O Voto Consciente

by Francisco on domingo, 18 de julho de 2004

José Luiz Ames

Todos os candidatos cobram dos eleitores um “voto consciente”. Poucos, porém, se preocupam em detalhar esta exigência no sentido de mostrar o que entendem por isso. O que é um voto consciente? Em que condições é ele possível?

Trata-se, sem dúvida, de um problema complexo cuja solução excede em muito o espaço deste artigo. Penso, no entanto, poder contribuir para o seu esclarecimento e é com esse objetivo que faço as considerações seguintes. Realizar um ato consciente pressupõe a existência de três elementos: a) pleno conhecimento do seu conteúdo; b) liberdade para efetivá-lo; c) vontade deliberada de praticá-lo. No presente caso, a ação a ser levada a efeito é o voto. Cabe-nos, então, examinar se estes aspectos têm como se fazer presentes no exercício do voto.

Inicialmente, quanto ao conteúdo do voto: o que eu preciso saber para votar de forma consciente? Em primeiro lugar, conhecer as propostas do candidato. Quanto a isso é preciso examinar, ao menos, o seguinte: as propostas são viáveis ou são promessas vazias? A quantidade das propostas é compatível com o volume de recursos e o tempo disponível? Respondem à ordem das prioridades e urgências de interesse da maioria ou são em benefício de grupos minoritários? O comportamento mais comum da parte dos candidatos é impressionar os eleitores com uma relação de propostas sem mostrar como é possível realizá-las. São, na verdade, promessas vazias. Em segundo lugar, a própria pessoa do candidato. Quais as ações desenvolvidas por ele o credenciam para o exercício do cargo pleiteado? É somente uma pessoa de prestígio ou já demonstrou possuir capacidade administrativa para o exercício do cargo pretendido? Quais os valores que defende? É alguém de convicções firmes ou muda ao sabor das conveniências? Pode comprovar sua honestidade e integridade ou seus negócios estão repletos de sombras?

Quanto à liberdade: um ato consciente requer a ausência de quaisquer constrangimentos para sua efetivação. Podem os eleitores decidir sem medo de retaliação futura? Quando há um candidato apoiado pela situação, cabe questionar: os servidores públicos podem externar sua opinião, quando contrária ao candidato situacionista, sem receios sobre sua situação futura? Afeta também a liberdade a oferta de bens ou serviços em troca do voto. O candidato que compra o voto constrange a liberdade do eleitor. A liberdade é comprometida ainda pela manipulação das informações durante a campanha. Isso pode acontecer através de diferentes modos: por pesquisas de intenção de voto “encomendadas” para iludir os eleitores e induzi-los à determinada opção; pelo emprego de técnicas de propaganda para realçar os aspectos mais atraentes e esconder os negativos; pela intimidação dos adversários.

Por fim, o voto consciente exige que o eleitor tenha a vontade deliberada de praticá-lo. Votamos porque estamos convencidos da importância do ato ou porque a lei nos obriga? Não parece ser possível votar de forma consciente quando se é constrangido a isso, ainda que o seja pela força da lei.

As considerações acima revelam as limitações da campanha política no sentido de levar o eleitor a um voto consciente. Ainda que ele acompanhe a propaganda eleitoral no rádio e na TV, participe dos debates, leia os materiais de divulgação, dificilmente estará suficientemente consciente de todos os aspectos envolvidos no voto. É bom que se diga que o problema não está na dificuldade de compreensão do eleitor, e sim na forma como os candidatos desenvolvem sua campanha.

Pessoalmente estou convencido de que o voto (ainda) é determinado muito mais por estratégias de êxito dos “marqueteiros” da campanha do que pela consciência dos eleitores. Num jogo de sombras e luzes, a eleição transformou-se num grande espetáculo no qual interessa convencer os eleitores e não a verdade. Dane-se a viabilidade das propostas, pensam candidatos. Afinal, quem se lembra ainda das promessas da eleição passada, feitas e não cumpridas? Quando o questionamento surge, sempre é possível uma boa explicação para a inexplicável omissão na execução das propostas. Basta um eficiente jogo de sombras e luzes. Vote consciente, se for possível!

