Mãe do PAC: Deixem a mulher trabalhar

by Francisco on quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Francisco Antônio de Andrade Filho


Foi bem mais incisiva durante este mês de fevereiro. A imprensa falada e escrita, em jornais; canais de Rádio, TV e Cibernética anunciam boas novas do Plano de Aceleração do Crescimento – PAC.

De um lado, surge uma onda da perversidade do Partido da Imprensa Golpista – PIG contra o trabalho, eticamente gestado pela Dilma Roussef, ministra-chefe da Casa Civil. Enquanto isso, uma voz soberana ecoa suave e de modo uníssono, da boca dos 84% dos brasileiros, anunciando: “Deixe a Mulher trabalhar”. E a “Mãe do PAC”, sabiamente se fortalece.

Neste espaço de tempo, de manhã à noite, notícias alvissareiras estimulam o trabalho da Mãe do PAC. Qual carnavalesca em Recife - pulando e dançando cheia de vida no Marco Zero e no Galo da Madrugada -, ela tem consciência do resultado de seu trabalho junto ao Presidente da República do Brasil.

A ministra lê e escuta a resposta do Sérgio Cabral na Veja: “O PAC, com seus quase R$ 600 bilhões, é um instrumento poderoso nesse sentido... O Brasil inteiro está se beneficiando com o PAC e eu não tenho do que me queixar”.

De outro, consta-se que o Brasil ganha credibilidade mundial diante da crise do capital global. Os blogs Desabafo Brasil e Dilma Presidente, entre outros, divulgam as boas notícias: desoneração tributária, estímulo radical ao mercado interno, investimento público sem restrições em infra-estrutura e, principalmente, redução drástica dos juros e mais distribuição da riqueza social.

Entrementes, a imprensa golpista faz questão de estimular a oposição a destruir o trabalho do PAC. Coloca rolhas nos ouvidos e vendas nos olhos, de homens e mulheres biltres. Incapazes de ouvirem o refrão “Deixem a mulher trabalhar”; e verem as obras da “Mãe do PAC”, os opositores de extrema direita decidem impetrar uma representação no Supremo Tribunal Federal (TSE) por campanha fora de época contra a gestora daquele programa. São inimigos do trabalho humano. Alienadores do Progresso do Brasil.

Frente a estas realidades, de construtores benéficos do PAC, de um lado – e, por outro, destruidores perversos contra o mesmo programa – penso que urge um momento de meditação. Para tanto, tomo a liberdade de dizer que as palavras-chave desta reflexão, são PAC, Trabalho, Educação. O PAC está intimamente ligado ao trabalho humano, e pedagogicamente à educação. É possível pensar-se o trabalho como expressão fundante do homem – ser ético e de direitos à vida?


Eis alguns tópicos para uma semana de meditação diária. Para cada dia, uma. E em dois dias da semana, selecionar dois para completar a semana. Relaxe. Atentos, e de olhos abertos, faça sua leitura. De olhos fechados, veremos melhor o que se leu.



É no próprio homem que, em seu ato fundamental do trabalho, potencializa o caminho da humanização. Sabe-se que o trabalho é considerado, aqui, como ação transformadora das realidades, numa resposta aos desafios da natureza, relação dialética entre teoria e prática. Percebe-se que, pelo trabalho, o homem se autoproduz, alterando sua visão de mundo e de si mesmo: do mundo cultural-educativo, do mundo econômico, político, social, com perspectivas éticas e com direitos econômicos da humanização, como prática do capital global. Com o trabalho o homem se afirma e se nega. Aliena-se e liberta-se.

No entanto, segundo Marx, n’A Ideologia Alemã, não se pode pensar, então, um projeto de emancipação humana desligado da realidade, “de que não é possível conseguir uma libertação real a não ser no mundo real e com meios reais”, nem libertar o homem enquanto ele não desfrutar do trabalho como desenvolvimento de “suas forças físicas e espirituais”, enquanto não controlar o processo social em suas relações reais de existência, entabulando relações práticas com a produção de bens coletivos, sejam materiais, sejam espirituais, de relações sociais entre homens e não relações entre mercadorias, entre coisas; e em benefício de todos.

