educação, “de uma concepção antropológica na qual o ser humano é visto como totalidade integrada” e toda enfermidade é vista “como produto do homem inteiro: corpo, psique, espírito, história, sociedade”.

3. O alvo de toda a atenção do médico é a saúde do ser humano, em benefício da qual deverá agir com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional (Código de Ética Médica).

4. E numa dimensão holística da ética e espiritualidade, Platão afirma: “Da mesma forma que não pode curar os olhos sem a cabeça, ou a cabeça sem o corpo, também não se deve tentar curar o corpo sem a alma. Pois a parte nunca pode ficar boa se o todo não estiver bem”.

A Perda da Subjetividade Humana ao Longo da História

by Francisco on quarta-feira, 29 de abril de 2009

André Antoninho Führ

Li com atenção, o artigo "Missa de Ação de Graças Pelo Golpe Militar de 1964 – Parte I". Escrito por Francisco Antônio de Andrade Filho em http://www.orecado.org tomei a decisão de refletir sobre a história e sobre a perda da subjetividade humana ao longo da história haja visto que o golpe militar representou um dos maiores marcos da perda do individualismo e da sujeição do individuo aos interesses privados.

Não se pode negar, a história não é o que nela está escrito. Não existem borrachas ou panos capazes de limpar o sangue derramado ou silêncio daqueles, em cujo cálice escorria. Porém, para se compreender, faz necessário ir as suas raízes mais profundas; e ao que me parece, essas só podem ser encontradas na natureza do jogo político.

Segundo Hegel, é no cristianismo que encontramos a primeira visão de individualismo e de liberdade subjetiva, a primeira vista nós parece um tanto contraditório, pois a democrática ou o chamado governo do povo nasce na Grécia quando os cidadãos se reúnem em praça publica para debaterem os interesses da polis. Porém se olharmos mais a fundo veremos as contradições existentes no próprio sistema.

De um lado, é preciso levar em conta que, nem todos eram considerados cidadãos. Apenas uma pequena parte da polis, ou seja, o governo do povo pertencia a uma pequena camada. Enquanto isso, a grande massa responsável pela manutenção do Estado, era excluída das decisões do próprio governo que ajudava a manter com sua força física.

Além disso, as decisões - tomadas em praça publica pelos cidadãos-, não constituem a vontade subjetiva do individuo e sim a vontade coletiva, ou seja, o individuo abre mão de sua subjetividade em favor do coletivo. Podemos ver com mais clareza a perda da subjetividade humana na filosofia Aristotélica onde a vida dos cidadãos estava voltada para a cidade suas escolhas e decisões deviam levar sempre em conta o interesse da comunidade até a escolha da profissão se pautava pelo bem estar da comunidade.

Com o nascimento do cristianismo, a subjetividade humana começa a se contrapor ao bem estar do estado. Pois, as ações do sujeito não visam mais o coletivo e sim o seu próprio bem; pois para ele, cada pessoa é responsável por seus atos e por sua própria salvação. Não existe mais a visão coletiva, mas sim a subjetiva. Todos os indivíduos são iguais diante de Deus. A pirâmide de classes cai por terra.

Os romanos ao perceberem os perigos dessa nova concepção para os interesses do estado resolveram introduzir um novo sistema a propriedade privada cada cidadão pode ser dono dos bens que assim conseguir adquirir com sua força.Porém mais uma vez devemos nós perguntar a quem o titulo de cidadão era atribuído e a quem era possível alcançar o titulo de proprietário. Mais uma vez o individuo perde a sua subjetividade se tornando vitima do capital.

Mais tarde, fundamentado nessas raízes, surge o capitalismo como forma de manter o equilíbrio e de proporcionar essa suposta liberdade aos indivíduos, quando os indivíduos percebem que na verdade o capitalismo os aprisionou e retirou de vez a sua subjetividade surge um movimento de libertação que mais tarde comina no comunismo.

Ficha Falsa na Folha: Uma Camuflagem do Golpe 1964

by Francisco on segunda-feira, 27 de abril de 2009

Francisco Antônio de Andrade Filho

Foi no dia 5 de abril de 2009. A Folha de São Paulo revela-se perversa na reprodução da ficha falsa e manipulada sobre ministra da Casa Civil. A elite do PIG se esconde na ideologia da segurança nacional. Repete sua função falseadora durante a Ditadura do Golpe Militar de 1964. São páginas ensopadas de sangue e, à luz daquela ideologia, reproduzidas nos dias de hoje. É uma criminosa camuflagem descarada. E vejo a vergonhosa e extravagante manchete: ''Grupo de Dilma Planejou Seqüestro de Delfim Neto''.

