Diário de leitura: a condição humana em seus limites

by Francisco on quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Inspirado no poema titulado “Instantes”, de autoria discutível, Rubem Alves, no livro “Se eu pudesse viver minha vida novamente”, toca o corpo e alma de seus leitores. Revela suas experiências e desvela o vivido do outro, também entrelaçado de “nostalgia, sonhos, perdas e ganhos” e de “pequenos detalhes que fazem toda diferença”. É um convite à reflexão e à descoberta do viver feliz, do nascer-criança ao envelhecimento saudável.

Neste 19 de setembro de 2007, dedicado e com respeito, li suas primeiras páginas. São espaços que indicam caminhos de vida e em busca de realizações na história do ser humano, criança, adulto e velho. Delas, capturei recados de felicidade. Emocionado e artista da letra, o autor cita o início do poema (página 11):

Se eu pudesse viver novamente a minha vida,
na próxima trataria de cometer mais erros [...].
Correria mais riscos,
Viajaria mais, contemplaria mais entardeceres.


Sinto-me animado pelo exame de consciência nos “Instantes” da minha vida. Nela, vejo acertos e desvios nos trilhos da caminhada. O viver é assim, uma pesquisa sem respostas certas É a condição humana em seus limites. Faz parte da Natureza, sem atribuir-lhe nenhum mal que não venha do próprio homem.

De outro, curioso, enriqueço-me na grandeza das indagações: Se fosse possível, começaria tudo de novo? Faria novamente a mesma coisa? Cometeria os mesmos erros? Faria as mesmas escolhas? As mesmas falsas metas e falsos deuses?

O tempo passou. Em todos os “Instantes” dos meus 69 anos, “com seus desenganos, fracassos e equívocos”, entranhados com momentos de realizações - anos felizes -, reviveria minha vida mantendo a plena memória.

Sei, no entanto, que o tempo é irreversível. Neste semestre, comecei os meus 70 anos. Convite à construção de uma vida nova. Não estou infeliz. Vivi minha história, “estou feliz onde estou”. Cuidei de jardins. Construí o meu “ethos”, convivendo com a esposa, filhos e noras.

Ainda trabalho. Tomo banho de praia. Sinto na pele que “água é vida”. A Natureza sopra ar para meus pulmões, oxigena meu cérebro, massageia minha coluna e navega por todo meu corpo-mente. Vivo um envelhecimento saudável, nem sempre percebendo que estou marchando com todos os velhos da minha idade para morrermos daqui a 40 anos. Vida feliz. Morte merecida com 111 anos, se Deus ou Natureza quiser e os médicos cuidarem.

Francisco Antônio de Andrade Filho.
Maceió, 19 de setembro de 2007.

---

Se eu pudesse viver minha vida novamente
Rubem Alves. Organização Raissa Castro Oliveira. - Campinas, SP: Verus Editora, 2004

Comente