A Prática Pedagógica na Construção do Ser Humano

by Francisco on domingo, 15 de dezembro de 2002

Aldacir Santos de Sousa

A pedagogia tem um grande valor entre a humanidade, devido à sua intensa relação com o desenvolvimento do indivíduo, papel é esse que está intimamente ligado à construção de uma sociedade criativa e respeitadora.

Piaget sempre bateu duro na escola tradicional, defendeu práticas baseadas em jogos, pesquisas e trabalhos em grupos, concebe a criança como um ser capaz, ativo, atento e que constantemente cria hipóteses sobre seu ambiente.

Todo professor deve pensar no aluno como nos próprios filhos. É fundamental ter muito carinho, dedicação por todos estudantes sem exceção. O papel do mestre é intuir o que o aluno espera, deseja e fazer aquilo que estiver ao seu alcance para garantir o sucesso da aprendizagem. Utilizar diversas dinâmicas, uso de músicas, pesquisas, excursões, jogos estratégias que envolvam e mobilizem toda a turma na busca de novos conhecimentos.Nós professores somos privilegiados porque só nós temos o prazer de ver diariamente aquele brilho nos olhos de uma criança quando descobre o mundo. Segundo Vygotsky (1930) desenvolvimento e aprendizagem são processos independentes que interagem, afetando-se mutuamente; aprendizagem causa desenvolvimento e vice- versa. O que é desenvolvimento? O que é aprendizagem?

Para Elisabete da Assunção José e Maria Teresa Coelho(1991) desenvolvimento é um termo bastante amplo, é um processo ordenado e contínuo que principia com a própria vida. É comum as pessoas restringirem o conceito de aprendizagem somente aos fenômenos que ocorrem na escola. O termo tem um sentido mais amplo abrange os hábitos que formamos, enfim os aspectos de nossa vida e a assimilação de valores culturais.Muitos professores vêem cenas agressivas todos os dias dentro de suas classes.Em muitos casos estão reproduzindo cenas reais. Segundo Alia Barrios (2002) é difícil para o professor encontrar atitudes, mas é possível achar formas de incentivar o aluno a brincar de guerra ou de luta. Não adianta esconder esse tipo de brincadeira, pois ajuda a refletir sobre a violência de maneira transformadora. O aluno precisa ser capaz de reconhecer as situações em que aplicará seu conhecimento ou habilidade.

No Brasil há um crescente interesse em aprimorar a prática pedagógica, procurando estabelecer um atendimento de qualidade para as crianças e famílias, exemplo o “Dia Da Família Na Escola”,criado em 2001, com objetivo de integrar a família as diversas atividades escolares como: recreações, oficinas,palestras e outros.Esse é um dos diversos instrumentos que integra todos ao processo aprendizagem, traz conseqüências positivas tanto para o desenvolvimento do educando, como para o bem estar da família.É necessário que continue fazendo essa parceria,escola x família caminhando de mãos dadas. O professor não faz nada sozinho e a família também.



Como avaliar o aluno?

Para Mere Abramowic (2001) avaliação que durante décadas foi instrumento ameaçador e autoritário está mudando porém continua sendo um dos grandes nós da educação. Hoje para muitos educadores a nota está sendo uma representação simplificada de um processo de aprendizagem. O que vale é o desenvolvimento do aluno em relação a si próprio e aos objetivos propostos os quais são baseados no contexto em que ele está inserido. O professor planeja faz suas anotações porém isto não é tudo; os alunos escrevem seus relatórios individuais, os quais são aproveitados como norte e utilizados como conteúdos prévios.Daí a criança se sente interagida. Segundo Vygotsky, o desenvolvimento é resultado da interação da criança com o meio social em que está inserida.Com seu conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (Z D P) ele nos faz perceber que a avaliação é um processo contínuo, não um momento isolado ao final do processo aprendizagem.O Mais importante não é a aprendizagem que já ocorreu e sim aquela que está acontecendo.

Referências Bibliográficas

. OLIVEIRA, Cláudia Lávis Zilma. Psicologia na Educação. Ed.Cortez, Impresso no Brasil, Agosto 1991
. SOUZA, João Francisco A Educação Escolar
. Revista Escola. Edições:Abril 2002/Março 1997
. Revista Construir Notícias. Edição: Junho 2002
. José, Elizabete da Assunção e Coelho, Maria Teresa. Problemas de Aprendizagem. Ática. 1991 3ª ed.

