Por Que Vivemos Coletivamente? (Os Clássicos e a Política II)
by Francisco on sábado, 27 de dezembro de 2003
José Luiz Ames
Qual explicação poderíamos oferecer ao fato de vivermos organizados em coletividades em vez de existirmos isoladamente? Qual a finalidade desse tipo de vida coletiva? Aristóteles, filósofo grego do século IV a.C., na sua obra "Política", traz uma explicação que se tornou clássica: "o homem é por natureza um animal político".
A explicação de Aristóteles aponta para o fato de haver na natureza humana uma tendência a viver em sociedade e que ao realizar esta inclinação o homem realiza o seu próprio bem. Quer dizer, se vivemos em sociedade é porque esta é a finalidade do ser humano. Isso é tão próprio do homem quanto é próprio da semente de pessegueiro tornar-se uma árvore e produzir pêssegos.
O fato de tender naturalmente à vida coletiva mostra que o homem é um ser carente. Carente de alguma coisa que o leve a desejar e carente de alguém que o leve a se associar. A carência aponta para a incompletude humana. O homem tem sempre necessidade de um outro semelhante a ele e tão imperfeito quanto ele. Ele se associa para alcançar uma vida perfeita e auto-suficiente. Um ser que não sentisse a necessidade de associar-se seria um Deus ou um animal, diz Aristóteles. Os primeiros não fazem política, porque são perfeitos. Os animais não fazem, porque não pensam, nem falam.
O homem tende à vida em sociedade, porque nela, e somente nela, se torna plenamente humano. Pode-se, portanto, dizer, que a vida política é para o homem a melhor das vidas possíveis. Um homem vivendo em sociedade está no seu lugar na hierarquia dos seres. Não é nem Deus nem animal, mas o melhor dos animais, porque capaz de justiça. Fora da cidade, o homem é o pior dos animais, porque dispõe de faculdades intelectuais que constituem armas temíveis sem a educação para a justiça.
A lição de hoje que Aristóteles nos proporciona é de que viver coletivamente é a única chance que temos de sermos humanos. Existir politicamente é viver solidariamente com outros seres semelhantes. O isolamento significa a destruição de nossa humanidade. Quanto mais interagimos tanto mais humanos nos tornamos.
A aspiração à felicidade só conhece um caminho: a vida em comunidade. Fora dela não apenas não há chance para uma vida plena, como simplesmente é impossível qualquer vida humana. Quem se fecha na vida privada da família, do clube, do trabalho nega a si próprio a possibilidade de ser plenamente humano.
A primeira lição de Aristóteles já nos abre o caminho para a segunda: se somos seres naturalmente inclinados para a vida em sociedade e se esta vida é a melhor vida possível, então ninguém pode dispensar-se da tarefa de pensar a coletividade. É o que nos aguarda na próxima lição.
* José Luiz Ames é doutor em Filosofia e professor da UNIOESTE/Campus de Toledo.
Aristóteles: o Intelectual da Política (Os Clássicos e a Política I)
by Francisco on terça-feira, 16 de dezembro de 2003
José Luiz Ames
Nossas reflexões sobre política começam com os gregos, pois ela é uma invenção grega. O vocabulário político deita raízes na cultura deste povo. Ainda hoje em dia empregamos termos cuja origem está na língua grega, tais como: "tirania", "monarquia", "oligarquia", "aristocracia", "democracia". Claro, em primeiro lugar, a própria palavra "política". É derivada de "polis", que significa "cidade" e que na nossa linguagem moderna pode ser traduzida por "Estado".
Não viver numa "polis" (num "Estado") é, para um grego da época clássica, o mesmo do que não viver "politicamente". Por "política", os gregos entendiam tanto o conjunto de práticas às quais os cidadãos se entregavam para coexistirem quanto o estudo ou ciência dessas mesmas práticas. É verdade que muito antes do surgimento da política, em ambos os sentidos, os homens já viviam em sociedades. Contudo, não "faziam política". Por quê? Porque não pensavam sobre esse modo de existir coletivo como algo que dependia deles. Submetiam-se ao poder dos chefes como a um destino contra o qual nada se pode fazer.
Os gregos inventaram a política, porque a compreenderam como aquilo que depende de nós. Para esta cultura, a maneira como o poder se organiza resulta da vontade dos homens. Por isso, a política sempre pode ser diferente, e melhor! A política para os gregos abarca todas as atividades práticas relativas a um mundo comum. Mesmo aquelas que nós hoje colocamos na esfera "privada", como a moral, a religião e a educação dos filhos, para os gregos são do domínio "público", isto é, político. Por isso, "fazer política" é uma atividade que toca a essência da vida humana. Recusar-se a praticá-la seria um absurdo impensável para um grego, pois seria a mesma coisa do que preferir ser um animal a ser um humano.
Vamos examinar a maneira como os gregos refletiam isso a partir do maior representante de seu pensamento, embora não tenha sido grego de nascimento: Aristóteles. Ele nasceu em 384 a.C. em Estagira, cidade na qual se falava grego, mas que pertencia à Macedônia. Aos 18 anos chegou ao maior centro cultural e artístico da Grécia, Atenas. Na época, duas escolas disputavam o interesse dos jovens. De um lado, a de Isócrates, um sofista que se propunha preparar os educandos através da retórica para se tornarem oradores eficientes na Assembléia. De outro lado, Platão, que ensinava que a base para a ação política deveria ser a investigação científica. Aristóteles preferiu o último e freqüentou a Academia, o nome da escola de Platão, por cerca de 20 anos.
Depois que Platão morreu, saiu da cidade. Em 343 a.C. Aristóteles foi chamado por Felipe para educar seu filho, Alexandre, entregando-se à missão até a morte de Felipe. Retornou, então, à Atenas e fundou sua própria escola, o Liceu, que passou a rivalizar com a Academia de Platão. Apesar da estima que Alexandre, o Grande, sempre teve por seu mestre, Aristóteles discordava da fusão da civilização grega com a oriental (processo conhecido por "helenismo") realizada por aquele grande estadista. Ele pensava que era impossível transferir e implantar o regime político grego em outros povos. Depois da morte de Alexandre, Aristóteles passou a ser hostilizado pela facção antimacedônica. Acusado de impiedade refugiou-se em Eubéia, onde morreu em 322 a.C. Nossos próximos encontros tratarão de algumas contribuições desse grande intelectual para compreender melhor nossa realidade política atual. Faremos isso partir de uma obra magistral escrita por ele chamada "Política".
* José Luiz Ames é doutor em Filosofia e professor da UNIOESTE/Campus de Toledo.
Eutanásia e Distanásia: duas questões de bioética e cidadania
by Francisco on terça-feira, 11 de novembro de 2003
Francisco Antônio de Andrade Filho
Eutanásia (ANDRADE FILHO, 2001), Vida e Morte. Três expressões interligadas. Relacionando-se. É que forças opostas, unidade e luta dos contrários, constituem movimentos comuns e inerentes a todas as coisas materiais e espirituais. Em contínua transformação. Inacabadas, no mundo da finitude. Fazem sentido, uma vivendo em função da outra. Eutanásia: a vida produz a morte. Distanásia: as máquinas hospitalares prolongam o sofrimento e a morte. Mercantilização da vida e da morte.
Lembram-nos Fátima Oliveira (1997), Hubert Lepargneur (1999), entre outros, que definem etimologicamente, a eutanásia (eu = bom; thanatos = morte) significando "boa morte, morte suave e sem sofrimento", morte harmoniosa e morte sem angústia. Fácil. Feliz. Domínio sobre sua própria vida ou sobre a vida de outrem. Libertação livre do viver e do morrer. "Homicídio por piedade", ação de aliviar o sofrimento de doentes terminais.
O tema da eutanásia se tornou, hoje, um dos mais agudos e debatidos no campo da ética médica e da Bioética, à luz da Filosofia e áreas afins, como por exemplo, a Teologia, a Medicina, a Psicologia, a Pedagogia, entre outros saberes humanos nos dias de hoje. O enorme progresso das tecnociências, nos últimos anos, abriu horizontes de esperança e bem-estar, de vida e morte, pela capacidade da medicina de prolongar indefinidamente uma vida por meios artificiais, motivos sociais, humanos e econômicos. Vejamos alguns destaques dos bioeticistas nesse campo, do jogo da vida e da morte na fronteira da Eutanásia, da Distanásia e outras formas de vida e morte do homem e da mulher.
Para Márcio Palis Horta (1999), "morrer é parte integral da vida e da existência humana (...), tão natural e imprevisível como nascer. Sua tradicional definição do instante do cessar dos batimentos cardíacos tornou-se obsoleta. Hoje, ela é vista como um processo, como um fenômeno progressivo e não mais um momento, ou evento. Morrem primeiro os tecidos mais dependentes do oxigênio em falta, sendo o tecido nervoso o mais sensível de todos. Três minutos de ausência de oxigenação são suficientes para a falência encefálica que levaria à morte encefálica ou, no mínimo, ao estado permanente de coma, em vida vegetativa."
Logo a seguir, Leocir Pessini (2003) insinua algumas respostas hodiernas sobre Eutanásia e Distanásia vinculadas com questões éticas, formuladas assim: a vida humana deve ser sempre preservada, independentemente de sua qualidade? Deve-se empregar todos os recursos tecnológicos para prolongar um pouco mais a vida de um paciente terminal? Deve-se utilizar processos terapêuticos cujos efeitos são mais nocivos que o mal a curar? Quando sedar a dor significa abreviar a vida, é lícito fazê-lo? Até que ponto se deve prolongar o processo de morrer quando não há mais esperança de vida, de a pessoa voltar a gozar de saúde, e todo esforço terapêutico na verdade só adia o inevitável, prolonga a agonia e o sofrimento humano? Manter a pessoa "morta-viva" interessa a quem? Aos mercadores da saúde?
São perguntas incisivas com prováveis respostas abertas à discussão. Filósofos, teólogos, médicos, psicólogos, enfermeiros, nutricionistas e pedagogos falamos. Dialogamos a nível de conhecimento simbólico numa linguagem da realidade. A busca de respostas a essas questões éticas constitui um desafio aos pesquisadores com argumentos a favor e contra a prática desta bios e thánatos humanas. Vejamos alguns tópicos para nossa reflexão neste momento.
A moral hipocrática objeta contra a prática da eutanásia. A Deontologia médica inspirada no filósofo Hipócrates é falaciosa. É uma camuflagem. Filósofo, indago: proibir os profissionais de saúde a jamais ministrar medicamentos letais, mesmo a pedido do paciente, é uma teoria ideal desse filósofo ou uma prática contraditória, vivenciada nos hospitais? E vocês, colegas deste conceituado Comitê de Ética, concordam? Thomas More, em sua obra Utopia (1516), defende-a , quando "a doença é incurável e faz-se acompanhar de dores agudas e contínuas angústias". E o iluminista Montaigne (1987) disse que o principal problema da Filosofia é a morte. E pensou, assim, em seu livro Ensaios, escrito em 1580/88: "Quem não souber morrer que não se preocupe. A natureza o instruirá plenamente num instante e o fará com exatidão".
Estas atitudes filosóficas frente à prática ou não da eutanásia e da distanásia fazem pensar a relação médico-paciente. Confiança nele ou desconfiança na injeção que o cura ou o mata? É verdade que o paciente se coloca nas mãos do médico. Mas, o que fazer quando o próprio médico informa: "Não há mais nada a fazer", ou quando "a própria medicina cria situações desumanas, nas UTIs, por exemplo, e depois se recusa a assumir responsabilidades por ela", e ainda no fato de que "as novas condições do morrer obrigam os médicos a se ocuparem também da morte do ser humano"?
Filósofo, penso que estas discussões e seus argumentos "contra" e "a favor" sobre essas formas de vida e morte tendem a camuflar outras dimensões de exclusão sócio-econômicas do cidadão. Escondem outras formas de violência contra ele. A eutanásia ("má morte"), a distanásia ("morte dolorosa", fútil), narcotanásia ("morte narcotizada"), mistanásia ("morte infeliz"), ortonásia ("direito de morrer com dignidade") e outras palavras correlatas são, na prática, verdadeiras "penas de morte", sem julgamento e sem lei. São sentidos ideológicos da vida e da morte, acobertando outras violências cotidianas. Violências que matam: a fome, seqüestros, corrupções econômicas e políticas. A eutanásia e a distanásia é também exclusão da cidadania, sua ausência. Exploração e embrutecimento do homem. Sua alienação. Em outros termos, o próprio homem inventa a linguagem dessas formas existenciais e outras experiências culturais, de vida e de morte. Onde estaria a autonomia do paciente nessa sua "libertação da morte"? Nos seus familiares? Nos profissionais da saúde? Qual, então, uma outra alternativa? E existe?