Em reação contra a postura da Folha, os blogs, Desabafo e Dilma Presidente, entre outros milhares de amigos da Blogosfera, postaram excelentes matérias em defesa da verdade. De minha parte, participo na busca da mesma realidade com a reflexão a seguir e em homenagem a Dilma Rousseff.

E indago: é possível perceber a postura da Folha de São Paulo, inserida na ideologia da segurança nacional? Sua falsa ficha seria uma camuflagem do Golpe de 1964? Estaria ela com saudade das torturas e mortes dos defensores da Democracia contra a Ditadura Militar daqueles anos escuros (1964/1985)?

Sim. Um dos aspectos de natureza intrínseca de ideologia é a relação “ideologia-consciência.” De um lado, a base material da consciência e, por outro, a natureza falseadora ou ideologia como inversão da realidade, características da representação ideológica.

A ideologia é a inversão deformadora da realidade. Ela afirma e nega; expressa verdade das realidades numa imagem invertida. Ela as oculta, oferecendo aos homens uma representação mistificada do sistema social, para mantê-los em seu “lugar” no sistema de exploração de uns pelos outros. Necessariamente deformante e mistificadora numa sociedade de classe, a ideologia é produzida como tal ao mesmo tempo pela opacidade da determinação pela estrutura e pela existência da divisão de classes.

Nessa linha, e de modo resumido, através da imprensa, ocorre um processo ideologicamente em dois níveis. Enquanto processo ideológico, a “Falsa Ficha na Folha”, transmite e reproduz conteúdos culturais da República Militar, impondo-os aos sujeitos das classes dominadas. Além disso, cria nelas, a necessidade de aceitar a ação pedagógica da cultura dominante. Inculca uma educação que orienta suas ações.

Entrementes, esse sistema de pensamento objetiva camuflar através do discurso articulado, as reais relações de violência material e de violência simbólica. É o pensamento pedagógico da ditabranda, tentando mostrar sua autonomia e justificar sua validade.

Na camuflagem da “Falsa Ficha na Folha”, verificam-se as barbaridades do Golpe – 1964/1985. Constata-se a vivificação da Ideologia de Segurança Nacional naqueles tempos. Confirmam-nos, também, as sábias palavras da Dilma nestes últimos dias contra o agir falseador dos redatores do referido órgão da Imprensa.

Ela disse: ''A ficha é falsa, é uma montagem. (...) 'Eu nunca militei em São Paulo nesse período que eles relatam na ficha. Eu morava em Minas (...) 'Não é possível supor que se dialogue no choque elétrico, no pau-de-arara. Qualquer comparação entre a ditadura militar e a democracia brasileira só pode partir de quem não dá valor à democracia (...) a minha situação fica bastante desagradável para aqueles que defendem ou que houve ditadura branda no Brasil ou que no Brasil havia uma regularidade, naquele período, democrática. Nem uma coisa nem outra. Naquela época se torturava; se matou; se prendeu''.

E em resposta ao José Agripino Maia (DEM-RN), no Senado, a ministra da casa civil enfatizou: “Eu fui barbaramente torturada, senador. Qualquer pessoa que ousar falar a verdade para os torturadores, entrega os seus iguais. Eu me orgulho muito de ter mentido na tortura, Senador.”

Folha de São Paulo – bem atenta às conquistas da democracia brasileira –, não camufle mais o golpe militar. Longe de nós, a ficha falsa contra os valores democráticos da Mãe do PAC. A verdade sempre se aflora. A mentira tem pernas curtas e queima logo as folhas do PIG Todavia, proclame a verdade em benefício de todo povo brasileiro, seus projetos políticos, entre outros, da “Minha Casa, Minha Vida”.

Registre nos Cadernos da Folha, as virtudes desta mulher, nesta meditação: o que mais nos interessa na Dilma Rousseff é a beleza de seu espírito. Se ela, depois da cirurgia plástica, continua bonita, é porque essa beleza já existe dentro dela. Da sua alma, flui uma nova roupagem do belo num corpo saudável. A “Mãe do PAC” é mais bela ainda, de corpo e alma, com a prática das seguintes virtudes: autoconfiança, generosidade, conduta ética, tolerância, espírito alegre, concentração e sabedoria.

Confiantes nesses traços de beleza, os leitores sentir-se-ão bem em casa com a vitória da primeira mulher presidente do Brasil 2010. O brilho de sua beleza imprimirá uma direção de vida do povo brasileiro. Qual bússola, o belo de seu corpo e de sua alma, apontará os caminhos de um País cada vez mais independente e soberano.

