Adeus, Vida: espiritualidade da sobrevivência pós-morte

by Francisco on terça-feira, 7 de abril de 2009

Francisco Antônio de Andrade Filho
(Em memória do Prof. Dr. Pinto Ferreira)


Compreender a vida do ser humano é compreender seu sentido. Perguntar pelo sentido último da vida é colocar o homem numa atitude de reflexão de sua grandeza. É filosofar a vida e a morte. É encontrar e simbolizar suas condições existenciais de vida, aqui e depois da morte. É fazer viver sua vida, ir em frente, agir, modificar, transformar, buscar objetivos concretos e espirituais do ser humano.

Nos dias de finado, os vivos povoam a Cidade dos Falecidos, onde os vivos se encontram com os defuntos. Almas vivas se abraçam com as imortais. Muitos chorando, não pelos defuntos, mas por si mesmos, os vivos. Derramam lágrimas não em cima dos defuntos, mas nas suas próprias faces.

E à luz da Filosofia, indagamos: por que reverenciamos os mortos? O filósofo, Dr. José Luiz Ames, comenta assim:



É precisamente aqui que entra a experiência da morte: na experiência do limite. Na morte nos deparamos com uma situação que nos atinge visceralmente, que toca a totalidade de nosso ser. Diante da morte, a vida se torna pergunta. Enquanto para a satisfação do desejo dependemos de nós próprios, a morte nos aponta para uma situação diante da qual somos impotentes. A morte atesta a impossibilidade do controle humano sobre a vida.



A sobrevivência depois da morte é um problema tão antigo quanto a própria história do homem. Foi uma preocupação constante do homem de todos os tempos.

Os mitólogos explicaram-na numa linguagem fantasiosa e que foge ao espírito científico do homem atual. Os teólogos, numa dimensão de fé, encontraram na Bíblia os mais sagrados e seguros argumentos a favor da imortalidade.

Seja como for, a verdade é que o ser vivo nasce para a vida despontando para a morte. Morte e vida de jovens e velhos representam duas faces da mesma realidade do ser-no-mundo. Só o homem tem consciência de ser-para-a-morte, desse inevitável destino do túmulo que lhe aguarda: sufocante, solitário, silencioso, escuro e úmido. Isso é uma tragédia para o homem que tem dentro de si mesmo uma ânsia incontida de se perpetuar no tempo, uma sede irresistível de não morrer. Enquanto isso, um convite à reflexão: sentir as palavras de William Blake:



Ver a eternidade num Grão de Areia
E o Céu numa Flor Agreste.
Segurar o Infinito na palma de sua mão
E a Eternidade em uma hora.



Mas, morte tem sentido para a vida. Não há vida sem morte; nem morte sem vida. E a eternidade existe. O infinito no finito-tempo. A vida continua depois da morte. Aqueles que sabem viver bem, se tornam imortais. Moisés, Lao-Tsé, Sócrates, Jesus, Tomás de Aquino, Giordano Bruno, Gandhi, Martin Luther King, Vladimir Herzog, Chico Mendes, dentre outros – Pinto Ferreira -, brancos, amarelos, pretos, pardos, mulatos, índios... Todos vivem. Todos morrem e vivem.

A morte é um acontecimento necessário para dar ao EU pessoal possibilidade de um pleno desabrochar. A semente que, para poder germinar a sua vida e suas potencialidades.

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