Escola e Democracia – histórico e perspectivas para uma gestão democrática nas escolas
by Francisco on segunda-feira, 26 de setembro de 2005
Semíramis Alencar
A escola redentora destinada a resgatar a dívida social produzida pela distribuição desigual de renda e dos benefícios sociais, pelas dificuldades de acesso ao mercado de trabalho e por discriminações de diferentes tipos (étnica, social, gênero, idade); foi duramente questionada na década de 70. As teorias da reprodução social mostraram como a escola reproduz a pirâmide social, demonstrando que as assimetrias econômicas e sociais são reproduzidas pelas instituições escolares. Evidente, pois a correspondência existente entre os níveis mais baixos de renda e escolarização são tão acentuados quantos os altos índices de escolaridade estão concentrados nas camadas econômicas e sociais mais elevadas.
Partindo desse pressuposto, alguns educadores têm voltado sus investigações para o espaço escolar, sobretudo nas relações em sala de aula, identificando formas e práticas de exclusão escolar, presentes tanto no currículo e em suas formas de implementação como nas relações entre professores e alunos e os saberes escolares.
A partir desses estudos, é possível pensar em uma educação mais inclusiva e participativa. Na direção participativa e democrática, colocam-se as propostas de mudanças na estrutura da escola e do ensino, adotando-se formas de gestão descentralizada, fundamentadas em processos participativos, organizando-se ciclos de aprendizagem e currículos multiculturais e utilizando-se de métodos ativos de ensino e avaliação formativa.
Democracia e participação
A prática democrática em sala de aula parte da idéia de que a educação deve articular-se a um projeto voltado para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e igualitária.
Uma pedagogia crítica pode ser construída, modificando e transformando a realidade escolar, uma vez que o projeto democrático está associado à idéia de emancipação que conjuga liberdade com bem estar social. No entanto cabe aos membros da comunidade escolar convidar os pais para participarem mais ativamente do cotidiano da escola.
O principal foco de cada encontro e de constante atenção da escola no processo democrático é o acolhimento e encorajamento do combate a todas as formas de opressão e subordinação dos diferentes grupos étnicos, sociais, culturais ou religiosos sejam mulheres, negros ou velhos.
Em síntese, a democracia em sala de aula está associada a construção da pedagogia crítica, marcada pelo compromisso de todos os que trabalham, no campo da educação escolar de consolidar um projeto de educação inclusiva.
Democracia e Trabalho Docente
Quando se discute a profissionalização do magistério, discute-se também qual o real significado deste profissional, sua literatura a caracteriza geralmente:
• Pelo domínio de um saber específico, de um conhecimento especializado;
• Pelos conhecimentos adquiridos com uma formação da alto nível, geralmente com o curso superior;
• Pela delimitação de um campo de atuação no qual os que não apresentam qualificação formal são considerados leigos;
• Pela independência que os membros da profissão gozam em relação às decisões tomadas no exercício de suas atividades;
• Pelo prestígio social conferido pelo sentido e pela importância social do trabalho de seus membros e pelos rendimentos que lhes são conferidos;
• Pela organização de seus membros na defesa de seus direitos, na preservação do nível dos serviços prestados , na utilização de um código de ética e de critérios para julgar o mau uso dos conhecimentos que colocam em risco os clientes.
A literatura específica tem criticado a falta de autonomia dos docentes decorrentes do controle exercido sobre seu trabalho. Apesar da aparente liberdade quando na regência de uma sala, seu espaço de trabalho é limitado pelos guias curriculares, pelas propostas e projetos pedagógicos elaborados pelos órgãos públicos, pelos currículos elaborados pelas escolas, pelos livros didáticos, pelas normas pedagógicas vigentes nas instituições escolares, pelas determinações estabelecidas pela direção da escola, pelos supervisores ou coordenadores escolares.
Se por um lado a escola deve ser participativa, onde os interesses mútuos devem ser respeitados, por outro os professores se sentem inibidos ou limitados diante desses entraves pedagógicos. Quando os docentes opinam, discutem e decidem sobre o trabalho pedagógico que realizam em suas classes, pode-se dizer que estão tendo autonomia, pois têm responsabilidade e controle sobre o trabalho que executam.
Um trabalho dessa natureza só pode ser realizado em instituições que possibilitem ao professor espaços formativos, em que se possa discutir a prática pedagógica de forma aberta, sem censuras, constrangimentos oferecendo ao professor possibilidade de crescimento profissional.
Democracia e Currículo
A elaboração de propostas pedagógicas pelo coletivo da escola tem sido considerada a forma ideal da instituição escolar organizar projetos curriculares articulados com sua realidade social e cultural.
Para que estas propostas sejam realmente democráticas, além da participação conjunta, é necessário também a orientação por critérios pedagógicos voltados para a educação inclusiva, para a formação do cidadão.
Este currículo democrático deve oferecer aos estudantes fontes constantes de informação, devem ser colocados em contato com a cultura de seu tempo, pelo uso de variados meios de comunicação, incluindo os diversos tipos de material impresso, livros, revistas e jornais, assim como o cinema, o teatro, as artes em geral, a televisão e o computador.
