Borboletas de Ana Cecília - Baile da transformação

by Francisco on sábado, 30 de abril de 2011

por Francisco Antônio de Andrade Filho





Em busca de saúde ocular, vou ao Centro Médico Prof. José Augusto Barreto – Av. Gonçalo Prado Rollemberg, 211 – Bairro São José – Aracaju/SE. Marco uma consulta com uma profissional de prevenção de doenças oculares e reabilitação visual. Aqui, vejo a luz se acender e brilhar fora e dentro de mim. Enxergo com o corpo e com a alma. Atento, percebo borboletas a se metamorfosearem no Consultório da oftalmologista Ana Cecília. Na sala de espera 709 e no seu Consultório, olho outros objetos, recheados de significados clínicos. Revelam uma forte espiritualidade, alinhada à “medicina de relação”. Demonstram a dimensão holística no cuidado com a saúde de seus pacientes. E sinto-me bem neste recinto, onde escuto músicas clássicas e assisto as borboletas bailando com a orquestra da transformação.

Assim, nessa casa de saúde ocular, ondas sonoras ecoam com instrumentos musicais de Johnn Sebastian Bach - “Eu te pertenço, senhor”. De repetente, observo as Borboletas daquela profissional a brincarem com as coisas da vida. São artistas desta clínica médica. Num jogo de luzes multicores, elas bailam por todos os recantos da sala. Bem mais alegres, escutam o som de outras músicas do mesmo gênero. No movimento dos braços de suas asas, tocam e dançam nas cordas musicais de Carl Orff, Jules Fréderic Massanet e Wolfgang Amadeus Mozart. E com essas bailarinas, descubro os segredos da admirável síntese do divino e da harmonia que reina nesse show musical. Hinos que sobem da humanidade até Deus. Transformam a cegueira em luz visível e de espírito. Atrai saúde para o corpo e a alma.

As borboletas, felizes no seu baile de metamorfose, sobrevoam os diversos objetos postados na sala de espera. Percebem um ambiente de espiritualidade oriental. E lembram a essência de toda vida espiritual que, segundo Dalai-Lama, é [...] a emoção que existe dentro de você, é a sua atitude para com os outros. Se a sua motivação é pura e sincera, todo resto vem por si. Você pode desenvolver essa atitude correta para com seus semelhantes baseando-se na bondade, no amor, no respeito, sobretudo na clara percepção da singularidade de cada ser humano [...].

Curioso, observo mais borboletas. Desta vez, com suas asas, batem palmas com toques de amizade para com as águas de uma fonte, bem iluminada e localizada ao lado da porta do Consultório de Ana Cecília. Sábias, por natureza, elas se entre - olham e perguntam para o universo inteiro: “O Sol e a Terra são fontes de Vida”? E uma delas cochicha ao meu ouvido: “a luz emanada do Sol é simplesmente vida, nos dá energia e força para viver. O Sol ilumina nossa vida emanada de Deus”.

A postura dessas borboletas lembra a beleza das Praias do Litoral brasileiro. Enquanto caminhava nas areias e tomava banho de mar, a oftalmologista me chamou de “Peregrino da Praia de Atalaia”, onde me sinto bem, inserido na Natureza. Trabalho pela sua preservação. Ninguém pode atribuir algum mal a ela, quando na realidade é feito pelo próprio homem. Oferece uma carga nova capaz de renovar desde a menor célula até nosso corpo inteiro. Aqui, com as mesmas borboletas, aquele bater palmas ecoa em suas vidas como ondas sonoras do mar a tocarem nas cordas musicais das areias da praia. Cantamos e dançamos. Águas salgadas a comporem músicas de primeira qualidade. Juntos, praticamos hidroginástica. Cuidamos de nossa saúde.

Nesse clima de felicidade, as borboletas entoam hinos de louvor com palmas de amizade para os pacientes. Revelação do segredo de nascer e viver. Celebração da beleza e da alegria. Cada um de nós sente na pele que “água é vida”. A Natureza sopra ar para seus pulmões, oxigena seu cérebro, massageia sua coluna e navega por todo seu corpo-mente. Inspira e expira. E o sopro divino, diurnamente, entra e sai do seu corpo É a sabedoria divina do oxigênio na Terra. Respira. Vive. E Deus é vida.



