Por que e o que é uma Filosofia da Medicina? [Estudos e Pesquisas em Bioética]

by Francisco on segunda-feira, 13 de junho de 2011

por Francisco Antônio de Andrade Filho



 



O melhor médico é também um filósofo (Galeno).

Na discussão sobre bioética, a temática de equiparação entre o médico e o filósofo, da relação Medicina-filosofia, na integração de seus saberes, pode, talvez, suscitar algum questionamento importante, principalmente, quando, em nossos dias, a evolução dos aparatos médicos é tão grande, que temos, muitas vezes, vontade de superar a facticidade humana e instaurar um reino de utopias, de "preocupações e razões de esperança", no qual, pela ajuda da técnica e do desenvolvimento científico, o homem possa desafiar a morte. Para isso contribuem, sem dúvida, as excentricidades que os meios de comunicação, todos os dias, veiculam, como também um desejo humano de prolongar a existência e superar a doença.

Não é nossa intenção, aqui, discutir a questão tal como ela se apresenta no senso comum da apreensão quotidiana, nem dar razão a um delírio humano romântico que chega às raias da (des) razão, mas, ao contrário, trazer uma contribuição para a história da bioética que, por sua vez, está ligada à história da Medicina e esta, à antropologia filosófica. Há, incontestavelmente, uma enorme curiosidade arraigada em nosso inconsciente, sobre a possibilidade da superação de nossos limites: uma nova esperança de vida. E uma determinada concepção de filosofia e de ciência fez uso desse lugar comum. Queremos mostrar aqui alguns momentos históricos da Medicina e, como tal, Medicina se liga ao conjunto de um saber filosófico que pressupunha um modelo bem concreto de homem e de moralidade. Enfim, pretendemos indicar a compreensão da Ética da Vida - Bioética, ou de sua negação, por uma "Medicina infalível" ou por uma filosofia inútil, sem razão e sem esperança, de uma " bios sofia", de um saber sem vida. Não é apenas uma "rede da vida" jogada, lançada só na " bios sofia", com base em teorias organicistas, mas Estudos e Pesquisas Integradas em Bioética: um novo paradigma da relação entre ciência e tecnologia.

A base da Medicina na Antiguidade era a doutrina de Hipócrates, somada à de Platão, à de Aristóteles e à de outros clássicos da sabedoria antiga. Os médicos da escola hipocrática tinham grande facilidade para o diagnóstico e chegaram a determinar importantes procedimentos da Medicina, como a enfermidade renal e a adenite dos órgãos peritoniais.

Escritor de talento extraordinário, Platão nos deixou, entre seus diálogos, o Banquete ou em grego, "Symposion". Aqui, vemos uma rica aproximação da Filosofia com a Antropologia médica. No diálogo com o convidado Pausânias, Erisímaco toma a palavra e pensa a construção do saber filosófico integrado ao da Medicina. Expressa desta forma:



“Sim, há dois Eros. Médico, eu o sei, pois ele não se ocupa apenas dos corpos, mas também das almas. Médico, pois sei que Eros é mais vasto, que seu poder não se limita aos homens, mas estende seu império a todos os seres. O que é Eros? A harmonia e a união dos contrários, a atração ordenada dos corpos. Por isso, a Medicina - arte da amizade entre os humores e os elementos no corpo e na alma - é a primeira ciência do amor [...] Eros é a força cósmica, universal, que aplicada para o bem, nos traz a felicidade perfeita, a paz entre os homens e a benevolência dos deuses” Uma terceira figura clássica da Medicina antiga é Aristóteles, para quem, o problema do movimento é central, não só no que diz respeito à Física e à Metafísica, como também na análise do corpo humano. Na perspectiva aristotélica, o coração é a sede do movimento do corpo, a parte em que a alma comunica ao organismo a sensibilidade e o próprio movimento, a própria vida. O coração é o que se forma, por primeiro, no embrião, é o princípio da vida no sentido cronológico, lógico e ontológico. Nele, os seres vivos possuem um princípio vital formativo que justifica sua organização.”




Estude e Pesquise mais:
Platão. O Banquete, São Paulo: Abril Cultural, 1993, Coleção Os Pensadores.
Aristóteles. Ética a Nicômaco. São Paulo: Nova Cultural, 1987.

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