É o modo de vida material que condiciona o processo de vida social, política e espiritual. Não “é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, inversamente, o seu ser social que determina a sua consciência” (Karl Marx). É a partir do ser social que vamos entender os processos sociais da globalização capitalista numa perspectiva do trabalho humano.

DILMA ROUSSEFF, a exemplo do LULA, o ”Sem medo de ser feliz – a esperança vence o medo” -, desperta nos cidadãos, coragem, confiança, respeito e responsabilidade junto ao eleitorado da soberania popular. Os dois, apoiados por essa autoridade política, com a ética das virtudes, garantem a beleza de se viver bem em nossa Pátria.


O que mais nos interessa na Dilma Rousseff é a beleza de seu espírito. Se ela, depois da cirurgia plástica, continua bonita, é porque essa beleza já existe dentro dela. Da sua alma, flui uma nova roupagem do belo num corpo saudável. A “Mãe do PAC” é mais bela ainda, de corpo e alma, com a prática das seguintes virtudes: autoconfiança, generosidade, conduta ética, tolerância, espírito alegre, concentração e sabedoria.




Leia mais: Relação entre trabalho e educação

Todos os Carnavais

by Francisco on domingo, 22 de fevereiro de 2009

Clóvis Campêlo


Atrás de Vassourinhas só não vai quem já morreu. E como eu sou vivo, oi, tim e claro, estarei lá. Já comi o meu pão com brometo logo cedo, pra induzir ao barato. O pão que o diabo não amassou. Agora só resta cair em campo e registrar a folia com a máquina e as retinas.

Pra falar a verdade, de folião só tenho o olhar e a vontade. Falta-me o fôlego, o resfolegar, o pique. Na verdade, gosto de aprisionar o carnaval nas molduras das minhas fotografias, nas metáforas dos meus textos, nas imagens definitivas do passado.

Mas o carnaval não sou apenas eu. O carnaval é todo um contexto, um pretexto pra se quebrar o nexo e liberar os mais sinceros anseios.

Na verdade, o carnaval é muito mais do que o baticum insistente das alfaias, dos tamborins, dos bumbos e taróis. O carnaval é a porta de entrada do éden, a quebra dos protocolos, um ensaio malamanhado da liberdade. O carnaval é tudo isso.

Mas só vim a perceber essa lado das coisas a algum tempo atrás. Antes, aprisionado pelos meus sentimentos de culpa pequenos-burgueses, achava que o carnaval era o ópio do povo. E enquanto o povo ria na sua alegria vadia, eu chorava pensando em como seria bom libertá-lo daquela alienação degradante. Para isso valia-me de tudo: os ditos bíblicos, os dogmas marxistas, a histeria freudiana.

Mas, quiseram os deuses que eu sobrevivesse e encarasse de frente a minha covardia diante da felicidade. Ser feliz só nos custa a tristeza, sussurou-me um anjo escroto no dia em que me perdi de mim mesmo. E naquele caminho torto, troncho e trôpego, brilhou uma luz no fim do túnel, brilhou a estrela dalva sobre a minha cabeça frágil. Outro anjo safado, executou uma música apressada em seu clarin, uma música repleta de mínimas e semimínimas, e apresentou-se um outro cenário à minha mente conturbada. Enxergar tudo isso custou-me os olhos da cara. Foi caro. Foi claro. Foi límpido.

Mas, livrei-me da canga e das cangalhas, pulei que nem uma guariba, cheguei em maracangalha. E lá, amigo dos rei e dos poetas, ensarilhei as armas e ensaiei o hino dos novos tempos. Subi e desci ladeiras, acompanhei elefantes e pitombeiras, descansei na praça do jacaré, cercado de anjos cretinos, revolucionários, libertários.