Eis que surge uma borboleta muito especial. Ela nos abre a porta do seu Consultório. Borboletas, meditando em silencio, liam bilhetes clínicos com mensagens psicossomáticas. Enquanto isso, Drª Ana Cecília me examinava os olhos. Excelentes biotecnologias à disposição de seus clientes. Ela se veste da ética do biopoder com a saúde do ser humano.



A Borboleta Hortência, filósofa, lembra a dimensão holística de espiritualidade em Platão: “Da mesma forma que não pode curar os olhos sem a cabeça, ou a cabeça sem o corpo, também não se deve tentar curar o corpo sem a alma. Pois a parte nunca pode ficar boa se o todo não estiver bem”.



A Borboleta Orquídea, iluminista francesa, escolheu uma carta: Letre sur les Aveugles à l’Usage de Ceux qui Voient, escrita por Denis Diderot, em 1749 . Nela, o pensador iluminista retrata Saunderson, cego de nascimento, interrogado pelos políticos do seu tempo: - E o que são, em vosso parecer, os olhos? E o cego responde: - São um órgão sobre o qual o ar produz o efeito de minha bengala sobre minha mão […] Isso é tão certo que, quando coloco minha mão entre vossos olhos e um objeto, minha mão vos está presente, porém o objeto vos está ausente. A mesma coisa me acontece, quando procuro uma coisa com minha bengala e encontro uma outra.



Por sua vez, Borboleta Jasmim, doutora em Teologia, indica a leitura e a meditação com a mensagem espiritual do Evangelho de Jesus (Lucas, 18:35-43), curando o mendigo de Jericó.

Aquele filósofo grego, com o olhar da razão, via a totalidade das realidades do cosmos como aquele cego que, pelo ouvido, percebeu “o barulho da multidão que passava” ou pelo tato quando “Jesus parou e mandou que o trouxesse”.

O homem-Deus chamado Jesus, cheio de compaixão e ternura, confiança, doação, enternecimento, conquista a experiência espiritual de sentir-se Filho de Deus, de afeto e de extrema intimidade para com a saúde integral daquele mendigo cego que nesse momento viu seu médico, observou a multidão e as belezas da Natureza. Sua alma não dói mais. Agora, ouvia e via. Sentiu-se feliz e vivo. E enxerga tudo. Que emoções transformadoras de vida. O cego descobriu seu próprio corpo e encontrou o caminho espiritual.

Enquanto isso, a última Borboleta Margarida pensa e curte a mensagem de Rubem Alves: “Afirmar que a vida tem sentido é propor a fantástica hipótese de que o universo vibra com nossos sentimentos, sofre a dor dos torturados, chora a lágrima dos abandonados, sorri com as crianças que brincam. Tudo está ligado. Convicção de que, por detrás das coisas visíveis, há um rosto invisível que sorri, presença amiga, braços que abraçam, como na famosa tela de Salvador Dali. E é essa crença que explica os sacrifícios que se oferecem nos altares e as preces que se balbuciam na solidão”.

Nesse espaço agradável, descobri a dimensão holística da espiritualidade profissional vivida pela Drª Ana Cecília. Exprime a ética do cuidado para com a saúde integral do homem. É artista clínica, capaz de ver nos seres da natureza e das culturas, do corpo e da alma como as maiores riquezas da saúde do espírito do homem. É sua espiritualidade, sua transformação interior.

E mais. Filósofo, testemunho que o olhar dessa profissional - enquanto examinava os meus olhos de 72 anos -, se envolvia com questões existenciais: a dor e o sofrimento humanos não apenas dor física, mas a mental, social e espiritual. O ser humano como um todo, um nó de relações. É corpo. É alma. É profissional. Ama e sofre. É a mulher-Médica. Oftalmologista, ela diagnostica bem com as biotecnologias disponíveis em seu Consultório.

Fiquei curado por Ana Cecília e suas borboletas. Seres inteligentes esses, capazes de transformar a doença em saúde. E Enxergo bem melhor a escrita de Hipócrates: “Penso que o melhor médico, é aquele que tem a sabedoria de falar com os pacientes, segundo o seu conhecimento, da situação do momento; do que aconteceu antes e do que acontecerá no futuro”.

