“Se”: uma condição de amor na primeira carta de João (Meditação)

by Francisco on domingo, 14 de setembro de 2008

Francisco Antônio de Andrade Filho


Se alguém disser: Amo a Deus, mas odeia seu irmão, é mentiroso. Porque aquele que não ama seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus a quem não vê. Temos de Deus este mandamento: o que amar a Deus, ame também seu irmão” (I Jô. 4,20-21).



Nesta primeira carta de João, registrada na Bíblia, Deus fala sobre o amor. Revela uma profunda espiritualidade, o mais nobre sentimento de que é capaz o ser humano. O amor não se reduz à mera simpatia romântica, e muito menos à atração sexual. Consiste, essencialmente, em querer o bem do outro, empenhando nesta vontade o próprio ser. É o dom do ser próprio.

A experiência mostra que o amor não é olhar um para o outro, mas olhar junto na mesma direção. Sabe compreender as fraquezas sem justificá-las; sabe valorizar as qualidades, sem as lisonjear.

Se os seguidores dos líderes espirituais oferecessem a Vítima Divina ao Pai no altar, lembrando que seus irmãos têm algumas queixas contra eles, porque tramaram contra sua felicidade – mas não tivessem o coração repleto de amor -, em nada ajudariam a ninguém.

Se você está triste porque alguém invejoso ameaça sua posição, lembre-se daquele que nunca teve a oportunidade na vida.

Se você se decepciona com a ingratidão e com o não-reconhecimento pelo que você fez, lembre-se daquele cujo nascimento foi uma decepção.

Se um sonho seu foi desfeito, lembre-se daquele que vive num pesadelo constante, enganando-se a si mesmo, com sua vida incoerente.

A amizade é paciente, benigna. Não é ciumenta nem invejosa. Não se exibe, não se inflama de orgulho, não procura o próprio interesse, e deseja o mesmo bem para o outro. Não se irrita, não se alegra com as covardias e as traições, mas se compraz na verdade. Tolera tudo. Crê. Tudo suporta. Nunca decepciona.

Se eu pudesse trazer a escritora Lya Luft para uma aula magna numa Universidade, eu lhe pediria repetir a beleza de sua obra “Secreta Mirada”, 3ª edição, São Paulo: Mandarim, 1997: 209, nesta passagem:

“Não se cultiva o amor. Pode-se cultivar o convívio, porque ele exige treinamento e paciência, e acomodamentos nem sempre fáceis. Exige, mais que tudo, que se inventem certos pequenos rituais até inconscientes, para que não sufoque a poeira desse cotidiano com sua inevitável banalidade”.

3 comentários

eu que ro sabe oque e amo

by adrielle on 6 de outubro de 2008 às 14:14. #

Maravilhosa reflexão.
O amor consiste essencialmente em querer o bem do outro. Frequentemente as pessoas buscam no amor o seu próprio bem, mesmo que isto vá destruir a felicidade do outro.

by Rosilda on 8 de dezembro de 2008 às 08:19. #

Antes de mais nada cumprimentar o Exc. Professor Francisco do qual tive o prazer de ter ele como professor em aulas de Filosofia do Direito e Ética.

Excelente texto professor. Nos coloca em uma situação clara de como o mundo esta medíocre, onde o amor não é cultivado e muito menos "permitido", digo isso porque hoje o mundo é egoísta e talvez somos responsáveis por isso.


Forte abraço professor! Sucesso sempre!

by Hebert Melanias Acadêmico de Direito da FRM on 22 de junho de 2010 às 13:28. #

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