Espaço Político da CNBB na Ditadura Militar [parte II]

by Francisco on quarta-feira, 1 de abril de 2009

Francisco Antônio de Andrade Filho

Na reflexão anterior, meditamos a postura de adesão da CNBB ao golpe militar de 1964. Cardeais, Arcebispos, Bispos e Padres concelebraram a “Missa de Ação de Graças” pela vitória da revolução armada sem derramamento de sangue. O mesmo sacrifício foi executado por milhares de capelães militares nos templos sagrados dos quartéis em todo país.

Esse episódio traduz o papel político, social e econômico, que aquela organização católica tem na sociedade brasileira. Percebe-se nele, o caráter dialético do processo. As metamorfoses da Igreja Católica no Brasil têm uma dimensão mais global. O processo político, por si só, não as explicam, nem apenas seus interesses institucionais. A necessidade de auto-reprodução, aliada às novas condições econômicas, políticas e sociais, produz apreensão dessas tensões contraditórias no Brasil.

A CNBB define, em termos de doutrina social da Igreja, as características e condições, o sentido e a importância da sua presença e atuação na “vida política ditatorial” do golpe de 64. É de seu desejo “ler o político a partir do Evangelho e não o contrário”. Interessa a esta instituição eclesiástica, aquela política em seu sentido mais amplo que visa o bem comum, que promove os valores fundamentais de toda comunidade. É o que ela registra em seus documentos oficiais:



“Conjunto de ações pelas quais os homens buscam uma forma de convivência entre indivíduos, grupos, nações, que ofereça condições para a realização do bem comum... valores éticos da liberdade, da participação”.



Esse pensamento político da Igreja Católica, herdado de sua tradição, entre em conflito ao afirmar que sua tarefa “não é de ordem política, econômica ou social... é de ordem religiosa, evangelizadora e de natureza eminentemente pastoral”. Mas, ela própria se contradiz, quando pensa e age assim “de nenhum modo a conduz a se omitir a respeito de problemas sócio-políticos do país (que) sempre apresentam uma relevante dimensão ética das decisões políticas”.

Deste modo, a CNBB vive nessas tensões. De um lado, não interessa à Igreja intrometer-se em partidos políticos. Assume uma missão crítica, de denúncia à violência política daqueles que contrariam os projetos divinos. No entanto, de novo, cai em contradição, quando sustenta em participar da república Militar. Sente como seu dever e direito estar presente neste campo da realidade ditatorial do golpe militar. Pois, os Bispos Católicos do Brasil argumentam nestes termos:



“A fé cristã não despreza a atividade política; [...] pelo contrário, a valoriza e a tem em alta estima... O cristianismo deve evangelizar a totalidade da existência humana, inclusive a dimensão política”.



Estudos e pesquisas descobrem as contradições da CNBB na chamada Revolução Militar de 31 de Março de 1964. O pensamento político dessa organização é produto das mesmas contradições do projeto de desenvolvimento capitalista dependente, do mesmo trabalho econômico de industrialização associado ao capital estrangeiro. Suas idéias, produzidas nesse tempo, não foram reveladas por Deus, nem milagres de Nossa Senhora Aparecida. Foram determinadas pela totalidade da sociedade brasileira, fruto do trabalho humano. Nesse passado de 45 anos, s transformação capitalista teve lugar graças ao acordo entre a classe burguesa – nesta incluindo a Igreja e a exclusão das forças populares -, e de intervenção econômica do Estado.

Veja também: Missa de Ação de Graças Pelo Golpe Militar de 1964 [parte I]

2 comentários

Como podemos compreder que o povo apesar de ser a maioria se deixou ser silenciado por mais de duas decadas. E a quem o seu silêncio agradava? E hoje parece que é o oposto que agrada?O tempo é pai da verdade e a história o fruto da verdade tardia.

by Cleuza Fiorin on 2 de abril de 2009 às 19:48. #

Verdade, Cleuza Florin, inteligente comentário esse, feito pela prezada amiga de nosso site. Parece que você, eu e tantos outros, descobrimos que as religiões constituem uma das construções de maior excelência do ser humanpo. Todas trabalham com o divino, com o sagrado, com o espeiritual. De outro, sabemos quer nesse tempo de Ditadura Militar no Brasi, as organizações eclesiásticas, em suas condutas de poder sacro, as religiões perderem o eu alto significado, não são mais o espiritual. Perderam a fonte que as mantém viva - a espiritualidade. Todavia, Cleuza, o que vale é comprteendermos a sabedoria antiga, reproduzida hoje pelo o místico Dalai-Laama: "A essência de toda vida espiritual é a emoção que existe dentro de você, é a sua atitude para com os outros. Se a sua motivação é pura e sincera, todo resto vem por si. Você pode desenvolver essa atitude correta para com seus semelhantes baseando-se na bondade, no amor, no respeito, sobretudo na clara percepção da singularidade de cada ser humano".

Agradeço-lhe seu inteligente comentário. Divulgue-o junto aos seus amigos e amigas. Desejo-lhe uma feliz semana sanata.

by Francisco Andrade on 3 de abril de 2009 às 08:10. #

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