Quando a Profecia é Silenciada, as Pedras Gritam!
by Francisco on segunda-feira, 12 de abril de 2010
por Jorge Vieira | Blog do Jorge
Nos dias, a pauta recorrente da mídia nacional e internacional, trata de denúncia de pedofilia praticada por membros da hierarquia da Igreja Católica. Pela produção dos noticiários, os fatos aparecem por vários os lugares e em todas as épocas. Parte da mídia, principalmente a ala das igrejas neo-pentecostais, transformaram os casos em matéria de propaganda religiosa e ideológica.
Entretanto, a mais alta hierarquia católica, em nível da Cúria Romana e local, não consegue colocar as questões de forma plausível e convincente. E isto tem provocada no seio da sociedade e, especialmente, entre a comunidade católica uma profunda desinformação, confusão e desolação. O bombardeio midiático atormenta, deprime e decepciona, mas a falta de orientação e de firmeza eclesial e teológica incomoda mais ainda.
Historicamente, a Igreja nasceu do martírio do próprio Jesus Cristo e de seus seguidores, por defenderem a causa do Reino de Deus e da Justiça. Do sangue dos mártires jorrou a força do cristianismo contra poderosos e dominadores. Do Concílio Vaticano, pastores e teólogos, movidos pela do Espírito, resgatou a Igreja voltada para os problemas do mundo e para a causa do Reino: a Justiça dos pobres, dos marginalizados e excluídos pelo sistema dominante. A Igreja renasce despojada do ufanismo, das vestes pomposas, dos intramuros palacianos e das benesses concedidas pelos poderosos.
A Igreja latino-americana e caribenha, nas Conferências de Medellin e Puebla, humilde e caminhante, se volta comprometida com a causa dos pobres e da justiça. Os pastores deixam a comodidade de seus palácios episcopais e se embrenharam pelos sertões, matas, floresta e rios afora, para ouvir os clamores do povo. O testemunho da missão motivou o surgimento de novas lideranças e comunidades e a construção de uma nova sociedade. Basta lembrar dons: Hélder Câmara, Oscar Romero, Pedro Casaldáliga, Paulo Evaristo Arns, e tantos outros.
Lamentavelmente, nas últimas três décadas, a Igreja da Utopia do Reino, seguidora do Jesus histórico e inserida no meio dos pobres, foi violentamente silenciada. Em contraposição e paralelamente, foi incentivado o surgimento de movimentos de cunho de libertação individualistas e espiritualista, com grande enfoque no moralismo e na administração sacramental. Nesse contexto revisionário, a formação do clero e, consequentemente, dos membros comunidades, é direcionada às preocupações ad intra, de cunho administrativo e burocrático, a igreja dos palanques eletrônicos e dos pregadores midiáticos.
Com o silêncio das Grandes causas do Reino, a profecia quase que desaparece, destacando-se as denúncias contra segmentos do clero envolvidos com casos de pedofilia, homossexualismo ou heterossexualismo.
É nesse contexto que a igreja deixou-se abater. Atitude que, em hipótese alguma, corresponde à sua ação missionária. Na América Latina e, especialmente, no Brasil, o papel da Igreja é um dos mais marcantes e destacados na construção do que há de mais digno e valoroso na história desse país.
E, no caso das acusações que pesam sobre alguns membros da hierarquia, se comprovadas, devem ser julgadas e, os envolvidos, penalizados de acordo com os seus atos cometidos. Mas é inadmissível que, sob pena de agir de má-fé, penalizar a Instituição e a multidão que dela faz parte. E, que das cinzas ressoem os gritos dos profetas, o compromisso com os pobres e a força da justiça do Reino de Deus.
* Jorge Vieira é Jornalista.
---
Comentários:
(por Francisco Antônio de Andrade Filho)
I – O jornalista Jorge Vieira discute as denúncias de pedofilia praticada pelos padres da Igreja Católica. De um lado, critica a dubiedade e o silêncio da hierarquia eclesiástica. De outro percebe a postura da propaganda religiosa e ideológica por parte da ala das igrejas neo-pentecostais. Sem deixar de criticar os erros do poder sacro da Igreja Católica, ele exalta os seguidores da teologia latino America de libertação e suas vivências espirituais dos cristãos.
