Missa de Ação de Graças Pelo Golpe Militar de 1964 [parte I]

by Francisco on segunda-feira, 30 de março de 2009

Francisco Antônio de Andrade Filho

Foi em 31 de Março de 1964. Nesse tempo - pensava a Igreja -, era preciso desmantelar o movimento comunista, implantado no meio estudantil. É contra o fantasma do Comunismo que a CNBB – essa “Voz do Pastor” em rede radiofônica e nos canais de televisão-, convocava o Brasil e outros países da América Latina a empunharem a bandeira da repressão.

E ela divulga sua ação: ”Os Países fortes têm a obrigação de impedir no mundo {...} a vitória do comunismo que se impõe e sustenta pela violência e pela força brutal das armas”. Nessa situação, é preciso desmantelar o movimento. Parar a História. Estancar o sangue novo. Expulsar Aldo Arantes da JUC, líder da UNE. Isolar a vítima expiatória para não manter contato com os membros sadios da comunidade cristã. Os santos não poderiam ser contaminados pelos pagãos e ateus.

Em defesa de sua infalibilidade doutrinário-social desliga, assim, os juscistas da política e, em conluio com a repressão militar de 1964, os reduz ao silêncio da clandestinidade, seres humanos sem vez e voz. Coxos, surdos e mudos. Corpos e mentes, mutilados e despedaçados, são vestígios da contradição da Igreja que proclama a liberdade como valor absoluto e, no entanto, o restringe para o outro.

Temendo a desintegração e a desordem social da “marcha acelerada do comunismo para a conquista do poder”, a Igreja apoiou o poder coercitivo das Forças Armadas, subordinando e entregando aos seus agentes, aos futuros torturadores da Segurança Nacional, os movimentos católicos da ação política.

O poder sacro falou e escreveu a repressão, a tortura, prisões, espancamentos e assassinatos de seus líderes políticos formados e treinados nos Círculos de Estudo da Igreja. Pois, no Sacrifício da Missa, rezada em ação de graças pelo golpe, proclamava o elogio à Revolução Militar e exultava de alegria com a derrota dos comunistas, nestes termos:



“A rendermos graças a Deus, que atendeu as orações de milhões de brasileiros e nos livrou do perigo comunista, agradecemos aos Militares que se levantaram, em nome dos supremos interesses da Nação”.



Mascarada pelo anticomunismo, a instituição eclesiástica realizava seu desejo de fazer a ordem político-religiosa aparecer à sociedade como um benefício inestimável do Cristianismo em oposição ao Marxismo. Para ela, essa nova ordem, desencadeada pela Ditadura Militar e desejada por Deus – do deus católico -, constitui o ponto culminante de todo processo real da “violência sagrada” que, para a religião, funda a unidade social contra a vítima expiatória.

Por isso, nesse mesmo ato de respeito ao golpe autoritário, os bispos e padres durante aquela missa, ressaltavam, com festas, “uma sensação de alívio e de esperança... o mesmo sentimento de gratidão a Deus, pelo êxito incruento de uma revolução armada”. Era a bênção de Javé ao poder militar, escondidos atrás de suas fardas, em benefício do poder e da herança da Igreja, em ter apaziguado a violência substituída pelo vinho, transformado em sangue na celebração da Missa, instrumentos de prevenção na luta contra a tirania dos comunistas.

2 comentários

Ao ler a reflexão denominada ‘‘Missa de Ação de Graças Pelo Golpe Militar de 1964 – Parte I’’. Acabei sendo conduzido a algumas reflexões sobre a história e sobre a perda da subjetividade humana ao longo da história aja visto que o golpe militar representou um dos maiores marcos da perda do individualismo e da sujeição do individuo aos interesses privados.

Não se pode negar a história e nem o que nela está escrito, não existem borrachas ou panos capazes de limpar o sangue derramado ou silêncio daqueles cujo cálice escorria, porém para compre-la se faz necessário ir as suas raízes mais profundas e ao que me parece essas só podem ser encontradas na natureza do jogo político.

Segundo Hegel é no cristianismo que encontramos a primeira visão de individualismo e de liberdade subjetiva, a primeira vista nós parece um tanto contraditório, pois a democrática ou o chamado governo do povo nasce na Grécia quando os cidadãos se reúnem em praça publica para debaterem os interesses da polis. Porém se olharmos mais a fundo veremos as contradições existentes no próprio sistema.

Primeiramente é preciso levar em conta que nem todos eram considerados cidadãos apenas uma pequena parte da polis, ou seja, o governo do povo pertencia a uma pequena camada, enquanto que a grande massa responsável pela manutenção do Estado era excluída das decisões do próprio governo que ajudava a manter com sua força física.

Além disso, as decisões tomadas em praça publica pelos cidadãos não constituem a vontade subjetiva do individuo e sim a vontade coletiva, ou seja, o individuo abre mão de sua subjetividade em favor do coletivo. Podemos ver com mais clareza a perda da subjetividade humana na filosofia Aristotélica aonde a vida dos cidadãos estava voltada para a cidade suas escolhas e decisões deviam levar sempre em conta o interesse do comunidade até a escolha da profissão se pautava pelo bem estar da comunidade.

Com o surgimento do cristianismo a subjetividade humana começa a se contrapor ao bem estar do estado, pois as ações do sujeito não visam mais o coletivo e sim o seu próprio bem, pois para o cristianismo cada pessoa é responsável por seus atos e por sua própria salvação não existe mais a visão coletiva mais sim a subjetiva. Todos os indivíduos são iguais diante de Deus a pirâmide de classes cai por terra.

Quando os perigos dessa nova concepção para os interesses do estado são descobertos surge o capitalismo como forma de manter o equilíbrio e de proporcionar essa suposta liberdade aos indivíduos , quando os indivíduos percebem que na verdade o capitalismo os aprisionou surge um movimento de libertação que mais tarde comina no comunismo .

by André Antoninho Führ on 7 de abril de 2009 às 07:01. #

Ótimo comentário, André Antoninho Fürh. Rico de reflexão, é um convite para um novo artigo. Você passou para mim, a capacidade de escrever bem. Como colaboração de sua parte, nossa página será também seu espaço de divulgação da verdade. A partir de agora, você é o nosso convidado especial para um dos nossos colaboradores. Fique à vontade, Seja bem-vindo.

by Francisco Andrade on 7 de abril de 2009 às 13:27. #

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