Natureza Humana e Sua Relação com o Estado em Maquiavel [parte I]

by Francisco on domingo, 26 de abril de 2009

André Antoninho Führ

Podemos compreender a filosofia política de Maquiavel, a partir de seu rompimento com a visão antiga de homem e de sistema político centrado nos conceitos do cristianismo. Maquiavel não só revela o erro dessa visão ingênua, como coloca em xeque o conceito de natureza humana, demonstrado a verdadeira raiz dos problemas da vida social e da instauração política.

Maquiavel critica a visão antiga na qual o homem seria um ser inclinado para vida social revelando não só que o homem não é um ser político por natureza, como afirmando que a vida social só pode ser pensada se estes forem submetidos a ela ao contrário do que diziam seus antecessores quando afirmavam que o homem seria um ser inclinado para vida em sociedade. Demonstrando a verdadeira natureza humana inclinada para o mal.

Maquiavel busca compreender a ação política, ao extrair dela, regras que possam ser seguidas. Isso significa que, a partir de um modelo de ação política, os governantes possam se espelhar e compreender qual a melhor ação a ser executada e para se ter esse conhecimento é preciso primeiramente entender a ação humana e em primeira instância sua natureza. Maquiavel, em sua análise da ação política, compreende que esta se liga de modo singular à natureza humana, pois os homens agem de acordo com sua natureza e, portanto, esta deve ser a base para compreender a conduta política e o comportamento humano.

Ao analisarmos o conceito de natureza humana, pretendemos compreender a visão de Maquiavel acerca do homem e de sua natureza para que, a partir deste ponto, venhamos entender melhor o conceito de Estado e estabelecer as relações existentes entre ele e a idéia de liberdade.

Maquiavel, ao analisar a ação política, pretende descrever como esta se dá na realidade sem se utilizar de figuras abstratas ou suposições imaginárias sobre as coisas, mas sim da realidade concreta. Pois para ele não adianta descrever como os homens deveriam ser, mas como estes são na realidade concreta. Seu propósito é escrever algo útil a quem o ler e para isso é preciso compreender a realidade e não discorrer sobre repúblicas e Estados fictícios que jamais existiram. Para tanto, Maquiavel busca analisar natureza humana em sua raiz. Pois ao se conhecer bem a natureza dos homens é possível compreender o modo como pensam e agem de acordo com as circunstâncias.

Maquiavel descreve a realidade das coisas e, ao mesmo tempo, analisa a natureza humana. Pois, ao se conhecer bem a natureza dos homens, é possível compreender o modo como pensam e agem de acordo com as circunstâncias e a partir desse conhecimento estabelecer uma noção de Estado que possa explicitar os conceitos existentes nas relações entre os cidadãos, governo e liberdade.

No capítulo XVII de ‘‘O Príncipe’’, Maquiavel revela seu pensamento acerca da natureza dos homens:



Isto porque geralmente se pode afirmar o seguinte acerca dos homens: que são ingratos, volúveis, simulados e dissimulados, fogem dos perigos, são ávidos de ganhar e, enquanto lhes fizeres bem, pertencem a ti, te oferecem o sangue, o patrimônio, a vida e os filhos como disse acima, deste que o perigo esteja distante, mas, quando precisas deles, revoltam-se (O Príncipe, XVII).



A partir desta afirmação é possível perceber que, para Maquiavel, os homens possuem em si mesmos uma predisposição para o mal, o que torna difícil a convivência social, pois gera uma desconfiança entre os homens que não vão honrar seus acordos e suas promessas.

Segundo Maquiavel, existem na natureza humana dois lados, o bem e o mal, e toda vez que o homem se vê diante de uma escolha estes dois pólos se colocam à sua frente e o lado do mal parece se apresentar com mais força. Podemos comprovar isso com a seguinte passagem: “[...] nas suas ações dos homens, sempre que se deseja fazer alguma coisa com perfeição, além de outras dificuldades encontra-se, ao lado do bem, algum mal, que nasce junto a tal bem com tanta facilidade que parece impossível poder ficar sem um, quando se querer o outro” (Discursos III, 37).

Porém, é preciso se entender que os homens são mais inclinados para o mal do que para o bem. Isso torna os homens condenados para o mal - ou se apesar dessa inclinação -, a como controlar os impulsos da natureza humana através do uso de algum mecanismo ou pela força do estado.

Meio Ambiente: O Sol e a Terra são Fontes de Vida?

by Francisco on quarta-feira, 22 de abril de 2009

Francisco Antônio de Andrade Filho

Dedico este momento de meditação ao Ministro Carlos Minc e à Ministra Dilma Rousseff, Chefe da Casa Civil. Neles e com eles, vejo milhões de brasileiros sentindo-se bem no Brasil. Aqui, vivemos felizes, integrados e confortados com a nossa Mãe-Terra, mesmo ferida pelos seus inimigos.

