por Francisco Antônio de Andrade Filho
Era preciso mais arte de manobrar as massas no regime ditatorial anterior em sua distensão militar.
À luz da filosofia política, vimos José Sarney aplaudir a valentia do povo na execução do Plano Cruzado contra a corrupção da ordem econômica e social. A fala do Presidente, no espelho das forças populares, se fez também em ciência e tecnologia, a serviço da população. A nova bandeira costurada na velha se percebia a expressão-chave do “Tudo pelo social”. Tornava-se a miragem da massa científica.
O “tudo pelo social” no Plano Cruzado se constituía compromisso de mobilizar todos os esforços no combate à pobreza e ao desemprego. Exigia-se uma política nacional de desenvolvimento científico e tecnológico. Urgia a participação popular no trabalho dos cientistas.
Com uma câmara escura nas mãos, o Governo Sarney camuflava o “o novo modelo de desenvolvimento econômico e social”; o marco fundamental do perfil da sociedade; da democracia recém conquistada; de fora, pelas massas na rua, nos sindicatos, nos templos religiosos, nas cidades universitárias, nos laboratórios de pesquisa, públicos e particulares. Com a mão direita no coração, Sarney eleva sua voz em defesa das metas sociais da democracia. Segundo ele, o sistema político social deve guiar-se pelo compromisso de resgatar amplas camadas da população brasileira.
Era a ambigüidade da conciliação conservadora, conservantismo civilizado esse, como prática e como padrão ideológico e político. Imperava a ideação do povo, cooptada por Tancredo-Sarney, em nível de discurso e germinada desde a “distensão de Geisel, passando pelos ruídos dos sinais de “abertura” de Figueiredo para a “transição”. Todos eles garantiram, com isso, a interceptação das massas em sua consciência coletiva e individual. Traçaram-lhes outras rotas para deter suas ondas ameaçadoras. Nelas atuaram e conseguiram barrar a força dos movimentos populares.
A esta altura, com o pai do plano cruzado, urge tomar a decisão de alterar o discurso político, outorgar-lhe o exclusivo controle do processo no qual toda comunidade está participando.
De outro, à luz da ideologia do Governo Sarney, era necessário construir um novo horizonte para uma mudança sem ruptura. Foi fácil apropriar-se das massas e subsumi-las sem agentes políticos. Pois, as massas transbordavam dos canais de repressão e rotina, criando órgãos paralelos de representação de demandas e formas diferentes de mobilização.