O teólogo Pessini (2003: 401 - 402) pensa que, diferentemente da eutanásia e da distanásia, a ortonásia "morte no seu tempo certo" é sensível ao processo de humanização da morte, ao alívio das dores e não incorre em prolongamentos abusivos com aplicação de meios desproporcionados que imporiam simplesmente nada mais que sofrimentos adicionais. Uma contribuição fundamental da ética teológica é, assim, nos presentear com uma mística no resgate de sentido e valor da vida humana. A reflexão ético-teológica, hoje, trabalha não apenas com conceito da vida e da dignidade humanas estritamente ligado à biologia (...) aos processos da natureza biológico-química-orgânica. Os conceitos teológicos assumem valores maiores por causas humanitárias, opções de fé. São os mártires que sacrificam suas vidas por causa do Reino dos Céus e em nome do Cristianismo. Outros mártires, homens-bomba que sacrificam suas vidas por causa do Nirvana, vida eterna dos muçulmanos.
Segundo esse raciocínio, vida e morte, além do seu aspecto natural, são cultivadas (Boff, 1999). E argumenta-se, assim: a vida na sua dimensão física não é um dado absoluto, mas um bem fundamental. São experiências culturais. Mortos e vivos estão sempre juntos e contradizendo-se. A vida contra a morte. A morte contra a vida. Opondo-se. Invisíveis. A vida é tudo. Morte é ruína. Vida e morte transformam-se em mercadorias. Vida e morte nas igrejas e nas sinagogas. Vida e morte nos hospitais. Vida e morte nos campos de batalha. Vida e morte nos assaltos. Vida e morte nas empresas. Vida e morte na cidade e no campo: de milhares por violência, da guerra bélica de Busch e do terrorismo de Sadam e Biladem. De falta de pão para o ser humano viver e da mais alta tecnologia para "bem-morrer". De exclusão do homem e da mulher, de seus bens materiais e espirituais.
Somos programados para viver e morrer. Projeto genético. Criamos a linguagem de outro projeto institucionalizado. Cultivamos outras vidas e outras mortes. Da eutanásia, abreviação de vida; da distanásia, prolongamento da agonia, vida fútil, sofrimento e adiamento da morte; da ortonásia, "morte no seu tempo certo", morte digna, sem abreviações desnecessárias e sem sofrimentos adicionais; e tantas outras formas físicas e simbólicas, de vida e morte na atual sociedade globalizada.
E mercantilizamos a vida e a morte. Utopia do reino de Deus e do Alá. Vida no além-morte. Céu. Nirvana. Inferno. Terra. Aqui viveremos e morreremos. Livres e algemados. Filósofos, teólogos, médicos, enfermeiros, nutricionistas, psicólogos e pedagogos. Todos, na sua interface de vida e de morte.
Suporte Bibliográfico
- ANDRADE FILHO. Francisco Antônio de. "Eutanásia: a vida produz a morte", in: BIOÉTICA, Boletim da Sociedade Brasileira de Bioética, Ano 3 - n.- Maio de 2001.
- BOFF, Leonardo. Morte e ressurreição na nova antropologia, in Leonardo Boff, Ética da Vida. Brasília: Letra Viva, 1999: 219-237
- LEPARGNEUR, Hubert . Bioética da eutanásia - argumentos éticos em torno da eutanásia, in Bioética (rev.), V.7 num.01-1999. Conselho federal de Medicina, 1999: 41-48.
- MONTAIGNE, Michel de.(1553-1592): Ensaios. São Paulo: Nova Cultural, 1987.
- OLIVEIRA, Fátima. Bioética - uma face da cidadania. São Paulo: Moderna, 1997
- PESSINI, Leo. "Questões éticas - chave no debate hodierno sobre a distanásia", in: GARRAFA, Volnei e PESSINI, Leo. Bioética: Poder e Injustiça, Edições Loyola, 2003: 389 a 408.
*Comunicação apresentada, a convite, na reunião do Comitê de Ética e Pesquisa em Seres Humanos, do HUOC/UPE, em 30 de outubro de 2003.
** Francisco Antônio de Andrade Filho é Ph.D. em Lógica e Filosofia da Ciência, IFCH/UNICAMP, Campinas/SP. Professor Titular aposentado da Universidade Federal de Alagoas. Membro Titular da Sociedade Brasileira de Bioética/PE. Membro do Comitê de Ética e Pesquisa envolvendo seres Humanos/Hospital Universitário Osvaldo Cruz- HUOC/UPE. Membro da Comissão de Avaliação das Condições de Ensino - ACE/INEP/MEC, do Curso de Filosofia.
Edilton Siqueira
Já foi dito que a história dá voltas, e às vezes parece que isso acontece. Menos por fatalidades esotéricas e mais por situações que se repetem, o desenrolar de vários conflitos faz lembrar - e muito - realidades distantes. As semelhanças não se atém apenas às naturezas dos conflitos, mas também às "justificativas" para os mesmos. E em meio ao teatro de argumentos, a verdade permanece escondida atrás do pano, como quem aguarda o encerramento de uma encenação que não tem fim.
Todas as mentalidades mais ou menos esclarecidas sabiam que a revolta do povo iraquiano no pós guerra seria agressiva. Amenizar as diferenças entre invasores e invadidos exige soluções que vão muito além da propaganda televisiva ou do derrame de dólares, hambúrgueres e refrigerantes. No entanto, o que impressiona a muitos analistas, especialmente após os últimos ataques envolvendo organizações "independentes", como a ONU e a Cruz Vermelha, não deveria ser motivo para tanta surpresa se todos lembrassem um elemento fundamentalmente simples: o enraizamento cultural.
Não estamos falando, aqui, de dominação simplificada pelo extermínio, como foram as ocorridas na América Latina. Dizimando populações socialmente evoluídas mas enfraquecidas por guerras recentes ou baixa tecnologia (tupis, andinas, astecas etc.), os povos europeus conseguiram amalgamar seus valores junto a nossa tradicional tranquilidade e informalidade, promovendo situações impensáveis, como o desconhecimento de toda uma geração a respeito de sua própria raiz cultural (tome como parâmetro nossa "geração shopping center").
Acostumados a baixar suas regras onde quer que chegassem, do Império Romano à implantação da ALCA, o fato é que tornou-se regra comum para os poderes ocidentais a idéia de que a cultura clássica e suas derivadas seriam melhores ou mais elaboradas que as demais. É por isso que muitos valores absolutamente universais, como o equilíbrio oriental, por exemplo, ainda hoje são vistos mais como excentricidades da "turma da auto-ajuda" e menos como resultado efetivo de culturas com mais de 4 mil anos de formação.
Os puritanos parecem estar ainda assustados com as crescentes dificuldades impostas pela dominação em território iraquiano. Tomando como parâmetro o exercício representado pela tomada - e "manutenção" - dos territórios afegãos, os americanos devem ter considerado que seu dinheiro e propaganda seriam suficientes para convencer todos os filhos de Maomé de que, como numa Cruzada Moderna, estariam sendo agora libertados da opressão dos "infiéis", inicialmente no Iraque e depois no restante do Oriente Médio. Acontece que esses "novatos" estão pisando hoje no berço da civilização persa, na terra de reinados habilidosos como os de Hamurábi e Nabucodonosor, e isso definitivamente não se resolve com atitudes tão simples quanto trocar colares e espelhos por ouro e prata, ou mesmo petróleo.
Imanência cultural
A região entre o Tigre e o Eufrates já está acostumada às sucessivas tomadas de poder. Talvez por isso as culturas que permeiem a região tenham como uma das principais características a imanência na memória do povo, a despeito das adversidades a que estejam expostos. Foi assim com a cultura judaica, que persistiu ao domínio egípcio, ao cristianismo romano, ao holocausto nazista, e que hoje emprega toda sua flexibilidade comercial e rigidez moral no domínio do comércio norte-americano e, conseqüentemente, mundial. Não podemos crer que seja diferente para com as demais etnias que evoluíram sob condições semelhantes, na efígie do Islã, pois não há culturas melhores ou piores.
Nós, ocidentais, estamos acostumados a realidades que mudam de cara quase instantaneamente, talvez pela necessidade clássica de mudar de parâmetros ao sabor dos novos ventos, em face das novas conquistas. São diversos os momentos em que nossas tradições foram negadas ou se "torceram" para atender às exigências do poder. Somos fiéis claramente flexíveis, a exemplo de católicos modernos que conhecem a posição oficial do Vaticano sobre métodos anti-concepcionais, mas não hesitam em tomar pílulas ou mesmo usar preservativos.
Assim, é difícil compreender porque mulheres se sujeitam ao uso da burka sob um calor causticante; porque podemos passar horas dentro de um templo hindu e, na saída, encontrar nossas sandálias exatamente no mesmo lugar em que as deixamos; compreender que a resignação nipônica em virtude das adversidades não é um exemplo de fraqueza, mas o extrato de uma cultura que sabe que o tempo é senhor das escolhas, uma cultura capaz de se envergar como o bambu na ventania e ainda assim permanecer vivo, reconduzindo sua economia ao topo do mercado em pouco mais de 40 anos com absoluta maestria.
Suavizando o veneno da desigualdade
A inclusão da Cruz Vermelha e da ONU como alvos dos recentes ataques terroristas em Bagdá não representa outra coisa senão a negação generalizada dos nossos valores ocidentais e imediatos. Não se trata simplesmente de selvageria, como querem os "novos romanos", a taxar como bárbaros todos os povos para além do seu domínio. Tais atitudes representam, antes, o recurso de um povo no combate pelo seu espaço, pela sua terra, pelos seus princípios. Assim rechaçam nossa condolência internacional que anestesia a dominação, como quem evita a morfina que precede o veneno. Não se deixam enternecer pelos afagos de nossas "organizações independentes", mas cerram a um só golpe os próprios punhos e os nossos lábios e olhos. E o que assistimos como o terror da barbárie é para eles a luta desesperada pela sobrevivência.
Após o término dos primeiros combates, enquanto se apresentava a condição de Bagdá como cidade arrasada, alguém mencionou que a mesma já fora saqueada e destruída várias vezes ao longo da história, e que seria novamente reconstruída. Mais que um exemplo de resistência, essa constatação deveria servir-nos de alerta: que uma cultura forte sobrevive aos escombros de sua morada; e que não pode haver respeito aos direitos humanos quando não há respeito à cultura e supremacia de um povo. Por mais que os trabalhos de assistência sejam bem intencionados, é preciso lembrar que um povo acostumado a repressões, revoltas e guerras - inclusive santas, não será facilmente subjugado pelo trinômio "propaganda - dinheiro - piedade".
Talvez agora, quando os homens de jaleco branco se vêem visivelmente ameaçados pela fúria de quem teme mais perder a fé que a própria vida, as Nações Unidas tomem consciência de que apenas um princípio pode nortear o convívio de nossas culturas tão heterogêneas: o respeito. E se esse princípio não condiz com nossa realidade de mercado, nossa guerra de conquistas econômicas e nossa mídia de massa, é mais um sinal de que o erro está nos elementos que compõem nosso pensamento. Não foi a primeira vez que tal constatação foi tornada visível, e seguramente não será nossa última chance de aprender.
Já foi dito que a história parece dar voltas. Mas a verdade é que reconhecer os próprios erros é coisa complicada, e dar a mâo à palmatória tem sido tarefa quase impossível. Recuar, ceder espaços, viver e deixar viver, são atitudes que não condizem com a convivência entre leões, águias, falcões e outros bichos agressivos. Quando toda essa teimosia vai terminar, ninguém sabe. Talvez quando todos os povos do mundo já tiverem experimentado sua parcela do domínio universal; talvez mesmo nunca. Assim como na Idade Média, a Cruz não tem para todos o mesmo valor. E mais uma vez a terceira opção entre ela e a espada permanecerá escondida sob o pano, ao fundo do palco.
Recife, 28 de outubro de 2003.
Fernanda Arruda Kruel
Conforme matéria publicada no jornal Zero Hora, de 10/09/03, o Ministro da Educação, Cristovam Buarque, teria declarado à Radio CBN que, para ele, os jovens de classe alta não deveriam ter acesso às universidades públicas e, os que já têm, deveriam colaborar com o país, após formados.
