Perguntas super-interessantes sobre Software Livre

by Francisco on domingo, 11 de junho de 2006

Francisco Antônio de Andrade Filho

Neste novo tempo do Ciberespaço, descobrimos a habilidade de alunos e amigos se conectando em busca de informação, de novas formas de pensar, interagir e viver. Juntos, percebemos o poder e a fragilidade, com ética e sem ética, das tecnologias digitais da inteligência humana. Conseguimos registrar perguntas super-interessantes sobre Software Livre em confronto com o Software Proprietário. E à luz da Filosofia, indagamos e buscamos respostas em aberto. Diretor do HackerTeen, professor e aluno, tecemos um diálogo da cidadania digital.

O que representam para a inteligência e o conhecimento, os meios informáticos? Seriam valores, a capacidade técnica de fragmentar os modos de ser e pensar estabelecidos, hoje, e fazer emergir novos espaços para a cultura a serviço da Humanidade? Como é possível viver os desafios dos computadores inteligentes que incluem e excluem o homem do mercado de trabalho? Seria possível garantir a segurança computacional com as novas tecnologias da inteligência?

Os velhos, jovens, homens e mulheres de todas as idades, sabem muito bem que vivemos numa época singular, marcada pela enorme criação de riqueza, pela explosão das inovações e ao mesmo tempo marcada pelo sentimento agudo de alienação e isolamento, que ocorre quando os efeitos da informática, como, por exemplo, a economia globalizada, atingem os indivíduos que ainda não tiveram acesso à modernidade.

Destacamos um tópico de Ética, escrito por Baruch de Espinosa (1632-1677), assim:

Mas como os homens no começo, com instrumentos inatos, puderam fabricar algumas coisas muito fáceis, ainda que laboriosas e imperfeitamente, feito que, fabricaram outras coisas mais difíceis, com menos trabalho e mais perfeição, passando gradativamente das obras e instrumentos, para chegar a fazer tantas coisas e tão difíceis com pouco trabalho, também o intelecto, por sua forma nativa, faz para si instrumentos intelectuais e por meio deles adquirir outras forças para outras obras intelectuais, graças às quais fabrica outros instrumentos ou poder de continuar investigando, e assim prosseguindo gradativamente até atingir o cume da sabedoria. (Ética: 26).

E pesquisamos Uma questão de Liberdade: Software Livre versus Software Proprietário, artigo de Ricardo Amaro, disponível em , acessado em 30 Abril 2005. Atento, e com muita paixão, li este artigo, pensando e indagando como os nossos leitores. Seria ético, o Software “fechado”, com “total controle de todos os tipos de comunicação e dados de outrem”? O que podemos dizer sobre esses pensamentos do Ricardo?

Em tudo... Desde o software que recebe o pedido da mesa no restaurante, à transferência bancária via Internet, passando pela conversa amena no sistema de chat ou pelo curriculum que se escreve num processador de texto, os programas informáticos tocam os destinos de todos nós. [...] Por contraponto podemos falar de outro processador de texto, que faz exactamente a mesma coisa e mais um "par de botas", abre e guarda todos os formatos de texto, não custa nada a não ser o tempo de o instalar, podemos verificar o que o programa faz exactamente olhando para o seu código, podemos partilhá-lo com amigos, empresa, família e acima de tudo não nos obriga a registar o nosso nome nem os nossos dados.

No Netclass, do Programa HackerTeen (São Paulo), ministrava aulas de Ética, à distância, o Diretor Marcelo Marques desta Escola, e este professor, produzimos um diálogo com o aluno, Leandro Martins Morani, da Faixa Verde G02.

Questões inteligentes, respostas hábeis. Nenhuma delas, fechadas. Discutimos esta problemática do Software Livre versus Sofware Proprietário, assim:

- Francisco: O que representam para a inteligência e o conhecimento os meios informáticos? Seriam valores, a capacidade técnica de fragmentar os modos de ser e pensar estabelecidos, hoje, e fazer emergir novos espaços para a cultura a serviço da Humanidade?