Para não concluir, provoco um debate com os visitantes de meu site, nestes termos: É necessário um novo modelo de empresa terapêutica, uma “medicina de relação”, antes da medicina de órgãos, que recupere a totalidade do ser humano e considere o paciente como pessoa na unidade de todas as suas dimensões. É nesta “aliança terapêutica” entre profissionais de saúde e pacientes, que pode animar uma nova cultura da saúde que evite a “coisificação” dos enfermos e a perda da humanidade na arte clínica.

Hegel e seu conceito de sociedade civil

by Francisco on terça-feira, 26 de abril de 2011

por Francisco Antônio de Andrade Filho



Ainda que possam encontrar sensíveis diferenças e até oposições entre autores como Hobbes, Locke, Kant, Rousseau, inclusive o próprio Hegel, todos eles, ao procurarem explicar o surgimento da sociedade atual, partem da mesma dicotomia: estado de natureza versus estado de sociedade. Para eles, em geral, a origem do Estado e/ou da sociedade está num contrato: os homens viveriam naturalmente, sem poder e sem organização que somente surgiriam depois de um pacto firmado por eles, estabelecendo as regras do convívio social e de subordinação política.

No modelo jusnaturalista e de toda uma tradição justificadora do poder, o Estado é a antítese do estado de natureza3 da “societas naturalis” constituída por indivíduos hipoteticamente livres e iguais. O homem encontrava-se numa situação primitiva, regido unicamente por leis naturais, sem autoridade, sem governo e sem outras normas que aquelas ditadas pela satisfação das necessidades imediatas.

No entanto, surgem inúmeros conflitos que ameaçavam a paz, a segurança, a liberdade e a propriedade dos indivíduos que viviam nesse estado, tornaram imperioso o estabelecimento de um pacto pelo qual, alienando cada um a sua liberdade irrestrita, criava-se um conjunto de instrumentos capazes de impedir a guerra generalizada, e garantir de forma mais adequada os interesses de cada um. Surgia assim o Estado, com seu aparato jurídico, político e administrativo, oriundo do consenso dos indivíduos e com a finalidade bem definida de assegurar o livre exercício dos direitos naturais desses mesmos indivíduos.

Assim, por exemplo, o estado de natureza, segundo Hobbes, é a guerra de todos contra todos, uma guerra que é de todos os homens contra todos os homens. E mais, pensa Hobbes, assim:



“Toda sociedade civil é exatamente esta guerra (do homem contra os homens), um contra o outro, de todos os indivíduos, agora isolados um do outro apenas pela sua individualidade, e é o movimento geral, desenfreado, das potências elementares da vida livre das cadeias de privilégios”.




Deste modo, passavam os homens, do estado de natureza para o estado da sociedade. Não importa aqui o fato de que cada autor interpreta de forma diferente tanto o estado de natureza, quanto as etapas de constituição e o sentido positivo ou negativo do estado de sociedade. Importa o reconhecimento de que, como diz Kant:



“o homem deve sair do estado de natureza, no qual cada um segue os caprichos da própria fantasia, para unir-se com todos os outros... e submeter-se a uma pressão externa publicamente legal...,quer dizer, que cada um deve, antes de qualquer outra coisa, entrar num estado civil.”



Sociedade civil, portanto, aqui se opõe a sociedade natural, recobrindo tanto o conteúdo da sociedade política, isto é, um estado regido por normas às quais todos se submetem voluntariamente e no qual existem determinadas instituições encarregadas de velar pelo seu cumprimento.

Com Hegel o conceito de sociedade civil sofre uma grande modificação. Segundo ele, equivocam-se os jusnaturalistas ao verem no Estado o resultado do consenso dos indivíduos. Pelo contrário, o Estado é o momento superior de racionalidade, que se impõe mesmo contra a vontade dos indivíduos, porque só ele pode fazer ascender a massa informe e anárquica da sociedade civil a um nível superior de existência que é a sociedade política, ou Estado.

