A Doutrina da Verdade

by Francisco on sábado, 15 de dezembro de 2007

Bruno Barbosa Gomes

Espiritualizai teus olhos na doutrina da verdade
Mostre a eles o Deus que mora em cada um
Mostre a eles o Deus que cada um é

Divinizai aquilo que te faz consciente
Não aquilo que te faz dependente
Não aquilo que te deixa sem saber a verdade
Não aquilo que depende da tua inconsciência

 



*Bruno Barbosa Gomes tem segundo Grau completo, fez cursos de Computação Gráfica e Web Design e atualmente trabalha com programação visual, criação de sites e artes plásticas.

De Sebek a Hórus

by Francisco on sábado, 10 de novembro de 2007

Bruno Barbosa Gomes

Tu és crocodilo que nada
No escuro mar da inconsciência
Liberta-te dessas águas
E emergirás a uma nova vivência

Do caos surge a ordem
E a ordem é o caos
Em sua essência

Deixes o falcão voar
Além das próprias asas
E a sabedoria penetrar
Em tua dura carapaça

 



*Bruno Barbosa Gomes tem segundo Grau completo, fez cursos de Computação Gráfica e Web Design e atualmente trabalha com programação visual, criação de sites e artes plásticas.

Al-Khemi

by Francisco on sábado, 20 de outubro de 2007

Bruno Barbosa Gomes

Quando a água se une a terra
Surge a vida
Quando o ar se une ao fogo
Surge a transformação
Quando a vida se une à transformação
Surge a alquimia

Nosso coração é feito de metal vulgar
Que vai enferrujando aos poucos
Descubra os mistérios da alquimia
Para transmutá-lo em ouro

No processo da obra
Misture o sal ao mercúrio
E estes ao enxofre
Assim descobrirás a tua essência

As coisas que estão no reino superior também estão no reino inferior.
O que é mostrado pelo Céu é sempre encontrado na terra.
Fogo e água corrente são opostos, feliz aquele que consegue uni-los.?*

*Aureus tractatus de philosophorum lapide, tratado de ouro da pedra filosofal. De acordo com o conhecimento alquímico, o sal significa o terrestre; o mercúrio, o humano; e o enxofre, o cósmico.

 



**Bruno Barbosa Gomes tem segundo Grau completo, fez cursos de Computação Gráfica e Web Design e atualmente trabalha com programação visual, criação de sites e artes plásticas.

A Visão

by Francisco on sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Bruno Barbosa Gomes

Somos nós a semelhança de Deus
Ainda estamos longe...
Ele é nosso Pai assim como és dos teus
Somos filhos rebeldes

Entenderás o que há dentro de ti
Sinto um grande vazio
Quando ouvir o som do pulsar sem fim
Mas no fim ele pára

Alcançarás as asas do infinito
Só vejo limites
Quando veres com teus olhos unidos
Eis um mistério...

 



*Bruno Barbosa Gomes tem segundo Grau completo, fez cursos de Computação Gráfica e Web Design e atualmente trabalha com programação visual, criação de sites e artes plásticas.

Diário de leitura: a condição humana em seus limites

by Francisco on quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Inspirado no poema titulado “Instantes”, de autoria discutível, Rubem Alves, no livro “Se eu pudesse viver minha vida novamente”, toca o corpo e alma de seus leitores. Revela suas experiências e desvela o vivido do outro, também entrelaçado de “nostalgia, sonhos, perdas e ganhos” e de “pequenos detalhes que fazem toda diferença”. É um convite à reflexão e à descoberta do viver feliz, do nascer-criança ao envelhecimento saudável.

Neste 19 de setembro de 2007, dedicado e com respeito, li suas primeiras páginas. São espaços que indicam caminhos de vida e em busca de realizações na história do ser humano, criança, adulto e velho. Delas, capturei recados de felicidade. Emocionado e artista da letra, o autor cita o início do poema (página 11):

Se eu pudesse viver novamente a minha vida,
na próxima trataria de cometer mais erros [...].
Correria mais riscos,
Viajaria mais, contemplaria mais entardeceres.


Sinto-me animado pelo exame de consciência nos “Instantes” da minha vida. Nela, vejo acertos e desvios nos trilhos da caminhada. O viver é assim, uma pesquisa sem respostas certas É a condição humana em seus limites. Faz parte da Natureza, sem atribuir-lhe nenhum mal que não venha do próprio homem.

De outro, curioso, enriqueço-me na grandeza das indagações: Se fosse possível, começaria tudo de novo? Faria novamente a mesma coisa? Cometeria os mesmos erros? Faria as mesmas escolhas? As mesmas falsas metas e falsos deuses?

O tempo passou. Em todos os “Instantes” dos meus 69 anos, “com seus desenganos, fracassos e equívocos”, entranhados com momentos de realizações - anos felizes -, reviveria minha vida mantendo a plena memória.

Sei, no entanto, que o tempo é irreversível. Neste semestre, comecei os meus 70 anos. Convite à construção de uma vida nova. Não estou infeliz. Vivi minha história, “estou feliz onde estou”. Cuidei de jardins. Construí o meu “ethos”, convivendo com a esposa, filhos e noras.

Ainda trabalho. Tomo banho de praia. Sinto na pele que “água é vida”. A Natureza sopra ar para meus pulmões, oxigena meu cérebro, massageia minha coluna e navega por todo meu corpo-mente. Vivo um envelhecimento saudável, nem sempre percebendo que estou marchando com todos os velhos da minha idade para morrermos daqui a 40 anos. Vida feliz. Morte merecida com 111 anos, se Deus ou Natureza quiser e os médicos cuidarem.

Francisco Antônio de Andrade Filho.
Maceió, 19 de setembro de 2007.

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Se eu pudesse viver minha vida novamente
Rubem Alves. Organização Raissa Castro Oliveira. - Campinas, SP: Verus Editora, 2004

O Minotauro

by Francisco on quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Bruno Barbosa Gomes

A besta surge em meio às sombras
Esta é tua face desnuda
Grande e peluda
Do olhar que te assombras

Está em ti animalesca ação
Teu princípio destruidor
Onde há frieza ao invés de amor
Onde há instinto ao invés de razão

Vejas com o olhar da criança
Pois ela não vê só a visão
Ama qualquer coração
Porque guarda divina herança

Dai-te um presente cor de rosa
Para penetrar-te o íntimo
Fazer-te pulsar em puro ritmo
E tirar-te a cor dolorosa

 



*Bruno Barbosa Gomes tem segundo Grau completo, fez cursos de Computação Gráfica e Web Design e atualmente trabalha com programação visual, criação de sites e artes plásticas.

O Abismo

by Francisco on sexta-feira, 27 de julho de 2007

Bruno Barbosa Gomes

O abismo é profundo
Como a imensidão da tua mente
Escuro é o fundo
Que esconde a grande serpente

O abismo sempre estará abaixo de nós. Temos que aprender a caminhar sobre ele, equilibrando-se na longa linha da consciência. Cada um tem a sua. E se a tua for forte e grossa, teu caminho estará seguro rumo à evolução. Mas se for fraca e fina, poderás cair nas presas da grande serpente.

A leveza é fundamental. Para isso, precisarás desprender-te do peso que carregas. Tudo o que te prende e rotula a um limitado universo.

E para ajudar no equilíbrio, um bastão poderás segurar: o bastão da sabedoria, da tua sabedoria. Se ele for longo, caminharás tranqüilo sobre a linha. Mas se for curto, o desequilíbrio pode ser inevitável.

Siga sempre em frente
Sem olhar para o fundo
Buscando eternamente
As verdades do mundo

 



*Bruno Barbosa Gomes tem segundo Grau completo, fez cursos de Computação Gráfica e Web Design e atualmente trabalha com programação visual, criação de sites e artes plásticas.

A Beleza

by Francisco on sábado, 21 de julho de 2007

Bruno Barbosa Gomes

A beleza não reside naquilo que tu vês
Porque a beleza reside na fonte
E essa é a parte divina de cada um
Não se sabe qual a aparência de Deus
E, mesmo assim, Ele é belo
Portanto, não é na aparência que está a beleza
E sim no todo interno

 



*Bruno Barbosa Gomes tem segundo Grau completo, fez cursos de Computação Gráfica e Web Design e atualmente trabalha com programação visual, criação de sites e artes plásticas.

Ouse saber mais

by Francisco on sábado, 2 de junho de 2007

Resenha
KANT, Immanuel. A religião nos limites da simples razão
Edições 70, LTDA. – Lisboa, Portugal.