Que as universidades públicas estão abertas à todos, é notório. Que tanto jovens de classe baixa quanto os de classe alta são inseridos, todos os anos, nessas universidades, também sabemos. No entanto, quantos desses alunos saem da universidade aptos e, principalmente, dispostos a trabalhar para o sistema público (aquele mesmo sistema que lhes proporcionou o estudo)? Poucos. Poucos, pelo fato de que a maioria, ou seja, os de classe alta, saem da universidade a fim de buscar lucro. E, lucro fora da rede pública. Afinal, vivemos em um mundo capitalista e não é pelo fato de termos nos formado em uma universidade pública que, necessariamente, devemos prestar nossos serviços, gratuitamente, ao sistema público.
Considero hipocrisia falar em colaboração. E os impostos pagos por nós, depois de formados, não contam como contribuição? E, enquanto os jovens de classe alta terão a obrigação de colaborar com o desenvolvimento do país, os governantes usufruem das melhores condições, sem terem de pagar por isso. Os ministros, particularmente, não pagam sequer habitação. Quase todos os seus gastos saem do "bolso" do governo, ou melhor, dos impostos pagos por nós, os quais são arrebatados por esses políticos.
Não é justo que o ensino público, seja ele proporcionado a ricos ou pobres, seja cobrado mais tarde. A questão está em ampliar as verbas e também as vagas para o ensino superior público e não em obrigar determinada classe social, no caso, a alta, a contribuir com o sistema após dele usufruírem.
* Fernanda Arruda Kruel, Acadêmica do curso de Letras/Inglês - UNIFRA, Santa Maria/RS
O Programa "Fome Zero" e a Exploração da Solidariedade Humana
by Francisco on domingo, 7 de setembro de 2003
José Luiz Ames
É difícil dizer qual traço nos torna radicalmente diferentes dos demais seres animais. Já houve quem dissesse que era o fato de sermos racionais, ou porque somos dotados da capacidade de linguagem. Sem entrar na discussão das diferentes hipóteses, quero avançar a seguinte idéia: o que nos torna ímpares é o fato se sermos capazes do gesto gratuito da doação. É verdade que também entre os outros animais a fêmea se doa às suas crias. No entanto, somente o ser humano é capaz de um comportamento solidário para com o outro, quer o conheça ou não. Assim, sou humano na mesma medida em que ajo solidariamente para com o outro. Quem se fecha em si mesmo nega sua própria humanidade e se reduz à animalidade.
Esse desejo de fazer o bem ao outro é cultivado, sobretudo, pelas Igrejas. Em qualquer uma de suas muitas denominações, os indivíduos são motivados ao comportamento solidário. Pertence aos seus princípios doutrinários motivar os fiéis a uma prática solidária como condição para uma vida plena neste mundo e na eternidade. As Igrejas instituíram a prática da solidariedade formando uma verdadeira rede de proteção social. Todos conhecemos os diferentes mecanismos contínuos de promoção da solidariedade organizados por elas. Só em Toledo poderíamos forma uma lista extensa deles. O melhor de tudo é que, em geral, todos eles obtêm resultados extremamente positivos.
O êxito alcançado por essa instituição da sociedade civil, entre outras que não referimos por economia de espaço, despertou a cobiça do Estado. O programa "Fome Zero" vem se constituindo num instrumento de caridade pública. Apesar de a propaganda oficial alardear que essa é apenas a ponta visível do programa e que o objetivo é implantar mecanismos de erradicação definitiva da fome, nada de concreto foi apresentado nesta direção até o momento. Assim sendo, o programa governamental se mostra uma tentativa de substituir a sociedade civil na sua histórica missão de assistência.
Em princípio, parece não haver nada demais nesta ação governamental. O problema todo surge quando refletimos sobre o significado da prática solidária para as pessoas. Enquanto se constituía numa prática das instituições da sociedade civil, notadamente das Igrejas, o ato de doar é motivado pela gratuidade. A recompensa pelo gesto de doação é um sentimento bom de fazer o bem. O único promovido pela ação é o necessitado, o destinatário do gesto gratuito de solidariedade.
A partir do momento em que o Estado assume a tarefa de promover a assistência em base ao apelo ao sentimento humano de solidariedade, o gesto perde toda a sua beleza. Mais do que o necessitado, os defensores de uma determinada ideologia política se beneficiam com o gesto de doação. O Estado explora o sentimento de solidariedade instrumentalizando-o a favor de interesses partidários. Quando as pessoas, motivadas pela massiva campanha publicitária oficial, começarem a tomar consciência disso, rejeitarão o gesto de doação. Ninguém suporta ser usado. Menos ainda quando usam o que temos de mais digno: nossa bondade.
O Estado, sabidamente um agente corruptor, é incapaz de agir desinteressadamente. Se ele quiser fazer caridade, deveria utilizar um pouco dos 37% da riqueza que ele expropria dos cidadãos através dos impostos. É uma indignidade explorar o belo sentimento de solidariedade humana a favor de um programa de governo. Essa prática é mais grave do que toda espoliação provocada pelos tributos aplicados aos cidadãos, pois mata na raiz o que temos de tipicamente humano: nosso sentimento bom de ser solidário.
* José Luiz Ames é doutor em Filosofia e professor da UNIOESTE/Campus de Toledo.
José Luiz Ames
Frente ao fenômeno da morte, duas posições se fazem possíveis: uma estritamente intelectual, outra pessoal-existencial. A atitude intelectual considera o fenômeno da morte como uma realidade que não afeta a pessoa nem exige dela uma decisão. Trata-se de interpretá-la unicamente à luz da razão. Esta postura, própria das ciências positivas, estuda objetivamente a morte como um fenômeno natural e inevitável comum a todos os seres vivos. Afora a explicação das causas da morte, não resta nela qualquer mistério a ser desvendado.
Na atitude pessoal-existencial, ao interpretar a morte, a pessoa interpreta-se a si mesma. A pergunta sobre a morte é uma interrogação acerca de si mesmo. A medicina pode ter explicado porquê aquela pessoa morreu, mas nem por isso deixamos de nos interrogar sobre o sentido daquela morte. Por que morremos? Por que esta pessoa e não outra? Por que agora e não mais tarde? Por que desta maneira? Esses questionamentos revelam a insuficiência da atitude estritamente intelectual.
Por que esta experiência nos toca tanto? Somos seres de desejo. O desejo é sintoma de privação, de falta. Todo nosso esforço vai no sentido de realizar o desejo. Na satisfação do desejo, nem tudo tem a mesma importância. Somos tocados mais profundamente por algumas coisas do que por outras. Comum a todas elas é o fato de nenhuma nos saciar plenamente. Não há limite para o desejo humano. Estamos condenados ao mais. Diferentemente dos animais, o homem se recusa terminantemente a ser o que ele é.
É precisamente aqui que entra a experiência da morte: na experiência do limite. Na morte nos deparamos com uma situação que nos atinge visceralmente, que toca a totalidade de nosso ser. Diante da morte, a vida se torna pergunta. Enquanto para a satisfação do desejo dependemos de nós próprios, a morte nos aponta para uma situação diante da qual somos impotentes. A morte atesta a impossibilidade do controle humano sobre a vida.
A morte é a vivência humana que atinge o cerne da nossa existência. Na experiência da morte tomamos consciência da necessidade de salvação. A salvação necessariamente vem de fora. Ninguém é capaz de se salvar sozinho. Sempre somos salvos por alguém. Por que sentimos falta de salvação? Porque experimentamos nosso limite e reconhecemos não estarmos suficientemente fundamentados em nós próprios. Confrontados com a morte, nos percebemos necessitados do outro.
O Dia de Finados é o momento em que cada um se vê confrontado com o limite da existência humana. A consciência de que somos carentes de salvação, nos abre para a Transcendência. Não buscamos nossa salvação no vazio. Feito náufragos num rio, somente nos sentimos a salvo quando colocamos os pés na terra firme. A abertura para a Transcendência é na direção do Infinito. Somente um Absoluto é capaz de revelar-se a nós como suficientemente fundado para oferecer a salvação da qual somos carentes.
Reverenciar os mortos, no Dia de Finados, é um modo de fazer a experiência mais radical da existência humana. Nada nos toca mais profundamente do que a experiência do limite. Confrontados com a morte, tomamos consciência de nossa insuficiência. Carentes de salvação, nos abrimos para o Absoluto. O Dia de Finados pode transformar-se numa rica oportunidade de passarmos da superficialidade do cotidiano, onde tudo gira sem novidade, para a profundidade abissal de nosso interior e descobrirmos nossa radical carência de salvação. O Dia dos Mortos se tornará, então, no Dia dos Vivos: na descoberta do Outro Absoluto como único fundamento seguro para uma vida que não se extinguirá jamais.
* José Luiz Ames é doutor em Filosofia e professor da UNIOESTE/Campus de Toledo.
Colégio Americano Batista: uma abordagem psicopedagógica através da informática
by Francisco on domingo, 13 de julho de 2003
Dímona Rodrigues de Arruda / Juvanete de Lima Pereira
Maria de Fátima C. de Oliveira / Maria do Carmo Severina da Silva
Paula Regina A. do Nascimento / Valéria de F. Queiroz de Freitas
Waleska Loureiro da Silva
Introdução
Atualmente estamos vivendo numa sociedade onde calcula-se que já existem 11 milhões de computadores instalados no Brasil. Pelo menos 14 milhões de pessoas estão conectadas a internet.
Isto nos leva a acreditar que a escola deve tornar-se aliada do avanço tecnológico, para que os alunos possam utilizar-se também da informática no decorrer do processo ensino-aprendizagem.
Bossa tem toda razão quando diz que a "aprendizagem é responsável pela inserção da pessoa no mundo cultural" (2000, p.28). É por isso que acreditamos que a escola deve oferecer aos alunos a oportunidade de utilizar-se da informática para construir seus conhecimentos. Só assim a aprendizagem favorecerá a inserção dos alunos no mundo informatizados em que estamos vivendo.
Os computadores podem ser utilizados como excelentes ferramentas didáticas. A internet por exemplo, permite uma enorme integração entre as várias disciplinas. Pular de um site de Arte para um de História, e de lá para informações importantes para as aulas de Matemática e de Língua Portuguesa é extremamente simples. Na vida real todos se impolgam por estarem saindo da rotina, além de aprenderem também ensinam, já que é comum ver crianças e jovens orgulhosos porque são mais espertos que os adultos ( professores incluídos) na hora de operar um computador. Mas toda esta impolgação não é suficiente, é necessário que professores e alunos compreendam o sentido e a utilidade da informática para a construção do saber. Em outras palavras o que vale não é apenas possuir computadores em casas ou nas escolas, mais é preciso transformá-lo em uma modalidade da aprendizagem.
Bossa baseada na autora Alicia Fernandes, diz que "todo sujeito tem a sua modalidade de aprendizagem, ou seja, meios , condições e limites para conhecer" (2000, p.24). Neste caso, a informática é uma modalidade de aprendizagem, já que, ainda de acordo com Bossa "modalidade de aprendizagem significa uma maneira pessoal para aproximar-se do conhecimento e construir saber". (idem).
Tais afirmações de Bossa remete-nos lembrar Silva (1998), ela afirma que o cognoscente tem autonomia no processo da construção do seu conhecimento, e a informática ajuda este ser cognoscente nesta sua construção independente. Já que ao navegar pela internet podemos encontrar informações sobre diversos assuntos que o levará a pensar, refletir, elaborar conclusões e assim aprender.
Do ponto de vista psicopedagógico a escola pode utilizar-se da informática em suas abordagens. O colégio Americano Batista de Recife, é um exemplo disso.
O uso dos computadores na sala de aula tem ajudado jovens e crianças a superar dificuldades de aprendizagem e de relacionamento também. Na sala de aula, participam mais, se agitam, conversam, dão palpites. Tudo porque têm opinião, resultados da abordagem psicopedagogia que a escola possibilitou da informática, abordagem está que procuraremos mostrar em nosso projeto de pesquisa.
Hipótese de Trabalho
Esperamos, através desse projeto apresentar o desempenho dos alunos do colégio Americano Batista com relação aos conhecimentos adquiridos com a ajuda da informática aplicada no processo de ensino-aprendizagem.
A influência tecnológica na sociedade serve como um referencial dando suporte psicopedagógico para a integração das diversas disciplinas facilitando o trabalho interdisciplinar.
