Natureza Humana e Sua Relação com o Estado em Maquiavel [parte I]

by Francisco on domingo, 26 de abril de 2009

André Antoninho Führ

Podemos compreender a filosofia política de Maquiavel, a partir de seu rompimento com a visão antiga de homem e de sistema político centrado nos conceitos do cristianismo. Maquiavel não só revela o erro dessa visão ingênua, como coloca em xeque o conceito de natureza humana, demonstrado a verdadeira raiz dos problemas da vida social e da instauração política.

Maquiavel critica a visão antiga na qual o homem seria um ser inclinado para vida social revelando não só que o homem não é um ser político por natureza, como afirmando que a vida social só pode ser pensada se estes forem submetidos a ela ao contrário do que diziam seus antecessores quando afirmavam que o homem seria um ser inclinado para vida em sociedade. Demonstrando a verdadeira natureza humana inclinada para o mal.

Maquiavel busca compreender a ação política, ao extrair dela, regras que possam ser seguidas. Isso significa que, a partir de um modelo de ação política, os governantes possam se espelhar e compreender qual a melhor ação a ser executada e para se ter esse conhecimento é preciso primeiramente entender a ação humana e em primeira instância sua natureza. Maquiavel, em sua análise da ação política, compreende que esta se liga de modo singular à natureza humana, pois os homens agem de acordo com sua natureza e, portanto, esta deve ser a base para compreender a conduta política e o comportamento humano.

Ao analisarmos o conceito de natureza humana, pretendemos compreender a visão de Maquiavel acerca do homem e de sua natureza para que, a partir deste ponto, venhamos entender melhor o conceito de Estado e estabelecer as relações existentes entre ele e a idéia de liberdade.

Maquiavel, ao analisar a ação política, pretende descrever como esta se dá na realidade sem se utilizar de figuras abstratas ou suposições imaginárias sobre as coisas, mas sim da realidade concreta. Pois para ele não adianta descrever como os homens deveriam ser, mas como estes são na realidade concreta. Seu propósito é escrever algo útil a quem o ler e para isso é preciso compreender a realidade e não discorrer sobre repúblicas e Estados fictícios que jamais existiram. Para tanto, Maquiavel busca analisar natureza humana em sua raiz. Pois ao se conhecer bem a natureza dos homens é possível compreender o modo como pensam e agem de acordo com as circunstâncias.

Maquiavel descreve a realidade das coisas e, ao mesmo tempo, analisa a natureza humana. Pois, ao se conhecer bem a natureza dos homens, é possível compreender o modo como pensam e agem de acordo com as circunstâncias e a partir desse conhecimento estabelecer uma noção de Estado que possa explicitar os conceitos existentes nas relações entre os cidadãos, governo e liberdade.

No capítulo XVII de ‘‘O Príncipe’’, Maquiavel revela seu pensamento acerca da natureza dos homens:



Isto porque geralmente se pode afirmar o seguinte acerca dos homens: que são ingratos, volúveis, simulados e dissimulados, fogem dos perigos, são ávidos de ganhar e, enquanto lhes fizeres bem, pertencem a ti, te oferecem o sangue, o patrimônio, a vida e os filhos como disse acima, deste que o perigo esteja distante, mas, quando precisas deles, revoltam-se (O Príncipe, XVII).



A partir desta afirmação é possível perceber que, para Maquiavel, os homens possuem em si mesmos uma predisposição para o mal, o que torna difícil a convivência social, pois gera uma desconfiança entre os homens que não vão honrar seus acordos e suas promessas.

Segundo Maquiavel, existem na natureza humana dois lados, o bem e o mal, e toda vez que o homem se vê diante de uma escolha estes dois pólos se colocam à sua frente e o lado do mal parece se apresentar com mais força. Podemos comprovar isso com a seguinte passagem: “[...] nas suas ações dos homens, sempre que se deseja fazer alguma coisa com perfeição, além de outras dificuldades encontra-se, ao lado do bem, algum mal, que nasce junto a tal bem com tanta facilidade que parece impossível poder ficar sem um, quando se querer o outro” (Discursos III, 37).

Porém, é preciso se entender que os homens são mais inclinados para o mal do que para o bem. Isso torna os homens condenados para o mal - ou se apesar dessa inclinação -, a como controlar os impulsos da natureza humana através do uso de algum mecanismo ou pela força do estado.

3 comentários

A natureza desse "Homem" está diretamente ligada aos seus anseios, desejos e paixões. Essas caracteristicas parece ser um dos alicerce da personalidade Humana. Devemos verificar a natureza do Homem também na metáfora maquiaveliana onde explica que o homem deve ter a força do leão e a astúcia da raposa

by JÓLISSON PÓLVORA on 27 de abril de 2009 às 11:31. #

Primeiramente agradeço a pergunta do amigo, e em relação ao cometario estou de acordo com a primeira parte no que diz respeito a natureza do homem, mas para conhece-la é presiso analisa-la em sua raiz pois será esta que irá revelar os anseios e desejos do homem. Com relação a segunda parte ao que diz respeito da metáfora do leão e da raposa Maquiavel não à utiliza para explicar a natureza humana mas para explicar o modo como o bom governante deve conduzir a ação politica.

by André Antoninho Führ on 28 de abril de 2009 às 08:58. #

muito bom.

by victoria on 6 de maio de 2017 às 11:21. #

Comente