Ação Igreja - metamorfose da tradição na modernidade

by Francisco on sábado, 29 de janeiro de 2011

por Francisco Antônio de Andrade Filho



 



Retraída, com doutrina social específica, a Igreja reage. Sem negar seu passado, adota uma atitude nova para conservar sua tradição na modernidade e manter-se, reproduzida em seu poder junto à sociedade.

Assim, a Igreja se metamorfoseia no seu pensar e no seu agir em prol da instauração de uma ordem cristã fundada na justiça social contra o Capitalismo e o Socialismo. Fala de Estado, de propriedade privada, de luta de classes, de capital e trabalho. Da condição dos operários. Postura eclesiástica essa, tipicamente de falsa ideologia. Era a Igreja, sociedade humana, por ela própria considerada divina, limitada e contraditória. Transformava-se sob o impacto da modernidade.

Verifica-se aí o fenômeno da metamorfose. O cristianismo, do tempo da Encarnação à Ressurreição, permanecia tradicional, embora participando da modernidade. Numa tensão irredutível, o tempo cristão da Igreja flui no processo histórico-finito, numa referência permanente ao evento imutável da Encarnação de Jesus Cristo.

São “tempos novos”. É tempo de crença incondicional na razão, a própria realidade histórica. É tempo de uma nova época, da modernidade reconhecida num novo desenho das razões. De um René Descartes, com suas “Regulae ad directionem ingenii” e outros escritos. De um Immanuel Kant, com a “Religião nos limites da simples razão”, relacionada e compreendida com as três críticas. Da “Razão pura”, da “Razão prática” e da “Faculdade de julgar”.

É tempo de uma razão que não está confinada à subjetividade, tampouco constitui um princípio transcendente, mas desdobra-se dialeticamente na idéia de história, na realização da cultura. É o tempo moderno pensado por Hegel em sua “Filosofia do Direito, de relação ético-política, do Estado como um momento concreto da liberdade subjetiva. Liberdade essa, constituída princípio da idade moderna, sua realização efetiva, expressão mais acabada da modernidade pós – cartesiana e da emergência do Estado moderno pós-revolucionário.

Origem do Pensamento Político da CNBB – tempo de abater a monarquia de direito divino

by Francisco on sábado, 22 de janeiro de 2011

por Francisco Antônio de Andrade Filho



 



Era 15 de maio de 1891, ano da promulgação da Constituição brasileira. A força laica decretava a separação entre Igreja e Estado, tornando-a, em termos jurídicos, parcela da sociedade civil. A Igreja perdia o controle jurídico da sociedade brasileira. Permanecia só no domínio da esfera particular.

Neste ano 1891, o Papa Leão XIII publica a Encíclica Rerum Novarum sobre a justiça social no mundo novo. Dois anos antes, em 1889, fundava-se em Paris a II Internacional Socialista. Morre Karl Marx em 1883, deixando vivo seu pensamento moderno em seus escritos. Sessenta anos atrás, em 1881, falecia George Wilhelm Friedrich Hegel. Desencadeava a Revolução Francesa, em 1789, criando a possibilidade da emancipação humana, com seus limites e contradições.

É tempo de modernidade. De reação contra o Estado absoluto e os privilégios do clero, nobreza, cidades e corporações. De abater a monarquia de direito divino.

De um lado, há tempo e no tempo, já haviam florescidas as idéias dos filósofos: uma nova postura do mundo, da relação entre o homem e o real, do ser histórico produzido pela sociedade. Dessa era moderna da atividade humana, da consciência de sua capacidade de conhecer e transformar a natureza e a sociedade. De o homem mudar suas condições de vida e situar-se de modo diferente nas relações sociais. Dispensa-se a hipótese da causa primeira. Deus é substituído pelo homem.

De outro, a Igreja, tradicionalmente acostumada a colocar Deus como centro de todas as coisas e a ela própria ser o centro do mundo, insiste na imposição de sua autoridade máxima que se pretendia universal, de participação no Sacerdócio real de Cristo, sempre o mesmo na História. Por isso, condena o mundo moderno e seus questionamentos. Alimenta a esperança de uma restauração da velha ordem social, da permanência da escravidão medieval, inviabilizando as liberdades modernas.