"O usuário da internet, por exemplo não significa apenas receptor de informações. Nela o usuário é , também, emissor de informações - acessar inúmeras bibliotecas em qualquer parte do mundo, também imagens, sons, fatos, vídeos - uma dimensão de tudo, transformando profundamente a forma como a sociedade se organiza e produz conhecimento (ANDRADE FILHO, 2003).
Por isso, a escola deve ser parte fundamental neste processo de avanço tecnológico, transformando também a sua forma de conduzir a construção do conhecimento.
Relevância da Pesquisa
Sabendo da importância desse conhecimento informatizado nas diversas áreas profissionais, conscientizamo-nos que precisamos inserir psicopedagogicamente a esses conteúdos uma dosagem de tecnologia no sentido de enriquecer e beneficiar a construção aprimorada, e a partir daí concretizar a possível atuação no processo de ensino-aprendizagem.
O uso de metodologias avançadas requer capacitação específica da área e para isso, deve ser organizada de modo a contribuir no âmbito da esfera de atuação.
Segundo Scoz, "a psicopedagogia estuda o processo de aprendizagem e suas dificuldades, e numa ação profissional deve englobar vários campos do conhecimento, integrando-os e sintetizando-os" (1992, p.2).
Objetivos
Objetivo Geral
Contribuir para a construção de novas práticas pedagógicas, que possibilitem a melhoria de aprendizagem, utilizando-se da informática como ferramenta de complementação metodológica.
Objetivo Específico
Ajudar os educadores a:
- Superar através de atividades propostas, possíveis dificuldades na atuação profissional informatizada;
- Vivenciar diferentes situações em que os educandos possam exteriorizar ( ou não) suas dificuldades.
Metodologia e Materiais
Baseado na observação de Maria Cecília Almeida e Silva, tomamos como referencial teórico a afirmação que o objeto da psicopedagogia é o ser cognoscente " o homem em processo de construção do conhecimento" ( SILVA, 1998 : 29). Então acreditamos que o aluno é um ser ativo na construção do conhecimento da informática. Mas a escola deve intervir psicopedagogicamente neste processo detectando os problemas e ajudando a supera-los.
Este projeto de pesquisa não tem como proposta solucionar as dificuldades de aprendizagem, e sim, contribuir para uma reflexão crítica da prática pedagógica do educador, possibilitando a construção de novas práticas que ajudem o educando a vencer suas dificuldades.
Quanto aos fins, a presente pesquisa servirá como suporte metodológico e será explicativa, porque o avanço tecnológico e o momento de globalização que vivemos tem levado a escola a procurar acompanhar o ritmo cada vez mais rápido das inovações e troca de informações vigentes, buscando atualizar-se frente aos novos recursos tecnológico a fim de inserir-se no tempo presente. Onde a informática deve ser analisada numa perspectiva psicopedagógica.
Quanto aos meios de investigação, a pesquisa será bibliográfica e de estudo casos. Bibliográfica, porque está baseada em livros e revistas.
Estudo de casos, porque está voltada ao processo da utilização da informática na escola.
Referencial Teórico
- Livros
- Revistas
- internet
- Entrevista
- Vídeos
Resultados Esperados
Supõe-se com esse projeto um meio decisivo para o intercâmbio de docentes e discentes no campo informatizado, onde a construção envolverá os diversos segmentos empreendedores que servirão de suporte para uma abordagem psicopedagógica.
Esperamos ainda transformar nossa pesquisa num documentário de apoio para aqueles que por ventura subsidiarão desse conhecimento tecnológico, transformando a Escola num espaço construtor de saber, onde o aluno deve ser o sujeito na construção desse conhecimento e de sua própria autonomia. " O homem pluridimencional", como defende Silva (1998, p.30). Neste sentido sugerimos a realização de seminários onde contaremos com a presença do Professor Francisco A.Andrade Filho da Universidade Salgado de Oliveira.
Bibliografia
- ANDRADE FILHO F. A. DE. " Educação e poder: formação do professor brasileiro e mercado de trabalho na atual sociedade informatizada", in: Francisco Antônio de Andrade Filho. Filosofia e Epistemologia em Debate. Disponível em . Acesso em 10 Maio 2003.
- BENCINI, Roberta. " Da informação ao conhecimento". Revista Nova Escola. 153 ed., São Paulo, Junho/ Julho, 2002, p.16 a 21.
- BORTOLANZA, Maria Lourdes. " Pedagogia Crítico Social", in: Maria Lourdes Bortolanza. Insucesso Acadêmico na Universidade - Abordagens Psicopedagógicas. Erechim / RS: EdiFAPES, 2002: 29 a 38.
- BOSSA, Nádia A. " Fundamentos da Psicopedagogia", in: Nádia A. Bossa. A Psicopedagogia no Brasil- Contribuição a partir da prática, 2ª edição, Porto Alegre: Artes médicas Sul, 2000: 17 a 23.
- OLIVEIRA, Vera Barros de. Informática em Psicopedagogia. 5ª ed., São Paulo: Senac, 1999.
- SCOZ, Beatriz Judith Lima & RUBINSTEIN, G. ( ? ) Psicopedagogia - O caráter interdisciplinar na formação e atuação profissional. Porto Alegre, 1990.
*Projeto de Pesquisa apresentado à Universidade Salgado de Oliveira - UNIVERSO, Recife - PE. Orientador: Francisco Antônio de Andrade Filho.
José Luiz Ames
Vemos a palavra "política" empregada para descrever situações completamente opostas. Por vezes, é utilizada para indicar uma atividade própria de certos profissionais: os "políticos". Outras vezes, diz respeito à organização e administração de grupos: os "partidos".
O que há de comum aos dois sentidos? Em ambos, a política aparece como algo distante da vida das pessoas. É uma atividade exercida por indivíduos, os "políticos", que através dos partidos se ocupam exclusivamente disso. A política é feita "por eles" e não por "nós". Ela aparece como um poder distante e exercido por pessoas diferentes dos cidadãos comuns. Por isso, aqueles que a realizam, os "políticos", são vistos como interesseiros, isto é, indivíduos que falam do bem comum, mas se preocupam de fato com o bem particular.
Essa imagem da política como um poder do qual somos vítimas condescendentes, contradiz tudo o que os grandes pensadores escreveram sobre o assunto. Por que os homens inventaram a política? Certamente, não para preencher esta finalidade que o senso comum lhe atribuiu.
Em primeiro lugar, a política foi inventada para regular os conflitos entre os homens. Somos diferentes e temos interesses e visões de mundo divergentes. A política foi inventada para permitir que expressássemos essas diferenças sem causar a destruição uns dos outros. Em segundo lugar, toda sociedade está internamente dividida. Esta divisão nasce das diferenças entre os indivíduos. Por isso, a política foi inventada para servir de instrumento de discussão e deliberação conjuntas daquilo que diz respeito a todos.
O que me leva a escrever sobre esse tema? Talvez alguns lembrem das reflexões que publiquei um tempo atrás numa coluna dominical nesta mesma "Gazeta de Toledo" sobre o pensamento de Maquiavel. Muitas pessoas me disseram que esses artigos as fizerem pensar sobre o lugar do cidadão e a tarefa política. Para esses leitores, o jornal é praticamente a sua única leitura e apreciaram a idéia de encontrar uma fonte de formação, ainda que restrita a um domínio específico, a política. Dada minha natureza falha, cedi à vaidade de inspirar a meditação dessas pessoas.
Desta vez quero trazer algumas contribuições não apenas de Maquiavel, mas dos maiores pensadores políticos da história, desde a Antigüidade até os dias de hoje. A finalidade dessas contribuições é auxiliar, ainda que modestamente, na formação da consciência política. Pretendo mostrar que, por um lado, não há como nos livrar da política. Mesmo quando nos isolamos e nos recusamos a participar de tudo o que tem cunho político, fazemos política. Ao deixarmos que os "outros" façam a política à sua maneira contribuímos para que continue tal como ela é. Por outro lado, quero deixar clara a idéia de que o único modo de opor-nos às práticas deploráveis dos "profissionais da política" é através da própria política, isto é, fazendo política.
Não tenho a pretensão de "ensinar política" com estes breves artigos semanais. Embora confesse ter cedido à vaidade, não perdi a modéstia. A política é uma prática e todos sabemos que a prática é aprendida muito mais com exemplos do que com teoria. Meu propósito é provocar uma reflexão sobre a prática a partir das lições dos clássicos do pensamento político. Estou convencido de que eles nos ajudarão a desmascarar os motivos que se escondem atrás da apropriação da política por alguns profissionais especializados. Com isso, penso ser possível desfazer a idéia negativa. Igualmente, acredito que os clássicos serão um guia seguro para formarmos uma consciência cidadã, construindo uma idéia positiva da política.
* José Luiz Ames é doutor em Filosofia e professor da UNIOESTE/Campus de Toledo.
Américo Garcia Freire Magalhães
Deise Raposo
Márcia de Araújo Ferreira
Maura Barbosa Nogueira de Oliveira
Richelle Vilarino Medrado
Partindo de uma perspectiva voltada para investigação, prevenção e tratamento dos problemas de ensino-aprendizagem, em meio a realidade, com toda a eficácia da tecnologia e os vários campos da ciência, a Psicopedagogia em inter-relação com a Filosofia, começa a “indagar, questionar e problematizar” (ANDRADE, p.5) tudo aquilo que o senso comum considera moderno e em sua ingenuidade deixa passar por despercebido.
Segundo Andrade Filho, através da Filosofia “Apelamos à uma reflexão crítica. E produzimos um tipo de saber, indo racionalmente às raízes das realidades”. Sendo assim a Filosofia assume a característica de uma ferramenta importante para a Psicopedagogia, pela sua natureza de colocar tudo em destaque e direcionar, através da “lógica” (ARISTÓTELES), o caminho a ser percorrido objetivando a solução e prevenção de problemas no meio acadêmico.
O novo mundo globalizado entra em choque com o passado, o que dificulta a formação do cidadão. O homem em meio as mudanças sofre com a modernidade, mas a filosofia através do seu “olhar” questiona o problema Psicopedagógico, “esse não do sentir e simbolizar , para tornar-se produto comercial de circulação”(ANDRADE, p.7).
Pode-se observar que os avanços e problemas na nova sociedade são originados pela ciência e tecnologia, seguindo um raciocínio lógico, não existiria a globalização sem o avanço científico e tecnológico. A epistemologia em uma atitude filosófica, vai a fundo no estudo crítico dos princípios, hipóteses e resultados das ciências já constituídas e suas técnicas, levando em conta o benéfico que pode trazer para o homem e seus riscos quando mal utilizada; evitando que a ciência imponha seu poder nas sociedades industrializadas sem nenhum exame crítico-epistemológico. Pode-se considerar utópico o ideal da “ciência pura e neutra”(ANDRADE, p.35) ao observar suas causas e efeitos em meio a um mundo tecnoglobalizado.
Em se tratando de conhecimento científico, pode-se afirmar que esse saber é construído por meio da experiência adquirida pelo homem, ser histórico, na transformação do meio visando uma melhor adaptação, sendo que “hoje em dia, é considerado um conjunto de conhecimentos metodicamente adquiridos, mais ou menos adquiridos, sistematicamente organizados e suscetíveis de serem transmitidos por um processo pedagógico de ensino”(ANDRADE, p.38), mediado através de recursos pedagógicos, servindo de base para o surgimento de novos conhecimentos. Observa-se portanto a importância do Psicopedagogo na função preventiva dos problemas relacionados a educação.
A Psicopedagogia na tentativa de explicar os problemas educacionais da realidade, usa da lógica filosófica, para poder construir o conhecimento através da dialética como guia para a investigação, organizado pelos “clássicos da filosofia”(ANDRADE, p.41), pensando o homem, a natureza e o próprio conhecimento.
Atualmente “o mercado de trabalho se amplia para o pedagogo, que poderá exercer suas funções não só no contexto escolar, mas também no setor de Recursos Humanos das empresas”(ANDRADE, p.86). A pedagogia por ser a “Ciência da Educação”(ANDRADE, p.86), embasada em conhecimentos da filosofia de vida, é atraída pelo empresarial que objetiva o êxito, no atual mercado de trabalho, pela necessidade de melhor gestão dos Recursos Humanos.