Francisco Antônio de Andrade Filho

Identificada com a consciência, a religião da simples razão não tem necessidade de revelação divina. Esta tese básica do iluminismo religioso está presente na obra de Kant: “A religião nos limites da simples razão” (1793), trabalhada em quatro partes, a seguir, resenhada.

Na primeira parte (Kant: 29 - 61), a religião aparece como símbolo da luta entre o bem e o mal. Para isso, o autor faz longas elucubrações do mal na natureza e do mal radical. Bem e mal pertence não à natureza, e sim ato livre e responsável do homem. Ele discute ser o homem agente de seus atos. Pressupõe a razão pura prática, do “ser terrestre dotado de razão (...) fundamento subjetivo do uso de sua liberdade”. Pensante. Livre.

Assim, o mal moral reside só no livre arbítrio, e nunca no objeto que determina. Não está nas leis da natureza, mas na lei moral reconhecida como “ratio cognoscendi” da liberdade, na regra que o arbítrio se dá – a ordem ética. Por isso, escreve o autor: “o mal só pode surgir do mal moral, não dos simples limites de nossa natureza”.

Na segunda parte (63 – 61), penso que Kant fala de Jesus Cristo, dos dogmas cristãos da encarnação e redenção, no contexto da luta entre o bem e o mal. O princípio bom tem que dominar sobre o homem. A Providência, aqui identificada em Cristo, é a personificação do princípio bom, no qual se cumpriu a perfeição moral e para a qual todos os homens devem elevar-se a este ideal.

Mestre dos ensinamentos morais-não de origem divina -, torna a perfeição da moralidade. Nele, a comunidade racional reconhece a si mesma: “mestre de ensinamentos divinos, mas bem propriamente humano”, cuja comunidade ética pode fazer dele um exemplo e não arquétipo, “pois este não pode ser procurado em nenhum outro lugar do que na razão”.

Na terceira parte da obra em apreço (93 – 146), Kant fala de um povo moral de Deus e comunidade política (gemein Wesen). O que é isso? O filósofo alemão defende que o homem deve proteger sua liberdade e tornar possível o triunfo do bem mediante uma sociedade governada pelas leis da virtude. Esta será a sociedade ético-civil – um estudo (Zustand} jurídico-civil “(...) em que se encontram reunidos só leis não coercitivas, isto é, sob simples leis de virtudes”. Seu espaço sacro é a reunião de todos eticamente, numa casa onde todos se sintam bem.

O conceito de uma comunidade ética é de um povo de Deus regido pelas leis éticas que se realiza na forma de uma igreja, de um poder civil e garantido pela intervenção da divina-natureza. Assim, a igreja visível e racional esquematiza a igreja invisível. Cria o poder eclesiástico, mal da religião, coagindo “o ir a ela e a profissão de fé de seus estatutos ou a celebração de seus rituais (que) são tomados do modo pelo qual Deus propriamente quer ser servido”.

Na última parte (146 – 198), Kant fala do verdadeiro e falso culto, religião e sacerdócio. Para ele, a única verdadeira religião é a moral. A religião revelada é imposta e servil. É ilusão. Falso culto. Os “doutores” convertem-se em oficiais ou funcionários, dignitários eclesiásticos que transformam o ministério em império, apresentando-se a si e a todos e a tudo como lei divina, sacrificando a liberdade própria da religião natural. A este culto falso chama de fetichismo, nestes termos:

“O sacerdócio é a constituição de uma igreja em que reina o culto fetichista, isto é, onde, em lugar de princípios morais, são leis estatutárias, regras de fé e observância o que constitui a base e a essência do culto”.


Enquanto isso, o mesmo autor pondera em diálogo com o que se afirma:

“A religião natural enquanto moral [...] é um conceito racional prático puro [...] tem em si um grande requisito da verdadeira igreja, isto é, a universalidade (universalitas vel omnitudo distributiva) – a unanimidade”.


Advertido e censurado por Wöllner, criticado por seus pares, Kant vai em frente, ousando pensar de modo diferente. Sua preocupação central é descobrir essa dimensão inteligível que eleva o mal a um princípio razão. É a partir dele que o fenômeno religioso pode ser pensado. Pode discutir uma resposta à impotência sabida nossa que se abre a uma outra instância, sem que isso torne religioso o conceito que permite tal compreensão.

Esta postura filosófica do mal radical (radikales bose) provoca reações em Schiller, Herder, Goethe e outros pensadores da ilustração. Para eles, Kant não podia perder tempo divagando sobre a natureza má do homem, recuperando a doutrina católica do pecado original, do mito da queda de Adão e Eva.

E você, o que pensa e como vê essa resenha em discussão? Eis um convite: ouse saber mais, lendo, interpretando e criticando mais ainda:

ANDRADE FILHO, F.A. de. Razão e política – ensaios de filosofia moderna (tese de Doutorado). Maceió: EDUFAL, 1994.
ROMANO, Roberto. Kant e a Aufkl¨larung, in Corpo e Cristal: Mar Romântico (63 a 91) Brasiliense, São Paulo, 1982.

 

* É Doutor em Lógica e Filosofia da Ciência, na área de Filosofia Política, pela UNICAMP/SP. Professor Titular, aposentado da Universidade Federal de Alagoas – UFAL. Docente em Filosofia na Faculdade Maurício de Nassau. Membro do Comitê de Ética de Pesquisas seres Humanos no Hospital Oswaldo Cruz –UPE/Recife/PE. Avaliador do curso de Filosofia no INEP/MEC. Membro do Grupo de Estudos de Filosofia no Brasil (Seção UFMG).

Francisco Antônio de Andrade Filho

by Francisco

Teologia latino-americana de libertação em diálogo com a dos conquistadores

by Francisco on domingo, 20 de maio de 2007

Francisco Antônio de Andrade Filho

Era a década de 1960. A América Latina tomava consciência de sua dependência econômica, política e religiosa. Desencadeava-se um processo de libertação nos diversos segmentos da sociedade. A Igreja, à luz de suas convicções religiosas e inserida nos avanços científicos deste tempo, pesquisava uma nova práxis da fé cristã que fosse fator de transformação e libertação. Exigia-se uma nova prática da mensagem do bem em contraposição a do mal. Surgia um novo tipo de inteligência da fé, uma reflexão sobre os compromissos assumidos pelos cristãos em situação de conflitos sociais. Era a teologia latino-americana que nascia vinculada à história da tirania e da opressão praticada em nome democracia neste continente.

De outro, os conquistadores medievais e modernos defendiam o conceito tradicional de teologia como ciência que elabora racionalmente verdades da fé. Procuravam compreendê-las sistematicamente e tirar delas novas conclusões. Camuflavam as realidades da vida. Impunham sua única “sabedoria” racional. Criavam o mesmo deus de uma maneira acadêmica, dentro de uma sala de estudo, de um escritório, de um Palácio Episcopal ou de um Pontífice de Roma, fora de todo compromisso histórico e cientificamente observado. E, nessa postura, permanecem até hoje e sempre restauram quando novos interesses ideológicos sejam necessários para eles.

Em diálogo com essa teologia dos conquistadores de Roma e de alhures, a teologia latino-americana de libertação tem um olhar diferente para este mundo diferente. Nessa época até os nossos dias, ela é reflexão das situações históricas reais. É “ato segundo”. Nasce da prática. A teoria vem depois. O ato primeiro é o agir ético e responsável com os seres humanos, com sua vida, com seus sofrimentos, seu bem-estar econômico e político. A teologia vem depois e é uma reflexão que supõe o ato primeiro de compromisso libertador do homem que é história, broto da natureza e de sua cultura inteligente. Não é discurso vazio, inacreditável, mistificador. Não “des-realiza” as contradições reais da vida. Não aliena o homem com frases fantasmáticas e grandiloquentes do mundo existente.

Assim, a proposta da referida teologia é a de ser um discurso situado na história em que vivemos. As injustiças, a miséria, a falta de respeito para com a riqueza social e as liberdades da coletividade, praticadas pela oligarquia política e religiosa levam a América Latina tomar consciência de seus direitos e deveres. Trata-se de um estudo crítico sobre a reflexão teológica, a partir da práxis da fé cristã. Não é uma coisa inventada pelos teólogos da libertação. Não é um tema metafísico. É uma prática política, de cidadania, cuja alavanca propulsora é sua religião, seja católica, protestante ou não.

Em oposição, a teologia dos conquistadores, antigos e também os da era digital, dá uma explicação espiritual e ideal aos problemas materiais e reais, volatizando sua densidade material, de modo a transformá-las em entidades espirituais “fora da realidade”. Por isso, essa teologia – a dos poderes celestiais -, opera como abstração do mundo e da história, separação frente à realidade, em suma, como fantasmagoria, expressão transcendente, abstrata, da situação existente e dos homens reais.