Democracia e Ensino
Algumas teorias pedagógicas costumam colocar o aluno no centro da aprendizagem, argumentam que esta apenas se realiza plenamente quando o ensino está centrado no processo de aquisição (não no de transmissão) dos saberes escolares.
Isto significa compreender que são as pessoas que constroem conhecimentos, atitudes e valores na convivência em grupos diariamente. Os estudantes aprendem formulando hipóteses, reformulando idéias, confrontando opiniões, criando novas concepções, mobilizando diferentes aspectos de sua estrutura física, mental e emocional para a aquisição de habilidades intelectuais, psicomotoras, sociais e afetivas.
Uma educação democrática pressupõe que o docente organize suas aulas a partir de situações que desafiem os estudantes, utilizando como objetos de ensino os problemas que os alunos trazem para a sala de aula.
Cabe ao professor criar estes estímulos, mecanismos que permitam avaliar constantemente o desenvolvimento de cada aluno para que no processo de acompanhamento da respectiva trajetória escolar, possa interferir no momento oportuno, reintegrando na dinâmica de sala de aula os alunos que vão ficando perdidos, desinteressados ou que se afastam por completo dos caminhos a serem percorridos.
A Democracia e a Relação entre a Escola, os Alunos e a Comunidade.
A relação escola/família começa na sala de aula. Os pais devem estar cientes das opções pedagógicas dos docentes, da sua forma de conceber o currículo e o tipo de ensino que ministram bem como informados acerca do desenvolvimento de seus filhos.
Quando a escola cria este elo entre a família e a sala de aula, toda a comunidade é beneficiada. Assim a escola se torna realmente democrática.
A Participação da Comunidade na Gestão Democrática na Escola.
Apesar das diferenças entre os indivíduos que compõem a comunidade, a relação entre escola e comunidade pode ser bem construída, pois é principalmente por esta diversidade de agir, de pensar e de esquematizar que faz a escola se tornar participativa.
A comunidade é heterogênea, vivencia conflitos, pois congrega indivíduos em suas particularidades. Assim também é a escola: ela reflete a sociedade em que está inserida.
No entanto para que se dê esta participação é necessário que os membros dessa comunidade se conheçam e estejam realmente interessados em trabalhar em prol da escola.
A Escola Sagarana é este ideal de escola: democrática, autônoma e comprometida com uma vida digna para todos. A escola cidadã é aquela que se assume como um centro de direitos e de deveres. A formação se dá dentro de um determinado espaço de tempo. O que caracteriza-a é a formação para a cidadania de quem está dentro dela e de quem vem a ela.
Para a Escola Sagarana, a relação entre escola e comunidade pode ser estreitada por meio:
a- de um reconhecimento mútuo, que vença preconceitos e considere a diversidade cultural que muitas vezes rodeia a escola;
b- da abertura da escola para a comunidade, para que se torne conhecida por esta e conheça sua própria realidade;
c- do resgate da escola pública como um bem da comunidade.
O envolvimento da comunidade na escola produz alterações significativas nos resultados da violência. A comunidade se torna mais unida pela participação dela em reuniões, festas, cursos e palestras. A escola para ser pública de fato deve atende as demandas da comunidade, aproximando-a de seu cotidiano, de seu espaço físico, de sua vida.
*Semíramis Alencar. Faculdade Nossa Senhora de Sion de Itamonte - UEMG
5 comentários
O artigo não apresenta referências bibliográficas sobre o assunto. Como poderia obtê-las?
Grata
by vera on 28 de julho de 2006 às 20:59. #
GOSTEI MUITO DO TEXTO , MAS COMO SABER AS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS?
by Ana Paula on 8 de novembro de 2006 às 18:56. #
Adorei o texto, apesar de já ter algum conhecimento sobre Sagarana, o que eu gostaria mesmo de saber mais é sobre Escola Cidadã. Certa de ser atenduta, agradeço.
Terezinha
by Terezinha Alves Merjane on 12 de novembro de 2008 às 18:54. #
Caras Terezinha, Ana Paula e Vera
Muito obrigada pelos comentários. O artigo acima foi escrito com base na leitura do livro Escola e Democracia do Dermeval Saviani (São Paulo, Cortez, 1988). Caso vocês tenham algum interesse em outras teorias pedagógicas, convido-lhes a conhecer minha página de educação pelo blog
http://educandooamanha.blogspot.com onde costumo escrever algumas reflexões sobre a história da educação, em seus contextos sociais, políticos e filosóficos.
Quanto à escola cidadã, Terezinha, vou procurar escrever algo sobre e assim que eu postar por lá te dou um toque.
Um abraço fraterno e fiquem à vontade para conhecer meus outros espaços na internet
Semíramis
http://nequidnimis.wordpress.com
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http://desabafodemae.com.br - consultora educacional do site Desabafo de Mãe
Conheça o trabalho do Projeto Teatro Espírita Renato Prieto http://renatoprieto.wordpress.com
by Semíramis Alencar on 13 de novembro de 2008 às 14:49. #
Semíramis,
Mui grato, pelo pronto e eficiente atendimento aos amigos-leitores de meu site.
Francisco Andrade.
by Francisco Andrade on 14 de novembro de 2008 às 06:30. #