Para Hegel, a sociedade civil (Bürgerlíche Gessollchfat) é o momento que sucede à família como lugar de satisfação das necessidades. Da dissolução da unidade familiar surgem as classes sociais e a multiplicidade de oposições entre diferentes grupos, todos eles tendo por base os interesses econômicos. Na medida em que cada um desses grupos tem por objetivo principal a defesa dos seus interesses, a tendência é estabelecer-se uma anarquia generalizada, um bellum omnium contra omnes, que põe em perigo a própria sobrevivência da sociedade. A necessidade do Estado como princípio superior de ordenamento racional põe-se exatamente porque a sociedade civil, por si mesma, não tem condições de superar este estado de anarquia. Observa Marcuse:



“... a sociedade civil se integra com o Estado. Hegel discute a forma política desta sociedade sob a tutela da ‘Constituição’. A lei (gelsetz) transforma a totalidade cega das relações de troca na máquina conscientemente regulada pelo estado...”.



O Estado representa, pois, um momento superior da existência social - ...a totalidade desenvolvida em si desta conexão é o Estado, como sociedade civil, ou como Estado externo – uma que nele o interesse geral prevalece sobre os interesses particulares. O Estado é a substância ética consciente de si, a reunião do princípio da família e da sociedade civil. Esta é a tese básica de Hegel: não é a sociedade civil que funda o Estado, mas é o Estado que funda a sociedade civil, porém agora como a sociedade política regida pelo princípio da universalidade.

Hegel concebe o Estado como fim-imanente e coloca a sociedade, numa relação de subordinação e dependência em relação a ele. A sociedade civil e a família aparecem, em Hegel, como fundo natural em que se ascende a luz do Estado, um Estado como totalidade ideal, infinito, auto-suficiente; enquanto isso, a sociedade civil aparece como a finitude do Estado, não como finitude real a ser mediada, mas como finitude da idéia, ideell, em oposição ao momento da objetividade, des objekts, presente no Estado. Como reino da necessidade e do entendimento, na sociedade civil, os indivíduos acreditam realizar sua liberdade individual e subjetiva; trabalham, trocam, celebram contratos, mas de tal maneira que supõem trabalhar, produzir e trocar por conta própria, como se a vontade individual fosse a vontade racional em si e por si.

Esse conceito de sociedade civil em Hegel, momento de formação do Estado, vai ser invertido na interpretação de Marx, onde a sociedade civil passa a significar o conjunto das relações inter-individuais que estão fora ou antes do Estado, e ainda, como o conjunto das relações econômicas constitutivas de base material. É o que tentaremos fazer a seguir, confrontando Marx com Hegel.

Notas:

1. HOBBES, Leviatã, cap. XIII, 74 p.
2. Ibidem, p.76.
3. Recomenda-se a leitura de MARCUSE, H. Op. cit. 1a Parte Os fundamentos da filosofia de Hegel. 17-228, p.
4. Tentamos aqui nos aproximar do termo “conceito” no sentido hegeliano, como natureza ou essência do objeto em questão e sua realização efetiva na existência concreta. O conceito, então, representa, na visão de Hegel, a forma real do objeto, pois o concreto nos revela a verdade sobre o processo que, no mundo objetivo, é cego e contingente. N‘A Ciência da Lógica, Hegel designa o conceito como a unidade do universal e do particular, e como o reino da subjetividade e da liberdade.
5. Sugere-se a leitura de MARCUSE, H. Estudo sobre a autoridade e a família, in Idéias sobre uma Teoria crítica da sociedade, tradução de Fausto Guimarães, Rio: Zahar,1972. 99-114 p.
6. MARCUSE, H. Razão e ...85 p. Grifos meus.
7. Tentamos aqui nos aproximar do termo “conceito” no sentido hegeliano, como natureza ou essência do objeto em questão e sua realização efetiva na existência concreta. O conceito, então, representa, na visão de Hegel, a forma real do objeto, pois o concreto nos revela a verdade sobre o processo que, no mundo objetivo, é cego e contingente. N‘A Ciência da Lógica, Hegel designa o conceito como a unidade do universal e do particular, e como o reino da subjetividade e da liberdade.
8. Sugere-se a leitura de MARCUSE, H. Estudo sobre a autoridade e a família, in Idéias sobre uma Teoria crítica da sociedade, tradução de Fausto Guimarães, Rio: Zahar,1972. 99-114 p.
9. MARCUSE, H. Razão e ...85 p. Grifos meus.

