Francisco Antônio de Andrade Filho
Neste novo tempo do Ciberespaço, descobrimos a habilidade de alunos e amigos se conectando em busca de informação, de novas formas de pensar, interagir e viver. Juntos, percebemos o poder e a fragilidade, com ética e sem ética, das tecnologias digitais da inteligência humana. Conseguimos registrar perguntas super-interessantes sobre Software Livre em confronto com o Software Proprietário. E à luz da Filosofia, indagamos e buscamos respostas em aberto. Diretor do HackerTeen, professor e aluno, tecemos um diálogo da cidadania digital.
O que representam para a inteligência e o conhecimento, os meios informáticos? Seriam valores, a capacidade técnica de fragmentar os modos de ser e pensar estabelecidos, hoje, e fazer emergir novos espaços para a cultura a serviço da Humanidade? Como é possível viver os desafios dos computadores inteligentes que incluem e excluem o homem do mercado de trabalho? Seria possível garantir a segurança computacional com as novas tecnologias da inteligência?
Os velhos, jovens, homens e mulheres de todas as idades, sabem muito bem que vivemos numa época singular, marcada pela enorme criação de riqueza, pela explosão das inovações e ao mesmo tempo marcada pelo sentimento agudo de alienação e isolamento, que ocorre quando os efeitos da informática, como, por exemplo, a economia globalizada, atingem os indivíduos que ainda não tiveram acesso à modernidade.
Destacamos um tópico de Ética, escrito por Baruch de Espinosa (1632-1677), assim:
Mas como os homens no começo, com instrumentos inatos, puderam fabricar algumas coisas muito fáceis, ainda que laboriosas e imperfeitamente, feito que, fabricaram outras coisas mais difíceis, com menos trabalho e mais perfeição, passando gradativamente das obras e instrumentos, para chegar a fazer tantas coisas e tão difíceis com pouco trabalho, também o intelecto, por sua forma nativa, faz para si instrumentos intelectuais e por meio deles adquirir outras forças para outras obras intelectuais, graças às quais fabrica outros instrumentos ou poder de continuar investigando, e assim prosseguindo gradativamente até atingir o cume da sabedoria. (Ética: 26).
E pesquisamos Uma questão de Liberdade: Software Livre versus Software Proprietário, artigo de Ricardo Amaro, disponível em , acessado em 30 Abril 2005. Atento, e com muita paixão, li este artigo, pensando e indagando como os nossos leitores. Seria ético, o Software “fechado”, com “total controle de todos os tipos de comunicação e dados de outrem”? O que podemos dizer sobre esses pensamentos do Ricardo?
Em tudo... Desde o software que recebe o pedido da mesa no restaurante, à transferência bancária via Internet, passando pela conversa amena no sistema de chat ou pelo curriculum que se escreve num processador de texto, os programas informáticos tocam os destinos de todos nós. [...] Por contraponto podemos falar de outro processador de texto, que faz exactamente a mesma coisa e mais um "par de botas", abre e guarda todos os formatos de texto, não custa nada a não ser o tempo de o instalar, podemos verificar o que o programa faz exactamente olhando para o seu código, podemos partilhá-lo com amigos, empresa, família e acima de tudo não nos obriga a registar o nosso nome nem os nossos dados.
No Netclass, do Programa HackerTeen (São Paulo), ministrava aulas de Ética, à distância, o Diretor Marcelo Marques desta Escola, e este professor, produzimos um diálogo com o aluno, Leandro Martins Morani, da Faixa Verde G02.
Questões inteligentes, respostas hábeis. Nenhuma delas, fechadas. Discutimos esta problemática do Software Livre versus Sofware Proprietário, assim:
- Francisco: O que representam para a inteligência e o conhecimento os meios informáticos? Seriam valores, a capacidade técnica de fragmentar os modos de ser e pensar estabelecidos, hoje, e fazer emergir novos espaços para a cultura a serviço da Humanidade?
- Leandro: Sim. A informática representa uma ferramenta prática a favor da evolução da inteligência e do conhecimento humano. Os meios informáticos permitem ao homem se aproximar de outras culturas, expandindo os horizontes do saber, derrubando fronteiras, unindo cada vez mais pessoas. Infelizmente, toda essa evolução se faz prejudicial para quem ainda não teve acesso à tecnologia. É importante um crescimento organizado e também o compartilhamento do conhecimento.
- Francisco: Como é possível viver os desafios dos computadores inteligentes que incluem e excluem o homem do mercado de trabalho?