IV Encontro no Ágora da Democracia – Tópicos de lógica nos clássicos da Filosofia

by Francisco on sábado, 15 de janeiro de 2011

por Francisco Antônio de Andrade Filho



 



Vimos ser a Lógica o estudo da razão do ponto de vista de seu uso no conhecimento ou como meio de chegar à verdade. Discutimos o problema central da Lógica Menor ou Formal e o da Lógica Maior ou Material. Indagamos: quais são as regras que precisamos para raciocinar corretamente? Em que condições o raciocínio é não somente correto mas também verdadeiro e demonstrativo, e faz adquirir a ciência?


Trata-se de discutir os métodos das ciências. Enquanto tentativa de explicar a realidade, a ciência caracteriza por ser uma atividade metódica. De lógica. Atividade da fala que, ao se propor conhecer a realidade, busca atingir essa meta por meio de ações passíveis de serem reproduzidas. Linguagem essa que constitui um conjunto de concepções sobre o homem, a natureza e o próprio conhecimento, que sustentam um conjunto de regras de ação, de procedimentos, prescritos para se construir conhecimento científico.


Referir-se-á lógica filosófica é suscitar o debate sobre o enfoque dado pela dialética como um caminho de investigação trilhado pelos clássicos da filosofia. É através da dialética - dessa arte de no diálogo -, que os filósofos demonstram uma tese por meio de uma argumentação capaz de definir e distinguir claramente os conceitos envolvidos na discussão. Indicam o modo de compreendermos a realidade como essencialmente contraditória.


Assim, para o filósofo Tales (625-548 a.C.), a origem da vida estava na água; para Anaxímenes (585-528 a.C.), estava no ar. Segundo Heráclito (540-470 a.C.), o ser está no “vir-a-ser” ou no devir. O ser está a cada momento se modificando. Para Pitágoras (580-497 a.C.), “o número é o fundamento de todas as coisas [...] E, de fato, tudo o que se conhece tem número. Pois é impossível pensar ou conhecer algumas coisas sem aquele”, afirmava ele.


Platão (426-348 a.C.) filosofava: “Pensamento e discurso são, pois, a mesma coisa, salvo que é ao diálogo interior da alma consigo mesma que chamamos pensamento”. E Aristóteles (348-322 a.C.) dizia: “É, pois, manifesto que a ciência a adquirir é a das causas primeiras, pois dizemos que conhecemos cada coisa somente quando julgamos conhecer a sua primeira causa”.


RENÉ DESCARTES (1596-1650)

“Entendo por método regras certas e fáceis, que permitem a quem exatamente as observar nunca tomar por verdadeiro algo de falso e, sem desperdiçar inutilmente nenhum esforço da mente, mas aumentando sempre gradualmente o saber, atingir o conhecimento verdadeiro de tudo o que será capaz de saber”. (Regras Para a Direção do Espírito)


BARUCH DE ESPINOSA (1632-1677)

“Mas como os homens no começo, com instrumentos inatos, puderam fabricar algumas coisas muito fáceis, ainda que laboriosas e imperfeitamente, feito que, fabricaram outras coisas mais difíceis, com menos trabalho e mais perfeição, passando gradativamente das obras e instrumentos, para chegar a fazer tantas coisas e tão difíceis com pouco trabalho, também o intelecto, por sua forma nativa, faz para si instrumentos intelectuais e por meio deles adquirir outras forças para outras obras intelectuais, graças às quais fabrica outros instrumentos ou poder de continuar investigando, e assim prosseguindo gradativamente até atingir o cume da sabedoria”. (Tratado da Correção do Intelecto)


JEAN-JACQUES ROUSSEAU (1712-1778)

Tópicos do Discurso Sobre as Ciências e as Artes (1750)


“Na política, como na moral, é um grande mal não se fazer de algum modo o bem e todo cidadão inútil pode ser considerado pernicioso [...] Os antigos políticos falavam constantemente de costumes e virtudes, os nossos só falam de comércio, de dinheiro e de poder [...] Avaliam os homens como gado. Segundo eles, um homem só vale para o Estado pelo seu consumo”


“... Reconhecei, pois, a pouca importância de vossas produções e, se o trabalho dos mas esclarecidos de nossos sábios e de nossos melhores cidadãos nos proporciona tão parca utilidade, dizei-nos o que devemos pensar dessa chusma de escritores obscuros e de letrados ociosos que, em pura perda, devoram a substância do Estado.”


