Paul Ricoeur – Primeira Armadilha em Ideologias Políticas
by Francisco on sábado, 29 de setembro de 2012
por Francisco Antônio de Andrade Filho
Paul
Ricoeur pretende elaborar uma crítica das
ideologias (118) subjacentes à pretensão das ciências humanas de atingir a
cientificidade, campo da epistemologia crítica. Tenta dar uma solução à clássica
oposição entre ciência e ideologia. Entre ambas, deve haver uma dialética: não
há um lugar não-ideológico
de onde possa falar o cientista social, porque falar de um lugar
axiologicamente neutro não passa de um engodo.
Ricoeur
lança um desafio crítico à “falsa
consciência”, às distorções da comunicação humana, sempre ocultando ou
dissimulando o exercício da dominação ou da violência. Para tanto, analisa
esquematicamente os estudos de J. Habermas sobre a crítica das ideologias
políticas (129). Tenta superá-las por uma hermenêutica crítica (120). Seu
projeto alternativo consiste numa reflexão crítica sobre a própria
hermenêutica. Confere à crítica das ideologias uma dimensão meta-hermenêutica.
Inicialmente,
Ricoeur nos chama atenção para o perigo de
algumas armadilhas nesta discussão da crítica das ideologias:
“A
primeira consiste em se aceitar evidente uma análise em termos de classes sociais.
Isto nos parece hoje natural, tão forte é a marca do marxismo sobre o problema
das ideologias (...). Aceitar a análise
, no ponto de partida, em termos de classes, é se trancar numa polêmica estéril pró ou contra o marxismo”
(...)
Para
esta primeira pretensiosa armadilha epistemológica no campo crítico das
ideologias, Ricoeur tem suas alternativas. Segundo ele, precisamos, hoje, de
“um pensamento a-marxista”, de um pensamento que tivesse a audácia e a
capacidade de “cruzar Marx”, sem segui-lo, nem tão pouco, combatê-lo.
Neste
sentido, o filósofo francês de se escapar ao fascínio exercido pela trilha da
dominação para seguir o caminho mais amplo, o da “integração social”. De que a
dominação é uma dimensão, e não a condição única e essencial.
De
outro, não se admite, sem crítica, o fato de ser a ideologia um fenômeno essencialmente
negativo, do erro e da mentira, irmão da ilusão. Ricoeur sustenta também que
não há ciência capaz de arrebatar-se à condição ideológica. A teoria social não
consegue desvincular-se por completo da condição ideológica. Outrossim, não se
livra de efetuar a reflexão total, nem tampouco aceder ao ponto de vista capaz
de exprimir a totalidade que a subtrairia à mediação ideológica, a que estão
submetidos os outros membros do grupo social.
REFERÊNCIAS & NOTAS BIBLIOGRÁFICAS.
ANDRADE
FILHO, Francisco Antônio de. Igreja e Ideologias na América Latina. São Paulo:
Ed. Paulinas, 1982.
RICOEUR,
Paul. Interpretação e Ideologias (organização, tradução e apresentação de
Hilton Japiassu), Francisco Alves, Rio, 1977.
NOTA 118
Paul RICOEUR, Interpretação e.... toda a III parte.
NOTA 119
Ibidem, p. 119 122.
NOTA
120, ib., p.131 a 146.