Segundo Andrade Filho, “a sociedade atual é caracterizada pela era do conhecimento e do processo de globalização das novas tecnologias de comunicação”. O enfoque filosófico de uma prática pedagógica, permite mostrar os “desafios da pedagogia nos dias de hoje é ter acesso à concepção de globalização como prática”(ANDRADE, p.101), “a produção biopolítica”(ANDRADE, p.101) em meio a sociedade tecnoglobalizada e como questão central, a formação do “educador para o novo mercado de trabalho”.(ANDRADE, p.101)
“O trabalho constitui-se um fenômeno básico para se compreender a educação”(ANDRADE, p.110). É através do trabalho que o homem vem desde o princípio transformando a natureza para sua adaptação. Este somatório de experiências que são acumuladas a medida em que o homem produz sua existência, resulta no conhecimento.
A nova sociedade estando exposta constantemente em um processo de mudança, surgem ideologias que “é sempre uma tentativa de racionalização, ou seja, de organização coerente em termos de razão social, dos fatos e dos valores”(ANDRADE, p.113).
A escola, como função social, reproduz e oficializa nas vidas dos estudantes a ideologia proposta pela sociedade. Ideologia esta que “afirma e nega; expressa verdade das realidades numa imagem invertida. Ela as oculta, oferecendo aos homens uma representação mistificada do sistema social, para mantê-los em seu “lugar” no sistema de exploração de uns pelos outros”(ANDRADE, p.114).
Percebe-se atualmente que várias pessoas contribuem que nada evolua pela simples ideologia “de não ter problemas”. Portanto, no ambiente educacional, tenta-se fazer com que o estudante seja acima de tudo cidadão atuante e modificador do meio, interagindo e protestando contra o sistema “repressor” que alega ser “democrático.
Conclui-se segundo Bortolanza que a Psicopedagogia em inter-relação com a Filosofia, tem como início para a investigação dos problemas psicopedagógicos do insucesso acadêmico, o “confronto entre o mundo teórico e a práxis universitária”(2002, p.29). Observa-se com esse contraponto que “é possível compreender e projetar o mundo que se quer”(2002, p.29). Para que isso ocorra é necessário buscar “um entendimento do ser humano como ser histórico, o que significa questionar-se sobre suas intencionalidades e não apenas problematizar, discutir, saber.”(2002, p.29)
Ainda de acordo com Bortolanza, “Na dialética entre aprendizagem e avaliação, coloca-se a aprendizagem sob o ponto de vista do desenvolvimento do ser humano e a avaliação como ato crítico de reorientação e construção de possibilidades.”(2002, p.35)
Referências Bibliográficas
ANDRADE FILHO, Francisco Antônio de. Filosofia e Epistemologia em debate, p. 5, 20, 6 - 8, 34 - 36, 38 - 40, 41 - 43, 86 - 88, 101 - 103, 110 - 112, 113 – 115. Disponível em http://www.orecado.cjb.net>. Acesso em 26 de julho de 2003.
BORTOLANZA, Maria de Lourdes. “Pedagogia crítico-social”, in: Maria Lourdes Bortolanza. Insucesso Acadêmico na Universidade. Abordagens psicopedagógicas, Erechim/RS: 2002, 29 a 38.
Edilton Siqueira
Há pessoas que passam a maior parte de seu tempo em buscas existenciais, viagens do pensamento, pesquisas, raciocínios sobre a vida e a morte, o tempo e o espaço. São considerados visionários, sonhadores ou simplesmente desocupados, quando não são taxados por loucos ou alienados.
Outros não perdem seu tempo com esse tipo de preocupação. Vivem no automático, de forma prática. Acordar, trabalhar, comer, procriar, dormir. E tudo novamente no outro dia. Esses últimos correspondem à quase totalidade da população, e não são, nem de longe, sonhadores.
As pessoas mais práticas são, normalmente, mais imediatas. Isso não significa que sejam insensíveis ou não tenham visão de futuro, pelo contrário. Muitas das análises de contexto mais acertadas provém desses indivíduos. São capazes não apenas de apreender o momento com exímia coerência, mas de apontar as melhores soluções para o curto e médio prazos.
São práticos os formadores de opinião mais comentados. Freqüentemente aparecem nos jornais e revistas lançando suas opiniões, muitas vezes duras, ácidas, algumas dotadas de extremo bom humor, e todas de acordo com o contexto. É deles o público cativo das crônicas - que nem são tão populares, pois o povo brasileiro infelizmente lê pouco. Mesmo assim, tais articulistas têm seu espaço garantido.
Os menos famosos se conformam em comentar os primeiros e a si mesmos em conversas de mesa de bar. Isso não apenas em tempo de Copa do Mundo, quando todos os brasileiros tem uma escalação na ponta da língua. Os práticos estão sempre prontos a opinar sobre tudo, desde o sexo na adolescência até a soberania da Amazônia brasileira, com soluções na ponta da língua para os maiores problemas do Brasil.
Se não houver solução imediata, sempre existe um meio de fugir dos problemas. Importante, em todo caso, é resolver aqui e agora, pois ninguém pode viver para o amanhã, deixando o presente de lado. Parece inútil se preocupar com a fome no Piauí ou com os mendigos nos sinais. Salutar é guardar cautela excessiva para garantir o pão de amanhã, ainda que se tenha a íntima certeza de que a ceia será, no curto prazo, um belo e farto panetone.
Tudo parece mesmo muito simples. Ou tem uma solução fácil, radical, ou não tem jeito mesmo e não adianta lutar. E a vida segue assim, imediata, a quente, feita na hora. Talvez por isso o argumento de um amigo seja importante, dizendo que boa parte dos reflorestamentos são feitos com uma árvore conhecida por ficus, de crescimento rápido. Assim, parecem ser melhores as soluções mais rápidas, imediatas, efetivas, como uma plantação de ficus.
Tenho respeito pelos que conseguem resolver mentalmente problemas fundamentais da humanidade com soluções tão rasas quanto um pires. Ou mesmo aqueles que, por outro lado, não enxergam as tais soluções simples e definem logo uma rota de fuga. Só lamento essa praticidade em defender os próprios muros em detrimento das calçadas dos outros. Os práticos consideram que jogar tênis é muito fácil, mas esquecem que as coisas complicam quando se usa uma bola. E muitas vezes não se pode simplesmente abandonar o jogo. Felizmente não posso agir dF= da mesma forma.
Como disse, há outro tipo de pessoas, que consideram a vida, o tempo e o espaço para além de si mesmos, pensam o viver para além da própria existência. Isso não implica necessariamente um subterfúgio religioso, sobrenatural, como num renascimento ou reencarnação. A extensão é mais simples e se chama "legado sócio-cultural". Deixar às próximas gerações ferramentas para trabalhar, subsídios para que possam fazer também melhores as suas próprias vidas.
Se os esforços mínimos de algumas pessoas aparentam ser inúteis, ao menos servem de exemplo para os que vierem depois. O trabalho voluntário no Brasil, por exemplo, não é revolucionário, mas já se tornou expressivo. Se isso não melhora o sistema em curto prazo, se não resolve os problemas imediatos, pode ser porque algumas questões levam anos ou mesmo séculos para serem equalizadas.
A história não pára, e assim como os tempos de guerra se sucedem de forma assíncrona, também as boas soluções apresentam seu desenrolar conseqüente. As maiores idéias e ações de fraternidade, de democracia, de respeito à vida humana, não vieram do "lugar nenhum". Todos os elementos culturais envolvidos em um raciocínio, em um pensamento, são um produto legado por todos os "sonhadores" antepassados.
Verdadeiros gênios do pensamento humano não viveram a aplicação de sua obra. Sócrates morreu condenado ao envenenamento, mas não abriu mão de suas idéias nem viu seu pensamento sair da Grécia. Mesmo assim, é pedra fundamental de toda a filosofia ocidental. Se fosse mais um prático, teria se confortado em seu entendimento sobre o mundo, e ponto. Nada de filosofia e, portanto, nada de Física, Medicina, Ética, Estética, Política, Direito ou Economia, para citar alguns produtos "inúteis" derivados das idéias de um visionário.
Pode parecer muito interessante ser prático, raso, imediato. Mas não resolve os grandes problemas do mundo. Pode garantir o pão dos filhos, mas não garantirá a liberdade dos netos. E longe de pregar a fome da prole, digo que é necessário tomar parte na solução dos problemas fundamentais, que continuarão a existir mesmo após a morte de uma terceira geração. Desviar pode ser fácil e simples. Driblar as dificuldades pode resolver agora, amanhã, daqui a cinqüenta anos, mas não tem sido uma boa alternativa para nossos quinhentos anos de "civilização".
Nas comparações sobre a pujança da reconstrução européia no pós-guerra, muitos atestam como explicação o fato de que a Europa goze de uma cultura em formalização há milênios. No entanto, se eles têm raízes fortes, nós também temos. Os E.U.A. têm a mesma idade que a América Latina, no entanto são os senhores da economia mundial. A diferença não é de tempo de vida, mas de atitude diante da história.
Não é apenas agora o momento do Brasil tomar as rédeas de sua própria história. Esse momento sempre existiu, desde antes da invasão portuguesa e até o final do governo Lula, e em todo o tempo seguinte. É trabalho de todo dia, é preocupação de todas as pessoas e motivo de conversa de todas as mesas de bares entre todos os amigos.
Ainda que se façam reflorestamentos com "ficus", esta não é a única árvore do Brasil. Há muitas outras que podem ser replantadas, cultivadas, desenvolvidas. Algumas pessoas só plantam árvores que possam ver crescidas. Considerando uma expectativa de vida de 70 a 80 anos, todas as árvores que não tenham um crescimento acelerado, como a sequóia por exemplo, estariam fadadas à extinção gradual se o mundo fosse habitado apenas pelos práticos.
O mesmo ocorre com as boas idéias. Se todos os brasileiros estiverem apenas preocupados com o pão de amanhã e depois, em breve não haverá Brasil. E se há pessoas que podem se preocupar menos com esse fato, que sejam então os primeiros a buscar soluções e caminhos para que seus filhos e os amigos de seus filhos tenham um futuro melhor que o nosso.
As soluções nem sempre são fáceis. Os caminhos podem ser tortuosos, lentos, nada práticos. E nossos esforços de uma vida inteira podem nem servir para coisa alguma. Apesar de tudo, é fundamental buscar um papel na defesa do que é certo e justo, na correção das falhas, na melhoria da vida humana. Creio que seja essa a revolução possível, um meio termo entre o sonho e a atitude.
Meu pai gosta de árvores. Cultiva, entre outras coisas, visgueiros e araucárias, árvores de crescimento lento. Hoje ele tem sessenta anos. Ambos sabemos que não viverá para ver seu visgueiro alto, imponente, com sua copa de trinta metros de altura e sessenta de envergadura. Eu mesmo não o verei com esse tamanho. Mas nós conhecemos uma árvore assim, numa fazenda do interior, plantada tempos atrás por algum sonhador desocupado.
Tenho certeza de que nossos netos e bisnetos herdarão muitos dos problemas que enfrentamos hoje, e buscarão, muitas vezes, soluções fáceis e imediatas, como o ficus. Ainda assim, se o mundo não se tiver tornado prático demais, haverá sonhadores, como eu e meu pai. E quando nossos descendentes olharem para o alto à procura dos valores que deixamos, entre as diversas obras fundamentais ao espírito criador da humanidade, entre as muitas árvores seculares e majestosas, encontrarão o visgueiro que plantamos um dia, e cuja imponência nunca pudemos enxergar.
Recife, 10 de março de 2003.
Hiperatividade: sucesso de aprendizagem segundo o pensamento de Nadia Bossa
by Francisco on domingo, 16 de fevereiro de 2003
Érida Farias de Araújo / Eveline Mª Farias de Araújo / Renata Wanderley Santos Rosa / Salete Bernardo da Silva
1. INTRODUÇÃO
Nadia Bossa (cit Kiguell 1991; 200, p. 18) “historicamente a Psicopedagogia surgiu na fronteira entre a Pedagogia e a Psicologia, a partir das necessidades de atendimento de crianças com distúrbios de aprendizagem, consideradas inaptas dentro do sistema educacional convencional” e no momento atual (2000, p. 18) “à luz de pesquisas psicopedagógicas que vêm se desenvolvendo, inclusive no nosso meio, e de contribuições da área da psicologia, sociologia, antropologia, lingüística, epistemologia , o campo da psicopedagogia...” numa perspectiva de compreensão mais integradora do fenômeno da aprendizagem e uma atuação de natureza mais preventiva.“Nosso cérebro é o melhor brinquedo já criado, nele se encontram todos os segredos, inclusive o da felicidade” (Charles Chaplim). Então o cérebro é o órgão da atividade mental, encarado como órgão da civilização, órgão que é capaz de refletir todas as complexidades, plasticidades e intrincadas condições do mundo envolvente e todas as manifestações superiores da atividade humana, materializadas no movimento e na linguagem.
