Relação entre Trabalho, Sociedade e Educação

by Francisco on quinta-feira, 8 de janeiro de 2004

Semíramis Alencar

Demerval Saviani afirma que “A educação coincide com as origens do próprio homem (...) As origens da educação se fundem com as origens do próprio homem”.

Com base nesta afirmativa observa-se que a educação e o trabalho estão intimamente ligados e interdependentes por um ser indispensável à existência do outro e esta interdependência se faz vital para a humanização do homem.

Enquanto trabalha, o homem transforma seu ambiente e altera sua visão de mundo e de si mesmo, se auto-produzindo e se auto gerando participando ativamente do cíclico processo de globalização e capitalismo.

O homem enquanto beneficiado por seu trabalho e conhecedor deste processo cíclico, cria a consciência de liberdade. Não apenas a liberdade de gerir e usufruir de seu capital, mas de transformar a natureza criando bens de consumo para ele ou para o outro e ainda manifesta sua liberdade como autodeterminação, buscando partir os grilhões que a natureza o impunha, aumentando-lhe a capacidade de crescer.

O projeto de emancipação humana não poderá ser pautado em bases utópicas. Não será possível o homem se libertar enquanto ele não exercer o trabalho que o fará desenvolver suas forças físicas e espirituais no contato com o meio social para interagir entre outros homens, para o bem comum.

“Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, inversamente, o seu ser social que determina sua consciência” (Karl Marx) O homem ao passar por privações, reflete em seu arcabouço psicológico suas necessidades em forma de passividade, ignorância, rudez e violência.

A verdadeira conscientização da sociedade para o valor do trabalho vem da escola, daí esta relação íntima entre sociedade, trabalho e educação.

No entanto, observa-se que a escola está se distanciando cada vez mais desta obrigação, pois ao seu ver, não é de sua competência educar para a cidadania e para o trabalho, para a formação de futuros trabalhadores e cidadãos.

É necessário entender que hoje a educação deve estar pautada para a formação profissional. Os sistemas educacionais que propõe a liberdade (em tempos em que esta não existia) e as novas metodologias de ensino, que prometem um próspero futuro para quem as seguem, acabaram por criar uma desculpa padrão para educadores que preferem reclamar de tudo: do governo, da LDB, dos planos educacionais, das secretárias regionais de educação, ao invés de propor um planejamento educacional que forme para o trabalho. Não os cursos técnicos de formação para o trabalho que obtiveram êxito nas décadas de 70 e 80, mas na educação que conscientiza o aluno, orientando e esclarecendo aos progenitores destes quanto à necessidade de procurar por seus direitos.

O Brasil precisa voltar a pensar a educação no seu sentido primordial (educação, do latim educere , que significa: ato de conduzir). A educação é o que guia a sociedade, ou nos dizeres de Paulo Freire em Pedagogia da autonomia “Educar não é transferir conhecimento (...) educar exige compreender que a educação é uma forma de intervir no mundo (...) não posso ser professor se não percebo, que por não poder ser neutra, minha prática exige de mim uma definição. Sou professor a favor da luta constante contra qualquer forma de discriminação, contra a dominação econômica dos indivíduos ou das classes sociais. Sou professor contra a ordem capitalista vigente que inventou esta aberração: a miséria na fartura”.

Hoje todo mundo é bom: quando uma empresa abre concurso para estagiários, a fila de candidatos capacitados daria para encher um estádio de futebol. E aí, de cada 100 inscritos, 99 – todos com diploma, idiomas e alguns com MBA – serão descartados na primeira entrevista, sem a chance de mostrar tudo o que aprenderam. Com a globalização e neoliberalismo o mercado mudou. Substituiu e vai substituir cada vez mais os empregados fixos por consultores ou prestadores autônomos de serviço. Por esta razão, no século XXI, “pensar grande” não é mais pensar num grande emprego. É pensar como não depender de um.

Este é o caminho das relações entre escola, trabalho e sociedade esquecer a formação teórica que visa apenas os circuitos fechados das grandes empresas, caindo no pessimismo de formar educandos que guardarão seus diplomas de científico, de graduação e pós graduação no fundo da gaveta. É formar o aluno para a prestação de serviços e consultoria técnica para que não dependam eternamente das benesses capitalistas.


Fontes pesquisadas:

• ANDRADE FILHO. Francisco Antônio - Relação entre trabalho e educação - Trabalho a expressão fundante da humanização. In: symposium, ano3, numero especial, jun.99, p.73-81. http://www.orecado.cjb.net
• FREIRE. Paulo. Pedagogia da autonomia – Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996
• GEHRINGER. Max O que é... desemprego? - Revista Você S/A , Abril, ed. 68, fevereiro de 2004.
• SAVIANI. Demerval. O trabalho como principio educativo frente às novas tecnologias. In: FERRETI,Celso João et al. Novas tecnologias, trabalho e Educação: um debate multidisciplinar. Petrópolis: Vozes, 1994.

7 comentários

excelente o texto, ajuda a pensar o tema.

by Anonymous on 24 de março de 2006 às 15:49. #

Discordo do seu artigo. Porque devemos pensar que a educação deve contribuir com algum retorno ao sistema econômico? A escola deve ser importante para que o cidadão usufrua do patrimônio construído pela humanidade.Devemos preparar o cidadão para viver bem e para o efetivo exercício de sua cidadania.
Devemos formar cidadãos que saibam tomar iniciativa, éticos, humanos, democráticos, livres, leitores do mundo, alegres, críticos, reflexivos, solidários, responsáveis, com autonomia, com auto-estima, que saibam se relacionar, determinados. Ao invés de formar robôs preparados para o trabalho e que, com certeza serão subjugados. Pessoas cognitivamente adestradas!

by Anonymous on 23 de maio de 2006 às 21:15. #

Creio que o(a) prezado(a) colega não leu na íntegra meu artigo. No entanto digo que concordo contigo, pois em meu mesmo artigo propus o mesmo. Aconselho-o a o ler novamente

"Não os cursos técnicos de formação para o trabalho que obtiveram êxito nas décadas de 70 e 80, mas na educação que conscientiza o aluno, orientando e esclarecendo aos progenitores destes quanto à necessidade de procurar por seus direitos.O Brasil precisa voltar a pensar a educação no seu sentido primordial (educação, do latim educere , que significa: ato de conduzir). A educação é o que guia a sociedade, ou nos dizeres de Paulo Freire em Pedagogia da autonomia “Educar não é transferir conhecimento (...) educar exige compreender que a educação é uma forma de intervir no mundo (...) não posso ser professor se não percebo, que por não poder ser neutra, minha prática exige de mim uma definição."

by Semíramis Alencar on 24 de maio de 2006 às 14:10. #

quando li este livro achei o maximo

by Mariza monte on 30 de maio de 2007 às 16:44. #

e enteresante agente aprende muito com isso principalmente para fazer trabalho.

by stephanie on 10 de junho de 2008 às 19:24. #

quero saber a relaçao entre sociedade educaçao e conhecimento

by luana melo on 5 de janeiro de 2009 às 21:13. #

É bom podermos analizar que os conceitos continua firmes,basiados em um pensamento firme que vem acada dia gerando mais desenvolvimento.

by Anonymous on 28 de julho de 2009 às 17:49. #

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