* Aldacir Santos de Sousa, aluna do Curso de Especialização em Psicopedagogia da Universidade Salgado de Oliveira, Recife/PE

Do Biopoder à Ética do Cuidado com a Saúde Integral do Homem

by Francisco on quarta-feira, 20 de novembro de 2002

Francisco Antônio de Andrade Filho

“O melhor médico é também um filósofo” [Galeno]

O Sexto Congresso Mundial de Bioética, realizado em Brasília entre 30 de outubro e 03 de novembro do ano passado teve como tema central O Poder e a Injustiça. Trazer para esta discussão a lógica da filosofia em sua interface com a Medicina é contribuir para uma profunda compreensão em torno do poder em sua relação com a ética do cuidado (SIQUEIRA, 2002:89-106) com a saúde integral do homem (LEO, 2002:51-72).

I. Por que uma Filosofia da Medicina? Por que uma atitude de reflexão, hoje, sobre o biopoder?

Na discussão sobre bioética, a temática de equiparação entre o médico e o filósofo, da relação Medicina-filosofia, na integração de seus saberes, pode, talvez, suscitar algum questionamento importante, principalmente, quando, em nossos dias, a evolução dos aparatos médicos é tão grande, que temos, muitas vezes, vontade de superar a facticidade humana e instaurar um reino de utopias, de "preocupações e razões de esperança", no qual, pela ajuda da técnica e do desenvolvimento científico, o homem possa desafiar a morte. Para isso contribuem, sem dúvida, as excentricidades que os meios de comunicação, todos os dias, veiculam, como também um desejo humano de prolongar a existência e superar a doença.

A filosofia, integrada com outros sistemas de conhecimentos humanos em evolução, a Medicina e o Direito, por exemplo, se confronta com novos desafios (JAPIASSU, 1997), “o de pensar-se nos dias de hoje”, de descobrir outras e diversas condições históricas da Globalização, de repensar as drásticas rupturas epistemológicas a serviço da Humanidade.

É o tempo propício de se conceber e de se praticar esta interdisciplinaridade, da Filosofia com estes saberes, entre outros: a habilidade profissional de buscar um outro modo de ver e de pensar as realidades em suas múltiplas dimensões, entre as quais as novas teorias da linguagem de Bioética em sua relação com a Medicina decorrentes dos avanços tecnológicos da inteligência humana.

Este debate inicial se reveste de capital importância, na medida em que a Filosofia tematiza a Bioética como um novo paradigma (HOTTOIS, 1990) do conhecimento. Com essa nova disciplina, o pesquisador recorre às “tecnologias da inteligência” (LEVY, 1998) .

É no ambiente marcado por grandes transformações e processos contraditórios que a Bioética parece nascer como um novo domínio da reflexão e da prática, que toma como seu objeto específico as questões humanas na sua dimensão ética, no âmbito da prática clínica, jurídica ou da investigação científica.

Segundo os jusfilósofos, faz-se necessário lançar mão de regras, normas, leis ou diretrizes a serem seguidas por todo grupo social. A Bioética seria um instrumento fundamental para atingir tal objetivo, principalmente nas questões jurídicas do Direito Internacional e Ambiental. Com base nisso, questões são registradas, tais como: o que é justiça? “Ética é justiça?” Que implicações éticas existem, hoje, na falta de respeito à Ecologia, à Natureza? Destas dimensões, que reflexão se faz sobre a ética do cuidado com a saúde integral do homem? Que relação existe entre o biopoder, produzido pelo “Império” globalizado, e a ética do cuidado com a saúde integral do homem?

Há uma palavra grega, que explica o sentido etimológico da concepção de ética com justiça: “ethos” significa “domicílio”, moradia, o abrigo permanente, o país onde alguém habita, a casa onde se mora, a Universidade Federal de Pernambuco, o Centro de Ciências de Saúde, onde se constrói, pelo trabalho, a felicidade do homem.

No âmbito da “physis”, observa Leonardo Boff (1999: 85), da totalidade sempre igual à Mãe-Natureza, “o ser humano seleciona uma porção da natureza e aí constrói para si uma moradia. Ele não a encontra feita. Deve construí-la e mantê-la permanentemente, como todas as casas. O “ethos” não é algo acabado, redondo. É projeto. Aberto e sempre projetado, em transformação numa nova ética, uma nova justiça, bem que nos permite sentirmo-nos bem em casa. É a coexistência da justiça nas práticas político-culturais no mundo de hoje.