*José Luiz Ames é doutor em Filosofia e professor da UNIOESTE, Campus de Toledo.

A escola no Brasil

by Francisco on segunda-feira, 12 de julho de 2004

Semíramis Alencar

1549 – Na recém-fundada cidade de Salvador-BA, com os padres jesuítas. Em duzentos anos, esta ordem instalaria muitas escolas por todo o país. Os jesuítas catequizavam os índios e os instruíam em assuntos religiosos, ensinavam os filhos dos colonos portugueses a ler e escrever, formando a elite local, as grandes oligarquias.

Nossas primeiras escolas reuniam crianças índias e portuguesas, mas aos poucos os indígenas foram excluídos do ensino. No século XVIII, já existiam colégios com nível médio, internatos nos quais estudavam apenas meninos. O único curso superior existente era o de teologia. Para outras carreiras era preciso ir para a Europa.

Com a chegada da Família Real, em 1808, a educação do país começa a mudar. Com a presença da corte, novos hábitos e costumes foram trazidos para o cotidiano da colônia Os portos se abriram à outros países, instalou-se a imprensa, surgiram os primeiros museus e bibliotecas e foram criados cursos de direito e medicina.

Em 1837, foi fundado no Rio de Janeiro, o Colégio Pedro II, que deveria de ser um modelo para outras escolas. Só ele fornecia o diploma de bacharel, título necessário na época para cursar o nível superior. Foram também criados nessa época colégios religiosos e alguns cursos de magistério em nível secundário, exclusivamente masculinos.

Na segunda metade do século XIX expandiu-se a cultura cafeeira, estradas de ferro foram construídas, formaram-se bancos e surgiu o telégrafo. A classe média urbana aumentou. Antes mesmo da Abolição dos escravos em 1888, levas de imigrantes chegaram ao país para substituir a mão de obra escrava. A partir desse período, a liberdade de culto e de ensino no Brasil passou a ser defendida.

Durante todo esse tempo não foi estabelecida nenhuma política educacional. Os ensinos fundamental e médio ficavam a cargo das províncias. O ensino médio era visto apenas como um meio para entrar para a faculdade.

Era um ensino improvisado, de condições precárias e professores malformados. A educação permanecia voltada exclusivamente para os interesses das classes dominantes: os grandes fazendeiros, a nobreza e o alto funcionalismo.

Na década de 20, o índice de analfabetismo atingia 80% da população. Com a industrialização e crescente urbanização, o povo passou a reivindicar o direito de freqüentar a escola e o aumento de vagas no sistema escolar.

Da década de 30 até o início dos anos 50, houve um período de expansão do ensino, com especial atenção ao secundário. Esse tempo foi marcado pela criação do Ministério da Educação e Saúde, em 1930. Esse ministério estruturou nosso sistema de ensino e o das universidades, criadas inicialmente no Rio de Janeiro (Capital Federal) e São Paulo.

Entre 1945 e 1964, o país viveu uma época de democracia política e crescimento econômico. Em 1961 foi aprovada, após muita divergência, a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB 4024/61). Em torno dessa lei houve severas discussões sobre a quem deveria de caber o ensino, se às instituições particulares (a igreja católica) ou à União.

Quando o país estava em meio a um processo de modernização cultural e social no início dos anos 60, os militares tomaram o poder impondo uma ditadura violenta e repressiva. A participação política acabou: foram proibidas as manifestações estudantis, os professores contrários ao regime foram expulsos das universidades e muitos tiveram de se refugiar no exterior para não serem mortos. A censura impedia a livre expressão do pensamento.

Em 1971, uma nova LDB, a lei 5692/71, aumenta a obrigatoriedade da educação de 4 para 8 anos; integra todos os níveis de ensino e acaba com a separação entre secundário e técnico; elimina também os exames de admissão para o ginásio (fundamental 5ª à 8ª). Apesar desses avanços, foi um período negro para a educação no país, uma vez que educação é feita com liberdade de expressão e respeito à cultura e à memória dos indivíduos.