E quando os meus pés cansados sentiram o calor das areias mornas da praia do carmo, percebi que a transformação se dera de maneira irrevogável, irresistível, irreversível.

Despi-me dos pudores remanescentes e mergulhei no mar de tranquilidade que formou-se no meu íntimo.


Recife, carnaval 2009

Discurso de Lula na Aldeia Global: Ganância de lucro corrói o Capitalismo

by Francisco on domingo, 15 de fevereiro de 2009

Francisco Antônio de Andrade Filho

Releio e interpreto dois discursos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Quais rios fluentes e limpos, sua fala expressa a riqueza de um poder com ética. Poder forte, garantido pela soberania popular de 84% dos brasileiros. Poder verdadeiro, invejado e, às caladas da noite, perseguido por uma minoria dos demos-tucanos, iluminados pela perversidade de seu PIG. Dois discursos, recheados de amor à República brasileira.

Na abertura da 62ª Assembléia-Geral das Nações Unidas, Lula enfatiza



“O combate à fome e à pobreza deve ser preocupação de todos os povos. É inviável uma sociedade global marcada pela crescente disparidade de renda. Não haverá paz duradoura sem a progressiva redução das desigualdades”.




E reforça, dizendo:



“Há preços que a humanidade não pode pagar, sob pena de destruir as fontes materiais e espirituais da existência coletiva, sob pena de destruir-se a si mesma. A perenidade da vida não pode estar à mercê da cobiça irrefletida”.



Já o Discurso/G 20, 8 de Nov. de 2008, Lula, pela experiência de sua vida política acrescidas com suas virtudes pessoais e divinas, vê claramente a alavanca destrutiva da ganância de lucro do capital global, assim:



“Mas esta é uma crise global, e ela exige soluções globais. Este é o momento de formular propostas para uma mudança substantiva na arquitetura financeira mundial.A crise nasceu nas economias avançadas. Ela é conseqüência da crença cega na capacidade de auto-regulação dos mercados e, em grande medida, na falta de controle sobre as atividades de agentes financeiros.Por muitos anos especuladores tiveram lucros excessivos, investindo o dinheiro que não tinham em negócios mirabolantes. Todos estamos pagando por essa aventura. Esse sistema ruiu como um castelo de cartas e com ele veio abaixo a fé dogmática no princípio da não intervenção do Estado na economia”.




Estaria aqui, a ganância de lucro se diluindo no capital global? Seria oportuno, lembrar o que afirmou Fernando Braudel:

“O Capitalismo só tem êxito quando começa a ser identificado com o Estado, quando é ele o próprio Estado”.




De um lado, o acesso à concepção de globalização como prática. Penso poder tomar o capitalismo, assim, como via de acesso à globalização. Pois, de nenhuma criação histórica pode se dizer com mais propriedade que seja tipicamente moderna como do modo capitalista de reprodução da riqueza social e inversamente, nenhum conteúdo característico da vida moderna é tão essencial para defini-la como o capitalismo.

Esse, o caráter peculiar da “Fábrica Global”, sua dimensão ética, configurada pelo capital, de mudança radical revolucionária da história, abre caminho à “emancipação social” do homem, conforme pensa Marx, é “a necessidade de um mercado constantemente em expansão que impele a burguesia invadir todo o globo”.

Realidade efetiva e ativa da riqueza pós-moderna, o capitalismo, porém, desvela processo limitado e contraditório. Indispensável para a existência concreta da riqueza social no mundo de hoje, a mediação capitalista, contudo, corrói. Dilui-se. Só tem êxito quando começa a ser identificado com o Estado, quando é ele próprio o Estado. Não se afirma como condição essencial e única de sua existência.

Neste sentido, nem Hans Kelsen, nem Thomas Hobbes e John Locke; com suas respectivas pretensões - de “Estado mundial e Universal”; da “entidade soberana - deus na terra”, da “sociedade global” -, não explicam a novidade real dos processos históricos que estamos testemunhando.