No entanto, não somos os únicos a ter valor ético. Toda natureza é respeitada do ponto de vista da ética. Ética é justiça. Natureza é justiça. Ecologia social ambiental é justiça.

Talvez esse o maior mérito da Bioética em sua relação com o Direito Internacional, (BARBOSA, 2000: 210), do monopólio de um único biopoder imperial (seria o norte-americano?), esse desafio aos estudiosos da Bioética: produzir o princípio da “justiça” e encontrar seu lugar junto aos outros, da “autonomia” e da “beneficiência”. Hoje se percebe a “injustiça social” como “injustiça ecológica” contra o todo natural-cultural humano. É uma grande violência, do terrorismo cultural do “capital global”, sacrificar o capital natural da Terra propugnado por um desenvolvimento sustentável.

Nesse sentido, o princípio da eco-justiça, do respeito à Natureza, do ponto de vista ético-político mundial, é alinhado numa indagação central: como construir uma sociedade bem ordenada e justa, garantindo o equilíbrio entre natureza e produtos tecnocientíficos na atual “aldeia global”? E aqui, onde fica a responsabilidade de ética em pesquisa, na construção do Biodireito (MARTINS-COSTA, 2000: 230) e da Medicina em busca de modelos de respostas para uma nova ética do cuidado com a saúde na “Constituição Política” da Globalização? Seria a produção do conhecimento rumo à fábrica de uma novas teorias e práticas políticas no mundo de hoje? Do biopoder e da ética do cuidado com a saúde humana integrada à Natureza e á cultura na atual sociedade globalizada?

Urge indagar e refletir, elaborar projetos de pesquisa, compreender a Bioética como um novo paradigma da relação entre Ciência e Tecnologia, num confronto com possibilidades e problemas de Filosofia em sua interface com Medicina, de “ordem ontológica” e no modo de existir da pessoa humana e da própria tecitura constitucional-sócio-política da atual sociedade global.

Esse, o provável estatuto epistemológico, aventar a possibilidade de novas teorias do conhecimento neste “tempo global”, questão a ser tratada necessariamente na universidade, desde que esta se veja como o espaço da autonomia e da reflexão compartilhadas.

Com efeito, a camuflada transformação jurídico-cultural e unilateral funciona como sintoma das mudanças da constituição material biopolítica de nossas sociedades. Põe em movimento uma dinâmica ético-política. É peculiar a prática desse “direito global” em que leva ao extremo a coincidência e a universalidade do ético e do jurídico. Na “Aldeia Global” há paz, há garantia de justiça para todos. Ao poder único, do “direito de intervenção”, é dada a força necessária para conduzir “guerras justas” nas fronteiras contra os bárbaros e, no plano interno, contra os rebeldes. Falam de paz e promovem a guerra.

Neste sentido, constrói-se um direito afirmado na produção de uma “nova ordem” que envolve todo o espaço civilizado, ilimitado e universal. Abrange todo o tempo. Suspende a história, passado e futuro para dentro de sua própria ordem ética. Ordem eterna, permanente, necessária.

É sabido que a ordem mundial atual, na busca de uma nova constituição política, é perversa, brutalmente contraditória: apesar de a vida – biosfera (vegetal, animal e humana) – ser o elemento mais precioso do planeta, ela é prejudicada e ameaçada de extinção. A forma mais elevada de vida – a humana – é a mais devastada, terrorizada, implodida, com bilhões de seres morrendo de fome e de doenças curáveis. A Biopolítica do não-trabalho é o maior terrorismo cultural do mundo. Essa guerra é terrorismo global: miséria, degradação, corrupção!

Estamos vivendo a contradição ética mais grave da história. Os horrores da mente humana, na atual “Aldeia Global”, criam políticas e tecnologias responsáveis pelo genocídio da natureza e exclusão do homem do seu ecossistema natural e urbano.

É possível pensar e praticar “o mundo como pode ser: uma outra globalização” (SANTOS, 2000: 20) . Um mundo possível, um outro mundo mediante uma globalização mais humana: projeto de emancipação humana a partir das condições materiais e espirituais da própria globalização. É possível, quando surgirem relações práticas com a produção de bens coletivos, materiais e espirituais em benefício do homem.