Em tal contexto, o discurso teológico latino-americano de libertação surge assim como uma teologia de emancipação humana nas condições concretas, históricas e políticas de hoje na América Latina. É uma teologia cuja missão é identificar-se com os homens massacrados e excluídos de todos os benefícios de suas nações. Segundo seus estudiosos e pesquisadores, é a libertação de Cristo se realizando em fatos históricos e políticos libertadores.

Para ler e pensar mais:

ANDRADE FILHO, Francisco Antônio de. Igreja e Ideologias na América Latina, segundo Puebla. São Paulo: Paulinas, 3ª ed, 1982.
BOFF, Leonardo. Teologia do Cativeiro e da Libertação, Petrópolis: Vozes, 2ª ed., 1985.
GUTIÉRREZ, Gustavo. Teologia da libertação. Petrópolis: Vozes, trad. Jorge Soares, 3ª ed., 1976.

 



* Francisco Antônio de Andrade Filho é Doutor em Lógica e Filosofia da Ciência, na área de Filosofia Política, pela UNICAMP/SP. Professor Titular, aposentado da Universidade Federal de Alagoas – UFAL. Docente em Filosofia na Faculdade Maurício de Nassau. Membro do Comitê de Ética de Pesquisas seres Humanos no Hospital Oswaldo Cruz –UPE/Recife/PE. Avaliador do curso de Filosofia no INEP/MEC.

O Tempo

by Francisco on sábado, 12 de maio de 2007

Bruno Barbosa Gomes

O tempo não é dinheiro
O tempo não é curto nem longo
O tempo é eterno para aquele que vive o presente eterno
Porque é um presente de Deus aos homens eternos
O Presente é como um bolo
Com recheio de Passado e cobertura de Futuro
E tem um sabor que nunca será provado pelos homens mortais

 



* Bruno Barbosa Gomes tem segundo Grau completo, fez cursos de Computação Gráfica e Web Design e atualmente trabalha com programação visual, criação de sites e artes plásticas.

O Véu

by Francisco on terça-feira, 8 de maio de 2007

Bruno Barbosa Gomes

Esqueça o Céu
Esqueça o Inferno
Descubra o véu
que guarda o eterno
Conteste o que é dito
Viva o infinito
Para buscar o externo
Mergulhe no interno
E cairá o véu

 



* Bruno Barbosa Gomes tem segundo Grau completo, fez cursos de Computação Gráfica e Web Design e atualmente trabalha com programação visual, criação de sites e artes plásticas.

A humildade

by Francisco on quinta-feira, 3 de maio de 2007

Bruno Barbosa Gomes

Não pense que estás sendo humilde
ao baixar a cabeça perante Deus
Porque Ele quer vê-lo cara a cara
Quer ver que o brilho nos teus olhos
é o reflexo daquilo que tu vês
E, quando se está olhando para Deus,
só há luz no olhar

Ser humilde não é ser submisso
Ser humilde não é beijar os pés de alguém
E sim não deixar que alguém beije seus pés

Dar e receber com a naturalidade das coisas simples
Sem cobranças ou pretensões

 



*Bruno Barbosa Gomes tem segundo Grau completo, fez cursos de Computação Gráfica e Web Design e atualmente trabalha com programação visual, criação de sites e artes plásticas.

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CNBB: missa de elogio à revolução militar de 31 de Março de 1964

by Francisco on terça-feira, 27 de março de 2007

Francisco Antônio de Andrade Filho

Foi em 31 de Março de 1964. O fantasma do Comunismo rondava os altares sagrados dos templos religiosos e políticos. Movimentos sociais brotavam como forças políticas, organizadas via Ação Popular.

Em oposição, manifestações da Igreja proibiam seus fiéis, dirigentes e militantes a se pronunciarem. Os membros da Ação Católica e da Juventude Universitária Católica, entre outros grupos, condenados por aquela lei sagrada do “silêncio obsequioso”, não podiam aprovar posições teóricas e compromissos políticos daqueles que, "[...] devido à sua orientação naturalista e tragados na voragem revolucionária", não exprimiam o pensamento cristão. Ignoravam os valores morais, éticos e religiosos. Instilavam os conflitos sociais do sentimento de inconformidade e de revolta contra as condições da vida brasileira.

Foi o tempo em que a Igreja se apropria das forças sociais para se auto-reproduzir, na defesa de seu humanismo católico. Ela se serve dos movimentos de ordem social, econômica e política, muitas vezes, mobilizando seus próprios fiéis, subjugando ao poder coercitivo do Estado. Ela o faz para se inserir nas possíveis transformações e preservar o patrimônio material da Igreja escamoteado no moral-religioso de sua tradição. Reforça seu poder sacro, produz a violência do verbo, da palavra escrita e falada contra a humanidade social.

A Igreja Católica, contra a cidadania e a favor da ditadura militar, sentiu-se impulsionada pela própria realidade social. Pois, na Revolução de Março de 1964, procurou se sustentar, ser reconhecida, manter sua hegemonia, mesmo que isso exija uma atitude de contraposição aos próprios grupos sociais que trabalham para ela. Corpos e mentes, mutilados e despedaçados, eis os vestígios de sua contradição: proclama a liberdade como valor absoluto e, no entanto, a restringe para o outro.

Foi nesse tempo que a CNBB, no programa “Voz do Pastor”, em rede radiofônica e nos canais de televisão, convocava o Brasil e outros países a empunharem a bandeira da repressão. E divulga: “os países fortes têm a obrigação de impedir no mundo a vitória do comunismo que se impõe e sustenta pela violência e pela força brutal das armas".

Pressionados pelo sagrado, os movimentos sociais, acoplados à CNBB, se dissiparam. Foram destruídos, aniquilados pelos pastores divinos da Igreja. Domesticados para o Reino de Deus, para o reinado católico, tornaram presas fáceis, vítimas da repressão política e policial, atingidos pelo golpe de Estado de 31 de Março de 1964.

Temendo a desintegração e a desordem social da "marcha acelerada do comunismo para a conquista do poder", a empresa católica, logo de início, embora com divergências posteriores, apoiou o poder coercitivo das Forças Armadas, subordinando e entregando aos seus agentes, aqueles grupos cristãos de ação política.

Aliando-se aos militares, a CNBB falou, escreveu e abençoou a repressão, a tortura, as prisões, espancamentos e assassinatos de seus líderes políticos formados e treinados nos Círculos de Estudo da Igreja. Pois, no Sacrifício da Missa, rezada em ação de graças pelo golpe, proclamava o elogio à Revolução Militar e exultava de alegria com a derrota dos comunistas, ao afirmar: “ao rendermos graças a Deus, que atendeu as orações de milhões de brasileiros e nos livrou do perigo comunista, agradecemos aos Militares que levantaram, em nome dos supremos interesses da Nação”

Era a bênção da Igreja ao poder militar, em benefício do poder e da herança da Igreja que, segundo a CNBB, impedia a exploração de conflitos sociais pelo "êxito incruento de uma revolução armada", que trouxe uma "sensação de alívio", sem dúvida momentânea; em ter apaziguado a violência substituída pelo vinho, transformado em sangue na celebração da Missa, instrumento de prevenção na luta contra a tirania dos comunistas.

Os católicos do Brasil aguardam Bento XVI no próximo mes de maio. O Pontífice já deu alguns sinais de sua conduta conservadora contra alguns direitos civis conquistados pelos brasileiros. Políticos não podem apoiar casamento homossexual. Os bispos não podem abolir o celibato. A missa deverá ser celebrada em Latim. Os teólogos da libertação devem ser submetidos ao “silêncio obsequioso”. Pois, em sua primeira exortação apostólica, intitulada “O Sacramento da Caridade”, a oposição da Igreja ao casamento homossexual não é negociável e políticos católicos têm a obrigação moral de manter tal oposição, assim como contra leis em prol do aborto e da eutanásia.

De outro lado, com a vinda do Papa ao Brasil, reproduz-se a estratégia do poder pastoral presente no pensamento político da Igreja de Roma. É preciso que o pastor-bispo conheça seu rebanho para poder dominá-lo. É sua tarefa determinar sistematicamente a nova ou a velha doutrina contra os ataques dos lobos vestidos da inteligência profana. Que ele esteja informado da consciência de seus fiéis para poder os dirigir, controlar as consciências humanas. Colonizá-las com a nova evangelização. Impor-lhes a mesma cristandade.

