Ideologia Política da Nova República do Brasil [Parte 3]
by Francisco on sábado, 13 de junho de 2009
por Francisco Antônio de Andrade Filho
Manobradas pela ideologia política do neoliberalismo, as massas exigiam a realização de eleições pelas “INDIRETAS COM TANCREDO – JÁ”. Uníssonas, de mãos dadas, repudiavam o golpe militar de 1964. Às caladas da noite, o “herói da Nova República” falece e é coroado “o mártir da democracia”.
Entusiasmadas pelos discursos neoliberais, as massas exigem a realização de eleições pelas “Diretas - Já” e depois, pelas “Indiretas com Tancredo - Já”, ou pelo “Muda Brasil”. Repudiavam a República dos Generais. Nela, os tiranos produziram a história da negação das liberdades humanas pela repressão militar, amparada com a bênção divina dos capelães, pastores católicos, evangélicos e outras forças míticas e ecumênicas. Eram os deuses-homem, profanos e sagrados, com desejos de mando.
Em contrapartida, ludibriadas pelo mesmo sistema – poder civil acoplado ao poder sacro –, as massas ovacionam o paladino mineiro, depositário de todas as esperanças do povo. A esta vivacidade popular, iniciada desta vez, pelo Partido dos Trabalhadores/PT, em comício, frente ao Estádio do Pacaembu, na Cidade São Paulo, incorporam-se todos os partidos políticos com exceção da Aliança Renovadora Nacional, ARENA que dá sustentação ao governo agonizante.
Contudo, ao invés de provocar-se a precipitação da queda do regime, essa mobilização serviu como meio de sustentação de um acordo político que viabilizou a eleição de Tancredo Neves a Presidência da República. Ficou instalado o apaziguamento dos ânimos militares com respeito ao primeiro governo civil. Os trabalhadores não perceberam a força das massas, suas formas de expressão na busca de metas sócio-econômicas. O herdeiro de Getúlio Vargas, com sua sensibilidade humana e política, conseguiu desintegrar as massas. Preservou a República velha ou o Estado novo, costurada na nova República.
Antes de tomar posse, porém, Tancredo Neves cai gravemente enfermo. E morre. No palanque, o poder, o “herói da Nova República” não fez história. Nada de real, apenas aparências. Na terra, finito, instável e frágil como a transição democrática, apregoada do alto de seus palanques políticos às massas populares.
Coroado “o mártir da democracia”, a morte firmou-se soberana, reconhecida por todo o povo, que rezou com fé em Deus e amor ao enfermo no Hospital de Base ou pelo defunto, quando a esquife subia a rampa do Planalto, Brasília; ou descia à tumba em São João Del - Rey, Minas Gerais.
Eram as multidões, que rezavam na esperança de vida ou morte do nobre ou do tirano. Massas que, na marcha de sua liberdade, riram de seus ditadores e choraram a mentira de seus representantes-tutores. Do povo em oração, pondo-se em contato com o destino, contra ele, no apelo à divindade; e ao infinito, a solução dos problemas reais.
Era força popular que, no fundo do seu sofrimento, contra o arbítrio militar, do poder coercitivo-físico que se insurgia contra as multidões desenfreadas no caminho da história, na conquista da liberdade.