Filosofia da Religião na América Latina – Agência de controle social? [Cibercultura]

by Francisco on terça-feira, 14 de setembro de 2010

por Francisco Antônio de Andrade Filho



 



Foi em 1978, durante a III Conferência do Episcopado Latino-Americano, em Puebla-México. Em 1981, eu defendi minha Dissertação de Mestrado, na Universidade Federal de Minas Gerais sobre Igreja e Ideologias na América Latina. Respondi a questão: o que a Igreja nos propõe como práxis de libertação? Seria a Igreja, uma instituição que funciona como agência de controle social? E justificava a hipótese, segundo a qual ela reflete e dinamiza o impacto político da religião no processo social na América Latina.

Na perspectiva dialética, tanto numa linha antropológico-psicanalítica quanto marxista, a posição da Igreja adquire maior clareza como aparelho ideológico de Estado. Aos olhos de Freud e Marx, a religião cristã estaria sacralizando normas socialmente necessárias, tornando-se condição de baluarte da ordem estabelecida. Ela estaria compromissada com os grupos dominantes.

É que para o pai da psicanálise e para o pai da ciência da história, as religiões sempre foram importantes para as classes dominantes na medida em que reproduzem a ideologia burguesa.

Em Freud, por exemplo, a religião aparece como expressão social de uma ilusão, uma forma de infantilismo, a neurose obsessiva da humanidade. Nasce fundamentalmente de uma recusa, por parte da consciência, em aceitar a “realidade”. É ela um ato de rebelião pelo qual o princípio do prazer nega à realidade seu status de realidade, substituindo-a por um mundo imaginário que realmente represente os impulsos eróticos reprimidos pela civilização, mundo este que passa a funcionar, para a consciência, como realidade.

Rubem Alves, analisando o texto de Sigmund Freud, Totem and Taboo (1912 – 13), discute:



“É em nome da desta exigência que Freud proclama, em O Futuro de Uma Ilusão, que a religião precisa ser destruída, por ela uma ilusão psíquica, criada pela capacidade humana de imaginar um estrado de coisas em que os desejos se realizariam. Por meio dela o homem evita a confrontação com a dura realidade que o resiste. A eliminação da religião seria assim uma tarefa indispensável num programa de “educação para a realidade” – uma educação que levaria o homem a substituir o seu Deus-ilusão pelo Logos científico, pois só assim ele poderá conhecer, dominar e transformar o seu mundo. Freud vê a tarefa de libertação do homem como o exorcismo de uma ilusão, como uma luta no campo psicológico”.




Enquanto isso, em Karl Marx, em A Ideologia Alemã (1845 – 46), religião é o produto de uma sociedade irracional e opressiva, um conjunto de ilusões necessárias para que o homem possa suportar as correntes que o escravizam. “A religião é o suspiro da criatura oprimida”. Para ele, a religião não liberta o homem. É uma falsa consciência, força conservadora, acrítica. É uma forma de alienação. É necessário destruir a ponte religiosa que liga os céus para que se possa construir a terra. Assim, a religiões organizadoras se tornam agências de controle social.

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