“Se a cultura das Ciências é prejudicial às qualidades guerreiras, ainda o é mais às qualidades morais. Já desde os primeiros anos, uma educação insensata orna nosso espírito e corrompe nosso julgamento. Vejo em todos os lugares estabelecimentos imensos onde a alto preço se educa a juventude para aprender todas as coisas, exceto seus deveres. Vossos filhos ignoram a própria língua, mas falarão outras que em lugar algum se usam; saberão compor versos que dificilmente compreenderão; sem saber distinguir o erro da verdade, possuirão a arte de torná-los ambos irreconhecíveis aos outros, graças a argumentos especiosos; mas não saberão o que são as palavras magnanimidade, eqüidade, temperança, humanidade e coragem; nunca lhes atingirá o ouvido a doce palavra Pátria e, se ouvem falar de Deus, será menos para reverenciá-lo do que para temê-lo. Preferiria, dizia um sábio, que meu aluno tivesse passado o tempo jogando péla, pois pelo menos o corpo estaria mais bem mais disposto. Sei que é preciso ocupar as crianças e que a ociosidade constitui para elas o maior dos perigos a evitar. Que deverão, pois, aprender? Eis uma questão interessante. Que aprendam o que devem fazer sendo homens e não o que devem esquecer .”


“Que é a filosofia? Qual o conteúdo das obras dos filósofos mais conhecidos? Quais são as lições desses amigos da sabedoria? Ouvindo-os, não os tomaríamos por uma turba de charlatães gritando, cada um para seu lado, numa praça pública: ‘Vinde a mim, só eu não engano!’ Um pretende não haver corpos e que tudo existe como representação; o outro, não haver outra substância se não a matéria, nem outro deus senão o mundo. Este avança não haver nem virtudes, nem vícios, e serem quimeras o bem e o mal morais; aquele, que os homens são lobos e podem, com a consciência tranqüila, se devorarem uns aos outros. Oh! Grandes filósofos, por que não reservais para vossos amigos e filhos essas lições proveitosas? Teríeis logo a recompensa e não temeríamos encontrar entre os nossos amigos alguns de vossos sectários.”


MONTESQUIEU (1689-1755)

“Coloquei princípios e vi os casos particulares submeterem-se a eles como por si mesmos, as histórias de todas as nações serem apenas seqüências e cada lei particular a outra lei, ou depender de outra mais geral [...]. Não extraí meus princípios de meus preconceitos, mas da natureza das coisas” (Espírito das Leis)


IMMANUEL KANT (1724-1804)

“Sou, por meu gosto, um pesquisador. Experimento toda a sede de conhecer e a ávida inquietude de progredir, do mesmo modo que a satisfação que toda aquisição proporciona. Houve um tempo em que acreditava que só isso poderia fazer a honra da humanidade e desprezava a plebe que tudo ignora. Foi Rousseau que me tirou da ilusão. Esse privilégio ilusório se desvanece, aprendo a honrar os homens e ter-me-ia por mais inútil que o comum dos trabalhadores se não estivesse convencido de que a especulação à qual me entrego pode conferir um valor a tudo mais: fazer ressaltar os direitos da humanidade.” (Observações sobre o Sentimento do Belo e do Sublime)


“O Iluminismo é a saída do homem da sua menoridade de que ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de se servir do entendimento sem a orientação de outrem. Tal menoridade é por culpa própria se a sua causa não reside na falta de entendimento, mas na falta de decisão e de coragem de se servir de si mesmo sem a orientação de outrem. Sapere aude! Tenha a coragem de te servires do teu próprio entendimento! Eis a palavra de ordem do Iluminismo”. (Resposta à Pergunta: Que é Iluminismo?)