No final da década de 70, começa a retomada da democracia, impulsionada por grandes manifestações de todos os segmentos da sociedade. Em 1982, os brasileiros voltaram a escolher os governadores de suas cidades pelo voto direto. Em 1984, o povo foi às ruas exigindo as eleições diretas para presidente da república, o movimento “Diretas, já !”. Em 1985, foi eleito o presidente Tancredo Neves, representante da oposição ao regime militar.

Com a Constituição de 1988, nossa Carta Magna, a educação brasileira obteve vitórias significativas como:

• A gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
• A extensão gradativa do ensino obrigatório e gratuito ao ensino médio;
• O atendimento a crianças de até seis anos em creches e pré-escolas;
• A determinação da quantidade de recursos que estados e municípios devem aplicar na área educacional;
• A prioridade do ensino fundamental;
• A educação como obrigação a ser compartilhada entre estado e família.

Em 1996, foi aprovada a terceira LDB, a 9394/96, antes do final da década de 90, o país já oferecia vagas no Ensino Fundamental à todas as crianças e adolescentes. Com o repasse de recursos da União para os estados e municípios, é possível melhorar a formação dos professores e sua situação salarial. Com estas reformas se espera que sejam otimizados os prédios bem como a construção de novos estabelecimentos escolares. Junto a este processo, também é desejável a adequação dos currículos e da avaliação, a igualdade de relações na escola também se faz necessária na formação de uma escola para a sociedade.

A história da escola

by Francisco on sexta-feira, 2 de julho de 2004

Semíramis Alencar

As escolas somente se consolidaram a partir de 1600. Antes, embora existissem estabelecimentos de ensino, especialmente os religiosos, os meninos eram geralmente, encaminhados a uma profissão e as meninas ficavam em casa para o aprendizado das prendas do lar, a espera de um consorte.

Com o tempo, os conhecimentos humanos se expandiram, tornando-se complexos. As escolas se multiplicaram, para atender as classes mais afortunadas para que tais conhecimentos fossem transmitidos para a geração seguinte. Nisto, a maior parte da população continuava analfabeta.

A industrialização dos séculos XVIII e XIX ajudou a mudar este quadro. Aumentou a necessidade de se escolarizar a população, pois a complexidade do trabalho necessitava de uma mão de obra mais qualificada.

A ciência continuou avançando e trazendo benefícios a toda sociedade, então a educação, já não poderia ser restrita apenas às classes dominantes.

No século XIX, as idéias de uma escola elementar gratuita, que atendesse à todos, começou a se tornar realidade. Era o inicio de uma revolução que continuou no século XX, marcado pela implantação dos grandes sistemas educacionais.

A escola elementar tornou-se pública, gratuita e leiga, ou seja, não religiosa. Sua estrutura se divide em três níveis:

• O elementar: no qual se aprendia a ler, escrever e contar;
• O secundário: no qual outras disciplinas eram estudadas;
• Universitário ou superior.

Todavia, apesar desses progressos, o Brasil e os países latino-americanos ainda hoje não oferecem acesso pleno nem mesmo à escola elementar, devido à marginalização e as desigualdades sociais como um todo.

No Brasil ainda não temos um sistema educacional exemplar e único, tampouco nossos profissionais são preparados e constantemente avaliados e capacitados, recebendo uma remuneração que não supre nem as necessidades básicas.

Com os avanços tecnológicos, a educação latino-americana se perde em meio a novas teorias e metas inalcançáveis – se quase não se consegue instruir a população no ensino elementar, como se pode sonhar com educação digital e democratização da internet? - assim, a sociedade cai como um todo, perante os países ricos.

Enfim, ainda hoje a educação está dividida em escola para rico e escola para pobre – a particular e a pública: uma que forma e encaminha para o mercado de trabalho capitalista e a outra que seleciona e exclui, formando a mão de obra desqualificada e oprimida.