Numa perspectiva interdisciplinar a luz da Psicopedagogia tratar-se-á de elucidar uma ambigüidade do termo Hiperatividade, com ou sem déficit de atenção, que surge na infância, meninice ou adolescência como um transtorno na aprendizagem.
A dificuldade no diagnóstico, bem como a transposição dos sintomas podem exacerbar ou contribuir para outros déficits na aprendizagem.
Silver (1989) relembra que antes de 1940, se classificavam as crianças com dificuldades de aprendizagem como “transtornados emocionalmente" (emotionally disturbed), como “retardados mentais” ou como “desvatajados culturais”. Esses transtornos podem produzir, e de fato produzem, dificuldades na aprendizagem, contudo é somente a partir dos anos 40 que se acolhe a possibilidade de causas neurológicas, sugerindo-se às dificuldades ou problemas de aprendizagem causados por dano cerebral, tal como sugerem em 1941, Werner e Straus, ao tratar-se de crianças de “aparência normal.
A idéia surgiu da necessidade de compreender e contribuir nas produções ou distorções do processo ensino-aprendizagem, grande parte nas crianças ansiosas, angustiadas, castigadas, agitadas, irrequietas, hiperativas.
Ouvindo professores, pais, médicos e a própria criança, tentando entender a cabeça e o coração de pessoas ainda tão pequenas que se debatem em um mundo difícil de compreender.
Nesta linha de pensamento a Psicopedagogia não pode ser aplicada sem percorrer um caminho em que é necessário pensar sobre o processo de aprendizagem humana: seus padrões de evolução normais e patológicas, assim como a influência do ambiente (família, escola, sociedade) no seu desenvolvimento.
A “Psicopedagogia estuda o ato de aprender e ensinar, levando sempre em conta as realidades interna e externa da aprendizagem, tomadas em conjunto. E, mais, procurando estudar a construção do conhecimento em toda a sua complexidade, procurando colocar em pé de igualdade os aspectos cognitivos, afetivos e sociais que lhes estão implícitos” (cit Neves, 1991, p. 21; Bossa 2000, p. 19)
Diante desta preocupação, a ação profissional deve englobar vários campos do conhecimento, na tentativa de integrá-los e sintetizá-los.
Alícia Fernandez (cit Bossa, 2000, p 24), nos revela que todo sujeito tem a sua forma de aprender, o meio, as condições e limites para conhecer; sua maneira própria, pessoal de desenvolver-se, de constituir seu saber.
Os estudos de Luria revolucionou a psiconeurologia e as demais ciências, com os estudos sobre o cérebro-comportamento. Para Luria a atividade mental humana se processa na interação com as atividades exteriores, estabelecendo novos sistemas funcionais, permitindo-lhe integrar novas formas de percepção, de memória, de pensamento, e de consequentemente, novos processos de organização das ações voluntárias. Há algo de cultural e de sócio-histórico que não pode ser negado.
O desenvolvimento mental da criança não é uma simples maturação dos intuitos naturais; ele desdobra-se no processo da atividade objetiva e na comunicação com os adultos, onde estão contidas a práxis e a linguagem humana. Se, essa atividade e sem essa mediação, a criança não alarga os seus atributos humanos potenciais, e não desenvolve as sus funções psíquicas superiores.
“O ser humano nasce com um cérebro imaturo e inconcluso” (Fonseca, 1984, p50). Então, só alguns processos, como reflexos, estão presentes à nascença; e outros processos dependem da ajuda exterior para organizar-se. A organização da conduta que reflete uma organização psíquica interior, não meramente dependente de estímulos do meio envolvente ou do corpo, mas de sinais que a própria organização psíquica criou e aos quais ela se submete para se unir em termos de atividade mental.
A transformação do mundo exterior, é capaz de desencadear e produzir ações motoras e mentais construtivas, sequenciadas e mediatizadas pelos instrumentos, que o homem imaginou, criou e utilizou, e que está na base da construção da sua “consciência” (Silva, p. 41), verdadeiro substrato do desenvolvimento cerebral e verdadeiro ministério só comparável ao da origem da vida.
A consciência nada mais é que o contato social consigo mesmo, saindo dos limites explicativos subjetivos e biológicos revolucionista, para se projetar nas formas objetivas da vida social e da relação do homem com a natureza, com o meio.
Bossa (cit Dorneles, in Scoz et Allui, 1987; 2000, p. 19), o “fracasso escolar fundamenta-se em discursos que superam o psicológico e negam o pedagógico, pois elas falam de desnutrição, problemas neurológicos e problemas psicológicos”.
“Os transtornos por déficit de atenção e hiperatividade, são incluídos nos transtornos de início de infância, meninice ou adolescência. Trata-se de um padrão de conduta que as crianças e adolescentes apresentam em relação a dificuldades no desenvolvimento da manutenção da atenção, controle de impulsos, assim como a regulagem da conduta motriz em resposta às demandas da situação (Anastopoulos e Barkley, 1992). Historicamente, este tipo de criança foi classificado em categorias como: hipercinesia, ou transtorno por déficit de atenção com ou sem hiperatividade”.
Dentro da grande profusão de livros a respeito das crianças hipercinéticas, notadamente há uma confusão, visto ter-se muitos nomes utilizados para teorizar sobre o “problema”.
Still, demarcou historicamente em 1902, considerando-se problemas de “inibição voluntária” e originados por “dificuldades do controle moral”. Nos anos 30 Childers ou Levin, centraram-se mais no componente hiperativiade motora, considerando-se originador por alterações neurológicas. A idéia do componente motor como foco central do transtorno, persistiu durante os anos 50 e 60, incluindo o extremo ao longo de um contínuo dentro da variabilidade normal, inclusive se abandonando o aspecto causal e assumindo o aspecto da conduta de hiperatividade e motora, passando a chamar-se síndrome hipercinética infantil.
Nos anos 70, reconheceu-se que o problema de atenção ou do controle dos impulsos era ainda mais importante que o de hiperatividade motora, influenciando na mudança operada em 1980 ao propor o transtorno por déficit de atenção com e sem hiperatividade. A crença geral, supõe como problema central, a hiperatividade motora, sendo que casos em que não houvesse hiperatividade, seriam chamados de transtornos por déficit de atenção indiferenciados.
Os sintomas primários, segundo Anastopoulos e Barkley (1992), seriam a desatenção, a impulsividade e a hiperatividade; além de outros que não seriam tão amplamente aceitos como os déficits na conduta governada por regras ou a variabilidade nos processos executivos.
A prevalência, estaria em torno de 3 e 5%, sendo estável através de diferentes grupos sócio-econômicos e culturais, ainda que se costume encontrar seus meninos para cada menina diagnosticada, contudo estudos mostram que a média é de três meninos para cada menina.
Surge outros problemas secundários ou co-mórbidos, tais como:
1. De conduta, transtornos oposicionais-desafiantes, ou como vandalismo, etc.
2. Implicações emocionais, tais como hipersensibilidade, baixa auto-estima, baixa tolerância à frustração e, inclusive, sintomas de depressão e ansiedade.
3. Problemas de socialização.
4. Problemas familiares, dificuldades na execução acadêmica, apresentando rendimentos menores que os esperados pelo seu potencial estimado, também classificados como disléxicos ou com outras dificuldades de aprendizagem, pelo que muitas crianças com transtorno por déficit de atenção e hiperatividade, (TDAH), são classificadas como aquelas que deverão receber ajuda de programas para educação especial.
5. Habilidades cognitivas e lingüísticas, apresentando, muitos deles, dificuldades nas tarefas de resolução de problemas complexos ou nas habilidades organizativas, e, inclusive, acontecendo freqüentemente problemas de fala e linguagem.
6. Dificuldades com a saúde.
Hoje, assume-se que se trata de um problema diferente das dificuldades de aprendizagem, ainda que, durante o curso do transtorno, apareçam baixos aproveitamentos acadêmicos, mas a falta de atenção, a impulsividade e a hiperatividade motora, ou, inclusive, os problemas advindos nos processos executivos ou nas condutas governadas por regras permitirão que se faça o diagnóstico diferencial. Poderá ocorrer superposição do transtorno com dificuldades de aprendizagem, deverá então ser feito o diagnóstico duplo.
A gagueira poderá advir em 98% dos casos, como uma manifestação excessiva de repetições, dentro da normalidade, nas tentativas da criança, para adquirir a linguagem expressiva e a articulação. Ao tornar-se consciente, começa a desenvolver o medo de falar e uma grande ansiedade nas situações que implicam uma fluidez verbal, o que leva a mecanismos compensatórios do ritmo da linguagem para não gaguejar, a evitar situações comunicativas, a rodeios ou circunlóquios verbais ou evitar palavras ou sons; além disso, aparecem movimentos corporais ante a falta de expressão verbal, como piscar, tiques, tremores, e outros. Surge dificuldades sociais, afetivas, com implicações na personalidade em aspectos como a auto-confiança e a auto-estima. Poderão desenvolver-se na criança, sentimentos de solidão, incompreensão, condutas irônicas, anti-sociais, agressivas, antipáticas e mal-educadas, não pode escutar enquanto escreve, necessita de mais tempo para terminar o trabalho, trabalha mais corretamente o quadro do que no papel, produz trabalhos sujos, com rasuras, em vez de apagar, tem ineficácia no uso do lápis, escreve com os olhos muito próximo do papel, chega muito cedo ou muito tarde à aula, acredita que nem o maior esforço irá levá-la ao êxito, opõe-se ou rechaça ajuda, não capta os códigos sociais e outros. Porém não devemos tirar conclusões apressadas, frente a complexidade dos dados, pois, só a freqüência, a investigação clínica e preventiva é que poderá diagnosticar com segurança a TDAH.
Os educadores se sentem muito incomodados com as crianças hiperativas, pois estas não dão oportunidade de ensinar o que lhes parece importante, além do tumulto nas relações, na convivência com os colegas em sala de aula.
Esta complexidade de situações, bem como a dificuldade na concentração e na atenção, nos direciona a uma atuação multidisciplinar com o psicólogo, psicomotricista, psicopedagogo, psicanalista e outros.
Não podemos nos esquecer do que (Bossa, 2000, p 23) “... a aprendizagem, bem como as leis que regem esse processo: as influências afetivas e as representações inconscientes que o acompanham, o que pode comprometê-lo e o que pode favorecê-lo. É preciso, também, que o psicopedagogo saiba o que é ensinar e o que é aprender; como interferem os sistemas e métodos educativos; os problemas estruturais que intervêm no surgimento dos transtornos de aprendizagem e no processo escolar”.
Ainda na tentativa de compreender convenientemente o comportamento da criança hiperativa, não podemos esquecer a relação que existe entre a hiperatividade e o ambiente, isto é, a criança agitada aumenta ou diminui sua inquietação de acordo com as circunstâncias do seu momento. Tarefas e atividades sedentárias, ou muito distantes de seus interesses pessoais, tendem a exacerbar a agitação. Se não entendermos a hiperatividade como um distúrbios de interação, dificilmente encontraremos os meios de evitar suas conseqüências.
Estas crianças, merecem uma parte significativa da nossa paciência e criatividade. “É também injusto dizer que uma criança desatenta nunca planeja uma ação ou que uma criança agitada nunca ficará sentada. A hiperatividade é melhor descrita como provocada por problemas que resultam da falta de consistência do que da inabilidade. A hiperatividade leva a um desempenho incompatível. Em uma dada situação, pode, a criança, prestar atenção, mesmo que alguns minutos depois, ela se distraia num minuto a criança pode estar sentada, escutando o professor, e, não obstante, momentos depois, qualquer coisa insignificante é capaz de distraí-la (Shettini, 1997, p. 108)
“O caráter preventivo permanece aí, uma vez que, ao eliminarmos um transtorno, estamos prevenindo o aparecimento de outros”. (Bossa, 2000, p. 23)
os sentimentos regulam e estimulam a formação e a evocação de memórias e atenção. São eles que provocam a produção e a interação de hormônios, fazendo com que os estímulos nervosos circulem mais nos neurônios. Graças a esse fenômeno cerebral é mais fácil para uma criança lembrar-se do processo de fotossíntese se ligar esse conteúdo de ciências a uma planta que tem em casa ou à árvore em que costuma subir quando está em casa, na rua, na praça ou na escola. Sair do concreto faz como se fossem fichas de armazenamento, facilitando a consulta. Quanto mais caminhos levarem a elas, mais fácil será o resgate, por isso uma imagem simbólica – associa conceitos, formas, palavras, sons.
