Mulher Corajosa [Destaques De Leitura]

by Francisco on quinta-feira, 29 de março de 2012

por Francisco Antônio de Andrade Filho

Ricardo Batista Amaral é jornalista. Neste livro, ele conta a trajetória de Dilma Rousseff, a primeira presidenta da República do Brasil. O autor escreve este livro: “A Vida Quer É Coragem. A Trajetória de Dilma Rousseff - A Primeira Presidenta do Brasil”.

De outro, a equipe deste site objetiva divulgar esta excelente obra e oferece aos seus visitantes alguns destaques especiais.



Nas primeiras páginas da referida obra, percebemos que “Coragem” é uma virtude que sustenta a vida.

- A vida não é fácil. Nunca foi (p.12).

Vítima das torturas na Ditadura Militar, Dilma descobriu que não é fácil viver.

Quem passou pela violência do pau de arara, pelas máquinas de choques elétricos, pela agonia incerta de resistir à tortura sabe que a vida não é fácil. Nunca foi. Mas havia outra dimensão na notícia que ela compartilhava com a pequena família: a dimensão da política. Por mais seguro e otimista que fosse o prognóstico dos médicos, câncer era uma palavra maldita quando pronunciada em público, especialmente se relacionada a um candidato presidencial (p.17).

 O Presidente Lula é sábio nas palavras.

- Tranquila, Dilminha, tranqüila. Você é forte, vai conseguir (p.18).

Mulher Valente e Corajosa na Comissão de Infra-estrutura do Senado. Sábia, Dilma enfrenta o confronto (179-181, passim):

O senador José Agripino Maia, de longeva oligarquia nordestina, político da antiga Arena e líder do DEM, tomou a palavra logo no início da sessão. Ele tinha preparado sua pergunta numa reunião com senadores de seu partido. Sua idéia era carimbar a pré-candidata de Lula como pessoa mentirosa, por ter dado versões diferentes sobre o dossiê. O gancho, uma entrevista em que Dilma falava sobre a tortura no DOI-Codi. Seguro de si, Agripino começou citando a entrevista:

- Vossa Excelência respondeu: “A prisão é uma coisa onde nos encontramos com nossos limites. É isso que, às vezes, é muito duro. Nos depoimentos a gente feito doido. Mentia muito, mas muito mesmo.”

Sem fazer caso de que ele, sua família e seus aliados tinham apoiado a ditadura que prendeu Dilma Rousseff, o senador avançou sobre terreno pantanoso:

- O que é que me preocupa, ministra? O dossiê, na minha opinião e na de muitos brasileiros, é a volta do regime de exceção. É o uso do Estado para encostar pessoas no canto da parede.

A Pergunta era surpreendente, mas Dilma estava segura. Tinha ouvido um conselho de Olga Curado, a mesma que ajudou Lula nos debates: “Busque a verdade dentro de você, dentro da sua história.” A história e a verdade da ministra brotaram do fundo da memória e de dentro da alma de Dilma Rousseff na sala da CPI:

- Tem uma consideração que eu vou fazer antes, porque acho que ela é importante para a democracia no Brasil – ela começou a responder num tom firme, olhando para o senador. – O que acontece ao longo dos anos 70 não é uma ditadura policialesca simplesmente, é a impossibilidade de se dizer a verdade em qualquer circunstância. Não se dialoga, não é possível supor que se dialogue com o pau de arara, com o choque elétrico, com a morte. Qualquer comparação entre a ditadura militar e a democracia brasileira só pode partir de quem não dá valor à democracia – ela estocou, antes de prosseguir, já com a voz embargada.

Daí em diante, cada frase era um degrau acima da escala da emoção:

- Eu tinha 19 anos. Eu fiquei três anos na cadeia. Eu fui barbaramente torturada, senador. Qualquer pessoa que ousar dizer a verdade para seus interrogadores compromete a vida de seus iguais, entrega pessoas para serem mortas.