- Leandro: Sim. A informática representa uma ferramenta prática a favor da evolução da inteligência e do conhecimento humano. Os meios informáticos permitem ao homem se aproximar de outras culturas, expandindo os horizontes do saber, derrubando fronteiras, unindo cada vez mais pessoas. Infelizmente, toda essa evolução se faz prejudicial para quem ainda não teve acesso à tecnologia. É importante um crescimento organizado e também o compartilhamento do conhecimento.

- Francisco: Como é possível viver os desafios dos computadores inteligentes que incluem e excluem o homem do mercado de trabalho?

- Leandro: Durante a História, o homem sempre se viu frente a desafios aparentemente impossíveis da serem superados, mas, na maioria das vezes, obteve sucesso. O desafio da nossa era é o uso cada vez maior dos computadores inteligentes, que incluem poucos e excluem muitos profissionais no mercado de trabalho. Vejo a solução no Software livre, que tem, hoje, um papel importante na inclusão digital.

- Francisco: Seria possível garantir a segurança computacional com as novas tecnologias da inteligência?

- Leandro: Sim. Toda mudança, não importa qual, traz riscos. Risco de não adaptação, risco de insegurança com o novo. O mundo está cada vez mais computadorizado. Esse novo estilo de vida traz, logicamente, seus riscos. Uma sociedade interconectada permite acesso fácil a muitos dados e informações, e, pessoas sem um pensamento em prol da evolução, aproveitam a fragilidade alheia para tomar posse do que não as pertence. Por outro lado, existem pessoas e entidades dispostas a formar cidadãos que tenham como objetivo garantir a segurança da sociedade. O HackerTeen é um exemplo, dentre tantos outros. Enquanto houver gente de bem, será possível garantir a segurança computacional.

- Francisco: O Software Livre é mais confiável? Deveria ter donos? E nos governos?

- Leandro: O Software Livre, como já disse anteriormente, pode ser a solução para a exclusão digital. Se ele é ou não mais confiável, é relativo, depende muito de quem usa. O Software Livre tem dono: a comunidade. Todos trabalhando para seu desenvolvimento, para torná-lo forte frente às poderosas corporações que dominam o mercado hoje. Os governos, de todas as cidades e países devem apoiá-lo. Não faz sentido que o dinheiro dos nossos impostos vá parar nas mãos de empresas. A política de software livre dentro dos governos permitirá melhores investimentos em saúde e educação.

- Marcelo Marques: As leis de patentes e direitos autorais utilizadas pelas empresas são utilizadas de forma ética?

- Leandro: De certa forma, sim. Os criadores têm direito de cobrar por suas criações. Porém, acho errado que se cobrem licenças de uso, fazendo o cliente pagar não só pelo produto, mas pagar “eternamente” pelo software adquirido. Vejo isso como exploração.

- Marcelo Marques: O Software Livre é mais ético que o software proprietário?

- Leandro: Acredito que sim. O Software Livre opera recursos que aproximam cada vez mais pessoas de diversas áreas do conhecimento, enquanto que o software proprietário não permite o auto-desenvolvimento dos seus clientes a partir do momento em que os usuários não têm acesso ao seu código-fonte. O Software Livre favorece o crescimento do homem como ser social.


E Software Livre e o Software Proprietário, os dois, serão fontes de felicidade humana. E o reino da liberdade se instalará, e com ética, na Aldeia Global.

* Francisco Antônio de Andrade Filho é Doutor em Lógica e Filosofia da Ciência, na área de Filosofia Política, pela UNICAMP/SP. Professor Titular, aposentado da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Docente em Filosofia na Faculdade Maurício de Nassau, nos cursos de Administração, Direito, Comunicação Social e Enfermagem. Membro do Comité de Ética de Pesquisas em seres humanos, do Hospital Oswaldo Cruz – UHOC-UPE.

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