Referências Bibliográficas

BOBBIO, N. O Conceito de Sociedade Civil, Rio: Graal, s/d
BOBBIO, N. Estado, governo, sociedade – para uma teoria geral da política. 2a edição. Rio: Paz e Terra, 1987, 39-52 p
BOBBIO, N. Dicionário de Política, 2a edição. Brasília: UnB, 1986.
CHASIN, J. Democracia Política e Emancipação Humana in Ensaio, no 13, São Paulo: Ensaio, 1984.
LUKÁCS, G. Ontologia do Ser Social – a falsa e a verdadeira ontologia de Hegel. São Paulo: Livraria de Ciências Humanas, 1979.
MARCUSE, H. Razão e Revolução, tradução de Marília Barroso. 2ª edição, Rio: Paz e Terra, 1978
MARX, K. e ENGELS. Obras Escolhidas , tradução de Álvaro Pina. Lisboa: Edições Avante, 1982. vol. I, 530 p.
MARX, K. A Questão Judaica. São Paulo: Editora Moraes, s/d. 28 p.MARX, K. A Ideologia alemã, 4a edição. São Paulo: HUCITEC, 1984.

Linguagem dos acrósticos - qualidades profissionais de Ana Cecília

by Francisco on sexta-feira, 8 de abril de 2011

por Tânia Andrade



Apresentação: Tânia Andrade demonstra-se hábil na sua ate de escrever acrósticos. Desta vez, em sua riqueza de sensibilidade, descobre as qualidades ético-profissionais de sua oftalmologista, Drª Ana Cecília. Numa linguagem fluente, a escritora revela a expressão do código de ética dessa médica – “zelar pelo bom nível ético e pela eficiência técnico-profissional do oftalmologista O ciberespaço do Recado da Pesquisa se transforma num ambiente, onde seus leitores se sentem bem com saúde ocular, tão bem expressa nessa “linguagem dos acrósticos” sobre as qualidades ético-profissionais daquela médica em sua arte clínica.

 

Atenciosa e segura atrai as pessoas, com entusiasmo
Navega nos olhos, que são espelhos da alma
Atenta e simpática é gentil com todos

Cheia de graça e vibração positiva
Expressa simpatia e charme
Conforto, beleza e música, contagiam seu consultório
Inteligente e criativa, distribui sorrisos
Lida com seres humanos, de modo delicado e afetuoso
Iluminada, espirituosa e eficiente
Alegre e tranquila, transmite paz e harmonia

 

Pontos de discussão sobre sociedade civil em Filosofia do Direito

by Francisco on segunda-feira, 4 de abril de 2011

por Francisco Antônio de Andrade Filho



 

Originalmente, este estudo e pesquisa, apresentado no seminário da disciplina Tópicos especiais em Teoria do Estado, ministrada pelo Prof. Dr. Roberto Romano em 1990, quando estudante no Doutorado em Lógica e Filosofia da Ciência, na área de concentração, Filosofia Política, pelo IFCH – UNICAMP, SP.

 



Trata-se do conceito de sociedade civil na Crítica da Filosofia do Direito de Hegel de Marx refletida pelos seus intérpretes. Investiga-se a significação do Estado em Hegel como um momento superior da racionalidade em que se baseia a sociedade civil. Enquanto isso, inversamente, interpreta-se esta mesma sociedade, desenvolvida com a burguesia e atravessada por conflitos radicais entre capital e trabalho, como a geradora do Estado. Aqui a emancipação política não é a etapa final da liberdade do homem.





Este é um debate em torno do conceito de sociedade civil, vinculado ao pensamento político de Hegel e invertido por Marx. Infelizmente não há espaço para uma leitura de Lenin sobre sociedade civil em Hegel. Parece proceder do mesmo modo numa tradição marxista da inversão deste e de outros conceitos hegelianos, o que examinaremos num próximo trabalho.