Surge, então, um novo paradigma de “relações globais de poder” de uma forte união do poder econômico ao poder político para materializar o projeto do capital global.

É possível pensar e praticar “o mundo como pode ser: outra globalização”. Um mundo possível, outro mundo mediante uma globalização mais humana: projeto de emancipação humana a partir das condições materiais e espirituais da própria globalização. É possível, sim, a aldeia global com ética.

Essa possibilidade de produção de um novo discurso pedagógico, quando o homem desfrutar do trabalho como desenvolvimento de “suas forças físicas e espirituais”, no controle do processo social em suas relações reais de existência – nas palavras do presidente – Democracia e paz significam que as pessoas têm que comer, tomar café, almoçar, jantar. Sem isso não haverá democracia e paz

Essa nova globalização é possível quando surgirem relações práticas com a produção de bens coletivos, globalizados, quer materiais, sejam espirituais, de relações sociais entre os homens e não relações entre mercadorias, entre coisas, e em benefícios de todos.

Só então “dentro da comunidade terá cada indivíduo os meios de cultivar seus dotes e possibilidades em todos os sentidos”. É a globalização a ser realizada e regida pelo trabalho. A construção da “Aldeia Global” será possível com a emancipação humano-social, uma forma de sociabilidade, em que o desenvolvimento das forças globalizadas do capital atenda às necessidades de todos. E o homem conquistará sua Humanidade.


 



Veja também: Desabafo Brasil e Blog da Dilma

O Frevo de Rua

by Francisco on quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Clóvis Campêlo


O frevo é pernambucano e nasceu pelas ruas do Recife, misturando polca, dobrados, maxixes, tangos e quadrilhas.

O frevo é pernambucano e degenerou-se a partir das bandas marciais que existiam no Recife no século XIX.

O frevo é pernambucano e teve a sua partenidade concebida pela banda do 4º Batalhão de Artilharia, o Quarto, e pela banda da Guarda Nacional, a Espanha de Pedro Garrido.

O frevo é pernambucano e na sua concepção despretensiosa e natural ousou misturar a dança e a música.

O frevo é eminetemente urbano.

Quem diz isso não sou eu. São vários pesquisadores, pernambucanos ou não. Entre eles, José Ramos Tinhorão.

No frevo, os dobrados desdobraram-se e foram sendo acelerados. Primeiro, os passos dos capoeiristas que acompanhavam as bandas e disputavam os espaços das ruas. Depois, as notas musicais, mais rápidas, mais curtas e mais altas. O frevo tomava corpo e forma. O frevo mostrava a alma.

O frevo sempre foi do povo. Primeiro do lumpen que acompanhava as orquestras. Depois, dos trabalhadores urbanos mais organizados.

Acompanhemos Tinhorão: "Até o início da século XX, as marchas que começavam a ser frevos, antes mesmo do aparecimento desse nome, ainda não possuíam o caráter explosivo que o frevo de rua adotaria posteriormente.

Quando, porém, a partir do início do século, são rompidas as relaçõpes urbanas algo feudais do Recife pela presença das indústrias têxtil e açucareira, e a cidade se enche de novas camadas de trabalhadores procedentes da zona rural, dissociados das tradições locais, esses moradores de mocambos da zona alagada permitem o advento do frevo de rua estritamente orquestral, destinado pura e simplesmente à cega libertação de energia dos pés-de-poeira.

Para a música produzida pelas fanfarras em suas passeatas carnavalescas isso queria dizer que não havia mais qualquer compromisso com o repertório ora marcial, ora foclórico herdado do século XIX, e os metais podriam enfim explodir em colcheias e semicolcheias nas introduções que desenhavam uma melodia marcada por síncopas, enquanto o ritmo, desprezando as medidas de tempo, produzia a ginga visivelmente inspirada nas desarticulações do corpo dos dançarinos entregues à loucura do passo."