É o "poder sagrado" do Pontífice e dos bispos a "deliberar" as ações individuais e coletivas, a exigir obediência do homem, que é obrigado a se prostrar diante do poder divino, confessar e pedir perdão por ter violado as normas dos mandamentos estatutários da Igreja. Seu direito canônico é sagrado e de inspiração divina. É a Igreja de Roma no Brasil com seu poder medieval de censurar as consciências humanas, de interceptá-las; de interferir na liberdade civil de outros países. Pode?

PARA PENSAR MAIS:
CNBB, A orientação Naturalista da Ação Popular, in: REB 24 (1964).

O filósofo em diálogo com o teólogo bíblico

by Francisco on domingo, 11 de março de 2007

Francisco Antônio de Andrade Filho

Deixemos a filosofia falar, construir a linguagem do princípio da autonomia humana, do livre-arbítrio em diálogo com o teólogo bíblico e outros profissionais.

No texto clássico, O Conflito das Faculdades, escrito por Kant em 1798, observei alguns indicativos para se intuir a fala da filosofia com outras ciências. E tempo da “Aufklärung”, das luzes racionais. Kant parece refletir sobre as relações da Faculdade de Filosofia (considerada “inferior”) com as Faculdades de Teologia, de Direito e de Medicina (considerada “superiores”), e estipula que a função de filosofia é pensar livremente sobre os eventuais conflitos entre esses saberes ditos “superiores”.

A Faculdade de Filosofia, segundo este filósofo, precisa fazer-se reconhecer como o lugar de garantir sua completa liberdade de julgamento. Constituída de mestres, professores e doutores, quais “eruditos corporativos... independentes e letrados”, a Universidade era uma espécie de instituição dita autônoma - que estaria autorizada a admitir estudantes que vinham das escolas inferiores. Em oposição, Kant defende a “Faculdade de Filosofia, ciência livre, onde a razão seja autorizada a falar abertamente”.

Penso que, nessa questão, a idéia básica é a de construir a filosofia como ciência, com bases inteiramente novas, cuja verdade é “destinação total do homem e a filosofia desta destinação chama-se moral”.

Nada mostra melhor como a concepção filosófica de Kant é profundamente moral do que esta verdadeira ética do pensamento formulada em três preceitos:

O primeiro prescreve pensar por si próprio. O homem esclarecido é aquele que, ao superar a passividade da razão, sai de uma menoridade intelectual pela qual é o único responsável por “preguiça e frouxidão e que não é senão incapacidade de se servir de sua inteligência sem ser dirigido por outrem”.

O segundo é precisamente o preceito do pluralismo que premune contra o egoísmo lógico, “pois será que pensaríamos muito e pensaríamos bem se não pensássemos por assim dizer em comum com outros, que nos participam seus pensamentos e aos quais comunicamos os nossos?”.

O terceiro, enfim, ordena “pensar de maneira conseqüente” e é a máxima mais difícil de seguir, pois supõe que já se pratiquem as duas precedentes. Ela exige que se permaneça sempre de acordo consigo próprio, seguindo os princípios verificados jamais ceder à fraqueza de pedir para si uma única exceção à universalidade da lei moral: “Age de tal modo que a máxima da tua vontade possa valer sempre ao mesmo tempo como princípio de uma legislação universal [...]”.

Ainda na “condição de filósofo”, lembro o texto do mesmo pensador alemão A Religião nos limites da simples razão, escrito por Kant em 1793. Nele, os princípios exegéticos da escritura, contemplados pelo teólogo bíblico, são de caráter filosófico “porque todos os princípios, quer sejam da crítica histórica, quer da crítica gramatical, sempre têm que ser editados pela razão”. Pensando assim, Kant escreve:

O teólogo bíblico é [...] o doutor da Lei para a fé da igreja, que tem por fundamento os estatutos, isto é, em leis derivadas da vontade do outro; enquanto isso, o teólogo natural é o sábio da razão para a fé religiosa, isto é, para aquela em que se baseia em leis interiores deduzidas da própria razão...

E insiste:
Assim, pois, os teólogos da faculdade têm obrigação, e consequentemente, também, o direito de manter a fé na Bíblia; porém, sem prejuízo da liberdade que têm os filósofos de submetê-lo em todo momento à crítica da razão [...]

E A Crítica da Razão Prática (1788) registra:
a autonomia da vontade é o único princípio de todas as leis morais e dos deveres a elas conformes; pelo contrário, toda a heteronomia do livre arbítrio não só não funda nenhuma obrigação, mas opõe-se antes ao princípio da mesma e à moralidade da vontade.

Para Kant, a vontade autônoma é a que a si mesma sua própria lei, a moral autônoma, isto é, a lei originada na vontade; a heterônima é a vontade quando recebe passivamente de algo ou de alguém.

Neste diálogo e com responsabilidade ética da pesquisa, entramos no debate. Confrontamo-nos num contexto multidisciplinar, especificamente permeado pelo universo filosófico, de um lado; e, de outro, os motivos teológicos e de outros interesses com roupagem ideológica de dominação e de camuflagem da verdade.

Desta feita - no livre arbítrio, por exemplo -, passa-se ao largo das relações entre o princípio bioético da autonomia e as limitações que, numa expressão de Kant, são impostas pelo “poder eclesiástico, mal da religião”. É a vontade humana - o agir bem em favor de sua vida -, por exemplo, transfusão de sangue, manipulada ou dirigida por pastores religiosos, que não o paciente que precise de sangue para viver.

Pensando assim, o mal do livre arbítrio se dá no espaço sacro – eis a contradição de uma violência simbólica –, de um povo de Deus regido pelas leis de um “poder eclesiástico” repito, “mal da religião”, que se realiza na forma de uma igreja visível que esquematiza a igreja invisível. Atribui-se, então, a autoridade divina a esta igreja organizada, onde as leis estatutárias, e não morais e éticas, tornam o homem escravo, alienante e não com o seu maior bem de vida – a liberdade.

Sem ser livre, a vontade não poderia ser autônoma, nem ser moralmente meritória, boa ou má, ética ou a-ética. Busca-se identificar, assim, como as limitações ao poder de consentimento – condutas ideológicas –, acabam por limitar a autonomia, o livre arbítrio, o respeito à sua vontade, de auto-governar-se, e o pior, por uma limitação institucional, alienante e camuflada.

Para pensar mais:

Kant, I. Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Ed. 70, Lda, trad. de Paulo Quintela, Lisboa, Portugal, s/d.

Kant, I. El Conflito de las Faculdades, trad. de Elsa Taberning, Losada S.A., Buenos Aires, 1963.

CNBB: O Poder e o Sagrado na Cidade

by Francisco on quarta-feira, 7 de março de 2007

Francisco Antônio de Andrade Filho

Permitam-me criar este subtítulo “O Poder e o Sagrado na Cidade” para radicalizar o pensamento político da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Inspirado em René Girard, pretendo discutir a violência do poder sacro desta instituição católica contra a sociedade humana.

Filósofo francês, nascido em 25 de dezembro de 1923, observa o “mimetismo”, a fonte da violência humana que cria, constrói , aniquila simbolicamente as sociedades humanas e funda o sentimento religioso arcaico. Sua antropologia filosófica, fundada sobre princípios cristãos, descobre o “mecanismo da vítima expiatória”, segundo ele um mecanismo fundador de qualquer comunidade humana e de qualquer ordem cultural. Conforme seus intérpretes, desejos conflitantes e convergentes em direção à rivalidade mimética que gera a violência.

À frente da cidade, cabe ao político, se necessário e numa guerra, oferecer sacrifícios, inclusive de sua própria vida imortal. Pois, “um rei não pode reinar se não possuir a dignidade sacerdotal que... oferece aos deuses em nosso nome os sacrifícios...”.

Essa é uma das expressões do poder da CNBB em sua relação social. É o “poder sagrado” dos bispos ao de “deliberar” as ações individuais e coletivas, a exigir obediência do homem, que é obrigado a se prostrar diante do poder divino, confessar e pedir perdão por ter violado as normas dos mandamentos de Deus e da Igreja. É a CNBB com seu poder medieval de censurar as consciências humanas, de interceptá-las; de interferir na liberdade humana.

Para ser, a CNBB é prisioneira do caráter essencialmente hierárquico da Igreja, de sua estrutura social composta de desigualdades. Só admite como conferência a de toda hierarquia epíscopo-brasileira com o Papa, pastor universal, único, com poderes plenos, acima da lei canônica. Assistido pelo Divino Espírito Santo, o Pontífice é o único que não pode errar. É infalível.

