É Possível Alinhar Ciência com Religião?

by Francisco on domingo, 22 de março de 2009

Francisco Antônio de Andrade Filho

Há dois meses, li o livro “Anjos e Demônios”, de Dan Brown, da Ed. Sextante, 2004. Percebi nesta obra, o poder político da Igreja Católica – mas também sua fragilidade e corrupção -, em conflito com sociedades antigas de seu tempo e modernos centros de pesquisas. Ele trata de questões que passam pela cabeça de todos: a existência de Deus e Ciência, a possibilidade de se ter fé no Universo - Deus ou Natureza -, e do alinhamento entre o científico e o espiritual. Transcrevo, com aspas, um dos diálogos, a seguir

Padre Leonardo fala com sua filha Vitória (p.60). “Vou me mudar para a Suíça [...] estudar Física na Universidade de Genebra. Física? – exclamou Vitória, - Pensei que você amasse Deus! Eu amo e muito. Por isso é que quero estudar suas regras divinas. As leis da Física são a tela que Deus estendeu para pintar sua obra – prima”.

E no laboratório de seu pai, Vitória conversa com Kohler (p.60/65): “por onde começar. [...] disse ela imperturbável, com seu sotaque. “Pelo começo – pediu Kohler. – Conte-nos a experiência de seu pai. Alinhar a ciência com a religião sempre foi o sonho da vida de meu pai – disse Vitória – Ele esperava provar um dia que ciência e religião são dois campos totalmente compatíveis, duas abordagens diferentes para se encontrar a mesma verdade [...]. A ciência e a religião não estão em desacordo. É que a ciência ainda é muito jovem para compreender”.

Reagindo, Kohler contradiz o pensamento de Vitória (p.69), assim: “O avanço científico traz riscos [...]. Sempre trouxe. Programas espaciais, pesquisa genética, medicina, todos cometem erros. A ciência precisa sobreviver a seus próprios enganos. Para o bem de todos”.

O camerlengo, porta-voz do Papa no Vaticano (p.429), lembrando sua doutrina, verbera, assim: “A ciência e a religião não andam juntas. Não buscamos o mesmo Deus [...] Quem é seu Deus? Um Deus de prótons, massa e carga de partículas? Como seu Deus inspira seus fiéis? Como é que seu Deus chega ao coração do homem para lembrar-lhe que ele é explicável por um poder maior? [...] Isso não glorifica Deus, isso desmerece Deus”.

E hoje, ao reler os tópicos acima expostos, lembrei-me da conduta de líderes da Igreja Católica, Romana, com seus dogmas medievais, do Direito Canônico – eis sua derrota -, violando o Direito Civil de outros países. Foi assim que a violência eclesiástica, do arcebispo José Cardoso Sobrinho, contra a mãe de uma menina de nove anos, grávida de gêmeos; e contra os profissionais de saúde. Com aplicação de normas ineficazes contra o aborto e a ciência, foram simbolicamente e massacrados por esse herdeiro do poder medieval. E todos que reagiram, perguntavam: “E por que ele absolve o pedófilo-padrasto estuprador da mesma criança, grávida de gêmeos?”


Assim, também, Bento XVI - em suas recentes viagens e no trono sagrado de seu Palácio dentro do Vaticano – condena o uso de camisinha como forma de prevenção da contaminação pelo HIV, e prega abstinência sexual. É a religião católica contra a ciência? Leia mais sobre a temática em “Cobertos de Teia de Aranha”, por Jussara Seixas.


É possível alinhar a ciência com a religião? Uni-las? Religião e ciência são inseparáveis, mas distintas da dimensão espiritual na vida humana. É polêmico afirmar a possibilidade de se vê uma ao lado da outra. Os caminhos da espiritualidade são trilhados pelo respeito mútuo, tolerância, convivência e transformação interior, vivificada na religião ou na ciência.

Neste momento de reflexão, alerto a Igreja Católica, entre outras instituições eclesiásticas, a se converte, ser mais humildes diante de Deus e de seus filhos. Respeite o desafio das ciências, inclusive, no caso, desça de seus tronos e estude as Ciências da Saúde.

De minha parte, não tenho medo de excomunhão É o livre exercício do juízo crítico em questões religiosas e político-institucionais. Por causa delas e com elas, ter valorizado a tal ponto o ser humano, Espinosa encontrou na sua frente a mais fantástica campanha do silêncio, perseguição e censura proveniente daquelas mesmas instituições religiosas e políticas, católicas e protestantes. Poderes sacros, mal da religião. Poderes sem ética, destruidores da espiritualidade humana.

Nesta linha, tomo a liberdade de levantar algumas questões críticas para uma releitura de Espinosa nos dias de hoje, a seguir.

Seria a espiritualidade um refúgio confessional para se manterem discursos e sermões fanáticos e mercantilistas que fogem da ciência na construção das normas éticas?

Não estaria a espiritualidade, cooptada pelas religiões institucionalizadas em vista de impor a sociedade suas conotações teocráticas? Poderes, com ou sem ética?

Comente