Ou seja, o povo criou o frevo e o povo o libertou das amarras iniciais. O frevo sempre foi do povo. E, passo a passo, a liberdade do passo foi sendo inventada, ordenada e consentida. O frevo sempre foi liberdade.

Falo do frevo de rua, é claro, e dentro das concepções do crítico e estudioso paulista. As opiniões de Tinhorão estão no livro Pequena história da música popular (Ed. Vozes, petrópolis, 1974, pág. 137/146). São interessantes e polêmicas quando trata de analisar as outras modalidades do frevo (frevo-canção e frevo-de-bloco).

Portanto, agora, quando novamente se aproxima o carnaval, vale a pena lembrarmos do ritmo autenticamente pernambucano.

Por enquanto, porém, falemos da invenção e das evoluções do frevo de rua, o frevo que encantou Tinhorão.

O resto virá depois.

Adeus, Vida: espiritualidade da sobrevivência pós-morte em memória do deputado Adão Pretto (PT-RS)

by Francisco on sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Francisco Antônio de Andrade Filho

Nesta quinta-feira, no início da manhã, aos cinco de fevereiro de dois mil e nove, morre o deputado federal Adão Pretto – PT/RS. De todos os recantos do Brasil, instituições políticas, religiosas e movimentos sociais prestaram-lhe justas e sinceras homenagens. Reconheceram essa autoridade política, revestida de virtudes morais e cívicas a serviço do povo brasileiro. Lealdade aos seus princípios de vida; firme no combate às injustiças cometidas contra os trabalhadores rurais; a garra e a dedicação, eis as virtudes políticas, entre outras, de Adão Pretto.

Nesse sentido, o Movimento Nacional de Direitos Humanos, em sua nota de pesar pela morte do deputado falecido, escreve:



Sua voz firme, às vezes solitária no parlamento brasileiro, pelos sem terra, pelos pobres, pelos movimentos populares, era para todos quanto atuam na defesa dos direitos humanos deste país uma certeza de que ali não estava somente um companheiro de luta.




Ao este político de qualidade, dedico este momento de meditação sobre a espiritualidade da sobrevivência pós-morte.

Compreender a vida do ser humano é compreender seu sentido. Perguntar pelo sentido último da vida é colocar o homem numa atitude de reflexão de sua grandeza. É filosofar a vida e a morte. É encontrar e simbolizar suas condições existenciais de vida, aqui e depois da morte. É fazer viver sua vida, ir em frente, agir, modificar, transformar, buscar objetivos concretos e espirituais do ser humano.

Nos dias de finado, os vivos povoam a Cidade dos Falecidos, onde os vivos se encontram com os defuntos. Almas vivas se abraçam com as imortais. Muitos chorando, não pelos defuntos, mas por si mesmos, os vivos. Derramam lágrimas não em cima dos defuntos, mas nas suas próprias faces.

E à luz da Filosofia, indagamos: por que reverenciamos os mortos? O filósofo, Dr. José Luiz Ames, comenta assim, no meu site:



É precisamente aqui que entra a experiência da morte: na experiência do limite. Na morte nos deparamos com uma situação que nos atinge visceralmente, que toca a totalidade de nosso ser. Diante da morte, a vida se torna pergunta. Enquanto para a satisfação do desejo dependemos de nós próprios, a morte nos aponta para uma situação diante da qual somos impotentes. A morte atesta a impossibilidade do controle humano sobre a vida.




A sobrevivência depois da morte é um problema tão antigo quanto a própria história do homem. Foi uma preocupação constante do homem de todos os tempos.

Os mitólogos explicaram-na numa linguagem fantasiosa e que foge ao espírito científico do homem atual. Os teólogos, numa dimensão de fé, encontraram na Bíblia os mais sagrados e seguros argumentos a favor da imortalidade.