Aqui, a CNBB segue as diretrizes do Vaticano, sem poder divergir das normas vindas de Roma. O Papa é soberano, sem limites. Sua vontade não é condicionada por nenhuma norma jurídica. A CNBB não tem o poder de editar normas que sejam irrevogáveis pelo Pontífice Romano. Estas somente passam a vigorar depois que o Papa as sanciona e promulga, de modo soberano e ilimitado. O Papa é ainda o dono do rebanho brasileiro. Os bispos apenas cultivam e exploram o solo para cuidar de suas ovelhas. Submissos a esse poder monoteísta-patriarcal, de totalitarismo religioso, de propriedade e manipulação da verdade, nesse processo de força moral da Igreja, os bispos reproduzem as relações de poder religioso no Brasil, com fortes influências nas esferas econômica e política.

Essa tradição do poder do Papa, daquela soberania do chefe visível da Igreja, representa para a CNBB o principal valor de coesão social, de consentimento das camadas populares e empresariais, de sua força junto ao Estado, de relações políticas nas formações sociais modernas.

É a adesão pessoal dos súditos da Igreja e de seus seguidores aos ditames de Roma,dita livre adesão da consciência individual, de cujo dirigente supremo, de qualidade sobrenatural, de um dom divino exclusivo do Papa, compete à CNBB obediência e bajulação, sem indagações nem protestos, sob pena de ser excluída e perseguida pela antiga Inquisição, a chamada hoje, Congregação para a doutrina da Fé.

Numa leitura de René Girard, no próximo capítulo encontrado, essa é a violência do poder sacro contra a sociedade humana. É Deus contra sua criatura. No Estado e na Igreja, em todos, não importando ser leigo ou religioso, manifesta-se o propósito de explorar, organizar e mandar, “de apresentar normas”. Altos burocratas, burgueses e religiosos, numa tensão constante, todos, a serviço do bem comum, se engajam com essa violência, no mesmo sistema mercantil, com a mesma sede de lucro, buscando a eficiência da máquina econômica e da dominação religiosa.

É a escrita jurídico-regimental da CNBB seguindo a tradição teocrática do poder espiritual, tentando sobrepor ao poder temporal na sociedade brasileira. Em litígio com a jurisdição política, o poder pastoral da CNBB ganha espaço para se auto-reproduzir, material e espiritualmente, junto aos movimentos católicos de ação política no Brasil. Para tanto, ela cultiva todas as formas de poder sagrado. Continuamente, celebra a Missa como “culto sacrificial” da Morte de Jesus Cristo, feito homem e imagem da vida e da morte de todos os outros homens, seus irmãos. É o único sacrifício, centro e mediação simbólica de valores do passado vinculados às novas condições da modernidade. Por outro, ela evangeliza o homem, trabalho cultural, processo histórico de cultivar práticas e técnicas de dominação colonial religiosa do ser humano.

É a violência, tradicionalmente institucionalizada, dentro do sagrado, ofensiva da CNBB contra os movimentos católicos de ação política no Brasil, a serem examinados em outros documentos oficiais, textos e estudos dessa sociedade religiosa.

Para discutir mais:

ANDRADE FILHO, Francisco Antônio de. Filosofia da Globalização, in: http://www.orecado.org. out. de 2000.

COMPÊNDIO DO VATICANO II, Constituições, Decretos, Declarações, Vozes, Petrópolis, 1983.

CNBB, Comunicação pastoral ao povo de Deus, 8 (1977), Paulinas.

GIRARD, René, A violência e o Sagrado, trad. Martha Conceição Gambini, Paz e Terra, 1990.

Bento XVI no Brasil: poder magistrado na cidade

by Francisco on quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Francisco Antônio de Andrade Filho

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil prepara a visita do Papa Bento XVI a este País, prevista para o mês de maio de 2007. Conduz a consciência das ovelhas brasileiras para venerarem esta personalidade. E anuncia elegantemente, curvando-se aos pés do pastor-magistrado na cidade paulista. É o poder eclesiástico, identificado como autoridade divina.

A metáfora do pastor-rebanho já está presente nos textos políticos da antiguidade grega. Mesmo assim, Platão, por exemplo, na noção da divindade, ou do rei, ou do líder, se expressa através desse recurso literário. Fala do mito dos pastores divinos. Discute-o exaustivamente em O Político, considerando problema central para o conhecimento do homem-pastor em sua relação com o Deus-Pastor e com os rebanhos humanos.

É conhecido o diálogo do Estrangeiro com Sócrates, o jovem sobre os pastores divinos. Na divisão e na distinção entre o homem que comanda rebanhos sobre o bordão de gênios divinos e o pastor de homens, Platão revela este contraste do pensamento político grego, ao escrever: “... era o próprio Deus que pastoreava os homens e os dirigia como hoje; os homens (a raça mais divina) pastoreiam as outras raças animais que lhes são inferiores [...] e falamos do pastor que governava o rebanho humano, pastor divino ao invés de humano, o que é uma falta grave”.

É o Deus-Pastor em sua relação com o rebanho, dando-lhe e garantindo uma terra. Exerce o poder sobre ele. Reúne, guia e conduz seu rebanho. Garante a salvação. Toma decisões no interesse de todos. Pois, segundo o mesmo filósofo, “... em se tendo por pastor a divindade, a humanidade não precisava de constituição política”.

Deus providenciava tudo: frutos da terra, moradia, vida. Não era preciso se preocupar com nada. Deus satisfazia suas necessidades materiais. Num segundo momento, Platão diz que é mister “... distinguir o pastor divino, do administrador humano... não confundindo o rei e o tirano, bem distintos entre si, pelas suas maneiras de governa”.

Aqui já não é o pastorado de animais, de preocupação com seu alimento, na proteção de cada um deles. Mas, segundo Foucault, é o rei uma espécie de pastor, do político que forma a unidade da cidade através da “arte real, ter a si os cuidados para com a comunidade humana em seu todo e constituir-se numa arte de governar os homens em geral [...] da arte que se ocupa dos rebanhos humanos que por eles vela e deles cuida”.

À frente da cidade, cabe ao político, se necessário e numa guerra, oferecer sacrifícios, inclusive de sua própria vida imortal. Pois, “um rei não pode reinar se não possuir a dignidade sacerdotal que oferece aos deuses em nosso nome os sacrifícios...”.

Desse pastor-político, decorre a necessidade de que “os chefes seriam possuidores da ciência verdadeira e não de um simulacro de ciência... Enquanto se valerem da ciência e da justiça, a fim de conservá-la...”.

Pouco presente nos grandes textos políticos gregos, a metáfora do rebanho é mais constante nas sociedades orientais antigas. No Egito, por exemplo, se encontram relatos bíblicos do Antigo Testamento, nos livros do Êxodo, Levítico e outros, onde o Faraó, coroado, recebia ritualmente o cajado de pastor, confiando a ele as criaturas do grande pastor divino.

No entanto, foram os hebreus que desenvolveram e intensificaram o tema pastoral, de cuja característica singular, Deus, e Deus somente, é o Pastor de seu povo, o único e exclusivo pastor autêntico. Exceção se faz para Davi, o único homem a ser invocado como pastor para reunir o rebanho, velar por ele, conhecê-lo. Prestar atenção e perscrutar cada um deles. Enquanto isso, qual rei tirano, existem maus e cruéis pastores que dispersam o rebanho, deixam morrer de fome e sede, tosam-no exclusivamente para obter lucro.

Para discutir mais

PLATÃO. O Político, trad. José Cavalcante de Souza et al. in Nova Cultural (Os Pensadores), SP, 1987, p. 217 a 222, passim. Em outros escritos, como Críton, A República e Leis, Platão refere-se frequentemente ao pastor-magistrado, evocando aqueles tempos felizes em que a humanidade era diretamente governada pelos deuses e pastava em pastagens abundantes; insistindo, outras vezes, na virtude necessária ao magistrado, obediente, ele próprio, às leis da nação.

FOUCAULT Michel, “Omnes et Singulatim: Por uma crítica da Razão Política, in Novos Estudos CEBRAP 26 (1990), 84, explica: “[...] Os homens que detêm poder político não desempenham o papel de pastores. Sua missão não consiste em proteger a vida de um grupo de indivíduos. Consiste em formar e garantir a unidade da cidade. Em suma, o problema político é o da relação entre a unidade e a multiplicidade no quadro da cidade e de seus cidadãos. O problema pastoral diz respeito às vidas dos indivíduos”.

Origem e Desenvolvimento da Filosofia numa Perspectiva Histórica: mito, razão e ciência

by Francisco on sábado, 24 de fevereiro de 2007

Francisco Antônio de Andrade Filho

I. O processo do conhecimento: sentir e simbolizar.

Neste tempo de globalização, vivemos um tempo de expectativas, de perplexidades, de crises de concepções e paradigmas. É um momento novo e rico de possibilidades. É uma perspectiva e uma possibilidade do conhecimento filosófico nos dias de hoje em sua relação com a comunicação, educação e outros objetos e pesquisas.