Esse princípio da Justiça relacionada com a Natureza conduz a uma maior compreensão da ética do cuidado com a saúde integral do homem (BOFF, 1999:133-156) . “A arte perdida de cuidar” (SIQUEIRA:89-106) desafia, hoje, a “sabedoria médica”. Aponta a capacidade de compreender um problema clínico não em um órgão mas em um ser humano integral. Sugere ao médico de bem utilizar as máquinas com raciocínio clínico. É a ética do cuidado, do aclhimento, da escuta-resposta e da esperança de cura para os que sofrem (LEO, 2002:51-72) .

Na visão cartesiana, o corpo aparecia como uma máquina amiúde necessitada de ser reparada através de tratamentos particulares e intervenções impessoais. Na visão sistêmica, ao contrário, o corpo hoje é visto como um sistema complexo de partes interativas onde o corpo e a mente não são separáveis.

É necessário um novo modelo de empresa terapêutica, uma "medicina de relação", antes da medicina de órgãos, que recupere a totalidade do ser humano e considere o paciente como pessoa na unidade de todas as suas dimensões. É nesta "aliança terapêutica" entre médico e paciente, que pode animar uma nova cultura da saúde que evite a "coisificação" do paciente e a perda da humanidade na arte médica.

Essa (re)humanização da Medicina deve partir de uma revisão crítica da Antropologia médica, de sua educação, “de uma concepção antropológica na qual o ser humano é visto como totalidade integrada” e toda enfermidade é vista “como produto do homem inteiro: corpo, psique, espírito, história, sociedade”.



II. Bioética na iátrica médico-profissional-uma expressão da ética do cuidado com a saúde humana.



1. O que é Bioética na atuação profissional?


Penso ser um objeto de diálogo, nesta palestra de hoje, compreender a Bioética como um novo paradigma da relação entre ciência e tecnologia, no confronto com possibilidades e problemas de "ordem ontológica" (Von Zuben) e no modo de existir da pessoa humana e da própria tecitura social. Ela surge como uma ciência que reflete, discute e almeja atingir um consenso na defesa de valores individuais "ameaçados em decorrência do avanço da ciência e da tecnologia". Segundo Hubert Lepergneur, a bioética "é uma disciplina prática, cujo fim é conseguir o consenso máximo, em matéria de duvidosos desafios na área de saúde humana, para elaborar e implementar normas de ação". Ela, através de pesquisas integradas, análise e discussão de problemas de ordem ontológica, problemáticas e diálogos filosóficos sobre o conceito de pessoa, vai buscar soluções, traçar normas morais, para problemas éticos decorrentes de descobertas científicas. Ela servirá, de um novo paradigma, de modelo, para o funcionamento da atividade científica, com os valores almejados pela sociedade. É o homem que está em jogo em sua convivência social.



2. O que é ética profissional?

Segundo Vaz Lima Lima Vaz (1996), o agir ético do indivíduo, exprime a nossa situação fundamental como seres que habitam a morada do ethos. É a vida do bem em organizações humanas. A vida plenamente humana, “programa pedagógico esse que visa formar o jovem médico, que participa da cidadania, assumindo com plena consciência a recíproca relação entre direitos e deveres”, na qual consiste propriamente a esfera profissional.

Esse mundo humano – ser ético/axiológico não é uma dádiva da natureza. É conquista cultural. Destino das sociedades institucionalizadas, em sua dimensão ético-profissional, a de enveredarem pelos obscuros caminhos da cidade sem lei.

Aqui, penso poder considerar o Código de Ética Médica como uma expressão da ética do cuidado para com a saúde integral do homem. Jamais a letra fria, morta, mas seu espírito. Competência técnica, aliada à capacidade ética, capazes de descobrir a saúde do corpo como a maior riqueza da saúde do espírito do homem.



3. Direitos e deveres do Médico: expressões ético-profissionais em sua arte clínica.


O Código de ética do Médico registra algumas expressões ético-profissionais, de grande valia para a prática da ética do cuidado com a saúde integral do homem. Assim, por exemplo, destacamos aqui alguns tópicos de seus artigos entre outros:

I - O presente Código contém as normas éticas que devem ser seguidas pelos médicos no exercício da profissão, independentemente da função ou cargo que ocupem.