Aparentemente nada mais claro do que o conteúdo desse termo. Quando se fala em sociedade civil, pretende-se designar os cidadãos, tanto individualmente quanto reunidos em qualquer forma de associação, que se situam fora da esfera compreendida diretamente pelo Estado. E o conteúdo das afirmações vai, comumente no sentido de acentuar a necessidade de os indivíduos tomarem consciência dos seus direitos de cidadãos, de lutarem contra o Estado para fazer valer esses direitos, individual ou coletivamente mas, sobretudo, vai no sentido de frisar a importância que essa sociedade civil forte e ativa tem para o desenvolvimento da democracia.





Tudo se passa aí como se houvesse dois contendores. De um lado o Estado, com toda sua aparelhagem burocrática e de outro lado os cidadãos. O campo de batalha são os direitos humanos, dos quais os cidadãos estão investidos e a serviço de cuja manutenção e ampliação o Estado deveria estar. No entanto, o Estado tende a cercear esses direitos, a coibir o seu exercício, a interferir indevidamente na vida dos cidadãos. Cabe, pois, a estes, lutar contra esta interferência, de modo a repor o Estado no seu devido lugar e orientá–lo no sentido de estar a serviço da comunidade e não contra ela.











Certamente, o conceito não é inocente e a importância do seu exame está em que ele repõe em pauta questões cruciais para o momento atual, não só brasileiro, mas também universal. De imediato, ele fere questões de ética como a da natureza do processo social, da natureza do Estado e da política, da relação entre os diversos momentos que compõem a totalidade social. Mas, mediatamente, o que está em jogo é o próprio horizonte que perspectiva a trajetória da humanidade, ou seja, se ela passa pelo aperfeiçoamento do Estado, da política, do poder, ou se ela exige a supressão desses momentos para que a humanidade possa atingir um patamar qualitativamente diferente.





Não pretendemos aprofundar todas essas questões neste texto, nem é esse o seu objetivo. A idéia é tão somente mostrar como o seu conteúdo atual está amarrado a concepções que apontam não para um processo radicalmente novo na emancipação humano–política, mas antes para uma forma particular de domínio que o capital exerce sobre o trabalho.





Num primeiro passo (1), trabalharemos o conceito de sociedade civil em Hegel relacionado com a doutrina jusnaturalista. Que ingredientes conceituais estão presentes na sociedade civil de Hegel? No sistema hegeliano, a sociedade civil é o Estado?





Num segundo momento (2), examinaremos a contraposição marxista. Que inversão existe no conceito em Marx, quando critica Hegel? Que de original ele inaugura? Qual a natureza da sociedade civil moderna?





A título de conclusão (3), e para provocar o debate entre nós, fizemos um elenco de questões em cima do que estudamos, principalmente no que diz respeito às atuais críticas sobre filosofia política de Marx. São algumas dificuldades provenientes da temática discutida em cinco artigos, serem publicados nesse ciberespaço do Recado.

 





Estudo e pesquise mais as seguintes referências bibliográficas:



BOBBIO, N. O Conceito de Sociedade Civil, Rio: Graal, s/d BOBBIO, N. Estado, governo, sociedade – para uma teoria geral da política. 2a edição. Rio: Paz e Terra, 1987, 39-52 p



BOBBIO, N. Dicionário de Política, 2a edição. Brasília: UnB, 1986.



CHASIN, J. Democracia Política e Emancipação Humana in Ensaio, no 13, São Paulo: Ensaio, 1984.



LUKÁCS, G. Ontologia do Ser Social – a falsa e a verdadeira ontologia de Hegel. São Paulo: Livraria de Ciências Humanas, 1979.



MARCUSE, H. Razão e Revolução, tradução de Marília Barroso. 2ª edição, Rio: Paz e Terra, 1978



MARX, K. e ENGELS. Obras Escolhidas, tradução de Álvaro Pina. Lisboa: Edições Avante, 1982. vol. I, 530 p.



MARX, K. A Questão Judaica. São Paulo: Editora Moraes, s/d. 28 p.



MARX, K. A Ideologia alemã, 4a edição. São Paulo: HUCITEC, 1984.