Algumas lembranças ficam escondidas porque estamos expostos a mais informações do que conseguimos guardar. Aparentemente perdidas elas ficam num lugar do cérebro chamado inconsciente. Ninguém sabe explicar exatamente por que, mas elas voltam à consciência sem que o indivíduo controle. Pesquisas mostram que isso ocorre em alguma circunstância especial, quando algum fato ou informação evoca lembranças que se julgavam perdidas.
O homem é um na sua complexidade e múltiplo na sua unidade. As dimensões afetiva/desiderativa, racional, a relacional contextual e a relacional interpessoal se articulam e complementam-se, numa dinâmica dialética de interação na construção do ser cognoscente.
“A vida cotidiana é um aprendizado continuo, uma práxis que se encaminha para a transformação. É na práxis que o homem gerencia sua vida, se transforma e modifica o mundo. Na ação transformadora vive sua história e cria perspectivas para o amanhã. (cit Bortolanza, 2002, p.31).
Giroux (1997, 28), as escolas são lugares públicos onde os estudantes aprendem o conhecimento e as habilidades necessárias para viver uma democracia autêntica”. Aprender é correr riscos e provocar transformações sociais; é organizar-se e lutar é reentender o conhecimento para criar uma sociedade mais avançada, que valorize o desenvolvimento humano e as possibilidades de superar as limitações tecnocráticas da educação e as confusões criadas por pensamentos que legitimam uma ideologia cultural, econômica e humana de insucesso escolar.
Saber como os diferentes indivíduos aprendem, como é produzido o conhecimento e como se desenvolve, garante o compromisso com a verdade, com a ética e com os interesses dos cidadãos, alunos.
O sujeito deve ser visto de forma póspectiva , reconhecendo seu saber, seu saber – fazer, suas condições subjetivas e relacionais entre a família, a escola e a sociedade, porém propondo um atendimento não excludente com ação clínica e preventiva, voltada para o desenvolvimento, para as possibilidades do hoje, para a felicidade do amanhã, para o sucesso do educando quer individual ou em grupo, mas voltado a uma ação holística, do ser total, frente ao seu hoje.
“O diagnóstico não completa o olhar interpretativo num diagnóstico: todo o processo terapêutico é também diagnóstico”. (cit Bossa, 2000, p 29). O foco de atuação do Psicopedagogo não só valoriza o espaço físico, onde ocorre o trabalho, mas também o espaço epistemológico que especialmente o vislumbra , frente a lugar de atividade e o modo de abordar o seu objeto de estudo.
Portanto há de considerar-se o trabalho do psicopedagogo na área clínica, preventiva e teórica, numa articulação e complementaridade, que previne o fracasso, quer seja escolar, profissional, pessoal e outros; visando proposições de novas possibilidades de ação, que melhorarão a prática pedagógica nas escolas, e contribuirá na construção do ser que polariza uma pluridimencionalidade, no cerne de seu próprio interesse, de sua própria evolução.
“A escola é ... o lugar onde se faz amigos, não se trata só de prédios, salas, quadros, programas, horários, conceitos... Escola é, sobretudo, gente, gente que trabalha, que estuda, que se alegra, se conhece, se estima. O diretor é gente, o coordenador é gente, o professor é gente, o aluno é gente, cada funcionário é gente. E a escola será cada vez melhor na medida em que cada um se comporte como colega, amigo, irmão. Nada de “ilha cercada de gente por todos os lados”. Nada de conviver com as pessoas e depois descobrir que não tem amizade a ninguém, nada de ser como um tijolo que forma a parede, indiferente, frio, só. Importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar, é também criar laços de amizade, é criar ambiente de camaradagem, é conviver, é se amarrar nela’! Ora, é lógico... numa escola assim vai ser fácil estudar, trabalhar, crescer, fazer amigos, educar-se, ser feliz. (cit wwwrevistanovaescola).
2. HIPÓTESE DE TRABALHO
Tendo como noção de como ocorre o desenvolvimento da criança e da relação que ela estabelece com os pais e a escola, pudemos alinhar alguns critérios e princípios sobre os quais se apoiam nossa hipótese de trabalho.
Ao falarmos de desenvolvimento, estamos nos referindo a conquistas da evolução pessoal, ligadas ao processo de aprendizagem. Entram aí então: a experiência pessoal da criança com a realidade interna e externa; o contato com as outras pessoas, bem como tudo o que lhe é ensinado; os referenciais que lhe oferecemos e que ela absorve de acordo com a sua capacidade individual de percepção, nos dando uma visão ampla do progresso humano: genético, hereditário, social, relacional, afetivo, econômico, cognitivo e outros.
É a educação que vai possibilitar formas mais aperfeiçoadas ou limitadas de vida para a criança e, consequentemente para o adulto. Está nas mãos do educador, dos pais e da escola boa parte daquilo que uma pessoa poderá ser.
A doutrina freudiana nos ensina que as experiências da primeira infância nos indicam o caminho da auto-estima, bem como da percepção de nós mesmos em relação aos outros. Os primeiros anos são fundamentais para o prosseguimento seguro na vida.
Há momentos que o compasso na aprendizagem aparece de forma conturbada ou distorcida, tumultuando o comportamento infantil e pode ser confundido com patologias.
O ambiente é para a criança o campo em que se processará e se aperfeiçoará seu potencial, propiciando desse modo condições para a transformação das capacidades em habilidades. Todo desenvolvimento é possível graças ao ambiente físico, fisiológico e psicológico, além do externo (tudo o que faz parte da realidade objetiva).
Se pensarmos na atuação dos pais e professores, identificaremos uma verdade simples e de alta relevância: o processo educacional é responsável por uma parte considerável da forma que cada pessoa dará à sua vida. Na prática, o desenvolvimento está, na sua maior parte, nas mãos daqueles que servem de referenciais para a vida da criança. Para os pais e professores não basta ensinar é preciso que vivam as verdades que ensinam, para que as crianças comprovem não só a validade do ensinamento, mas para que vejam também o valor prático do que está aprendendo. A informação, certamente dificultará o aproveitamento mais abrangente do que se aprende.
Quando fala-se sobre a criança na sua relação com o ambiente (e aqui ênfase à sua família e à sua escola) quer se acentuar a ação, a atividade. Sendo esta ação (atividade) entendido como o movimento que dá sentido à vida, aquela que se produz no âmbito da individualidade, na intimidade de cada um, mas também nas relações com o mundo. Restringindo-se a direção a direção a ela imposta pelo indivíduo, não é, simplesmente, produto da genética ou da hereditariedade; ela nasce das interações entre sujeito e objeto e dos modelos e referenciais de que dispõe. Isso quer parecer que as ações da criança são inspiradas no seu contexto ambiental, sobretudo no comportamento das pessoas que a cercam.
Baseando-se nesta constatação, podemos dizer que as crianças acentuam ou diminuem seu interesse por atividades intelectuais ou buscam caminhos destruidores não necessariamente, por deficiência de personalidade, mas como alternativa para fugir de modelos que foram confusos ou desestimuladores para elas.
A tecnologia tem dado excelente contribuição aos processos de aprendizagem, mas não substitui a presença corporal como base do desenvolvimento afetivo-social. É por isso que família e escola se completam para propiciar as condições de aprendizagem no seu sentido mais abrangente e profundo, bem como as nuanças da nossa sociedade econômica e cultural.
As diferenças individuais não são apenas corporais ou intelectuais, são afetivas, psicológicas, sociais, econômicas e outros. As formas de interpretar e sentir o mundo e as pessoas são extremamente individuais e únicas. É verdade que há semelhanças entre as pessoas o que , de certa forma, acentua as diferenças. No entanto são essas diferenças que compõem seu patrimônio pessoal e podem ser aprofundadas com maios ou menor grau de sofrimento à medida que a criança prossegue em sua caminhada de desenvolvimento. Dificuldades podem ocorrer durante sua gestação, nas experiências do nascimento ou nos primeiros anos de vida, na presença do outro, nas relações com o novo, nas experiências escolares, com os caminhos da aprendizagem, no processo dinâmico e dialético de transformação do sujeito, em constante mutação interna e externa.
A experiência com crianças, revela que, as tarefas que exigem movimento corporal, vão num crescente em complexidade, estruturando a ação infantil e o seu pensamento, quando estiver pronta para determinada atividade a criança a realizará. Portanto o domínio do corpo em movimento é um componente progressivo para a autonomia cognitiva e afetiva.
O movimento construirá a expressão gráfica, verbal e funcional do processo de desenvolvimento humano.
O racismo crítico, reflexivo, vai se estruturando na medida que o sujeito age no mundo e estabelece conexões sociais, afetivas e históricas, mediadas pela cultura, numa constante mutação.
As emoções são o instrumento por excelência para uma criança revelar-se como pessoa. Se ela tem dificuldade de se manifestar, de se comunicar através da expressão clara do seu pensamento, tem, em compensação, nas emoções, uma forma de alta eficiência para dar-se a conhecer.
A educação familiar pode estimular o amadurecimento, como pode bloqueá-lo, bem como a escola com sua educação formal, acadêmica.
Muitas vezes a escola interpreta como indisciplina, aquilo que na realidade significa expressão, necessidade de comunicar-se com o grupo, de construir sua liderança, tentando conviver em grupo.
A aprendizagem é dinâmica e requer do aprendiz exercitação do compreendido para que se processe a modificação do comportamento como resultante da incorporação de novas experiências que, por sua vez cria condições favoráveis de evolução.
Grande parte das crianças hiperativas tem dificuldades para estudar e não para aprender. Como ensinar alguma coisa à criança sem a prepararmos para receber o ensinamento e transformá-lo em uma experiência incorporada à sua vida pessoal? As dificuldades seriam reduzidas ou desapareceriam se ensinasse a criança a estudar. Há pré-condições, processos, métodos que dará os instrumentos necessários e eficientes para tal sujeito. Melhorar a motivação e criar condições favoráveis à aceitação dos desafios a aprendizagens mais complexas, sem dúvida pode abrir o caminho para a criança começar a perceber sua relação com o estudo, com uma possibilidade, sem estabelecer mecanismos de resistência ou atropelar suas motivações e interesses. Então ela percebe que aprende com atividades e organiza sua forma própria de aprender.
Hiperatividade dificulta a concentração da atenção. Dessa forma o hiperativo, que apresenta comportamento conturbado, sofre ainda transtornos da aprendizagem resultantes da conseqüente dispersão da atenção.
Por haver necessidade de mais tranqüilidade para aprender, a atuação diversificada de ajuda, é importantíssimo e a avaliação diagnóstica de cada caso é crucial.
A criança hiperativa tem uma relação muito forte com o ambiente, portanto tarefas sedentárias ou muito distantes de seus interesses pessoais tendem exacerbar a agitação. Se não entendermos a hiperatividade como um distúrbio de interação, dificilmente encontraremos os meios de evitar suas conseqüências.
Essas crianças merecem paciência, criatividade, precisa de uma orientação adequada, sobretudo no ambiente da sala de aula, para que consiga o rendimento esperado e consentâneo com sua capacidade de aprender. Se não conseguir poderá isolar-se ou passar a ter problemas com a concentração da atenção. Outras poderão assumir um comportamento oposicionista de desafio e desestruturar o grupo em que estiver.
Para caracterizar um quadro de hiperatividade é necessário um diagnóstico rigoroso, com comportamentos constantes de agitação e distração por motivos diversificados, dificuldade de ficar sentada por tempo prolongado ou para aguardar sua vez no grupo. Deixa sistematicamente tarefas inacabadas, fala incessantemente e compulsivamente, interrompe os outros constantemente e tem dificuldade para escutar o que lhe dizem. Não confundir com características nas crianças de seis anos, por exemplo, que passa por um período de transição normal do desenvolvimento emocional. As dificuldades de interação social é clara e notória; são agressivas, tem baixa popularidade, não mantém amizade. Tem sido sugerido que a criança hiperativa precisa apresentar ou desenvolver, no mínimo três habilidades bem-sucedidas socialmente: participar de jogos com regras, fazer solicitações verbais adequadas e a capacidade de elogiar os outros. No plano terapêutico ensinar um modelo lógico de identificar e solucionar problemas é essencial para sucesso da criança hiperativa.