Art. 1° - A Medicina é uma profissão a serviço da saúde do ser humano e da coletividade e deve ser exercida sem discriminação de qualquer natureza.

Art. 2° - O alvo de toda a atenção do médico é a saúde do ser humano, em benefício da qual deverá agir com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional.

Art. 4° - Ao médico cabe zelar e trabalhar pelo perfeito desempenho ético da Medicina e pelo prestígio e bom conceito da profissão.

Art. 10° - O trabalho do médico não pode ser explorado por terceiros com objetivos de lucro, finalidade política ou religiosa.

Art. 13° - O médico deve denunciar às autoridades competentes quaisquer formas de poluição ou deterioração do meio ambiente, prejudiciais à saúde e à vida.

Art. 23 - Recusar-se a exercer sua profissão em instituição pública ou privada onde as condições de trabalho não sejam dignas ou possam prejudicar o paciente.

Art. 37 - Deixar de comparecer a plantão em horário preestabelecido ou abandoná-lo sem a presença de substituto, salvo por motivo de força maior.

Art. 54 - Fornecer meio, instrumento, substância, conhecimentos ou participar, de qualquer maneira, na execução de pena de morte.

Art. 75 - Participar direta ou indiretamente da comercialização de órgãos ou tecidos humanos.

Esses artigos citados revelam a dimensão axiológica do referido Código de Ética do Médico. Para apreender seu conteúdo ético, percebê-lo inserido nos princípios da Bioética (o da autonomia, o da beneficência e o da Justiça), princípios esses fundamentais, jusfilosóficos dos deveres e dos direitos do Médico, pensamos que toda lei deve primar pela justiça (PEGORARO, 1995), isto é, deve prescrever o que está de acordo com a natureza e a dignidade do ser humano (ANDRADE FILHO, 2000) . Os valores éticos respondem as necessidades de sobrevivência e de harmonia do grupo. O homem desenvolve sua vida, não isoladamente, mas dentro de uma comunidade. Esta deve ser mantida e preservada para o bem do próprio indivíduo. Esta relação de sobrevivência e bom andamento do grupo com os interesses do indivíduo determina uma grande classe de valores: os éticos ou morais; os deveres, os direitos e o bem, isto é, valores que obrigam, valores que atraem e valores que autorizam. Dentro da categoria “ética profissional” podemos colocar várias atitudes valoradas, como a honra, a bondade, a fidelidade, a benevolência, a justiça etc.

Assim, para a atividade do médico, discute-se ser necessário que o profissional esteja imbuído de certos princípios ou valores do ser humano (Camargo, 1999: 31), para vivenciá-los nas suas atividades de trabalho. De um lado, a exigência ética da deontologia (do grego “deontes= a dever e “logos”= tratado) . É a Ciência dos deveres específicos que o orientam no campo profissional; de outro, exige a diceologia (do grego, “diceo”= direitos, e “logos”= tratado), isto é, o estudo dos direitos que esse profissional ou qualquer outro tem ao exercer suas atividades. À luz da Jusfilosofia, esses direitos constituem-se expressões éticas no exercício legal do médico. É a ética da responsabilidade de sua profissão. Aqui, o médico se experimenta enquanto age sobre os outros e em se mesmo. Ele se compreende como “responsável” que assume o seu ser e toma nas mãos o seu destino.



4. Tópicos para um diálogo entre médico e filósofo.


“Esse mundo da informática e da comunicação está criando um ambiente mental, afetivo e comportamental bem diferente que as gerações passadas: estreitando relacionamento entre pessoas, povos e culturas, fontes de esperanças para a humanidade. Afetam, sobretudo, a vida do cidadão – a educação em todos os níveis: massificação de uma cultura superficial, violenta, sem ética e imposta pela ‘mídia’, um novo tempo de perversidade –, a do desrespeito à vida e aos direitos humanos”. (Francisco Andrade)

“Pode haver Medicina – e tanto já houve e tanto ainda há – sem o concurso da ciência, mas dificilmente podemos imaginar uma Medicina que prescindisse dos conceitos inerentes à problemática humana, conceitos esses pertencentes prioritariamente, ao campo filosófico.” (Londres, l997: 111) .

