Sarney: O Presidente da República do Cruzado

by Francisco on quarta-feira, 17 de junho de 2009

por Francisco Antônio de Andrade Filho

José Sarney

 



Frágil e enfermo como aquela transição democrática, Tancredo Neves morre coroado “herói da Nova República”. Emocionado, com lágrimas nos olhos banhando a alegria de seu coração, assume o vice. Do nada – enquanto o esquife subia a rampa do Planalto em Brasília; ou descia à tumba em São João Del-Rey, Minas Gerais –, qual fantasma José Sarney já nasce presidente da república do cruzado.

O vice do Tancredo, agora, Presidente do Brasil, José Sarney promete continuidade ao projeto alicerçado pela Aliança Democrática. Mórbido em Funaro e molhado com as lágrimas de Conceição, o novo presidente tem o mesmo propósito de domesticação das massas. Faz do Povo, fiscal do Plano Cruzado, manobra fácil e mágica na palavra dos que mandam ou desejam dominar. À luz de sua ideologia, as massas manobradas são agentes de transformações políticas, sociais e econômicas sofridas pelo país.

Buscando força nos movimentos de rua que derrubaram o regime militar, José Sarney concitou o povo a usar de sua coragem. Numa postura de dominação, conclama-o para a guerra contra a inflação. Covardemente - à distância e com medo das massas -, projeta reverter o curso dos acontecimentos impulsionados pelos movimentos populares que inspiraram as primeiras iniciativas da Nova República.

Sentado à cabeceira da mesa, no Palácio da Alvorada – não mais nas praças públicas das cidades brasileiras; à distância e com medo das massas -, o substituto de Tancredo dita à sombra da ideologia camuflada em seu discurso para seus Ministros, nestes termos:

“Esta é uma convocação para que juntos, governo e povo tomemos uma decisão grave e difícil [...] O caminho que escolhi não é o caminho dos fracos [...] Mas, não bastará nossa firmeza, se faltar a coragem do povo que vai derrotar a inflação. Iniciamos hoje uma guerra de vida ou morte contra a inflação. A decisão está tomada. Agora, cumpre executá-la e vencer [...] Todos estaremos mobilizados nesta luta”.

À exemplo de seu antecessor, Sarney já havia acompanhado o povo na rua, percebido ao estilo da obra Massa e Poder, de Elias Canetti ¨que escreve: ”a massa, uma vez formada, quer crescer rapidamente – ela sente como limitação toda e qualquer coisa que se opuser ao seu crescimento”.

Por isso, sabendo que “O ataque exterior à massa somente pode fortalecê-la”, Sarney aplaude e se apropria da valentia do povo na execução do Plano Cruzado contra a diluição da ordem econômica. E o pior, esse plano político-econômica já havia decidido nos porões do Palácio da Alvorada no Brasil e da Casa Branca dos Estados Unidos; sem ouvir “os brasileiros e as brasileiras”; nem americanos; sem nenhuma participação da sociedade civil.

Essa fala, no espelho das forças populares, era a câmara escura, invertida e pronunciada “Nova República” pelo herdeiro do “Estado Novo”, agora, República do Cruzado – em sua essência desenhada pelo Sarney na maquete da “Velha” -, se fez presente nas posturas políticas de seu governo.

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