Lettre sur les Aveugles à l'Usage de Ceux qui Voient (Denis Diderot)
by Francisco on quinta-feira, 31 de dezembro de 1998
Francisco Antônio de Andrade Filho
Esta carta foi escrita em francês por Denis Diderot. Hoje, eu a interpreto em português. Sua divulgação, em 1749, acarretou a prisão do filósofo pelo poder político-repressivo de Luís XV, simplesmente porque pensava figuras de homens ocupados em ver com bengalas. Nela, o pensador iluminista retrata Saunderson, cego de nascimento, interrogado pelos políticos do seu tempo:
- E o que são, em vosso parecer, os olhos? E o cego responde:
- São um órgão sobre o qual o ar produz o efeito de minha bengala sobre minha mão (...) Isso é tão certo que, quando coloco minha mão entre vossos olhos e um objeto, minha mão vos está presente, porém o objeto vos está ausente. A mesma coisa me acontece, quando procuro uma coisa com minha bengala e encontro uma outra.
Passaram-se 250 anos (1749-1999). A Filosofia estava diante de outros, prontos para darem o parecer e interrogarem outro filósofo.
Muitos cegos, ocupados em ver com bengalas, aprovam as iniciativas de Filosofia. Acatam-no porque vêem o valor de estudos e pesquisas em Filosofia. Outros - que vêem com a luneta de questiúnculas políticas - rejeitaram a Palavra da Filosofia. Aqueles viram com os olhos naturais da razão. Estes, com olhos míopes e sem razão, não enxergaram do mesmo modo. Viram com olhos artificiais e periféricos, de interesses individuais e corporativos.
Cego, vi. Filósofo, vi muitos cegos vendo outras pessoas que vêem apenas seus interesses e não os da Cidade Universitária.
Cega, a Filosofia viu. Ela olhou no escuro do Campus com a bengala da razão e viu filósofos cegos vendo aqueles que têm olhos só para garantir o próprio poder, suas leis e seus mandatos. Nasceu O Recado da Pesquisa, um novo convite do filósofo cego "à l'Usage de Ceux qui Voient".