Esse olhar para compreender os diversos saberes humanos constitui um dos desafios para se tematizar um novo tipo de saber: falar, discutir, identificar o "espírito" presente no campo das idéias, dos valores e das práticas da comunicação, entre outros campos, do conhecimento, que os perpassam, marcando o passado, caracterizando o presente e abrindo possibilidades para o futuro.

Que teorias e práticas se fixaram no "ethos" das novas tecnologias da inteligência (Levy, 1993) e criaram raízes éticas, muitas das vezes, excluindo o homem dos benefícios da globalização?

Costuma-se definir nosso tempo como a era do conhecimento e do processo de globalização (ANDRADE FILHO, 2000), das novas tecnologias de comunicação. Elas estocam, de forma prática, o conhecimento e gigantescos volumes de informações. Elas são armazenadas inteligentemente permitindo a pesquisa e o acesso de maneira muito simples, amigável e flexível.

O usuário da internet, por exemplo, não significa apenas receptor de informações. Nela o usuário é, também, emissor de informações – acessar inúmeras bibliotecas em qualquer parte do mundo, também imagens, sons, fatos, vídeos – uma dimensão de tudo, transformando profundamente a forma como a sociedade se organiza e produz conhecimento.

Assim, hoje, vivemos num mundo formado por rápidas e profundas mudanças (Rocha, 1998), num mundo diferente, fruto da revolução tecnológica, do avanço das ciências, da comunicação, da informática, das surpreendentes descobertas no campo da cultura, da política e da economia.

Esse mundo da informática e da comunicação está criando um ambiente mental, afetivo e comportamental bem diferente que as gerações passadas: estreitando relacionamento entre pessoas, povos e culturas, fontes de esperanças para a humanidade. Afetam, sobretudo, a vida do cidadão – a educação em todos os níveis: massificação de uma cultura superficial, violenta, sem ética e imposta pela "mídia", um novo tempo de perversidade –, a do desrespeito à vida e aos direitos humanos.

Esse novo mundo constitui-se um desafio à filosofia que indaga: o que é o ser humano? Que tipo de ser é esse que conhece e age, mudando o meio em que se vive? O que queremos fazer de nós mesmos? Qual o sentida do homem na era tecnocientífica?

Hoje essas questões se colocam à luz dos atos tecnocientíficos. Nesse sentido, o conhecimento do "tempo global" tem priorizado a dimensão tecnológica, em estreita sintonia com as relações de mercado. O saber e o conhecimento no mundo globalizado parecem perder muito de sua função de busca de sentido para a vida, o destino humano e a sociedade – do conhecimento esse não do "sentir e simbolizar" –, para tornar-se "produto comercial de circulação" orientado pelo novo paradigma da aplicabilidade. Os paradigmas da pós-modernidade, que ensejam rotas previstas para o desenho do futuro humano, estão em crise. Por isso, é cedo ainda afirmar-se a prepotência da globalização em seu progresso de ciência e tecnologia.

A nova sociedade globalizada, que prioriza o econômico, contribui ainda para o estreitamento da esfera pública, colocando igualmente em crise o tradicional papel do Estado. A esfera pública, ao se privatizar, coloca em evidência um novo "modelo de cidadania" que não nutre mais dos valores coletivos e, consequentemente, constata-se a emergência de uma nova ética, na qual se valoriza, não mais o humano, mas o que atende aos interesses do mundo econômico.

Por outro lado, podemos pensar outras perspectivas de respostas àquelas questões sobre o conhecer o ser humano. Afirma-se ser o homem (Duarte Júnior, 1981) capaz de modificar o meio não apenas com o uso da tecnologia, por meio de mudanças físicas, mas, básica e fundamentalmente através da "palavra", dos símbolos que cria para interpretar o mundo. Um símbolo constitui um determinado objeto ou sinal "representa algo", que permite-o conhecimento de coisas e eventos não presentes ou, mesmo, inexistentes concretamente.

Desta maneira, o homem cria um sentido para a vida. Indaga acerca de um valor que as coisas têm a respeito de sua significação.

Nesta perspectiva, sob o prisma da "vida com sentido", (PEGORARO, 1999), percebe-se o conhecimento-sentir-simbolizar como uma postura crítica da globalização em sua pretensão de progresso das tecnociências. É neste contexto do sentido ético da vida que convém discutir, engenharia genética, projeto genoma humano, concepção "in vitro", clonagem etc. Neste sentido, sustenta-se, não só a existência humana é mutável e evolutiva, mas também, os princípios éticos. A ética, como a vida é uma contínua descoberta de sentido e de estilos de se viver com dignidade. As verdades éticas absolutas são incompatíveis com o processo temporal da existência, notadamente nesta época de extraordinárias e profundíssimas descobertas no campo das biotecnologias que obrigaram a repensar nossos modos tradicionais de conduta.

Essa discussão na era da atual sociedade tecnológica requer atenção aos apelos desse novo tempo, que se impõe sob o signo da comunicação e da informação. Torna-se necessário (FOR GRAD, 1999) rever as formas de pensar, sentir e atuar sobre essas realidades, que não se apresentam de forma linear, num "continuum" de causa e efeito, mas de modo plural, numa multiplicidade e complexidade inscritas em redes e conexões, ampliando nossa inserção no mundo.

Sob essa perspectiva, constata-se a emergência de uma nova disciplina, chamada de "Bioética", como um novo paradigma da relação entre ciência e tecnologia. É no ambiente marcado por grandes transformações e processos contraditórios que a Bioética parece nascer como novo domínio da reflexão e da prática, que toma como seu objeto específico as questões humanas na sua dimensão ética, tal como se reformulam no âmbito da prática clínica, jurídica ou da investigação científica, e como método próprio o conhecimento de diversos modelos bioéticos articulados dialeticamente com saberes diferentes (método-relação), mas fortemente entrelaçados. Surge, então, como uma convivência possível de um diálogo dos aspectos técnicos e humanísticos, entre a ideologia do progresso – com a degradação da natureza e deteriorização da vida social – , e os interesses da vida humana.

Essa postura desperta em nós algumas questões do conhecimento humano. Indagamos: o que é o conhecimento? O que é a verdade? É possível o conhecimento?

Conhecer é captar o objeto. Nele, a presença de um sujeito conhecedor, que apreende o objeto. Um outro aspecto, o objeto conhecido como exigência da presença do sujeito conhecedor. Nem aquele nem esse é passivo. Sujeito e objeto são ativos no processo do conhecimento. Vamos a uma nova discussão.

Bibliografia

LEVY, Pierre. As Tecnologias da Inteligência – O Futuro do Pensamento na Era da Informática, trad. Carlos Irineu da Costa, São Paulo: editora 34, 1993.

FRANCO, Marcelo Araújo. Ensaios Sobre as Tecnologias Digitais da Inteligência, Campinas, SP: Papirus,1997.

SOARES, Ismar de Oliveira. Sociedade da Informação ou da Comunicação?, São Paulo: Cidade Nova, 1996 (Pensar Mundo Unido).

SÁ, Adísia (org.), Fundamentos Científicos da Comunicação, Petrópolis: Vozes, 1973.

LARA, Tiago Adão. Caminho da Razão no Ocidente – a Filosofia nas Suas Origens Gregas, São Paulo: Vozes, 1998.

ARANHA, Maria Lúcia de Almeida. Filosofando: Introdução à Filosofia, São Paulo: Moderna, 1986.

DUARTE JÙNIOR, João Francisco. Fundamentos Estéticos da Educação, São Paulo: Cortez, 1981.

GUEDES, Enildo Marinho. Curso de Metodologia Científica, Curitiba: HD Livro, 1997.

ANDARY, Maria Amália. Para Compreender a Ciência – Uma Perspectiva Histórica, São Paulo/Rio de Janeiro: EDVC, 1996.

ANDRADE FILHO, Francisco Antônio de. "Filosofia da Globalização", in: http://www.orecado.cjb.net, outubro de 2000.

PEGORARO, Olinto A. "O Que é o Ser Humano", in: A Moralidade dos Atos Científicos, publicação FIOCRUZ, RJ, 1999.

FÓRUM de Pró-Reitores de Graduação das Universidades Brasileiras – FOR GRAD, 1999.