Nossa vida cotidiana é toda feita de crenças silenciosas, da aceitação tácita e fácil, de evidências que nunca questionamos porque nos parecem naturais e óbvias: espaço, tempo, realidades, qualidade, verdade e mentira. Como um barco à deriva, vive-se sem se indagar. Outros, mais curiosos, buscam respostas de seus questionamentos

E busco responder a questão: que implicações éticas existem, hoje, na falta de respeito à Ecologia, à Natureza? Nesse sentido, o princípio-justiça; do respeito à Natureza, do ponto de vista ético-político mundial, é alinhado numa indagação central: como construir uma sociedade bem ordenada e justa, garantindo o equilíbrio entre natureza e produtos técnicos & científicos na atual “aldeia global”?

Hoje, vou além dessa curiosidade importantíssima para a preservação da Natureza. O Sol e a Terra são fontes de vida?

E encontro resposta na astróloga e taróloga Grazielle Marroccini que publica no site Somos Todos Um, o artigo: “O ano novo solar”. Eu o li com atenção. Sua mensagem despertou em mim um forte desejo de descobrir o segredo das fontes da vida.

Avanço nessa caminhada, e encontro o significado do “ano novo solar” para o equilíbrio da vida no planeta Terra e sua relação com o Sol. As ciências ocultas contribuem para se compreender as questões do meio ambiente em nossos dias? Astrologia, em sua interface com outras ciências humanas, transforma a perversidade da conduta humana no respeito à Natureza no mundo globalizado de nossos tempos?

Nesta linha, a Natureza é inteligente, por si mesma. Ela é uma espécie de bússola, com “aqueles pontos luminosos, representados por estrelas fixas ou planetas [...] ajuda os seres humanos a se localizarem, seja em terra ou no mar”. Por isso, segundo a escritora, as “Constelações surgiram da necessidade que os homens sentiam de se guiarem, se localizarem, durante a noite escura do deserto, ou no mar, por exemplo.”

Além desse benefício, a estudiosa, com base na “a sabedoria dos povos antigos”, revela que “O caminho efetuado pela Terra em seu giro heliocêntrico é o determinador da mudança das estações, assim como a rotação da Terra é determinadora dos dias e das noites”.

Sabiamente, no final, a taróloga emite um juízo de valor – da importância do Ano do Sol –, nestes termos:

É muito importante que saibamos aproveitar essa mudança de energia para darmos uma virada à nossa vida! Se este é um ano do Sol, vamos dar asas à nossa criatividade que nos dá vida, nos dá energia e força para viver. A Luz emanada do Sol é simplesmente a Luz ajudará neste momento de crise a superar muitas dificuldades. O Sol ilumina nossa vida emanada de Deus. Ela pode afastar nossos medos, limpando nosso ser de toda a negatividade que causa dificuldade. A Luz nos oferece uma carga nova capaz de renovar desde a menor célula até nosso corpo inteiro.

Realmente, entre os elementos da Natureza, se destacam o Sol (Fogo) e a Terra, fontes de vida. Entrementes, Evoco Jean-Jacques Rousseau que responde, assim: “A natureza fez o homem feliz e bom, mas a sociedade deprava-o e torna-o miserável”. E Luiz Antônio Gasparetto nos adverte: “É bom reconhecer a obra da Natureza em nós”. Ela é vida. E Deus é Vida.

E avanço, com mais outras indagações. Frente à máquina ideológica do aquecimento global constituição global, indaga-se: que fonte jurídica, que norma fundamental pode apoiar a eco-justiça no respeito à natureza? Como construir uma sociedade bem ordenada, garantindo o equilíbrio entre natureza e produtos técnicos e científicos com bases de uma nova ética e de uma nova mentalidade nas relações entre os seres humanos e o meio ambiente?

É sabido que a ordem mundial atual, na busca de uma nova constituição política, é perversa, brutalmente contraditória. A vida – biosfera (vegetal, animal e humana) é o elemento mais precioso do planeta, ela é prejudicada e ameaçada de extinção. A forma mais elevada de vida – a humana – é a mais devastada, terrorizada, implodida, com bilhões de seres morrendo de fome e de doenças curáveis. Estamos vivendo a contradição ética mais grave da história. Os horrores da mente humana, na atual “Aldeia Global”, criam políticas e tecnologias responsáveis pelo genocídio da natureza e exclusão do homem do seu ecossistema natural e urbano.

Feliz Ano Novo Solar. Respeite a Natureza ou Deus. Você não vive sem ela. Você se considere morto sem essa coisa divina. Lembre-se: Sol e Terra são fontes de vida. O Desabafo e Dilma Presidente 2010 se unem em defesa o meio ambiente. E dizem, você reconhece que o Sol e a Terra são fontes de vida?