“A investigação diagnóstica envolve a leitura de um processo complexo, onde todas as ambigüidades de atribuições de sentido a uma série de manifestações conscientes e inconscientes as fazem presentes. Interjogam aí o pessoal, o familiar atual e passado, o sociocultural, o educacional, a aprendizagem sistemática, nos leva então a uma linguagem de tratamento e prevenção, articulando-se com a construção de um saber prático-teórico” (Bossa, 2000, 29).
Outro campo também necessário de investigação se dá ao espaço físico onde se dá o trabalho, mas especialmente ao espaço epistemológico.
3. RELEVÂNCIA DA PESQUISA
A forma de abordar o objeto de estudo embasará diretrizes de atuação, quer sejam clínicas, preventivas ou teóricas, bem como o aconselhamento dos pais e a interferência no processo ensino-aprendizagem na escola.
Propõe uma mudança de aprendizagem do sujeito para um novo desenvolvimento das suas potencialidades efetivamente na vivência de atividades voltadas para a ação preventiva, institucional e familiar, adotando uma visão alternativa de melhora do processo ensino-aprendizagem.
A orientação dos estudos será organizado com a elaboração de formas de estudo, com estratégias de apropriação de conteúdos mais grupais e dinâmicos, num contexto de diálogo sobre o pensar e o construir; onde o ato de jogar, brincar, dramatizar, correr, pular, saltar, atenda as necessidades e interesses do aluno, numa significação mais complexa do conhecimento em particular.
O papel de acompanhar a criança, a família, o professor e a escola, fornecerá dados sistemáticos para retroalimentar a proposta e ousar novos caminhos para melhoria da prática pedagógica e o avanço com sucesso dos hiperativos.
E ainda mediará um referencial teórico, para ampliar a questão sob a ótica teórica, terapêutica e preventiva.
O exercício na área educativa permeará todo processo epistemológico problemático e suas variantes psicológicas, pedagógicas, neuropsicológicas, psicalíticas, e outras, que deságuam na construção do EU cognoscente, na fronteira entre o igual e o diferente.
Vale ressaltar que a abordagem de uma escola, professor, criança em particular, desobstruirá na nossa sociedade uma postura de fracasso escolar e lançará novos rumos para uma análise mais cuidadosa dos fatores que podem intervir no processo aprendizagem e no processo de ensino, construindo uma postura multidisciplinar em confronto com a realidade em mudança constante.
Elucidar confusões teórico-práticas no diagnóstico e terapêutica as crianças hiperativas, desmistificando o insucesso, no sucesso da aprendizagem.
4. OBJETIVOS
Geral:
Desenvolver o sujeito hiperativo na sua aprendizagem, frente às suas possibilidades e interesses, numa dinâmica de sucesso.
Específicos:
- Identificar e solucionar problemas componentes da criança hiperativa numa terapêutica de sucesso preventivo, junto aos pais e a escola.
- Construir três habilidade socialmente bem-sucedidas nas crianças hiperativas: participar de jogos com regras, fazer solicitações verbais adequadas e desenvolver a capacidade de elogiar os outros.
5 . METODOLOGIA E MATERIAIS:
Conhecer os fundamentos da Psicopedagogia, refletindo nas suas bases teóricas, á luz da Pedagogia e da Psicologia, bem como de outras áreas afins para aprender o fenômeno envolvido.
“Essas duas áreas não são suficientes para aprender o objeto de estudo da Psicopedagogia – o processo de aprendizagem e suas variáveis – e nortear a sua prática. Dessa forma, recorre-se a outras áreas, como a Filosofia, a Neurologia, a Sociologia, a Lingüística e a Psicanálise, no sentido de alcançar a compreensão desse processo. (Bossa, 2000, p. 25).
Procura-se entender o sujeito total, com suas diferenças, numa articulação e complementariedade afetiva, cognoscientiva , histórica e social, carregado por seu modo de atuar no mundo, de operar, enquanto ideologia que instaura a operatividade ou a alienação inoperante.
“A psicopedagogia terapêutica é um campo de conhecimento relativamente novo que surgiu na fronteira entre a Pedagogia e a Psicologia”. (Bossa, 2000, p 25-26).
O foco será investido numa pesquisa de campo por amostragem de uma Escola Pública da Rede Municipal do Recife, Escola Professor Júlio de Oliveira, na turma de 1º ano do 1º ciclo, correspondente a alfabetização regular.
Será elaborado uma entrevista com os professores do 1º ano do 1º ciclo, com os pais e com as crianças, para realização do diagnóstico, bem como observação das crianças na sala de aula, no recreio e em casa.
Mostrar-se-á uma proposta experimental para subsidiar o trabalho o trabalho docente e discente, em atividades, interesses e necessidades a serem desenvolvidas com ajuda do coordenador pedagógico.
Com base nos dados do aluno, do professor, da família e da escola, o diagnóstico preventivo terapêutico será proposto para o sucesso da aprendizagem nas crianças hiperativas comprovadamente.
As limitações nesta metodologia se faz presente, no acompanhamento dos pais; na participação e envolvimento do professor bem como na mudança metodológica;
No processo de mudança do aluno e na incorporação das três condutas sociais para o sucesso do discente hiperativo socialmente.
Todo processo deverá ser registrado e ficha de acompanhamento individual do aluno; como também as entrevistas realizadas com os pais e professores; o desempenho do aluno na sala de aula, frente os desafios propostos em atividades de grupo e individual, que serão expostos em gráficos e tabelas para avaliação e redirecionamento do processo terapêutico e de sucesso na aprendizagem.
O material a ser utilizado será o humano, teórico, prático, a análise da situação física do prédio escolar, e do em torno da escola e das famílias elencadas .
Será necessário material de expediente leve, colorido, personalizado, versátil e de fácil transporte para montagem das entrevistas, fichas de acompanhamento, montagem de gráficos e tabelas, atividades propostas para aprendizagem de acordo com interesse e necessidade da criança hiperativa. Sala de aula adequada, com dinâmica, intrinsecamente motivadora, na forma, estrutura e composição apropriada ao hiperativo, sala para encontro com pais e professores para reflexão sobre o processo terapêutico preventivo e de ensino-aprendizagem do aluno; e sala para entrevista e observação do aluno hiperativo. Ficha síntese do processo e encaminhamentos futuros.
As atividades montadas para possibilitar avanços na aprendizagem do hiperativo devem estabelecer relações entre os novos conteúdos e os aprendizados anteriores, para que a informação seja evocada mais facilmente pelo reconhecimento; criar situações que envolvam elaborações mentais com sons, imagens, fantasias, significados e (por que não) humor permitindo que várias áreas do cérebro trabalhem simultaneamente no resgate de informações e estímulo da atenção; utilização de gráficos, diagramas, tabelas, cronogramas para classificar as informações fazendo com que o cérebro tenha mais facilidade para armazená-las e, portanto, resgate-as com mais facilidade; reservar os últimos minutos a aula para conversar sobre o que se estudo, que conhecimento novo aprendeu, assim eles fazem uma leitura do que aprenderam; usar brincadeiras, dramatizações e jogos para levar à emoção favorecendo a aprendizagem. Isso só funciona se houver relação entre o conteúdo e a situação lúdica. Explorar as atividades com dinâmica visual e oral, utilizando material concreto para estimular o raciocínio abstrato. Desenvolver técnicas de sensibilização e relaxação, fortalecendo a atenção e explorando tarefas de manipulação intracorporal e extracorporal, com relevância para o processamento de informações, desde a ação até a abstração e generalização, no controle da postura e do movimento corporal, numa sinergia de interação mente e corpo, corpo e mente, objeto-ação-pensamento e vice-versa.
O estudo do comportamento humano e, por conseguinte, do desenvolvimento psiconeurológico exige cada vez mais a integração de dados evolutivos filogenéticos, ontogenéticos, sociogenéticos e microgenéticos coerentes, numa dialética de complementariedade e articulação desde ação, até a simbolização, mergulhada num envolvimento emocional, moral e semiótico cada vez mais complexo.
6. RESULTADOS ESPERADOS
As relações cérebro-comportamento sofre influências sociais, políticas, filosóficas, econômicas, históricas, emocionais, culturais, numa perspectiva holística que envolve o trabalho de sucesso na aprendizagem das crianças hiperativas.
Os estudos teóricos e práticos desta pesquisa maximizará os potenciais da aprendizagem numa dimensão terapêutica-diagnóstica preventiva e multidisciplinar.
Ao longo do processo, damos conta que cada nível de organização possui propriedades únicas de estruturação e de comportamento, que por sua vez são dependentes das próprias propriedades dos elementos constituintes, elementos esses que só aparecem na evolução, quando combinados em novos sistemas.
O conhecimento dos processos de aprendizagem na criança hiperativa, podem ser de uma importância significativa para melhor organizar-se, estruturar-se e provavelmente incluir-se ativamente na sociedade como cidadão autônomo e integrado, na busca de realizações, felicidade e sucesso, em meio ao foco do ambiente interno e externo do sujeito cognoscente, como também a análise da estrutura de funcionamento que origina os comportamentos.
O fracasso escolar dos hiperativos deve-se à falta de motivação à instrução inadequada (dispedagogia, desvantagens culturais, sociais, econômicas, legitimação de rótulos, pouca pesquisa na área e redução do impacto político nas esferas sociais do país.
O sistema família, escola, fatores sociais, econômicos e culturais, afetivos e psicológicos, podem desordenar os processos de aprendizagem, reduzindo a complexidade da questão num rótulo, potencializado pela conduta imperativa, agitada e hiperativa.
Garcia (1998, p. 76), “Os transtornos hiperativos aparece em 98% das crianças entre os dois e os sete anos, porém apenas de 3 a 5% continuam após esta idade, e sem características de lesões cerebrais. Um percentual de 20% dessas crianças hiperativas são superdotadas, 70% apresentam quoeficiente de inteligência dentro dos padrões da normalidade”.
A acumulação de frustrações, de ansiedades, de agressões, de depressões e de insucessos é atividade por um sistema escolar que insiste na maturação precoce.
A verdadeira escola deve nortear-se pelo sentimento, maturidade estrutural com pré-aptidões para aprendizagem escolar, amor, segurança, apoio da família, confiança, encorajamento e sucesso insubstituíveis à personalidade da criança e como missão do ensino preventivo e revelador do desenvolvimento biopsicossocial das ações e das condutas que envolvem o processo de desenvolvimento humano.
É interessante notar que a falta de êxito escolar é um passaporte par a delinqüência e para as condutas sócio patológicas. O êxito escolar é um sinal de higiene mental; êxito na escola quer dizer, quase sempre, êxito na vida social. A criança é um ser com uma história dentro de outra história, e para isso o professor deve munir-se de meios que permitam observá-la no seu “holos”.
Para melhorar os produtos da aprendizagem, aquilo que no fundo conta para a escola, é necessário que se resolva o “caos interno”, onde os desequilíbrios emocionais assumem papel de relevante importância nos processos psicológicos da aprendizagem.
A criança hiperativa corre o risco de se tornar um adulto desajustado, desmotivado, desempregado, rebelde, apático, não identificado, etc., independentemente de no seio emergirem valores como: Einstein (só aos 4 anos começa a falar e só aos sete inicia a leitura), Newton (considerado aluno de fracos sucessos), Beethoven (o professor de música chegou a dizer-lhe que como compositor não havia hipótese), Abraham Licoln (desprovido da carreira militar), Winston Churchill (repetente na escola primária) , Thomas Edison (seus professores consideravam-no estúpido para aprender o que quer que fosse), Walt Disney (seu editor chegou a confessar que ele não tinha boas idéias), etc. Quantos desses valores humanos se continuarão a perder se não se modificar a função da escola e a problemática do insucesso escolar?
7. CRONOGRAMA FÍSICO DE ATIVIDADES DE ESTUDOS E PESQUISAS
2003JunhoJulho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro 2004 Janeiro | ATIVIDADEPesquisa Bibliográfica" " " " Visita a Escola M. Professor Júlio de Oliveira, para conquista do espaço de trabalho possível. Reunião com os professores Reunião com os pais Apresentação da proposta de trabalho com criança hiperativa Levantamento das condições físicas do prédio escolar - Confecção de instrumento para entrevista com Professores - Criação de perguntas para entrevista com os pais - Formação e roteiro para observação das crianças em sala de aula, recreio e em casa. |
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