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II. O mito explica o mundo: o homem pode descobrir uma racionalidade do mundo

A fase mítica ou não-filosófica é um conhecer para explicar. Uma resposta poética a uma pergunta lógica. Um conhecer figurado para uma explicação figurada de um fato real. O conhecimento mítico é aquele que se vale de uma linguagem figurada, metafórica, fantasiosa, para explicar a realidade em geral, fatos da existência ou a própria existência. Tem por características, pois, a metáfora, a figura, a fantasia. Daí o mito. O mito surge da necessidade consciente e inconsciente que o homem tem de explicar (ANDERY, 1996) seu meio, seus problemas desconhecidos. Depois da explicação, sente-se dono da situação. Inicia-se a fase do filosofar – conhecer. Apossa-se das realidades, dos fatos, dos objetos.

Então, que vem a ser um mito? Mito é um contexto explicativo, não-lógico (uma loucura!), muitas vezes fantástico, motivado pelo meio físico e humano em que vive a coletividade. Fantasioso, porque apela mais para as forças da imaginação, pouco lógico, porque não tem coerência interna, é contraditório; explicativo, se não tiver por função explicar algum fenômeno, alguma coisa, não é mito. Narrativa que pretende explicar a origem do Cosmos, o mito não é questionado, não é objeto de crítica, mas objeto de crença, de fé. Não se discute, simplesmente submete sua razão à fé.

Além disso, o mito apresenta uma espécie de comunicação de um sentimento coletivo; é transmitido por meio de gerações como forma de explicar o mundo, explicação que não é objeto de discussão; ao contrário, ela une e canaliza as emoções coletivas, tranqüilizando o homem no mundo que o ameaça. É indispensável na vida social, na medida em que fixa modelos da realidade e das atividades humanas.

A força propulsora da faculdade mitogênica (LARA, 1989), ou seja, aquilo que desafia o homem a produzir mitos, é o mistério/adivinhação/oculto, que envolve a vida e o ser. O homem sente-se como que jogado na existência, em meio à multiplicidade de fenômenos, que o desafiam e que ele tem de ordenar ou organizar, significativamente, em função de um viver razoável. Tudo em função da sobrevivência física ou biológica, mas também em função da sobrevivência psicológica e social – o que é próprio do ser humano –, algo transcendente ao processo cósmico e ao processo histórico.

A estrutura do pensar mitológico é, portanto, uma estrutura dualista. Ao mundo real, físico ou social, opõe-se o mundo do sagrado. A função do mito é clara. Fundando a realidade, explicando a existência, fazendo remontar aos deuses e aos heróis a história do grupo e do mundo no qual o grupo vive, o mito passa a marcar todo o dinamismo do grupo. Pensamos que os grupos vivem os seus mitos ou vivem deles.

O mito, em suma, é o pensamento anterior à reflexão mais crítica. Opõe-se ao pensamento racional (ANDERY, 1996), pensar é uma atividade fundamental para o homem. A razão grega opõe-se ao imperfeito, ao ilusório, opõe-se "(...) ao conhecimento imediato dado pelo sentido, à opinião, à rotina, porque ela visa o universal e se acompanha de justificação". O conhecimento – a filosofia –, é função do pensamento objetivo, é conhecimento "que nos faz ultrapassar as aparências e alcançar a realidade". Racional não é só função de conhecimento, aplica-se também à prática, reporta-se à ação. Isto se caracteriza no momento seguinte ao do mito: o filosófico. A reflexão, a meditação ativa e a razão crítica viriam destruir o mundo mítico e elaborar um outro tipo de explicação: a filosófica. É um conhecimento que se problematiza e não simplesmente se crê. Aqui, há discussão, possibilidade de crítica.

Nasce a filosofia. Brotam as exigências da razão com Pitágoras, Parmênides, Heráclito, Empédocles, Anaxágoras, Sócrates, Platão, Aristóteles, e se espalha pelo mundo ocidental, com novas fontes racionais, de um Galileu, Giordano Bruno, Descartes, Espinosa, Montesquieu, Rousseau, Kant, Hegel e outros da modernidade e da contemporaneidade.

A filosofia brota do chão da vida e da história concreta de um povo. Ela cresce e se enriquece. Assume formas e modalidades variadas, a sua unidade dinâmica e dialética. É o mundo grego constituindo, pensado e contado em poemas, discursos, diálogos, mitos.

Dois motivos principais concorreram para levar o homem do pensar mítico ao racional: primeiro, as contradições do pensamento mítico e, em segundo lugar, o fortalecimento da razão, que passou a se exercer em termos mais críticos. "Tudo era um caos até que se ergue a Mente para pôr ordem nas coisas", escrevia Anaxágoras, convencido da força da razão que filosofava.

O homem, então liberto do contato direto com a natureza – de como o homem se relacionou miticamente com o mundo para melhor sanar suas necessidades –, teve oportunidade de desenvolver sua inteligência e de criar confiadamente explicações, não mais baseadas na tradição mítica ou nas forças divinas, como causas eficientes e finais das coisas. Para estas novas explicações, recorreu simplesmente às forças racionais de sua mente. Data o início da Filosofia. Este novo tempo produziu um novo tipo de pensamento filosófico, que se foi formando lentamente em vários pontos da Terra, entre os anos 800 e 500 a.C.

Assim, o conhecimento filosófico inaugura o primado do pensamento humano (GUEDES, 1997). Com ele, o mundo passa a ser bem mais explicado. Discussões coerentes e consistentes. O homem, ser dialogante e comunicante, passa a ser mais exigente com o conhecimento. Houve intensa preocupação com explicações cosmológicas sobre a origem de todas as coisas.

Assim, para o filósofo Tales (625-548 a.C.), a origem da vida estava na água; para Anaxímenes (585-528 a.C.), estava no ar. Segundo Heráclito (540-470 a.C.), o ser está no "vir-a-ser" ou no devir. O ser está a cada momento se modificando. Para Pitágoras (580-497 a.C.), "o número é o fundamento de todas as coisas (...) E, de fato, tudo o que se conhece tem número. Pois é impossível pensar ou conhecer algumas coisas sem aquele", afirmava ele.

Platão (426-348 a.C.) filosofava: "Pensamento e discurso são, pois, a mesma coisa, salvo que é ao diálogo interior da alma consigo mesma que chamamos pensamento". E Aristóteles (348-322 a.C.) dizia: "É, pois, manifesto que a ciência a adquirir é a das causas primeiras, pois dizemos que conhecemos cada coisa somente quando julgamos conhecer a sua primeira causa".

Pelo exposto, aqui resumido e reescrito das aulas expositivas, concebe-se a filosofia como um modo de pensar, uma postura diante do mundo, voltada para qualquer objeto: pode pensar a ciência, seus valores, seus métodos, seus mitos, a religião, a arte, o homem, a tecnologia, a vida, as pessoas, culturas, mundo. Os filósofos indagam sobre as realidades de sua época, fizeram surgir novas possibilidades, comportamento e relação social.

O trabalho do filósofo, então, é refletir sobre as realidades, quaisquer que sejam elas, "descobrindo" seus significados mais profundos. Refletir é pensar com arte, considerar cuidadosamente o que já foi pensado. Deixa ver. Revela. Mostra. Emite valores envolvidos nas suas diversas dimensões humanas. Características do conhecimento filosófico: radical, por sua reflexão em profundidade; rigoroso, por seu método adequado; e de conjunto, não isolado, mas em relação com a totalidade. Integrado com outras ciências.

Bibliografia

ANDERY, Maria Amália (org.) Para compreender a ciência – uma perspectiva histórica. São Paulo/Rio de Janeiro: EDUC, 1996.

LARA, Tiago Adão. Caminhos da razão no ocidente – a filosofia nas suas origens gregas. São Paulo: Vozes, 1989.

GUEDES, Enildo Marinho. Curso de Metodologia Científica. Curitiba: HD Livros, 1997.

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III. O Conhecimento como ato de iluminação divina em Santo Agostinho (354-430)

Santo Agostinho representa uma tentativa de discussão dos fundamentos da religião cristã com base na Filosofia Platônica. Pode-se notar nele inspirações platônicas, por exemplo, na teoria platônica do conhecimento.

Vamos às fontes. Em "De Magistro", Agostinho pensa que existe uma luz interior que é a verdadeira fonte da verdade, e os objetos sensíveis, bem como as palavras, são ocasiões para que se manifeste tal iluminação. Isso significa que a verdade, enquanto forma de perfeição, deriva da própria PERFEIÇÃO DE DEUS – embora possa se manifestar pela via das coisas imperfeitas.

Nos capítulos XI e XII dessa obra, aqui referida, afirma que não aprendemos pelas palavras que repercutem exteriormente, mas pela verdade que ensina interiormente (XI). Cristo é a verdade que ensina interiormente (XII).

Lendo e interpretando Platão, Agostinho suscitou vários problemas de cunho filosófico, entre outros: o que a fé cristã diz do tempo histórico? Teologia ou Filosofia da História? Qual a relação entre fé e política? Entre fé e poder?