HEGEL (1770-1831)

“Este livro apresenta o devir da ciência em geral ou do saber. O saber como é inicialmente, ou o espírito imediato, é o que é desprovido de atividade espiritual, a consciência sensível. Para chegar ao saber propriamente dito ou para gerar o elemento da ciência, que é para a ciência o seu puro conceito, esse saber deve percorrer penosamente um longo caminho. – Esse devir, tal como se apresentará em seu conteúdo, com as figuras que se mostrarão nele, não será o que se imagina primeiramente sobre o título de introdução da consciência não científica na ciência, também será algo diferente do estabelecimento dos fundamentos da ciência; - e algo bem diferente desse entusiasmo que, como um tiro de revólver, começa imediatamente com o saber absoluto e se desembaraça das posições diferentes, declarando que nada tem a ver com elas”. (A Fenomenologia do Espírito; o prefácio)

A voz interior da sua vida [Recados de Meditação]

by Francisco on sábado, 8 de janeiro de 2011

por Francisco Antônio de Andrade Filho



 




Alegre, você iniciou um novo ano 2011. Deseja prosseguir os caminhos da paz através da meditação? Como proceder? Relaxe. Busque a calma.



Trago nesta semana um exercício para ajudá-la a se conectar com seu eu superior, recuperando, assim, seu equilíbrio e paz, o que, por conseqüência, implicará no seu progresso. Procure um lugar sossegado, feche os olhos e respire fundo. Segure um pouco o ar e solte-o lentamente. Respire de novo e solte o ar por inteiro, largando seu corpo. Observe seus pensamentos.

Retome a respiração. Encha o pulmão de ar e solte… Calma! Você está consciente e em paz. Seus olhos, seu couro cabeludo e seus miolos se desprendem levemente. Em seu coração, suas emoções se tranqülizam. Repita: “dentro de mim não há perigo. Eu me solto em paz. Eu mereço um minuto de paz (Gasparetto).



A meditação é a voz interior e silenciosa de sua própria vida. Sucesso em sua própria busca.



A meditação nada tem a ver com tempo e espaço. Ela tem algo a ver com você, com seu espaço interior. Assim, sempre que você estiver livre da rotina diária, relaxe e permita que ela aconteça. Ela pode acontecer em qualquer lugar e em qualquer tempo, porque ela não é temporal nem espacial (Osho).






A meditação: não o “misticismo”, nem experiências extraordinárias, apenas um exercício de atenção, muito simples, gratuito, acessível a todos. Somente uma coisa: a atenção se dirige para o interior (Pierre Levy).



Eu quero seguir os sinais da Natureza. Já os consegui. E você?



Aprenda a dobrar-se com o vento, conservando a coragem e a força para não se quebrar. Mas preserve sua dignidade e aprenda a ajudar aqueles que não são tão fortes quanto você (Václav Havel).



Diz-se que nada acontece por fatalidade. Tudo revela a sabedoria do universo. O Invisível se encarna em nossos visíveis sentimentos.



Afirmar que a vida tem sentido é propor a fantástica hipótese de que o universo vibra com nossos sentimentos, sofre a dor dos torturados, chora a lágrima dos abandonados, sorri com as crianças que brincam. Tudo está ligado. Convicção de que, por detrás das coisas visíveis, há um rosto invisível que sorri, presença amiga, braços que abraçam, como na famosa tela de Salvador Dali. E é essa crença que explica os sacrifícios que se oferecem nos altares e as preces que se balbuciam na solidão (Rubem Alves).


Qual o sentimento que agora você está resistindo? Você quer mesmo? Com sua intuição, você é capaz de descobri-lo.



Oferecer resistência a alguma coisa é como tentar mudar as imagens externas depois de que foram transmitidas. É um esforço em vão. Para criar as novas imagens é preciso ir lá dentro e emitir um novo sinal com seus pensamentos e sentimentos.

Quando você resiste ao que apareceu, está acrescentando mais energia e poder a essas imagens que lhe desagradam e trazendo mais imagens semelhantes, num ritmo acelerado. Determinado fato ou situação só vai se ampliar, pois tal é a lei do Universo (Bob Doyle).