Seja como for, a verdade é que o ser vivo nasce para a vida despontando para a morte. Morte e vida de jovens e velhos representam duas faces da mesma realidade do ser-no-mundo. Só o homem tem consciência de ser-para-a-morte, desse inevitável destino do túmulo que lhe aguarda: sufocante, solitário, silencioso, escuro e úmido. Isso é uma tragédia para o homem que tem dentro de si mesmo uma ânsia incontida de se perpetuar no tempo, uma sede irresistível de não morrer. Enquanto isso, um convite à reflexão: sentir as palavras de William Blake:

Ver a eternidade num Grão de Areia
E o Céu numa Flor Agreste.
Segurar o Infinito na palma de sua mão
E a Eternidade em uma hora.



Mas, morte tem sentido para a vida. Não há vida sem morte; nem morte sem vida. E a eternidade existe. O infinito no finito-tempo. A vida continua depois da morte. Aqueles que sabem viver bem, se tornam imortais. Moisés, Lao-Tsé, Sócrates, Jesus, Tomás de Aquino, Giordano Bruno, Gandhi, Martin Luther King, Vladimir Herzog, Chico Mendes, Adão Pretto, dentre outros, brancos, amarelos, pretos, pardos, mulatos, índios. Todos vivem. Todos morrem e vivem.

Pierre Fournier, violoncelista francês, disse certa vez sobre Bach:



Admirável síntese do divino e da harmonia que reina no coral “Eu te pertenço, senhor”-da Missa em si bemol menor- hino que sobe da humanidade até Deus, cria uma espiritualidade que apazigua toda dor, apaga toda amargura, e torna mais suave a nossa passagem pela Terra, dando-nos a fé em Deus e a crença em nossa felicidade eterna




A morte é um acontecimento necessário para dar ao EU pessoal possibilidade de um pleno desabrochar. A semente que, para poder germinar a sua vida e suas potencialidades.

Leia Mais: Andrade Filho "Ética e Espiritualidade no Final da Vida".

Forum de Belém: O Grito de Emancipação Humana da Dilma Rousseff Presidente na “Vox Populi, Vox Dei”

by Francisco on terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Francisco Antônio de Andrade Filho

Aconteceu aos trinta de janeiro de 2009, durante o Fórum Social Mundial em Belém do Pará/Brasil. Ouviu-se um grito de liberdade e uma voz forte dos presentes. Era o grito de emancipação humana da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Enquanto isso, uma multidão de militantes e participantes do Fórum gritavam “Olê, Olê, Olê Olá, Dilmaaaa”. Confirmava a esperança de uma mulher-presidente escolhida pela soberania popular na “Vox Populi, Vox Dei”.

Então, Dilma Roussef pegou o microfone, com voz feminina, recheada de beleza e virtudes, dialoga assim:


Queria dizer a todos vocês, a todas as mulheres, a todas as companheiras, que eu me sinto muito feliz de estar aqui, na tenda dos 50 anos da revolução cubana, que foi um acontecimento que teve um papel histórico na minha geração. Queria saudar minha companheira Ana Júlia. Não é fácil superar preconceitos. Por isso, você, Ana Júlia, você está abrindo o caminho para várias mulheres.



E enfatiza o bom combate de sua experiência de vida em prol da Democracia massacrada pela Ditadura Militar:


Minha militância coincide com o golpe de 64, quando começava uma trajetória, no Brasil, de intolerância, tortura, morte. Este é um processo muito importante, na história do país, porque os militantes que dele participaram saíram não apenas com todas as marcas, algumas físicas: saíram com a certeza da necessidade da construção de uma democracia e da participação [...] Todos aqueles que saíram da luta subterrânea, da clandestinidade, construíram esse momento luminoso da redemocratização. Mudaram, fizeram autocrítica, mas não mudaram de lado.



A esta mulher, dedico um momento de reflexão, de raiz filosófica, sobre a teologia latino-americana de libertação em diálogo com a dos conquistadores, de minha autoria e publicado aqui.

