Resumo Crítico do livro 'Pedagogia da Autonomia', de Paulo Freire
by Francisco on sexta-feira, 27 de fevereiro de 2004
Semíramis Alencar
1. Introdução
Pedagogia da autonomia do professor Paulo Freire relata propostas de práticas pedagógicas necessárias a educação como forma de proporcionar a autonomia de ser dos educandos respeitando sua cultura, seu conhecimento empírico e sua maneira de entender o mundo que o cerca.
Paulo Freire ressaltou que a temática abordada neste livro foi uma constante preocupação ao longo de sua vida como educador. Esta obra é um condensado de pensamentos defendidos em seus outros livros, que visam a integração do ser humano e a constante procura de novas técnicas que valorizarão a curiosidade ingênua e crítica, se transformando em epistemológica. Condena a rigorosidade ética a que se curva aos interesses capitalistas e neoliberalistas, que excluem do processo de socialização, os esfarrapados do mundo.
Como aspecto principal de sua abordagem pedagógica, constata que “formar” é muito mais que treinar o educando no desempenho das tarefas; Chama a atenção dos educadores formados ou em formação à responsabilidade ética, elucidando-os na arte de conduzir seres à reflexão crítica de suas realidades.
Destaca valores como simplicidade, humanitarismo, esperança e bom senso: aspectos distantes da sociedade atual, onde o capitalismo impera conduzindo as massas ao consumismo desenfreado e a alienação coletiva pelos meios de comunicação. O abandono educacional em que vivem nossas escolas, prende-nas a táticas de ensino ultrapassadas e desconexas.
Propõe uma humanização do professor enquanto mentor e guia no processo educativo-social, conscientizando os educandos de todas as camadas sociais, sobretudo as de baixa renda, das manipulações políticas que as mantêm sob seu jugo.
Esta obra se faz imprescindível à condução do corpo discente em prol de uma sociedade mais justa e de valores igualitários; na formação crítica de professores que, além de educar, estarão conscientizando e orientando os futuros cidadãos.
2. Resumo de Pedagogia da Autonomia
O interesse geral desta obra é fornecer saberes necessários a prática educativa de professores formados ou em formação, mesmo que alguns destes professores não sejam críticos ou progressistas porque são pontos aprovados pela prática, não considerando posições políticas. Cabe ao professor observar qual prática é apropriada para sua comunidade.
Os conteúdos devem ser o mais claros e assimiláveis possíveis lembrando-se do primeiro saber: ensinar não é transmitir conhecimento, nem tampouco amoldar o educando num corpo indeciso e acomodado, mas criar as possibilidades para sua produção ou construção. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender.
O educador democrático trabalha com os educandos a rigorosidade metódica com que devem se aproximar dos objetos cognoscíveis. Ensinar não se esgota no tratamento do objeto ou do conteúdo, todavia se alonga à produção de condições em que aprender criticamente é possível, exigindo a presença de educadores e educandos criativos, investigadores e inquietos, rigorosamente curiosos, humildes e persistentes. Nas condições de verdadeira aprendizagem os educandos e educadores vão se transformando em reais sujeitos da construção e reconstrução do saber ensinado.
Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. E cabe ao professor continuar pesquisando para que seu ensino seja propício ao debate e a novos questionamentos. A pesquisa se faz importante também, pois nela se cria o estímulo e o respeito à capacidade criadora do educando.
A escola e os professores precisam respeitar os saberes dos educandos e sempre que possível, trabalhar seu conhecimento empírico, sua experiência anterior. Aconselha-se a discussão sobre os problemas sociais que as comunidades carentes enfrentam e a desigualdade que as cercam.
As novas descobertas, teorias precisam ser debatidas e aceitas mesmo que parcialmente, contudo é importante que se preserve, de alguma forma, o velho, as formas tradicionais de educação. É condenada qualquer forma de discriminação, racial, política, religiosa, de classe social, pois a discriminação nega radicalmente a democracia e fere a dignidade do ser humano. Qualquer discriminação é imoral e lutar contra ela é um dever por mais que se reconheça a força dos condicionamentos a enfrentar.