“A Medicina relaciona estudos científicos a respeito do homem com a escala de valores humanos, unindo assim, através de tensões e resoluções, os terrenos do concreto e do abstrato. Uma Medicina que não leve em conta essa escala de valores pode se tornar contrária ao interesse daqueles que dela se servem” (id. ib.: 112) .

“A impregnação da Medicina pela atitude científica protegeu-a das especulações teóricas estéreis, mas a afastou de considerações teóricas e filosóficas que pudessem alinhavar os seus novos conhecimentos e orientar as resoluções de suas novas problemáticas” (id. ib. 113) .

A Filosofia da Medicina: é o exame crítico, através de uma visão filosófica, de uma epistemologia das ciências médicas, do significado da Medicina como uma prática clínica, analisando seus fundamentos, suas conceituações, suas ideologias e as bases filosóficas de sua ética´id. ib. 116) .

“O sofrimento é intolerável quando ninguém cuida”.

Dame Cicly Saunders

Bibliografia

. ANAIS DO SEXTO CONGRESSO MUNDIAL DE BIOÉTICA. Sociedade Brasileira de Bioética. Brasília, nov. 2002.
. ANDRADE FILHO, Francisco Antônio de. “Epistemologia Crítica: novas teorias do conhecimento na era da informática”. Disponível em: . Acesso em março de 2003. _____________. “Para Conhecer a Bioética: um novo paradigma da relação entre ciência e tecnologia”, (idem, ibidem, 1999) ; ___________. “Relato de uma experiência de estudos e pesquisas em bioética”, (idem, ibidem, 1998) .
. ________________. “Relação Ético-Política na ‘Filosofia do Direito’ de Hegel”, in Síntese Nova Fase, v. 24, n. 77 (1997): 181-197; Eutanásia: a vida produz a morte, in Bioética – Boletim da SBB (2001), ano 3, n. 5: 4 a 5.
. ________________. Bioética: Filosofia para quê? Disponível em: . Acesso em março de 2003.
. ________________. Teoria e Prática dos Valores. Disponível em: . Acesso em março de 2003.
. ARISTÓTELES. “Ética a Nicômaco”. São Paulo: Nova Cultural, 1987.
. BARBOSA, Heloísa Helena. “Princípios da Bioética e do Biodireito”, in Bioética – revista do Conselho Federal de Medicina, vol. 8, n. 2 (2000): 209-216.
. BOFF, Leonardo. “Ética Mundial e Processo da Mundialização”, in Leda Miranda Hünc. Ética. Rio de Janeiro: Uapê, 1997, 69-98.
. BOTSARIS, Alexandros Spyros. Sem Anestesia: o desafio de um médico. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
. CAMARGO, Marcolino. Fundamentos de Ética Geral e Profissional. Petrópolis: Vozes, 1999.
. CLAGUE, Julie. “O conhecimento genético como uma mercadoria – Projeto Genoma Humano, Mercado e Consumidores”, in Sowle-Cahill (org.), Ética e Engenharia Genética, Conscilium, 245 (2), Rio de Janeiro: Vozes, 1998, p. 13 (157) a 24 (168) .
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. ESPINOSA, Baruch de. Ética. São Paulo: Abril Cultural, 1978.
. HARDT, Michael e NEGRI, Antônio. “Ordem Mundial”, in Michael Hardt e Antônio Negri. Império. Rio de Janeiro: Record, 2001, parte 1.1, p. 21 a 39.
. HOTTOIS, G. “Novas Tecnologias: o paradigma bioético”. Lisboa: Salamandras, trad. Paula Reis, 1990.
. JAPIASSU, H. “Um Desafio à Filosofia: pensar-se nos dias de hoje”. São Paulo: Letras & Letras, 1997.
. LEVY, Pierre. As Tecnologias da Inteligência – O Futuro do Pensamento na Era da Informática, trad. Carlos Irineu da Costa, São Paulo: editora 34, 1993.
. LIMA VAZ, Henrique C. de. Ética e Justiça: Filosofia do agir humano, in PINHEIRO, José Ernanne. Ética, Justiça e Direito – reflexões sobre a reforma do judiciário, Vozes, 1996, p. 19 a 40.
. LONDRES, Luiz Roberto. Iátrica: A Arte Clínica: ensaios sobre a teoria da prática médica. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.
. MARTINS-COSTA, Judith. “A Universidade e a Construção do Biodireito”, in Bioética – Rev. do Conselho Federal de Medicina, v. 8, n. 2 (2000): 229-246.
. MARX, Karl. “Manuscritos Econômico-Filosóficos”. S.L.: Ed. 70, 1980.
. MAXIMIANO, Antônio César Amaru. Teoria Geral da Administração. São Paulo: Atlas, 1997.
. PEGORARO, Olinto. A ética é Justiça. Petrópolis: Vozes, 1995
. PESSINI, Léo. Humanização da dor e do sofrimento humanos no contexto hospitalar . In: Revista Bioética, vol. 10. n 02 – 2002: 51-72.
. SÁ, Antônio Lopes de. Ética Profissional. São Paulo: Atlas, 1996.
. SANTOS, Milton. “Por uma outra Globalização – do pensamento único à consciência universal”. Rio de Janeiro: Record, 2000.
. SEGRE, M. & COHEN, C. “Bioética”. São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1999.
. SIQUEIRA, José Eduardo de. A arte perdida de cuidar. In: Revista Bioética, vol 10. n. 02/2002: 89-106.