- Leandro: Durante a História, o homem sempre se viu frente a desafios aparentemente impossíveis da serem superados, mas, na maioria das vezes, obteve sucesso. O desafio da nossa era é o uso cada vez maior dos computadores inteligentes, que incluem poucos e excluem muitos profissionais no mercado de trabalho. Vejo a solução no Software livre, que tem, hoje, um papel importante na inclusão digital.
- Francisco: Seria possível garantir a segurança computacional com as novas tecnologias da inteligência?
- Leandro: Sim. Toda mudança, não importa qual, traz riscos. Risco de não adaptação, risco de insegurança com o novo. O mundo está cada vez mais computadorizado. Esse novo estilo de vida traz, logicamente, seus riscos. Uma sociedade interconectada permite acesso fácil a muitos dados e informações, e, pessoas sem um pensamento em prol da evolução, aproveitam a fragilidade alheia para tomar posse do que não as pertence. Por outro lado, existem pessoas e entidades dispostas a formar cidadãos que tenham como objetivo garantir a segurança da sociedade. O HackerTeen é um exemplo, dentre tantos outros. Enquanto houver gente de bem, será possível garantir a segurança computacional.
- Francisco: O Software Livre é mais confiável? Deveria ter donos? E nos governos?
- Leandro: O Software Livre, como já disse anteriormente, pode ser a solução para a exclusão digital. Se ele é ou não mais confiável, é relativo, depende muito de quem usa. O Software Livre tem dono: a comunidade. Todos trabalhando para seu desenvolvimento, para torná-lo forte frente às poderosas corporações que dominam o mercado hoje. Os governos, de todas as cidades e países devem apoiá-lo. Não faz sentido que o dinheiro dos nossos impostos vá parar nas mãos de empresas. A política de software livre dentro dos governos permitirá melhores investimentos em saúde e educação.
- Marcelo Marques: As leis de patentes e direitos autorais utilizadas pelas empresas são utilizadas de forma ética?
- Leandro: De certa forma, sim. Os criadores têm direito de cobrar por suas criações. Porém, acho errado que se cobrem licenças de uso, fazendo o cliente pagar não só pelo produto, mas pagar “eternamente” pelo software adquirido. Vejo isso como exploração.
- Marcelo Marques: O Software Livre é mais ético que o software proprietário?
- Leandro: Acredito que sim. O Software Livre opera recursos que aproximam cada vez mais pessoas de diversas áreas do conhecimento, enquanto que o software proprietário não permite o auto-desenvolvimento dos seus clientes a partir do momento em que os usuários não têm acesso ao seu código-fonte. O Software Livre favorece o crescimento do homem como ser social.
E Software Livre e o Software Proprietário, os dois, serão fontes de felicidade humana. E o reino da liberdade se instalará, e com ética, na Aldeia Global.
* Francisco Antônio de Andrade Filho é Doutor em Lógica e Filosofia da Ciência, na área de Filosofia Política, pela UNICAMP/SP. Professor Titular, aposentado da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Docente em Filosofia na Faculdade Maurício de Nassau, nos cursos de Administração, Direito, Comunicação Social e Enfermagem. Membro do Comité de Ética de Pesquisas em seres humanos, do Hospital Oswaldo Cruz – UHOC-UPE.
Stella Menegolo
O mundo vive rápidas transformações em função das revoluções tecnológicas, nas quais a televisão tem um papel preponderante. Entre outros fatores, nos quais podemos dizer que esses encantos fazem com que as crianças passem boa parte do tempo diante da TV.
A TV pode e até deve ser utilizada como meio didático, já que é através dela que a criança recebe informações. As exibições constantes de "traição, violência e outras degradações morais provocam um conformismo e os espectadores passam a achar tudo isso muito comum". Desta forma a TV altera as percepções e valores, onde as suas funções e conceitos e não estão de acordo com o que aprendemos, vemos e ouvimos.
Em sua função a TV também precisa ser estudada dialeticamente aonde, a questão fundamental é de saber como as mensagens e o sujeito se constituem e de que maneira se confrontam.
A criança quando nasce é uma "tábua rasa" que vai consecutivamente aprendendo informações resultante das sucessivas experiências vividas em contacto com o meio. Em geral as crianças começam a ver desenhos animados aos 02 anos de idade, aos 06 já estão habituadas a elas e aos 6-11 vão conquistando a maioria. As crianças mais novas vêm os desenhos animados de forma nítida, que ajudam em sua compreensão e prende a toda a atenção.