Era a década de 1960. A América Latina tomava consciência de sua dependência econômica, política e religiosa. Desencadeava-se um processo de libertação nos diversos segmentos da sociedade. A Igreja, à luz de suas convicções religiosas, marcada pelos avanços científicos deste tempo, pesquisava uma nova práxis da fé cristã que fosse fator de transformação e libertação. Exigia-se uma nova prática da mensagem do bem em contraposição a do mal. Surgia um novo tipo de inteligência da fé, uma reflexão sobre os compromissos assumidos pelos cristãos em situação de conflitos sociais. Era a teologia latino-americana que nascia vinculada à história da tirania e da opressão praticada em nome democracia neste continente.

De outro, os conquistadores medievais e modernos defendiam o conceito tradicional de teologia como ciência que elabora racionalmente verdades da fé. Procuravam compreendê-las sistematicamente e tirar delas novas conclusões. Camuflavam as realidades da vida. Impunham sua única “sabedoria” racional. Criavam o mesmo deus de uma maneira acadêmica, dentro de uma sala de estudo, de um escritório, de um Palácio Episcopal ou de um Pontífice de Roma, fora de todo compromisso histórico e cientificamente observado. E, nessa postura, permanecem até hoje e sempre restauram quando novos interesses ideológicos sejam necessários para eles.

Em diálogo com essa teologia dos conquistadores de Roma e de alhures, a teologia latino-americana de libertação tem um olhar diferente para este mundo diferente. Nessa época até os nossos dias, ela é reflexão das situações históricas reais. É “ato segundo”. Nasce da prática. A teoria vem depois. O ato primeiro é o agir ético e responsável com os seres humanos, com sua vida, com seus sofrimentos, seu bem-estar econômico e político. A teologia vem depois e é uma reflexão que supõe o ato primeiro de compromisso libertador do homem que é história, broto da natureza e de sua cultura inteligente. Não é discurso vazio, inacreditável, mistificador. Não “des-realiza” as contradições reais da vida. Não aliena o homem com frases fantasmáticas e grandiloquentes do mundo existente.

Assim, a proposta da referida teologia é a de ser um discurso situado na história em que vivemos. As injustiças, a miséria, a falta de respeito para com a riqueza social e as liberdades da coletividade, praticadas pela oligarquia política e religiosa levam a América Latina tomar consciência de seus direitos e deveres. Trata-se de um estudo crítico sobre a reflexão teológica, a partir da práxis da fé cristã. Não é uma coisa inventada pelos teólogos da libertação. Não é um tema metafísico. É uma prática política, de cidadania, cuja alavanca propulsora é sua religião, seja católica, protestante ou não.

Em oposição, a teologia dos conquistadores, antigos e também os da era digital, dá uma explicação espiritual e ideal aos problemas materiais e reais, volatizando sua densidade material, de modo a transformá-las em entidades espirituais “fora da realidade”. Por isso, essa teologia – a dos poderes celestiais -, opera como abstração do mundo e da história, separação frente à realidade, em suma, como fantasmagoria, expressão transcendente, abstrata, da situação existente e dos homens reais.

Em tal contexto, o discurso teológico latino-americano de libertação surge assim como uma teologia de emancipação humana nas condições concretas, históricas e políticas de hoje na América Latina. É uma teologia cuja missão é identificar-se com os homens massacrados e excluídos de todos os benefícios de suas nações. Segundo seus estudiosos e pesquisadores, é a libertação de Cristo se realizando em fatos históricos e políticos libertadores.

Para ler e pensar mais:

ANDRADE FILHO, Francisco Antônio de. Igreja e Ideologias na América Latina, segundo Puebla. São Paulo: Paulinas, 3ª ed, 1982.
BOFF, Leonardo. Teologia do Cativeiro e da Libertação, Petrópolis: Vozes, 2ª ed., 1985.
GUTIÉRREZ, Gustavo. Teologia da libertação. Petrópolis: Vozes, trad. Jorge Soares, 3ª ed., 1976.