Quanto ao reconhecimento da identidade cultural, o respeito é absolutamente fundamental na prática educativa progressista. Um simples gesto do professor representa muito na vida de um aluno. O que pode ser considerado um gesto insignificante pode valer como força formadora para o desenvolvimento intelectual e acadêmico do educando. O professor que pensa certo deixa transparecer aos educandos que a beleza de se estar no mundo é a capacidade de perceber que intervindo no mundo ele conhecerá e transformará o mundo. Portanto, ensinar exige bom senso, uma vez que, deve-se observar o quão coerente coeso os educadores estão sendo ao cobrar os conteúdos das suas disciplina. O exercício ou a educação do bom senso vai superando o que há nele de instintivo na avaliação que fazemos.
O professor que desrespeita a curiosidade do educando, seu gosto estético, sua linguagem, sua sintaxe e prosódia; o professor que ironiza o aluno, que o minimiza entre outras ofensas em prol da ordem em sala de aula, transgride os princípios fundamentais éticos de nossa existência e esta transgressão jamais poderá ser vista ou entendida como virtude, mas como ruptura com a decência.
Conseqüentemente a este processo, o educando deve ser educado de forma a lutar pelos direitos dos professores, apoiando sua luta por salários mais justos e respeito por sua profissão. Os órgãos da classe deveriam priorizar o empenho da formação permanente dos quadros do magistério como tarefa altamente política e repensar a prática das greves, inventando uma nova maneira de lutar que seja mais eficaz. A luta dos professores pela dignidade de sua função, não só é democraticamente importante, bem como pode ser interpretada como uma prática ética.
Quanto às comunidades carentes, a mudança é difícil, mas é possível. Baseando-se neste saber fundamental, é que a ação político-pedagógica será programada, com alegria e esperança, respeito e conscientização. Não obviamente impondo a população expoliada e sofrida que se rebele, que se mobilize ou se organize para se defender. Trata-se de desafiar os grupos populares para que percebam a violência e a profunda injustiça que caracterizam sua situação. Desta forma, a educação se faz presente como forma de intervir no mundo.
Sendo uma especificidade humana, o ato de educar exige segurança, competência profissional, comprometimento e generosidade. O professor que não leva a sério sua formação, que não estuda, nem se aprimora, não tem força moral para coordenar as atividades de sua classe. Todavia, há professores cientificamente preparados, mas autoritários e arrogantes, ou seja, a incompetência profissional desqualifica a autoridade do professor. A autoridade coerentemente democrática quer de si mesma, quer do educando, para a construção de um clima de real disciplina, jamais minimiza a liberdade. Está convicta de que a disciplina verdadeira não existe na estagnação, mas no alvoroço dos inquietos, na dúvida que os instiga e na esperança que os desperta.
3. Conclusão
Pedagogia da autonomia é uma obra que condensa os saberes necessários e indispensáveis à uma prática educativa coerente com os padrões éticos que regem a sociedade. Paulo Freire ao estruturar este livro levou em consideração as próprias experiências como educador em comunidades carentes.
É uma obra de cunho sociológico, pois aplica as práticas docentes e os métodos didáticos às comunidades de baixa renda. Analisa imparcialmente as questões professor-aluno, conteúdos disciplinares, vivência comunitária e o papel da família no processo pedagógico, posicionando-se de forma coesa, visando o progresso à médio prazo e pelas próprias comunidades.
Aconselha que os educadores se posicionem criticamente, questionando, orientando e incentivando aos educandos a pensar e reivindicar seus direitos, influindo na sociedade. Todavia sugere que ao assumir este compromisso, o educador o assuma com ética, amor e alegria por ensinar, porque será das crianças que educamos hoje que partirão as mudanças que renovarão a sociedade brasileira.