* Francisco Antônio de Andrade Filho. Ph.D. em Lógica e Filosofia da Ciência, IFCH/UNICAMP, São Paulo. Professor Titular aposentado da Universidade Federal de Alagoas. Membro Titular da Sociedade Brasileira de Bioética.
Comunicação apresentada na Universidade Federal de Pernambuco, na Pós-Graduação/Mestrado em Pediatria do Centro de Ciências da Saúde, no dia 11 de março de 2003.

Indagar, questionar, problematizar: do senso comum à consciência filosófica

by Francisco on sábado, 5 de janeiro de 2002

Francisco Antônio de Andrade Filho

Nossa vida cotidiana é toda feita de crenças silenciosas, da aceitação tácita e fácil, de evidências que nunca questionamos porque nos parecem naturais, óbvias: espaço, tempo, realidades, qualidade, verdade e mentira. Mas alguém toma uma decisão e começa a indagar, questionar, problematizar, fazer perguntas: o que é pensar, falar e agir? O que é o homem? O que é tecnologia? O que é ética? Por que avaliamos os sentimentos e as ações humanas?

Desse senso comum à consciência filosófica, estaríamos tomando distância da vida cotidiana: qual a realidade ou natureza, significação de alguma coisa? Qual a origem ou causa de uma idéia, de um valor? Qual a estrutura e quais são as relações que constituem uma coisa?

Assim, o homem defronta-se com problemáticas da vida frente à existência humana no mundo: o que é o homem em si mesmo? O que é o homem em relação ao outro, o homem que produz tecnologias da inteligência, que inventa a linguagem? Por que a violência, hoje, no Brasil?

Fazemos juízos de valor, juízos da realidade: o que é o bem? O que é o mal? O bem supremo é a felicidade? É o prazer? É a utilidade? É a ética na saúde? É a inseminação in vitro?

E indagaríamos: o que é filosofia? Teríamos, então, uma percepção que filosofia é o resultado de uma atividade construtiva da razão humana que se defronta com a realidade do ser, operando com conceitos em sua totalidade. De uma filosofia moral e ética com a reflexão a respeito dos fundamentos da vida individual e da vida social. A filosofia seria um tipo de conhecimento que procura o sentido da totalidade, pesquisando os primeiros princípios, através do raciocínio. Filosofia é atitude reflexiva. Vejamos como alguns filósofos conceberam a filosofia:




    • Bergson: "Filosofar, consiste em situar-se no objeto mesmo por um esforço
      de intuição" (Hilton Japiassu).

    • D’Alembert: "A filosofia não é outra coisa senão
      a aplicação da razão aos diferentes objetos sobre os
      quais ela pode se exercer" (Hilton Japiassu).

    • Jarspers: "No domínio filosófico, quase todo mundo se
      julga competente. Devemos reconhecer o bem-fundado desta exigência:
      a filosofia deve ser acessível a cada um" (Hilton Japiassu).

    • Marx-Engels: "Até hoje, os filósofos nada mais fizeram
      que interpretar o mundo de diferentes maneiras; doravante, trata-se de transformá-lo"
      (Hilton Japiassu).





Bibliografia
JAPIASSU, H. Um desafio à filosofia: pensar-se nos dias de hoje. São Paulo: Letras & Letras, 1997.