Adeus, Vida: espiritualidade da sobrevivência pós-morte em memória do deputado Adão Pretto (PT-RS)

by Francisco on sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Francisco Antônio de Andrade Filho

Nesta quinta-feira, no início da manhã, aos cinco de fevereiro de dois mil e nove, morre o deputado federal Adão Pretto – PT/RS. De todos os recantos do Brasil, instituições políticas, religiosas e movimentos sociais prestaram-lhe justas e sinceras homenagens. Reconheceram essa autoridade política, revestida de virtudes morais e cívicas a serviço do povo brasileiro. Lealdade aos seus princípios de vida; firme no combate às injustiças cometidas contra os trabalhadores rurais; a garra e a dedicação, eis as virtudes políticas, entre outras, de Adão Pretto.

Nesse sentido, o Movimento Nacional de Direitos Humanos, em sua nota de pesar pela morte do deputado falecido, escreve:



Sua voz firme, às vezes solitária no parlamento brasileiro, pelos sem terra, pelos pobres, pelos movimentos populares, era para todos quanto atuam na defesa dos direitos humanos deste país uma certeza de que ali não estava somente um companheiro de luta.




Ao este político de qualidade, dedico este momento de meditação sobre a espiritualidade da sobrevivência pós-morte.

Compreender a vida do ser humano é compreender seu sentido. Perguntar pelo sentido último da vida é colocar o homem numa atitude de reflexão de sua grandeza. É filosofar a vida e a morte. É encontrar e simbolizar suas condições existenciais de vida, aqui e depois da morte. É fazer viver sua vida, ir em frente, agir, modificar, transformar, buscar objetivos concretos e espirituais do ser humano.

Nos dias de finado, os vivos povoam a Cidade dos Falecidos, onde os vivos se encontram com os defuntos. Almas vivas se abraçam com as imortais. Muitos chorando, não pelos defuntos, mas por si mesmos, os vivos. Derramam lágrimas não em cima dos defuntos, mas nas suas próprias faces.

E à luz da Filosofia, indagamos: por que reverenciamos os mortos? O filósofo, Dr. José Luiz Ames, comenta assim, no meu site:



É precisamente aqui que entra a experiência da morte: na experiência do limite. Na morte nos deparamos com uma situação que nos atinge visceralmente, que toca a totalidade de nosso ser. Diante da morte, a vida se torna pergunta. Enquanto para a satisfação do desejo dependemos de nós próprios, a morte nos aponta para uma situação diante da qual somos impotentes. A morte atesta a impossibilidade do controle humano sobre a vida.




A sobrevivência depois da morte é um problema tão antigo quanto a própria história do homem. Foi uma preocupação constante do homem de todos os tempos.

Os mitólogos explicaram-na numa linguagem fantasiosa e que foge ao espírito científico do homem atual. Os teólogos, numa dimensão de fé, encontraram na Bíblia os mais sagrados e seguros argumentos a favor da imortalidade.

Seja como for, a verdade é que o ser vivo nasce para a vida despontando para a morte. Morte e vida de jovens e velhos representam duas faces da mesma realidade do ser-no-mundo. Só o homem tem consciência de ser-para-a-morte, desse inevitável destino do túmulo que lhe aguarda: sufocante, solitário, silencioso, escuro e úmido. Isso é uma tragédia para o homem que tem dentro de si mesmo uma ânsia incontida de se perpetuar no tempo, uma sede irresistível de não morrer. Enquanto isso, um convite à reflexão: sentir as palavras de William Blake:

Ver a eternidade num Grão de Areia
E o Céu numa Flor Agreste.
Segurar o Infinito na palma de sua mão
E a Eternidade em uma hora.



Mas, morte tem sentido para a vida. Não há vida sem morte; nem morte sem vida. E a eternidade existe. O infinito no finito-tempo. A vida continua depois da morte. Aqueles que sabem viver bem, se tornam imortais. Moisés, Lao-Tsé, Sócrates, Jesus, Tomás de Aquino, Giordano Bruno, Gandhi, Martin Luther King, Vladimir Herzog, Chico Mendes, Adão Pretto, dentre outros, brancos, amarelos, pretos, pardos, mulatos, índios. Todos vivem. Todos morrem e vivem.

Pierre Fournier, violoncelista francês, disse certa vez sobre Bach:



Admirável síntese do divino e da harmonia que reina no coral “Eu te pertenço, senhor”-da Missa em si bemol menor- hino que sobe da humanidade até Deus, cria uma espiritualidade que apazigua toda dor, apaga toda amargura, e torna mais suave a nossa passagem pela Terra, dando-nos a fé em Deus e a crença em nossa felicidade eterna




A morte é um acontecimento necessário para dar ao EU pessoal possibilidade de um pleno desabrochar. A semente que, para poder germinar a sua vida e suas potencialidades.

Leia Mais: Andrade Filho "Ética e Espiritualidade no Final da Vida".

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