É com este paradigma, na visão de Paulo Freire, que o Brasil adentrou o terceiro milênio em busca de sua identidade sócio-cultural. As diretrizes e bases da lei de Darcy Ribeiro são apenas o ideário disciplinar das relações entre docentes e discentes de boa vontade: sem abordar as causas sociais do país, deste grande brasileiro chamado Paulo Freire, o país de todos nós, bem como o de Darcy Ribeiro, retardará, seu alardeado e pouco desenvolvido benefício de ser (ou estarmos), Brasil, um país de mestiços.
Semíramis Alencar
Apesar de todos os avanços tecnológicos, as novas metodologias e teorias aplicadas à educação, encontram um motivo de lamentação: a falta de experiência, a falta de prática; elementos técnicos ou de estímulos para se adquirir um novo conhecimento; enfim querendo ou não, o professor no Brasil acha sempre uma brecha para adiar as renovações ou reflexões sobre mudanças.
Enquanto professores reclamam da falta de tempo, de paciência e de dinheiro, um momento importante está sendo desperdiçado: o momento de partilhar experiências com colegas de magistério. Discussão saudável e realista acerca das dificuldades pertinentes ao professorado, contribui, desta forma, para um bom relacionamento grupal, encontrando soluções para os seus questionamentos no verso e reverso dos debates.
O apelo da mídia ao conhecimento e à democratização da informática; o advento da internet e outros sistemas de comunicação à distância, tudo isso é atraente aos que trabalham com educação – fontes inesgotáveis de informação ao alcance das mãos. Em uma simples busca, é possível encontrar um universo de informações objetivas e claras que, além de auxiliar o professor na elaboração de aulas mais atrativas e produtivas também o “economiza” – um tempo precioso para o preparo de suas aulas.
A reflexão sobre a real contribuição que as tecnologias ofertam para o progresso profissional do educador deverá ser constante. Atualmente, são reconhecidos diversos cursos de Lato sensu, stricto sensu, graduação e até mestrado on-line, de conteúdos coesos, práticos e bem elaborados. O profissional educador “sem-tempo” poderá participar em seus horários livres, podendo concluí-los em diversos prazos de acordo com a carga exigida.
Semíramis Alencar
“A melhor maneira que a gente tem de fazer possível amanhã alguma coisa que não é possível de ser feita hoje, é fazer hoje aquilo que hoje pode ser feito. Mas se eu não fizer hoje o que hoje pode ser feito e tentar fazer hoje o que hoje não pode ser feito, dificilmente eu faço amanhã o que hoje também não pude fazer”. (Paulo Freire)
A crise na educação está deixando de ser uma questão de políticas públicas para se transformar em uma situação permanente. Nossa sociedade ainda não incorporou valores mínimos de justiça social, onde poucos ganham muito e muitos ganham uma miséria. Uma maioria de sobreviventes e esfarrapados do mundo e uma minoria poderosa que lembra a nobreza medieval.
É inegável que, além do contraste econômico e social na educação, existem ainda a conseqüência natural do desmazelo e da falta de perspectiva do professorado brasileiro: inúmeras já foram às propostas e teorias acerca das melhorias na qualidade de ensino e condições de sustento dos educadores. Vale afirmar que o educador também é pai de aluno, cidadão, consumidor, eleitor e contribuinte. Então, por que não promover melhores planos de cargos e salários? Por que não valorizar este cidadão que forma todo um país educando, orientando e informando?
Todavia, há os que pensam que a educação somente será transformada quando os professores mudarem sua conduta. Quando os professores forem de tal forma, abnegados e complacentes com as dificuldades nacionais. Que, passivamente, abaixem a cabeça e tolerem as humilhações com um sorriso no rosto, levando o estandarte esfarrapado da cultura e do conhecimento na mão. A retórica convincente de que existe um mundo melhor para os que crêem nos valores da educação.