II – Na verdade, surge um debate importante para os dias de hoje e no mundo religioso. Com o nascimento da teologia de libertação, pesquisava-se uma nova práxis da fé cristã que fosse fator de transformação e libertação. Exigia-se uma nova prática da mensagem do bem em contraposição a do mal. Surgia um novo tipo de inteligência da fé, uma reflexão sobre os compromissos assumidos pelos cristãos em situação de conflitos sociais. . As injustiças, a miséria, a falta de respeito para com a riqueza social e as liberdades da coletividade, praticadas pela oligarquia política e religiosa levam a América Latina tomar consciência de seus direitos e deveres.
III – Na atualidade, porém, há um grito de indignação ética contra os abusos e as injustiças dos poderes sacros da Igreja Católica. Ela ainda não se deu conta que os tempos mudaram. Ela não consegue mais camuflar os graves crimes de pedofilia, entre outros, cometidos pelos Padres, Monsenhores, Bispos, Arcebispos, Cardeais e Papas. Eles silenciam crimes sagrados no confessionário. Enquanto isso, as tecnologias da inteligência descobrem e divulgam em questão de segundos para toda aldeia global.
III – Na verdade, esses herdeiros dos poderes sacros e podres da Inquisição Medieval, representam Deus neste massacre de violência sexual. Deus? Deus é vida. Violência daqueles eclesiásticos é a encarnação do mal, inferno na terra. E por que eles, no confessionário, absolvem pedófilos pedófilos, estupradores de crianças, meninos e mocinhas adolescentes, e quando as engravidam cometem outros crimes?
IV -De outro, autoridades políticas, filósofos e teólogos; fiéis católicos ou não, representantes de diversos movimentos sociais e feministas manifestam indignação ética contra a ingerência e desobediência de eclesiásticos da Igreja Católica nas leis constitucionais do Estado laico. Estranha conduta essa, prioridade ao Código do Direito Canônico? E onde fica o Direito Civil da Ordem Constitucional no Brasil?
V – Quando da visita do Papa Bento XVI a este País, maio de 2007, os católicos curvavam-se aos pés e veneravam o pastor-magistrado na cidade paulista. É o poder eclesiástico, identificado como autoridade divina. É o mito dos pastores divinos. E, segundo Platão, é o Deus-Pastor em sua relação com o rebanho, dando-lhe e garantindo uma terra. Exerce o poder sobre ele. Reúne, guia e conduz seu rebanho. Garante a salvação. Toma decisões no interesse de todos. Pois, segundo o mesmo filósofo, “… em se tendo por pastor a divindade, a humanidade não precisava de constituição política”. Deus providenciava tudo: frutos da terra, moradia, vida. Não era preciso se preocupar com nada. Deus satisfazia suas necessidades materiais.
VII - Enquanto isso, o atual Papa e outros da alta hierarquia - quais reis tiranos -, existem maus e cruéis pastores que dispersam o rebanho, deixam morrer de fome e sede, tosam-no exclusivamente para obter lucro.
VIII – Os pedófilos eclesiásticos esquecem que Deus - e Deus somente -, é o Pastor de seu povo, o único e exclusivo pastor autêntico. Seus fiéis perdem a confiança nesses falsos pastores. Abandonaram sua missão divina: reunir o rebanho, velar por ele, conhecê-lo. Prestar atenção e perscrutar cada um deles.
IX - Para quem quiser discutir mais, consulte:
- Teologia latino-americana de libertação em diálogo com a dos conquistadores
- Bento XVI no Brasil: poder magistrado na cidade
- CNBB: O Poder e o Sagrado na Cidade
- Indignação Ética Contra a Violência do Arcebispo de Olinda e Recife
- Um comentário • Category: Igreja Católica, Papa, pedofilia, poder sacro, profecia, rebanho, Teologia da Libertação, tudo
- Compartilhe: Twitter, Facebook, Delicious, Digg, Reddit

Um comentário
É lastimável tudo o que tem sido publicado sobre os padres católicos. Nesta hora, fala-se tanto dos maus, que agente até esquece os bons. Foi ótimo Jorge Vieira nos lembrar de Dom Helder, Evaristo Arns...
Também penso que, ao absolverem pedófilos, estrupadores, criminosos, além de tudo mais, os padres tornam Deus parceiro de facínoras...
É bom tambem, agente ter em mente, que por trás do confessionário, há um homem... não um santo, não um Deus... não alguém que não peca e que pode nos absolver dos nossos erros. Portanto, todo cuidado é pouco. De repente, na busca do céu, agente encontra o inferno.
"O único e exclusivo pastor autêntico do seu povo é Deus."
by Rosilda on 21 de abril de 2010 às 11:46. #