A Religiosidade do Milênio

by Francisco on sábado, 11 de dezembro de 2004

Semíramis Alencar


Durante séculos procuramos por Deus. Um Deus “Catholos”, universal, onipresente, onisciente e onipotente que protege-nos do mal e elimina nossos inimigos. Está nos salmos da Bíblia, no Evangelho e na história do povo hebreu, a evocação à guerra, a luta, uma terra prometida e as batalhas e sacrifícios de tantos povos, com a anuência de Deus.

Se nos agrada a idéia de um paraíso na Terra, por que falamos tanto na morte e na destruição? Se a idéia de religiosidade começa na destruição e aniquilamento de nosso semelhante, por que falamos de Deus? Se defendemos a idéia de um só Deus, por que este deve ser o “nosso”? Será que estamos sendo, de fato, religiosos? Não seria mais apropriado sermos irmãos?

Nas Cruzadas, idade moderna (séc. XVII), a humanidade era consciente da sua própria força racional e autonomia. Tentava-se impor a importância da igreja à ferro e fogo. A fé era fanatizada. A morte era sinônimo de purificação e remissão dos pecados daqueles considerados impuros, o que significou uma grande matança de inocentes entre mulheres, crianças e velhos.

Traçando um paralelo entre o período medieval e o período hodierno, verificamos uma transformação radical, no tocante a tolerância, a aceitação dos posicionamentos de outras crenças e povos.

Hoje, a busca dos valores interiores do homem, a compreensão e a tolerância entre outros povos tornar-se possível, dado que carecemos de uma visão de mundo mais fraterna e solidária.

O desgaste das relações humanas e seus problemas básicos que não encontram uma solução definitiva como a fome e as epidemias, aumentou a distância entre ricos e pobres. O progresso de nações como a África não é alcançado de forma rápida, as guerras impedem o processo de desenvolvimento.

A pós-modernidade não renega a tecnologia e nem os avanços científicos. O que ela propõe é um questionamento sobre uma forma mais racional de vida. A busca de condições de vida mais saudável em consonância com o divino, com o místico e com a fé em um Deus único, é o ideal deste pós-modernismo.

Este retorno ao sagrado busca curar as feridas da sociedade hodierna, na equalização dos pólos dispares da sociedade: o pobre e o rico. A experiência religiosa deverá converter sua doutrina para conseguir alcançar este objetivo e não somente ser uma atitude alienante que sirva de instrumento de dominação e imposição de leis e normas de conduta.

O termo religiosidade vem do latim religare que significa vincular, religar. Portanto, a proposta de uma nova religiosidade vem da vinculação pessoal do homem com sua origem e destino. A religião deve ser um modelo, um caminho para seguir e não instrumento de fanatismos.

Assim, o holismo é a proposta religiosa de um novo milênio. Todo o mundo deverá unir sua fé e sua doutrina para a conquista da paz. O dialogo inter-religioso não significa a reclusão ou o fechamento dos povos em seu próprio mundo. Lembremos do evangelho de São Paulo: “Examinai tudo e ficai com que é bom”.

Portanto, cada pessoa tem uma dimensão profunda em sua realidade, que é um mistério. Cabe a cada ser humano repensar a maneira de vivenciar a fé e como nos conduzimos para a criação do paraíso terrestre sonhado por cada doutrina ou filosofia religiosa.

Comente