Inconscientemente a criança exorciza seus medos, desenvolvendo suas
estruturas mentais. A criança entende valores como justiça, esperança ou abandono na linguagem mágica do "faz-de-conta". As novelas também atraem as crianças pois elas falam sobre a identidade social, como por exemplo: a procura de um filho trocado na maternidade, problemas de incesto, problemas de vida e morte.
No que se diz respeito aos desenhos animados, uma grande quantidade de violência está presente neste tipo de programação e que afeta bastante, significando uma forte influência nas crianças. Essa influência pode acompanhá-la até uma idade avançada e mais tarde a cometer violência.
Com toda a influência desse meio de comunicação, consequentemente, mudaram-se os costumes e o cotidiano dos lares. talvez não seja atrevido dizer, com apoio absoluto da maior parte da população mundial, que a televisão é nada mais nada menos que a mídia mais importante no cotidiano das pessoas. A Televisão é cultura para uns, destruição e violência para os outros.
A TV constitui um objecto de culto para as crianças, e está sendo cada vez mais substituidas pelos pais, pois os mesmo não tempo; a TV ´pode ser assim chamada de Babysistter, que desperta a atenção. Mas cabe aos pais, prestar atenção ao que seu filho assistia na Tv, impondo-lhe ordens.
As crianças interagem com a TV e elaboram suas representações de acordo com seu universo biopsicossocial. E partindo dessa influência que a TV exerce, principalmente em desenhos animados para as crianças, é importante que os pais saibam o que o seu filho está assistindo e interpretando sobre o desenho. Pois em sua maioria, os desenhos animados remetem conteúdos de:
- vencedor/perdedor
- bem/mal, etc... podendo prejudicar na educação familiar.
Objetivos:
De fornecer alternativas para o intercâmbio cultural entre Universidades, Escola e Sociedades.
Objetivos Especificos
1. Levantar referencial teórico atualizado sobre a relação TV/criança
2. Identificar os diferentes tipos de produção cultural presente na televisão.
3. Investigar as diferentes formas de manifestações dos folguedos infantis, antes e depois do advento da TV.
Considerações Finais
A criança substitui a falta de criatividade e a rigidez da escola pela beleza da cor e do movimento da TV. As imagens recolhidas pela criança têm um papel preponderante na sua formação e nos seus comportamentos futuros.
*Stella Menegolo é aluna do Iº Período do Curso de Direito da Faculdade Maurício de Nassau/Recife-PE.
José Luiz Ames
Na aurora do Estado moderno um problema crucial era conseguir manter o poder num quadro institucional em que, no lugar do Direito, prevalecia a força. A conquista do mando supremo acontecia às custas da eliminação física dos outros pretendentes ao cargo. Num tal contexto, qual a maneira mais eficaz de lidar com os inimigos políticos? Maquiavel coloca-se este problema e mostra como ele tem sido resolvido pelos governantes que alcançaram êxito. Não se trata de uma recomendação moral. O que está em questão é saber como manter sob controle o poder conquistado.
A tese de Maquiavel é a seguinte: quem conquistou o poder numa luta ferrenha contra seus antigos ocupantes, “deve observar duas regras: extinguir os antigos governantes e manter as leis e os tributos” (O Príncipe, cap. III). Como acabar com os antigos governantes? Está ali a segunda parte da “regra de êxito” do florentino: não se pode tomar meias medidas. Nas palavras do florentino, “é preciso mimar ou aniquilar os homens, porque eles se vingarão de pequenas ofensas, mas não poderão vingar-se de agressões definitivas” (O Príncipe, cap. III). O governante que pretende vencer não pode olhar para os meios que emprega. Quando ele persegue os antigos ocupantes do poder e seus simpatizantes, deve ser drástico. Para ganhar precisa matar toda lembrança antiga. Não pode deixar pedra sobre pedra. Precisa praticar a política da “terra arrasada”.
Maquiavel ainda se encarrega de avisar aqueles que, porventura, forem tomados de escrúpulos diante do tamanho da injustiça que precisam praticar para ganhar: “tem uma regra geral que nunca ou quase nunca falha: quem se torna instrumento para que outro se torne poderoso se arruína” (O Príncipe, cap. III). O governante que não destrói a lembrança do antigo mandatário não faz seu sucessor. Mais: ao deixar espaço para o inimigo, fornece alimento para que cresça e reconquiste o poder perdido.