Enquanto isto, seus formandos de classe média transformam-se em novos engenheiros, médicos, advogados, quiçá em novos professores para suprir aposentados. Os formandos de classe baixa contribuem para a mão de obra especializada (será?): policiais, bombeiros, garis... e, os menos favorecidos se transformam em biscates, flanelinhas, ou flagelados.
É muito triste o cenário educacional brasileiro. Triste, pois existem teorias nacionais de vanguarda, aplaudidas e aplicadas no exterior, com sucesso. É triste esta configuração, porque dia a dia mais jovens educandos querem afastar-se da missão de ser professor. Pois ser professor atualmente é fator de vergonha, desonra e escárnio. É sinônimo de perda de tempo, falta de garantias e baixos salários. Mais do que aplicar, criar e debater novas filosofias educacionais é necessário que se crie um plano piloto das teorias já existentes. Assim não caímos na mesmice do falar demais e nada fazer.
Ser professor: Um ser visionário de cultura e humanidade
by Francisco on sexta-feira, 6 de fevereiro de 2004
Semíramis Alencar
Ser professor é, antes de tudo, ser um visionário. Mas em que ponto ele deve parar para não fazer do sacerdócio construtivo e sensível uma abnegação quase masoquista, que busca a iluminação por duras penas?
Se a sociedade carece de professores para continuar sua evolução, por que esta mesma não fornece a este profissional: instrumentos, condições de trabalho e rendimentos dignos?
É importante que haja o respeito e o carinho com o educando, todavia é necessário que seja refletido que o educador é também um pai de família, um consumidor, um profissional que precisa estar em constante atualização para o aprofundamento de novas técnicas de ensino. E isto custa caro para ele.
Como este profissional deverá estar engajado na proteção e na condução de seus alunos no saber disciplinar, devendo passar a noção de cidadania, preservação do meio ambiente, além da espiritualização/ humanização deles próprios, se não tem base e não tem exemplos de como fazê-lo? Como será possível propor à um indivíduo que ele tem que ser emocionalmente tranqüilo, se sua fome é maior que seu estímulo de lecionar? Como incentivá-lo a ser feliz se suas contas à pagar são maiores para ele do que os problemas da natureza ou de seus semelhantes?
Como chegar feliz e otimista na escola se seus alunos, ao invés de o respeitar como uma pessoa que estudou e que está ali para passar seus conhecimentos, trazem na mochila a soberba e a má criação dos tempos modernos? É uma reação em cadeia: onde os pais de aluno são desprezados no trabalho, desprezam e ensinam seus filhos a desprezarem o trabalho dos outros, assim suas vidas não serão tão fracassadas, pois eles estarão batendo primeiro. Mas, nessa reação, somente é observado o comportamento do educador, como se ele fosse o único responsável pelo desvio de conduta de toda uma sociedade, quando se defende ou manifesta sua insatisfação diariamente nas salas de aula, no trato com seus alunos.
...“Mas, renova-se a esperança /nova aurora a cada dia... / há de se cuidar do broto para que a vida nos dê cor, flor e frutos...” (m. nascimento-F. Brant) Para isso é necessário que se comece agora uma luta real com o propósito de humanizar a sociedade, começando pelos membros da própria família. Promovendo o entendimento entre pais, alunos, professores e a comunidade como um todo, visando uma melhoria do quadro educacional atual com base nas políticas públicas, escolhendo representantes para as câmaras municipais, estaduais e o Senado Federal.
Que a classe dos professores lute de maneira mais enfática, pois greves e reclamações não adiantam muito e, com as emendas e propostas feitas pelos próprios professores possam melhorar não só a educação, mas principalmente, suas condições de trabalho, de viver.
E assim seus filhos, netos ou bisnetos poderão dizer com orgulho, quando argüidos sobre o que vão ser quando crescer: “Vou ser professor!”.