“Eu me orgulho muito de ter mentido, senador, porque mentir na tortura não é fácil. Na democracia se fala a verdade. Diante da tortura, quem tem coragem e dignidade fala mentira. E isso, senador, faz parte, integra a minha biografia, de que eu tenho muito orgulho..

“Todos nós somos muito frágeis, nós somos humanos, nós temos dor. E a sedução, a tentação de falar o que ocorreu e dizer a verdade é muito grande. O senhor não imagina quanto é insuportável. Então, eu me orgulho de ter mentido, eu me orgulho imensamente de ter mentido, porque eu salvei companheiros da mesma tortura e da morte.

“Este diálogo aqui é o diálogo democrático, a oposição pode me fazer perguntas e eu vou responder. Nós estamos em igualdade de condições humanas e materiais. Nós não estamos num diálogo entre meu pescoço e a forca, senador.

“Eu acredito, senador, que nós estamos em momentos diversos de nossas vidas em 70. Eu tinha entre 19 e 21 anos, e de fato, combati a ditadura militar. E disso eu tenho imenso orgulho”.

Crítica de Marx – Consciência Invertida da Ideologia Alemã

by Francisco on sábado, 3 de março de 2012

por Francisco Antônio de Andrade Filho





A inversão da consciência dos ideólogos alemães é para Marx a expressão teórica de uma inversão real, própria da sociedade mercantil capitalista: nela o processo de produção e reprodução da vida material é independente das necessidades dos homens. Produtos da mão do homem se convertem em coisas autônomas, em objetos valiosos, que parecem situar-se numa dinâmica própria, separada da atividade humana.

Nesta linha, pode-se afirmar que se trata do “fetichismo” do mundo das mercadorias, pelas quais os produtos do pensamento do homem são coisificados como forças autônomas que parecem dirigir a história. Todos os bens que circulam no mercado capitalista deixam de ser objetivos intuitivamente concretos para se cristalizar como mercadorias. Sua forma de valor não é percebida como expressão de relações sociais senão como propriedade das coisas mesmas, cujas leis aparecem como potências cegas, atrás das quais se ocultam, na verdade, relações sociais de poder.

Esse filósofo alemão insiste que “os pensamentos da classe dominante são também, em todas as épocas, os pensamentos dominantes...”, mostrando em sua obra que o problema da ideologia não pode ser separado da questão política da dominação. Ele nos diz que existem ideologias dominantes e dominadas. Que a ideologia dominante não se destina somente à classe dominante, mas ainda às classes dominadas, e, nesse sentido, parece razoável asseverar que ela é só digna desse epíteto, na medida em que ou enquanto ela é capaz de sufocar, reprimir ou, ao menos, controlar, a ideologia destas últimas.

Essa introdução à crítica das ideologias em Marx parece nos conduzir à crítica da religião e à crítica da consciência burguesa como dois exemplos nesta linha de análise. Numa próxima publicação neste espaço, provocaremos um forte diálogo sobre a temática.

Faça seus comentários sobre esta explicação de Kurt Lenk sobre a crítica de Marx à ideologia religiosa nesses termos:
“A idéia central da crítica a Feurbach à religião, a saber, que a afirmação de um Deus onipotente implica a negação da essência humana, negação que só pode ser cancelada anulando esse “alheamento” do ser humano genérico, vale também para a teoria da alienação de Marx. Entretanto, aqui, aquela essência misteriosa já não mais é um sujeito divino, mas o capital morto, que na economia de troca capitalista, prevalece sobre o trabalho vivo. Na medida em que os produtos da atividade humana se tornam cada vez mais complexos e diferenciados, as forças e capacidades do trabalhador tendem a perder seu vigor. Quanto mais este produz, menos pertence a si mesmo. Sua dependência cresce junto com a multiplicação do capital, posto que cada produto novo atesta o predomínio do trabalho objetivado...”.