Na atualidade, a eliminação física dos adversários políticos é exceção. Afinal, vivemos num Estado de Direito em que prevalece a lei no lugar da força. No entanto, a lógica que comanda a mudança no mando do poder de Estado permanece a mesma, em todas as esferas da administração pública. A primeira iniciativa do novo Prefeito, Governador ou Presidente, especialmente quando é de oposição, é apagar toda lembrança da gestão anterior. Para tanto, substituem-se todas as pessoas que ocuparam cargos gerenciais na estrutura de poder, mudam-se as placas de inauguração, trocam-se os nomes dos prédios e dos projetos, abandonam-se as obras que deram certo, difamam-se as pessoas que ocuparam o poder. Enfim, destroem-se todos os símbolos que possam evocar a lembrança da gestão anterior. É verdade, ninguém é morto. No entanto, há uma morte simbólica tanto das pessoas que atuaram na gestão precedente, quanto dos projetos por elas desenvolvidos.
Maquiavel escreveu isso olhando para a política tal como ela efetivamente acontecia. Ele jamais disse que “seria bom” se todos agissem assim. Infelizmente, muitos dos que o leram o interpretaram dessa maneira. Escondem-se atrás de uma falsa “Ciência Política” para encobrir sua ambição sem medida. Dizem que a “política é assim mesmo”, como se fosse uma fatalidade. Tudo passa a girar em torno da conquista do poder pelo poder. Em vez de a política ser um instrumento a serviço do bem-estar de todos, torna-se um fim em si mesma. Com isso ela se degrada e perde sua originária força organizadora do bem comum. Os seus agentes, os “políticos”, são execrados como parasitas, algumas vezes não sem razão.
* José Luiz Ames é doutor em Filosofia e professor da Unioeste, Campus de Toledo.
José Luiz Ames
Como deve agir o governante em relação aos problemas que enfrenta na administração? Maquiavel procura iluminar essa questão comparando o trabalho do político com o do médico. O problema enfrentado pelo dirigente é semelhante à doença enfrentada pelo médico. A comparação é a seguinte: “no princípio, uma doença é fácil de ser curada, mas difícil de ser diagnosticada. Com o passar do tempo, não tendo sido nem reconhecida nem medicada, torna-se mais fácil diagnosticá-la, mas também mais difícil de curá-la” (O Príncipe, cap. III). Quando o câncer é diagnosticado logo no seu início, as chances de cura são praticamente plenas. Já quando está em estágio avançado....
Na política, explica Maquiavel, acontece algo semelhante. “Quando se percebe com antecedência os males que surgem, eles são curados facilmente. Quando, porém, por não terem sido identificados, se deixa que cresçam a ponto de todos passarem a conhecê-los, não há mais remédio” (O Príncipe, cap. III). Os problemas na política são como um câncer no corpo: quando o governante os deixa crescer, destroem os melhores planos que ele porventura possa ter.
A imagem utilizada por Maquiavel para explicar o modo de agir de um político é muito apropriada para entender nosso cotidiano. Notamos muitos dirigentes que parecem incapazes de perceber a gravidade de um problema. Estão inteiramente voltados às grandes metas de sua administração. Na verdade, os problemas não podem ser separados entre si conforme o tamanho. Tal como um câncer, o perigo está naquilo que o problema pode causar ao projeto político. Basta, por exemplo, uma licitação mal explicada para comprometer a honestidade de toda administração...
A verdadeira inteligência política está naqueles que têm a sensibilidade de perceber os grandes problemas no seu nascedouro. Estes são políticos predestinados ao sucesso, porque combatem os obstáculos na sua raiz. Os medíocres, infelizmente a maioria, “empurram com a barriga”. Pensam que “deixando rolar” as coisas se acomodem sozinhas. É o que geralmente acontece, só que da pior forma: como numa doença não tratada, amplia o quadro de deterioração da comunidade política.
O dirigente incompetente, aquele que não resolve no começo os problemas, é também perigoso. Assim como o médico que não diagnostica a doença em tempo pode levar o paciente à morte, o governante que não combate as dificuldades no nascedouro prejudica toda comunidade. Do mesmo modo que o conselho de classe cassa o diploma do médico fajuto, deveria existir um mecanismo para cassar o mandato do dirigente incompetente. O primeiro leva à morte uma pessoa. O último, conduz a coletividade inteira à falência!
* José Luiz Ames é doutor em Filosofia, e professor da Unioeste, Campus de Toledo.