Filosofia Política da Igreja no Brasil – Tese de Doutorado em Resumo

by Francisco on sábado, 21 de abril de 2012

por Francisco Antônio de Andrade Filho




Foi em 1994. Defendi minha Tese de Doutorado, titulada e aprovada: O Problema da Modernidade no Pensamento político da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (1952 - 1988). Foi no Departamento de Filosofia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas/UNICAMP/SP, sob a orientação do Prof. Dr. José Luiz Sigrist. Esse, o objetivo da tese relacionada com tradição desta instituição eclesiástica.

Tomou-se o pensamento político como objeto de análise para investigar a reação moderna da Igreja – CNBB, entendida aqui, com maior ênfase, sociedade humana, visível em sua totalidade. De outro - no rastreamento de seus escritos-, não se menosprezou a outra face invisível, por ela sustentada divina.

Esta pesquisa se pautou por um referencial teórico que se inspira na vertente histórico-dialética de Georg Wilhelm Friedrich Hegel e, principalmente, de Karl Marx. Mesmo assim - não como verdades acabadas e incontestes -, mas para melhor compreender as leis de transformação do processo histórico; pesquisar e esclarecer os problemas, ainda hoje, não superados, fundamentais da sociedade capitalista, na qual a Igreja está inserida.

Tomando Marx como base, foi possível entender por modernidade o real movimento da vida social esse de ascensão e decadência da sociedade regida pelo capital. Embora de forma aberta, deixou-se claro que é um movimento contraditório, uma realidade que reúne, inseparavelmente, aspectos positivos e negativos. Porém, mais do que isto, é um movimento que encontra, em seu próprio interior, limites inseparáveis, movimento incapaz de conduzir a Humanidade à autêntica liberdade.

Na verdade, ventilou-se nesta tese ser o capital uma relação contraditória. Ao mesmo tempo foi configurando o projeto da modernidade regido pelo capital e hegemonizado pela burguesia – desta fazendo parte a Igreja como sociedade humana -, também ganhou corpo, matizado pelo mesmo capital, mas contra ele. Neste plano, tem à frente a classe trabalhadora, um projeto que propôs a construção de uma ordem societária regida pela perspectiva do trabalho. Dois projetos humanos que expressam uma nova postura do mundo, relação entre o homem e o real, do ser histórico produzido pela sociedade.

Nos dois projetos dispensou-se a hipótese da causa primeira. Deus foi substituído pelo homem. Uma era moderna da atividade humana, da consciência de sua capacidade de conhecer e transformar a natureza e a sociedade.

Para superar esses planos modernos, de emancipação humana, a CNBB, com dou trina social específica, elabora outro, humano-divino, cognominado, projeto-cristão. Aqui Deus se destacou centro de todas as coisas e ela própria centro do mundo. Projeto cristão, também pautado na dimensão do trabalho, mas de origem divina, mística e supersticiosa, dependen te das potências e interferências celestiais.

Dentro desse quadro, criou-se uma diversidade de possibilidades para, “via colonial”, nesta tese, se abordar o entendimento do discurso político da Igreja, enraizada no mundo material e no mundo espiritual da sociedade humana.

Envolvida com essa mesma modernidade – nela exercendo sua tarefa-, a CNBB utilizou-se, de modo ambíguo, as expressões do tempo e a ela se opôs, para se auto-reproduzir em suas relações com outros homens. Condicionada, assim, ao movimento histórico, a Igreja é permeada, inevitavelmente, pelas contradições e conflitos por conta mesmo da formação social em que está inserida.

A tese foi desenvolvida em quatro partes, delineadas em onze capítulos. Atêm-se especialmente ao nível da análise imanente, a insistência maior percorrida em todos os momentos da tese: ser a ação política da CNBB uma relação dialética porque- numa certa perspectiva -, se deu num movimento real de conflitos e contradições.

De outro, é uma relação efetivada sem deixar de evocar a tradição de sua infinitude, sem esvaziar-se de sua invisibilidade. De Deus. Assim, de acordo com novos acontecimentos da História, a CNBB não conseguiu falar da modernidade – do capitalismo e do socialismo-, sem o transcendente, sem a tradição. Ela não ultrapassou a modernidade.

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