Maquiavel: É Melhor Prevenir ou Remediar?

by Francisco on terça-feira, 6 de junho de 2006

José Luiz Ames

Como deve agir o governante em relação aos problemas que enfrenta na administração? Maquiavel procura iluminar essa questão comparando o trabalho do político com o do médico. O problema enfrentado pelo dirigente é semelhante à doença enfrentada pelo médico. A comparação é a seguinte: “no princípio, uma doença é fácil de ser curada, mas difícil de ser diagnosticada. Com o passar do tempo, não tendo sido nem reconhecida nem medicada, torna-se mais fácil diagnosticá-la, mas também mais difícil de curá-la” (O Príncipe, cap. III). Quando o câncer é diagnosticado logo no seu início, as chances de cura são praticamente plenas. Já quando está em estágio avançado....

Na política, explica Maquiavel, acontece algo semelhante. “Quando se percebe com antecedência os males que surgem, eles são curados facilmente. Quando, porém, por não terem sido identificados, se deixa que cresçam a ponto de todos passarem a conhecê-los, não há mais remédio” (O Príncipe, cap. III). Os problemas na política são como um câncer no corpo: quando o governante os deixa crescer, destroem os melhores planos que ele porventura possa ter.

A imagem utilizada por Maquiavel para explicar o modo de agir de um político é muito apropriada para entender nosso cotidiano. Notamos muitos dirigentes que parecem incapazes de perceber a gravidade de um problema. Estão inteiramente voltados às grandes metas de sua administração. Na verdade, os problemas não podem ser separados entre si conforme o tamanho. Tal como um câncer, o perigo está naquilo que o problema pode causar ao projeto político. Basta, por exemplo, uma licitação mal explicada para comprometer a honestidade de toda administração...

A verdadeira inteligência política está naqueles que têm a sensibilidade de perceber os grandes problemas no seu nascedouro. Estes são políticos predestinados ao sucesso, porque combatem os obstáculos na sua raiz. Os medíocres, infelizmente a maioria, “empurram com a barriga”. Pensam que “deixando rolar” as coisas se acomodem sozinhas. É o que geralmente acontece, só que da pior forma: como numa doença não tratada, amplia o quadro de deterioração da comunidade política.

O dirigente incompetente, aquele que não resolve no começo os problemas, é também perigoso. Assim como o médico que não diagnostica a doença em tempo pode levar o paciente à morte, o governante que não combate as dificuldades no nascedouro prejudica toda comunidade. Do mesmo modo que o conselho de classe cassa o diploma do médico fajuto, deveria existir um mecanismo para cassar o mandato do dirigente incompetente. O primeiro leva à morte uma pessoa. O último, conduz a coletividade inteira à falência!

* José Luiz Ames é doutor em Filosofia, e professor da Unioeste, Campus de Toledo.

Comente