Para tratar deste confronto entre fé e história, entre fé e poder político, Santo Agostinho escreveu sua obra clássica, de maior influência "De Civitas DEI",("A cidade de Deus"). É uma interpretação do mundo à luz da fé cristã. Trata-se da primeira Teologia e Filosofia da História. Para ele, a história humana é a história da salvação dos homens. O fenômeno histórico do Cristianismo dispõe certamente de instituições e ritos, é ordem e repressão, tem império e poder, mas tudo isto a serviço da economia da salvação.

Alguns destaques para discussão, em Santo Agostinho:

"Acontece por isso que, não obstante a enorme variedade dos povos, espalhados por toda terra, com religiões e costumes tão diversos, diferentes pela multiplicidade das línguas, das armas e dos vestidos, apenas existem duas espécies de sociedades humanas, ou para lhes chamar como na Sagrada Escritura, duas cidades. Uma é constituída pelos homens que querem viver segundo a carne, a outra pelos que querem viver segundo o espírito, cada uma delas na sua paz própria, paz que conseguem quando obtêm aquilo que desejam."
Santo Agostinho, Confissões, XII

"No que diz respeito a todas as coisas que compreendemos, não consultamos a voz de quem fala, a qual soa por fora, mas a verdade que dentro de nós preside à própria mente, incitados talvez pelas palavras a consultá-la."
Santo Agostinho, Confissões, XI

" Vemos o homem, criado a Vossa imagem e semelhança, constituído em dignidade acima de todos os viventes irracionais, por causa de vossa mesma imagem e semelhança, isto é, por virtude da razão e da inteligência"
Santo Agostinho, Confissões, XIII

"(...) coisas que percebemos pela mente, isto é, através do intelecto e da razão, estamos falando ainda em coisas que vemos como presentes naquela luz interior de verdade, pela qual é iluminado e de que frui o homem interior (...)."
Santo Agostinho, De Magistro, XII

Bibliografia

SANTO Agostinho. "De Magistro". In: Santo Agostinho, São Paulo: Abril Cultural, 1973, Coleção Os Pensadores.

______________. Confissões. In: Santo Agostinho, São Paulo: Abril Cultural, 1973, Coleção Os Pensadores.

Relação entre trabalho e educação

by Francisco on terça-feira, 30 de janeiro de 2007

Francisco Antônio de Andrade Filho

O trabalho constitui-se um fenômeno básico para se compreender a educação. Há uma íntima relação entre o trabalho e a educação. Vamos à discussão.

Na Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada em 10 de dezembro de 1948, lemos: "Toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do seu trabalho, à condições justas e satisfatórias e à proteção contra o desemprego" (art. XXIII, 1).

E indagamos: qual a relação entre educação e trabalho? É possível pensar-se o trabalho como expressão fundante do homem – ser ético e de direitos à vida?

É no próprio homem que, em seu ato fundamental do trabalho, potencializa o caminho da humanização. Sabe-se que o trabalho é considerado, aqui, como ação transformadora das realidades, numa resposta aos desafios da natureza, relação dialética entre teoria e prática. Percebe-se que, pelo trabalho, o homem se auto-produz, alterando sua visão de mundo e de si mesmo: do mundo cultural-educativo, do mundo econômico, político, social, com perspectivas éticas e com direitos econômicos da humanização, como prática do capital global. Com o trabalho o homem se afirma e se nega. Aliena-se e liberta-se. Segundo Dermeval Saviani (1994), percebe-se que "a educação coincide com a própria existência humana (...) as origens da educação se confundem com as origens do próprio homem. À medida em que determinado ser natural se destaca da natureza e é obrigado, para existir, a produzir sua própria vida, é que ele se constitui propriamente enquanto homem (...) O ato de agir sobre a natureza, adaptado-a às necessidades humanas, é o que conhecemos pelo nome de trabalho. Por isto, podemos dizer que o trabalho define a essência humana. Portanto, o homem, para continuar existindo, precisa estar continuamente produzindo sua própria existência através do trabalho. Isto faz com que a vida do homem seja determinada pelo modo como ele produz sua existência".

Com efeito, o homem compreende o mundo, quando o transforma pelo trabalho, descobrindo outro sentido do curso histórico: o reino da liberdade só será efetivo quando a natureza for humanizada pelo trabalho, quando o reconhecimento das consciências realizar-se pela mediação da obra comum, vale dizer, do outro, que suprime a relação Senhor-Escravo. Com isso, abre-se o caminho à consciência da liberdade.

Limitado e condicionado, o homem é um ser de necessidades. Não pode prescindir da natureza sob pena de não existir como relação real. "Um ser não objetivo é um não ser", afirma Marx, pois, "são objetos das necessidades dele, objetos essenciais e indispensáveis para o exercício de suas faculdades". Um desaparece sem o outro, em determinado momento. E mantém distância um do outro, sem deixar de existir, quando o homem, a partir da base natural, torna-se um ser social mediante o trabalho.

Esse processo natural criou o homem. Com seu trabalho, objetivando-se e propondo conscientemente fins a serem atingidos, este mesmo homem se distancia cada vez da própria natureza e, confrontado com ela, "como uma força natural", se aproxima ainda mais de sua especificidade como "ser humano-genérico", ser universal, ser social. Identifica-se com seu modo de ser ou de fazer o homem.

Por esse processo de trabalho, então, o homem se defronta com a matéria da natureza, dotada de leis próprias, sobre as quais o trabalhador age para assimilar utilmente à sua vida as matérias oferecidas pela natureza. Por sua capacidade de conhecer, a domina e apreende suas leis para modificá-las. Neste apropriar-se do mundo natural, cria "a sua própria vida material", condição fundamental de toda história. Trabalha. Transforma a natureza em objetos para ele e para o outro. Faz história. Torna o trabalho auto-criação humana. Manifesta sua primeira dimensão de liberdade como autodeterminação, como potencialidade de se libertar das limitações que até então lhe impunha a natureza.

Por um lado, o trabalho torna-se, portanto, uma expressão contraditória, uma antinomia, uma contraposição, nas palavras de Marx e Engels, n’A Ideologia Alemã, "privação, choupanas, fealdade e cretinice", degradação, pobreza e sofrimento para os trabalhadores estranhados. Enquanto isso, "maravilhas, palácios, beleza e inteligência", riqueza, gozo e satisfação para os capitalistas, também alheios de seu produto.

Por outro lado, superadas as barreiras sociais, a atividade humana – trabalho como uma especificidade da prática educativa -, se apresenta como humanização da natureza e processo de emancipação de uma sociedade. O homem encontra aqui a sua liberdade.

No entanto, segundo Marx, n’A Ideologia Alemã, não se pode pensar, então, um projeto de emancipação humana desligado da realidade, "de que não é possível conseguir uma libertação real a não ser no mundo real e com meios reais", nem libertar o homem enquanto ele não desfrutar do trabalho como desenvolvimento de "suas forças físicas e espirituais", enquanto não controlar o processo social em suas relações reais de existência, entabulando relações práticas com a produção de bens coletivos, sejam materiais, sejam espirituais, de relações sociais entre homens e não relações entre mercadorias, entre coisas; e em benefício de todos.

Trabalho e globalização! Trabalho na mundialização do capital. É possível trabalhar novas perspectivas de racionalidades éticas e direitos humanos no capital global, gerando desenvolvimento com desemprego, sem trabalho, sem teto, sem terra, sem dinheiro, sem comida, sem educação, sem vida? Conhecemos realmente, a fundo, essa globalização de uma ética camuflada do capital, de seu crescimento econômico com a exclusão de 35 milhões de pessoas humanas que estão abaixo da linha de pobreza?

O conhecimento do processo histórico, enquanto totalidade social, no conjunto das relações de produção como "base real", constitui-se o elemento fundamental para se apreender dialeticamente as formas de consciência que dela se desprendem. É o modo de vida material que condiciona o processo de vida social, política e espiritual. Não "é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, inversamente, o seu ser social que determina a sua consciência" (Karl Marx: t.I: 530-531). É a partir do ser social que vamos entender os processos sociais da globalização capitalista numa perspectiva do trabalho humano (ANDRADE, 1999: 73).

Suporte bibliográfico

ANDRADE FILHO, Francisco Antônio de. Trabalho – a expressão fundante da humanização. in: Symposium (rev.), ano 3, número especial, jun./99, p. 73-81.

SAVIANI, Demerval. O Trabalho como Princípio Educativo Frente às Novas Tecnologias. in: FERRETTI, Celso João et al. Novas Tecnologias, Trabalho e Educação: um debate multidisciplinar. Petrópolis: Vozes, 1994.