Paul Ricoeur – Segunda Armadilha em Ideologias Políticas
by Francisco on terça-feira, 16 de outubro de 2012
Por Francisco Antônio de Andrade Filho
Paul Ricoeur insiste ainda na sua interpretação sobre as armadilhas das ideologias Política. E escreve:
“... devemos evitar uma segunda, que consiste em definir, inicialmente, a ideologia por sua função de justificação, não somente dos interesses de uma classe, mas de uma classe dominante (...). Na literatura contemporânea sobre o assunto, nem mesmo se submete mais ao exame a ideia que se tornou natural de que a ideologia é uma representação falsa, cuja função é dissimular a pertença dos indivíduos, professada por um indivíduo ou por um grupo, e de que estes têm interesse em não reconhecer o fato...”
Com isso, o autor da interpretação e ideologias não nega a oposição entre ciência e ideologia. Não contesta a eficácia do materialismo histórico. Insiste em dizer que:
“Marx inaugura um recorte de um novo continente chamado de história (...). O que me parece muito mais fecundo, em Marx, é a ideia de que a transparência não se encontra atrás de nós, na origem, mas diante de nós, no término de um processo histórico talvez interminável. Desta forma, precisamos ter a coragem de concluir que a separação da ciência e da ideologia constitui, em si mesma, a ideia-limite, o limite de um trabalho interno de demarcação, e que não dispomos atualmente de uma noção – não ideológica da gênese da ideologia.
Paul Ricoeur nos adverte, entretanto, para duas dificuldades provenientes dessa “armadilha epistemológica” do marxismo depois de Marx. De uma “ciência combatente” que, depois de ter sido uma hipótese de trabalho extremamente fecunda, torna-se um dogma que nos impede de ver com um olhar novo as novas estratificações sociais das sociedades industriais avançadas ou as formações de classes, num sentido novo do termo, nas sociedades socialistas. O marxismo depois de Marx – esse marxismo dogmático-mecanicista -, nos impede, por exemplo, de verificar uma “abertura” maior entre marxista e cristãos.
Ricoeur critica energicamente os mensageiros dos marxistas:
“Mais grave é essa cegueira: a oficialização da doutrina pelo partido provoca outro fenômeno terrível de ideologização: assim como a religião é acusada de ter justificado o poder da classe dominante, da mesma forma o marxismo funciona como sistema de justificação do poder do partido enquanto vanguarda da classe operária, e do poder do grupo dirigente no interior do partido (...)
Pesquise Mais:
ANDRADE FILHO, Francisco Antônio de. Igreja e Ideologias na América Latina. São Paulo: Ed. Paulinas, 1982.
RICOEUR, Paul. Interpretação e Ideologias (organização, tradução e apresentação de Hilton Japiassu), Francisco Alves, Rio, 1977.